quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Encontro Com...


Imagem do Cartaz de divulgação desta atividade da nossa escola

retirado de http://biblioblogarmadeiratorres.blogspot.pt/ (pode também ser visto na página moodle da nossa escola)

"Os pais, os adolescentes e a internet"...

Estamos ainda a trabalhar com os alunos a obra "Vozes e Ruídos" e referimos, logo de início, que é uma obra da época de noventa e que a perspetiva de abordagem seria de diálogo com a obra e de posicionamento reflexivo e crítico. Ao longo do trabalho, na exploração do texto e do diálogo com os alunos (dentro e fora da aula) esse contexto tem vindo naturalmente a aparecer. Por exemplo, numa das aulas, selecionou-se a seguinte caracterização da adolescência:

                         « (...) a fase média da adolescência (15-17 anos no adolescente urbano escolarizado)                     é caracterizada por uma luta pela independência emocionaluma preocupação por vezes                     excessiva face aos problemas do corpo e pela crescente importância do grupo»
(pp. 104-105, sublinhado nosso) 

A propósito, a V. J. comentou que, especialmente a preocupação com o corpo e os problemas que pudessem surgir a partir daí, tinham que ser pensados também na relação com os estereótipos divulgados na rede. Apareceu-nos como consensual que o tipo de comunicação (?) que a internet permite, o seu uso (e abuso) introduz um dado que à época não podia ainda ser pensado. Nos anos 90, poucas pessoas tinham acesso a computador, a telefone portátil (como se dizia) e de então para cá as mudanças a este nível têm sido tão rápidas que o pensamento reflexivo e crítico se está a esforçar por as compreender e explicar em toda a sua extensão.
Em Portugal, segundo dados da Pordata, em 2006 havia 35% de agregados domésticos com ligação à Internet; em 2017, havia 77%. De resto, é só olhar à nossa volta...
Assim, pareceu-nos claro que se o autor, hoje, escrevesse esta obra teria de se confrontar com este novo mundo... Aliás, acabei por lhes dizer que o Professor Daniel Sampaio estava a preparar um novo livro em que abordaria, precisamente, todo este tipo de questões. Na altura não sabia dizer exatamente onde tinha recolhido essa informação. Concluo que devia ter sido no seu site, https://www.danielsampaio.org/2017/09/daniel-sampaio-prepara-um-novo-livro/, onde encontramos com data de 11 setembro de 2017 a seguinte informação:

O novo livro do Professor Daniel Sampaio será sobre: “os pais, os adolescentes e a internet”.
Agradecem-se opiniões ou questões sobre o tema.

"NA ADOLESCÊNCIA É PRECISO FALAR SOBRE TUDO" ? VII

Esta não é a resposta do Diogo, mas a da A.S....

«Concordo, pois é durante a adolescência que os pais começam a confiar mais e a dar maior liberdade aos seus filhos.
Tudo deve ser discutido para que haja ao mesmo tempo regras, respeito, confiança e liberdade. Penso que nesta altura é posta à prova a maturidade e o nível de responsabilidade do adolescente como também a confiança dos pais para com os seus filhos. O relacionamento com os namorados e a sexualidade devem ser temas também abordados, no entanto tem que ser com calma, respeito e sem tentar invadir a intimidade do/a filho/a. Caso não tenha sido mostrado pelos pais ao adolescente que existe confiança e que devem falar com eles sobre assuntos mais pessoais relacionados com a sua vida intima e amorosa o adolescente não o irá fazer, retraindo-se nesse aspeto, o que não será saudável para a relação dos pais para com os seus filhos adolescentes.

Dito isto, é realmente necessário falar sobre tudo nesta fase da vida, contudo, sempre que possível, com calma, sem forçar conversas e apenas aprofundar mais certos assuntos que outros, dependendo sempre do à vontade dos pais e do adolescente e respeitando sempre a vida íntima deste.»

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Encontro com...



imagem retirada de http://relates2017.com/speaker/daniel-sampaio/
Sob organização da BECRE da nossa escola e da Texto Editora, decorrerá no próximo dia 11 o Encontro com Daniel Sampaio.
Esta atividade tem vindo a contar com o envolvimento dos alunos, muito particularmente dos alunos de 12º ano das turmas B, C e G (disciplina de Psicologia B), da turma I (disciplinas de Psicologia B e de Sociologia em articulação) e da turma J (disciplina de Sociologia).
Os alunos têm-se mostrado motivados e esperamos que esta atividade responda aos seus interesses e expectativas, que participem nela com gosto e à vontade e que se constitua como uma oportunidade na sua formação pessoal.
Aqui continuaremos a dar conta deste encontro...

“Pede-se sempre tudo e fica-se com o que os pais dão"? VII


Este post é da responsabilidade da V. J., que aceitou a minha proposta de passar a escrito a sua intervenção na última aula.

«Ao estudar a obra do Professor Daniel Sampaio deparei-me com algo que não está de acordo com o que acredito e penso sobre esta crucial fase da vida de um indivíduo à qual chamamos de adolescência.

Ao falar sobre o momento de decisão das horas a que o adolescente terá de chegar a casa com os pais (extrato presente na página 104 da obra), por exemplo, temos o testemunho de um jovem chamado Diogo que diz o seguinte: “Pede-se sempre tudo e fica-se com o que os pais dão. Assim temos a certeza de que temos tudo que é possível.”, este testemunho é, então, seguido pelo seguinte: “O jovem quer conseguir e atingir tudo; aos pais compete refrear; da negociação resulta a dose certa, o q. b. para a modificação necessária.”.

No entanto, tendo em conta um dos objetivos da adolescência, a autonomia e independência do jovem em relação aos pais ou tutores, a certo ponto seria ideal não “pedir sempre tudo”, numa dimensão irrealista, mas atingir a capacidade de compreensão do que é possível, ou seja, dos limites que condicionam o jovem.
O adolescente, ao entender o que é possível tendo em conta diversos fatores, poderá, então, dar uma sugestão do que considera aceitável para a posição em que se situa, e apenas depois os pais entravam e davam a sua palavra, dando espaço ao adolescente.

Deste modo, o adolescente poderia atingir aos poucos a autonomia, independência e de certo modo liberdade, mostrando-se capaz de sugerir algo razoável aos olhos dos pais ou tutores, não dependendo apenas do que estes oferecem.»

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Prevenir, prevenir, prevenir



Imagem retirada de https://www.dn.pt/sociedade/interior/investigadores-de-oito-paises-criam-novos-meios-de-combate-a-cyberbullying-5766888.html

Diz o velho ditado que "Prevenir é melhor que remediar"... Continua a ser um conselho muito avisado!!

SEMPRE, a importância da comunicação, da boa comunicação «de manter o diálogo»:
Como refere a notícia do DN de 24 de abril de 2016, após ter dado voz em discurso direto aos autores da obra referenciada no post anterior:


«Na prevenção, justamente, pais, educadores e professores devem estar atentos a sinais de alerta, sublinham os autores. Comportamentos como a tendência para o isolamento, mudanças súbitas de humor, quebra no rendimento escolar, tristeza ou recusa em ir à escola são indícios de que algo estará a correr mal. E combater o cyberbullying é o que se segue: é necessário identificar a situação, denunciá-la, porque constitui crime, e apoiar a vítima. Mas a prevenção também é fundamental e isso passa pelo acompanhamento dos filhos em casa e na escola e, afinal, por manter o diálogo com os mais novos.»
retirado de https://www.dn.pt/sociedade/interior/10-a-20-dos-jovens-sao-vitimas-de-cyberbullying-5141247.html

Para concluir por hoje, deixamos aqui a referência de dois sites importantes:
1) http://www.miudossegurosna.net, ligado ao projeto desenvolvido por Tito de Morais Miúdos Seguros Na.Net, desde 2003.
2) https://www.internetsegura.pt/projecto, sob coordenação da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia) 

Cyberbullying - o que é?


imagem retirada de http://cyberbullying.pt/

A notícia que a seguir transcrevemos foi publicada no Observador a 21 de abril de 2016, Dia Nacional de Sensibilização para o cyberbullying. Nela se refere uma investigação realizada por uma doutoranda na Universidade do Minho que «revela que cerca dos 10% dos alunos inquiridos afirmou ser vítima de cyberbullying. O estudo, feito em 2013, revela ainda que 11% dos inquiridos informou que pensa já ter sido vítima.» 
Só 10%, alguém pode pensar. Sim, mas nos casos em que uma vida pode estar em jogo, até 1% é demais. Pode ser a diferença entre a vida e a morte, o que basta para nos preocupar. Porque esse caso único pode ser o nosso.
Nesta notícia refere-se ainda  a edição do livro cuja imagem de capa mostramos aqui, « “Cyberbullying. Um guia para pais e educadores”, um livro para ajudar os educadores a lidarem com crianças que sofrem com esta prática.» Este livro tem ainda prefácio de Daniel Sampaio (mais informações aqui http://cyberbullying.pt/).
Na notícia, que remete para outro periódico, lemos: «Luzia de Oliveira Pinheiro explicou ao Jornal de Notícias que o cyberbullying corresponde à “divulgação pública de conteúdos textuais, visuais e áudio que depreciem ou desacreditem alguém (ou um grupo), assim como a intimidação, ameaça e perseguição através de mensagens privadas que ocorra de forma sistemática, recorrente e intencional”. Luzia Pinheiro afirmou que durante a realização do estudo encontrou sete casos de perseguição. Um dos estudantes afirma ter sido “perseguido por razões de inveja devido à situação económica” e que chegou a ser ameaçado e psicologicamente torturado pelos colegas de turma. Outro caso foi o de uma estudante universitária que contou à investigadora ter sido insultada no Facebook por colegas que terão criado uma página especial para o fazer.
Entre outros casos de cyberbullying encontram-se a divulgação de vídeos de teor sexual partilhados por namorados depois do fim de relações, ou então a usurpação de fotografias para colocar em sites de encontros. Outro dos casos mais comuns é o roubo de identidade, através da criação de perfis falsos em redes sociais.»

Bullying - O que é?

Como muitas outras palavras que integram já o nosso léxico habitual, o termo "bullying" é um anglicismo, significando um "conjunto de maus tratos, ameaças, coações ou outros atos de intimidação física ou psicológica exercidos de forma continuada sobre uma pessoa fraca ou vulnerável" (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, https://www.priberam.pt/dlpo/bullying)

Podemos dizer que atos de bullying sempre existiram. No entanto, particularmente em meio escolar, temos vindo a ter conhecimento de situações que configuram  bullying com consequências dramáticas na vida daquele que é alvo deste tipo de violência.

Nota que nos parece ser, desde já, importante: o MEDO e o SILÊNCIO são os melhores amigos dos agressores.

Do site da APAV selecionámos as seguintes informações:

O QUE É?

É uma forma de violência contínua que acontece entre colegas da mesma turma, da mesma escola ou entre pessoas que tenham alguma característica em comum (por exemplo: terem mais ou menos a mesma idade; estudarem no mesmo sítio).
Bullying


No bullying:

- Existe um desequilíbrio de poder entre quem agride e quem é agredido/a:
  • Quem agride é mais forte ou está em maior número do que a vítima (por exemplo, um grupo de colegas da mesma turma agride um colega de outra turma);
  • A vítima tem alguma característica física que a torna “diferente” dos outros (por exemplo, é mais baixa/ mais alta que os colegas; usa óculos ou aparelho nos dentes; tem sardas; tem uma forma diferente de se vestir; é de uma etnia diferente da maioria ou tem outra nacionalidade);
  • A vítima tem alguma característica na sua “forma de ser” que a pode tornar mais frágil (por exemplo, ser inseguro/a, calado/a e isolado/a).
- Os comportamentos agressivos repetem-se no tempo: acontecem mais do que uma vez.

- Os comportamentos agressivos são propositados: têm o objetivo de assustar, magoar, humilhar e intimidar a vítima.

- As agressões podem ser cometidas contra uma vítima ou contra várias vítimas.




sábado, 6 de janeiro de 2018

"Há muitos jovens que não conseguem falar com os pais" ? - VI

DANIEL: Vamos agora falar de uma área que talvez já tivesse aparecido em todas as coisas, mas agora concretizando um pouco mais: que é a questão da família. Como é que tu vês a relação pais/filhos?
     Como psiquiatra encontro muitos jovens que não conseguem falar com os pais. Os pais não estão disponíveis porque estão cansados, estão preocupados com os empregos. Não conseguem desabafar com eles. Muitas vezes sentem que nem sequer têm tempo. Por outro lado, encontro pais que dizem que se afastam muito dos filhos, que não os compreendem. Que os filhos tomam completamente contas das coisas, que os filhos é que mandam e que por vezes até me perguntam: "Senhor doutor, diga-me como é que eu hei-de lidar com os meus filhos; como é que eu hei-de fazer?", o que me faz muita confusão porque esse não é o papel do psiquiatra. O psiquiatra não tem que dizer aos pais ou aos filhos como é que eles têm de se comportar. Mas eu encontro muito essa falta de comunicação.
DIOGO: Eu não, porque tenho uns pais muito liberais e até sou eu que acho que são liberais de mais. Provavelmente eu estou errado mas eu não sou capaz, por vezes, de ter certas conversas com os meus pais. os meus pais são, provavelmente, capazes de ter essa conversa comigo. Os meus paiseram perfeitamente capazes de ter uma conversa de sexo comigo e eu não sou capaz de falar de sexo com eles. É mais ou menos isso.
DANIEL: Tentando agora fugir um pouco da tua situação pessoal, o que é que dificulta esta comunicação?
DIOGO: Como dizem os ingleses é a "generation gap", uma falta de comunicação entre as gerações, que têm diversões diferentes...
   A geração dos meus pais é de um regime diferente e sempre tiveram liberdades diferentes, muito mais reduzidas. E os meus pais, por acaso, sempre foram muito liberais. Só que acho que na maioria dos casos os pais, como tinham poucas liberdades, também não querem dar essas liberdades aos filhos, até talvez por uma questão de inveja; eles não tiveram e acham um bocado mau que os filhos venham a ter, portanto, só nos dão quando eles começaram também a ter.
Idem, p. 36

Embora o contexto desta imagem seja outro, não lhe resisto...

Retirada de https://osegredo.com.br/2016/07/dialogo-uma-ponte-para-construcao-de-relacionamentos-saudaveis/


O professor está sempre a fazer algo ao contrário do que nós queremos? - V

DIOGO: Temos sempre a ideia de que o professor está sempre a fazer algo ao contrário do que nós queremos e que...
DANIEL: Isso é uma definição engraçada: " O professor está sempre a fazer algo ao contrário daquilo que nós queremos." Porquê?
DIOGO: Porque basta ver que nós não gostamos de estar na escola, na dita escola tradicional e eles obrigam-nos a estar lá. E não queremos estudar e eles obrigam-nos a estudar para termos boas notas.
DANIEL: Tu gostas de estudar...
DIOGO: Gosto de estudar livre. Gosto de estar a ler alguns livros sobre algum tema, mas agora, quando é a professora ou o professor a obrigar-nos, não dá prazer.
    Gosto de... No princípio do ano fui comprar os livros todos e começo a ler aquilo e leio muito bem, mas quando chega a altura das aulas e a professora me obriga a ler 50 páginas, não dá prazer nenhum.
Idem, p. 33

Daniel Sampaio - Psiquiatra e Escritor

Como já foi aqui referido, no próximo dia 11 de janeiro o Professor Daniel Sampaio virá à nossa escola e encontrar-se-á com alguns dos nossos alunos. Ultimamente a atividade do nosso blogue tem sido dedicada, principalmente, a complementar o trabalho de aula, permitindo maior divulgação do autor e maior envolvimento dos alunos e, como desejaríamos, das suas famílias.
Já aqui deixámos uma nota geral biográfica. Precisamente por ter sido muito geral, resolvemos transcrever do site https://www.danielsampaio.org/  informações mais precisas (incluindo imagens) relativas à sua atividade profissional:

 Em 1964, quando fez 18 anos, entrou no Hospital de Santa Maria, onde viria a formar-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 1970, tendo mais tarde obtido o doutoramento na especialidade de psiquiatria em 1986.
Em 1997 realizou provas de agregação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e, a partir de 2008, é professor Catedrático de Psiquiatria e Saúde Mental na mesma faculdade, tendo atingido a jubilação em setembro de 2016, aos 70 anos. 

Foi diretor do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria entre 2014 e 2016 e co-fundador do Núcleo de Estudos do Suicídio, Núcleo de Doenças do Comportamento Alimentar e Sociedade Portuguesa de Suicidologia.
Foi um dos introdutores da Terapia Familiar em Portugal, a partir da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar (fundada em 1979). Dedicou-se ao estudo dos problemas dos jovens e das suas famílias, através de trabalhos de investigação na área da Psiquiatria e da Adolescência. Organizou, no Hospital de Santa Maria, o atendimento de jovens com Anorexia Nervosa e Bulimia Nervosa.
Na Rádio Renascença, teve um programa denominado Sociedade do Conhecimento, em que também participaram Luís Osório e Paulo Sérgio. De 2008 a 2010, colaborou com o Rádio Clube Português com a rubrica Visto Daqui. Foi colaborador da revista dominical do jornal Público, até Dezembro de 2015
Desempenhou o cargo de vice-presidente da Assembleia Geral do Sporting Clube de Portugal.
Condecoração da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
Condecoração da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
A 9 de Junho de 2006 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, grau atribuído pelo Presidente Aníbal Cavaco Silva, e a 24 de Novembro de 2016 foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

"Não somos crianças nem somos adultos" - IV



Imagem retirada de https://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/por-que-a-adolescencia-e-uma-fase-tao-dificil/

DIOGO: As dificuldades são uma pessoa estar, por exemplo, a jogar à bola na rua, tem as ideias um bocado ainda de criança, mas o seu aspeto físico já não permite que ele jogue à bola na rua. E quando quer ter uma conversa com adultos sobre política ou sobre qualquer coisa, o adulto não permite que ele esteja a conversar com ele sobre isso porque acha que sabe mais e não pode, não quer, nãopermite psicologicamente e subconscientemente que o jovem tenha razão. É esse o relacionamento. Não somos crianças nem somos adultos. Somos crianças e somos adultos, mas não somos crianças nem somos adultos. É mais ou menos isso. Estamos  numa fase de transição, carcterística.

Idem, p. 29.

Os jovens têm tendência para contrariar o que dizem os mais velhos? - III



DANIEL: Fala-me lá mais naquilo que disseste há pouco de os jovens, de uma forma geral, terem tendência para contrariar o que dizem os mais velhos... Achas que isso é uma característica da adolescência?
DIOGO: Acho que sim, porque começam a pensar que já têm cabecinha, já podem pensar por si próprios e não precisam que os adultos lhes digam o que têm que fazer. E acham-se muito inteligentes, acham que são de uma geração que sabe o que as outras gerações sabiam mas sabe mais. Que já aprendeu muito nos seus 16/17 anos, que os pais não aprenderam e então acham que são mais que os outros. Que são mais inteligentes, que têm mais experiência da vida. e têm tendência para contrariar. É muito casmurro, não permite que os adultos tenham razão. Portanto, quando os adultos dizem uma coisa, eles fazem o contrário porque acham que os adultos não podem ter razão. É mais ou menos isso.
Idem, p. 28

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

"E sobre a questão da droga o que é que pensas?" - II

(cont.)

DANIEL: E sobre a questão da droga o que é que pensas? Onde é que ficam os toxicodependentes na tua escola? Têm uma zona à parte?
DIOGO: Não acredito que existam muitos, mas se existem estão no pátio. Pois há muitos e uma pessoa por vezes não sabe quem são. Provavelmente estão em todos os grupos só que como não se drogam na escola, talvez ainda estejam em fases iniciais, não se dá pela presença do toxicodependente, mas sim do fulano tal. Que se note nitidamente que são, há poucos. Talvez 3 ou 4. Ou estão no bar ou no pátio.
DANIEL: Andam uns com os outros?
DIOGO: Não andam uns com os outros mas conhecem-se. Mas depois também têm o seu grupo de amigos que provavelmente não são toxicodependentes. Que os ajuda ou coisas assim.
DANIEL: Por que é que tu achas que as pessoas se drogam? Quais são os fatores? Pelo que vês nos teus amigos...
DIOGO: Problemas familiares, problemas psicológicos [...]. Podem não ter nada a ver com o exterior. Pode ser ele próprio que se sente mal consigo próprio. Familiares, no grupo de amigos. Acho que todos os fatores da sociedade afetam ou podem afetar. É mais ou menos como o cancro: há vários setores que podem infetar, que podem formá-lo. Quanto mais fatores estiverem em relacionamento mais provável é a existência do cancro.
DANIEL: É muito fácil uma pessoa encontrar drogas na tua escola ou numa festa?
DIOGO: Conforme a droga. Há drogas leves e drogas fortes. A droga leve é relativamente fácil de encontrar.
DANIEL: O haxixe por exemplo?
DIOGO: Por exemplo...
DANIEL: O que leva uma pessoa a não consumir?
DIOGO: A não consumir? O pensar que faz mal. Toda a propaganda que há à volta disso... que é uma droga, que pode levar à droga dura. As pessoas sabem que é uma droga e que portanto não se deve fumar.
DANIEL: Achas que os jovens poderiam fazer alguma coisa em termos de prevenção?
DIOGO: Acho que deveriam ser os primeiros a fazê-lo. Porque normalmente são os jovens que são capazes de dizer aos jovens qualquer coisa, comunicar algo que fique dentro deles e não os adultos, porque normalmente quando os adultos nos dizem qualquer coisa, nós tentamos contrariar.»

Idem, pp. 26-28

Caixa de perguntas


Este post é dedicado muito especialmente aos alunos do 12º ano que estão a trabalhar na obra "Vozes e Ruídos" de Daniel Sampaio. 

É provável que a propósito da adolescência e dos seus problemas surjam dúvidas ou interrogações que gostaríam de ver esclarecidas, mas que tenham dificuldade em colocar de viva voz. Isso é natural. 

Por isso, caros alunos, podem utilizar a caixa de comentários para colocarem as questões que entenderem importantes. 


imagem retirada de https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXo1nYONDl1bfYTBk0CuVwiPqoUU8KoNfCipJzMDNQWWAh3hFT73IShPCvEEYyu4fib-FnXKo99vNCq2rbhjlxZsrtkckfxlqcvMIt_IcWy4AK73HsdfJ-2Aiwivioeexp9xD1wlCBjDA/s1600/box-with-question-mark-icons-vector-899326.jpg

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

"Há uma grande diferença entre o amor visto pelos rapazes e o amor visto pelas raparigas" ? - I

Não sei se os nossos alunos adolescentes da idade do Diogo, na altura com dezasseis anos, ainda concordam com ele. Hoje o Diogo será homem para quarenta e muito poucos anos e poderá ser, até, pai de um adolescente. O que quer dizer que os pais dos nossos alunos podem ter vivido a sua adolescência na época em que o Diogo a viveu. Confuso? Não. Estamo-nos só a colocar em perspetiva e a admitir que esta leitura pode ser de pais e filhos...

Sabendo, assim, que os excertos que aqui vamos deixar são retirados do diálogo entre o psiquiatra Daniel Sampaio e o jovem Diogo, numa situação em que está ausente qualquer necessidade terapêutica (uma das condições, aliás, para a escolha deste jovem adolescente era o «nunca ter ido a uma consulta de Saúde Mental»); sabendo que o jovem Diogo frequentava uma escola em meio urbano (Lisboa), será interessante verificar até que ponto o seu discurso tem eco nos jovens de hoje, muito especificamente nos jovens torreenses, passados que são 26 anos (o diálogo está datado de meados de 1992 e inserido na obra "Vozes e Ruídos" de 1993). Aqui está a capa da 1ª edição.


         «DANIEL: Por exemplo, quando falam do amor e da sexualidade, achas que os rapazes o fazem de maneira diferente da das raparigas?
    DIOGO: Sim. Os rapazes falam mais abertamente, com menos problemas. Falam daquilo como...Não levam tanto a peito como as raparigas. Há uma grande diferença entre o amor visto pelos rapazes e o amor visto pelas raparigas. Para as raparigas é mais profundo. É mais importante que para os rapazes. Para os rapazes é um bocado superficial, por enquanto. Só por vezes quando aparece uma rapariga que uma pessoa gosta mesmo é que é igual dos dois lados. Normalmente os rapazes não se interessam. Interessam-se só que é de uma maneira diferente: mais superficial.
      DANIEL: Os rapazes vivem mais o momento.
      DIOGO: Pois, e as raparigas sentem-no mesmo. Os rapazes é mais por diversão, quase. E as raparigas, não. Aquele momento fica marcado mesmo.
      DANIEL: Consegues dar uma definição de curtir? O que significa curtir com uma rapariga?
      DIOGO: Significa... O curtir está mais relacionado com o sexo enquanto o namoro está mais relacionado com o amor.
      DANIEL: Mas não usam muito o termo namorar...
      DIOGO: Não. É mais "andar".
      DANIEL: "Andar com".»
      Sampaio, D. (1993). Vozes e Ruídos. Lisboa: Caminho, pp. 24-25.

E para termos também uma noção das muitas coisas que mudaram entre os anos 90 e a atualidade, aqui deixamos duas imagem dos computadores desses anos.


Imagens retiradas de http://www.hardware.com.br/tutoriais/conhecimento-hardware-evolucao-durante-decadas/anos-1.html

Toda a educação deve impor limites porque...

Mostrei aos alunos a sondagem que está aqui, neste blogue, sobre qual o maior problema dos adolescentes. Depois de enunciar as opções, diz de imediato o H., "o excesso de liberdade"! "Bem - comecei por dizer - essa opção não foi equacionada..." E continuei: "o que não quer dizer que não seja pertinente." Ora, como o trabalho sobre o texto ainda não se tinha iniciado, a questão ficou em aberto para ser retomada quando a exploração do texto e a discussão das ideias o exigisse. No entanto, não deixei de apontar a pertinência da questão e não resisti a referir a posição, supostamente atribuída a Freud (se bem que num contexto social, cultural e educacional bem diferente!) de considerar que entre uma educação demasiado permissiva, sem impor regras e limites, e uma educação demasiado rígida, as consequências da primeira no desenvolvimento seriam mais gravosas. Acrescentei que iria organizar um post sobre a posição do Professor Daniel Sampaio, dado este ter vindo cada vez mais a alertar para a importância do exercício da autoridade parental. Sem qualquer pretensão de defender  formas antigas de educação assentes no castigo físico e numa rigidez de regras num vazio de relação e de diálogo, é importante recuperar a ideia de autoridade sem que a confundamos com autoritarismo.


«Ao longo destes 21 anos de colaboração ininterrupta na imprensa, o tema das relações entre pais e filhos esteve muitas vezes presente. Nada é mais importante, porque a educação e as relações afectivas primordiais são cruciais para o futuro de cada indivíduo e do seu país. Neste momento, os pais estão próximos dos filhos como nunca mas, em muitos casos, há um marcado défice de autoridade e uma hesitação constante em traçar limites. Se o autoritarismo de outrora está condenado para sempre, a educação indulgente e permissiva, tão típica de tantos lares de hoje, tem dado origem a adolescentes determinados mas pouco respeitadores, cada vez mais centrados em si e pouco atentos ao reconhecimento do outro.» (sublinhado nosso)


Excerto da última crónica na Revista 2 do jornal Público a 27 dezembro de 2015. Disponível em https://www.publico.pt/2015/12/27/sociedade/opiniao/ultima-cronica-1718106

Questionado, entretanto, pelo Jornal de Leiria sobre a afirmação acima sublinhada, o autor explicita:

«Na primeira metade do século XX, os pais estavam mais distanciados dos filhos. Existia autoritarismo e, muitas vezes, castigos físicos. A relação entre pais e filhos era de uma certa distância repressiva. A partir da segunda metade do século XX, nos anos 70 e 80, houve uma aproximação das gerações. Os pais, sobretudo, os progenitores masculinos, ficaram próximos das crianças. Do ponto de vista psicológico, isso foi muito benéfico. Mas, quando as gerações ficam muito próximas, a autoridade enfraquece.
Neste momento existem muitos problemas porque os pais têm dificuldade em exercer a autoridade e a função parental. Já não podem voltar aos métodos antigos e, às vezes, são um pouco permissivos ou indulgentes, desculpando muitas coisas. Também porque estão muito centrados no trabalho ou no desemprego. É preciso ganhar novas formas de autoridade.»

E mais à frente, encontramos uma pertinente pergunta e uma boa resposta, ainda que suscetível de maior desenvolvimento e de um enquadramento superior. 
Que adolescentes estamos a criar com défice de autoridade de que fala?
Adolescentes muito omnipotentes e reivindicativos e bastante ciosos dos seus direitos e que, muitas vezes, se tornam agressivos com os pais e professores. Têm uma cultura de direitos, daquilo que lhes é devido, mas falta-lhes a cultura da responsabilidade e do respeito, que se perdeu um pouco. É preciso recuperá-la.
Disponivel em https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/daniel-sampaio-os-pais-nao-sao-amigos-dos-filhos-sao-adultos-4201

Seria bom ( e estamos muito longe disso) que enquanto sociedade fossemos capazes de discutir, de forma lúcida e serena, sem atribuição de culpas ou procura de bodes expiatórios, qual o modelo de ensino, de escola e de educação que consideramos bom e desejável. 

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A Organização Mundial de Saúde classifica a dependência de videojogos como doença mental

É já normal nos dias de hoje, onde quer que vamos, onde quer que estejamos, encontrar jovens e menos jovens agarrados ao telemóvel ou equipamentos afins... À mesa de café, à mesa do restaurante...
À saída da sala de aula já as mãos dos alunos seguram o telemóvel, os corpos encostam-se à parede, não se olham, não se vêem, já nem sequer se ouvem, ocupados que estão os ouvidos com os phones... A utilização de equipamento informático é uma realidade dos nossos dias, marca de uma sociedade e de uma cultura científico-tecnológica. A rapidez das transformações que têm ocorrido, o modo como  telemóveis, smartphones, tablets...invadiram o nosso quotidiano tornaram-nos imprescindíveis. As consequências no nosso comportamento, no modo de pensar e de comunicar não são ainda compreendidas em toda a sua extensão, incluindo no processo de crescimento e de desenvolvimento intelectual e psicoafetivo das gerações mais jovens. No entanto, algumas coisas já estão a ser tomadas como certas. Pode haver o desenvolvimento de comportamentos aditivos, tão graves como outras dependências já conhecidas como as do álcool ou outras drogas. Porém, nunca qualquer instrumento pode ser tomado como bom ou mau, apenas o seu uso pode ser classificado deste modo.
Estamos nós preparados para uma educação que promova um bom uso das novas tecnologias?


«A dependência de videojogos foi finalmente incluída na lista de doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma decisão aplaudida por médicos do mundo inteiro, que dizem que a classificação desta dependência como um distúrbio psiquiátrico poderá vir a facilitar o tratamento.


A decisão de classificar esta dependência como um problema de saúde mental surgiu depois de uma monitorização do transtorno feita ao longo de dez anos, levada a cabo pela OMS. A definição final não foi ainda lançada, mas deverá sê-lo já em Janeiro de 2018.
Esta adição caracteriza-se por um padrão de comportamento de jogo “contínuo ou recorrente”, no qual o jogador não consegue controlar, por exemplo, o início, a frequência, a intensidade, a duração e o contexto em que joga. As crianças passam a isolar-se do contexto familiar e dos amigos, chegando mesmo a deixar de fazer actividades que eram habituais, desenvolvendo problemas de sono e alimentação e baixando o rendimento escolar.
“É a confirmação de que esta é uma questão de saúde “mental”, que é grave. É muito importante haver o reconhecimento de que não é um problema simples de alguns adolescentes. Há uma minoria que tem problemas muitos graves e que têm que ser diagnosticados, o que será mais fácil com a publicação dos critérios”, declarou ao Diário de Notícias o psicólogo especialista em adições na área do jogo, Pedro Hubert.
Para Pedro Hubert, este reconhecimento por parte da OMS vai permitir “fazer legislação, prevenção, diagnóstico e tratamento”, ao mesmo tempo que contribuirá para que “os próprios promotores de videojogos possam ser responsabilizados pelo que fazem”, disse ao DN.
Em Portugal, segundo os dados cedidos por Pedro Hubert, a percentagem de jogadores patológicos subiu de 0,3% em 2012 para 0,6% em 2017 e a de abusivos passou de 0,3 para 1,2%. Números, refere o psicólogo, em que se incluem jogadores de videojogos.
Entre os principais sintomas e sinais do vício deste tipo de jogos, o psicólogo destaca os problemas de sono, os fracos resultados académicos, o isolamento, a troca de prioridades e uma má alimentação.»
Notícia retirada daqui: https://shifter.pt/2017/12/vicio-por-jogos-eletronicos-organizacao-mundial-de-saude/

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Daniel Sampaio e o jogo da Baleia azul (4)

A 3 de maio de 2017, após as notícias de jovens aliciados para participarem no perigoso jogo da Baleia azul, o Jornal Público foi ouvir o Psiquiatra Daniel Sampaio.

Há um traço comum entre os jovens que estão a ser desafiados para entrar no jogo online da Baleia Azul: estão fragilizados ou em sofrimento psicológico. Quem o diz é o psiquiatra Daniel Sampaio, que tem estudado o comportamento dos adolescentes. Na imprensa internacional começa, entretanto, a ser posta em causa a genealogia deste jogo. 
Daniel Sampaio contou ao PÚBLICO que falou recentemente com quatro jovens que têm amigos ou colegas aliciados para o Baleia Azul e todos lhe relataram  o mesmo: que um responsável pelo desafio, um curador com um perfil falso, os convidou para o jogo depois de os adolescentes terem deixado online pistas de que se encontravam fragilizados ou em sofrimento psicológico. “Há muitos jovens que escrevem mensagens na Internet a dizer que não estão bem e segundo me dizem são esses que são contactados”, explica o psiquiatra, chamando a atenção para a gravidade deste tipo de actuação.(...)
“Se as coisas se passam conforme me relataram, identificar a fonte de recrutamento [das vítimas] revela-se um aspecto fundamental”, sublinha Daniel Sampaio, para quem o risco acaba por ser reduzido se os jovens em causa estão bem consigo próprios: “Um jovem normal não adere – ou, se adere, isso não tem consequências”, equaciona. “O jogo em si não provoca suicídio, nem automutilação. É perigoso quando falamos de pessoas vulneráveis. Aí, pode funcionar como factor precipitante do suicídio.”
Para quem já começou a jogar, o psiquiatra deixa um conselho: “Sair o mais depressa possível e pedir ajuda.” Um auxílio que poderá ser prestado, por exemplo, pela equipa que integra o Núcleo de Utilização Problemática da Internet do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que tem consultas às quartas-feiras e tanto auxilia jovens como os seus pais.
Daniel Sampaio defende também que os pais devem proibir os filhos de aceder a este jogo. Se não o conseguirem de imediato, devem acompanhar mais de perto os filhos, porque esta atitude poderá impedir, por exemplo, que o filho saia de casa para se dirigir a um local alto onde vai arriscar a vida, já que uma das 50 tarefas impostas aos jogadores do Baleia Azul passa precisamente por correr esse tipo de perigo.

Notícia falsa?
Em declarações a um site de notícias russo, Lenta.ru, o alegado autor deste desafio, More Kitov, já disse que a sua intenção nunca foi a de levar menores ao suicídio, mas sim aumentar o número de frequentadores dos perfis dos administradores do jogo, tornando-os mais atractivos para quem quer colocar anúncios publicitários.
Pelo seu lado, Thiago Tavares, presidente da Safernet, uma organização não-governamental brasileira de combate ao crime na internet, não tem dúvidas de que o jogo Baleia Azul teve origem numa “notícia falsa” publicada em Maio de 2016 pelo diário russo Novaya Gazeta. Este artigo dava conta de uma série de suicídios de adolescentes na Rússia que, alegadamente, tinham participado em fóruns da rede social russa Vkontakte, onde aparecia a referência Baleia Azul.
Até agora ainda não existem provas da relação entre ambos. “Era um ‘fake news’, mas existe um efeito que, sendo verdadeira ou não, a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens”, afirmou Thiago Tavares ao diário Globo.

Disponível em: https://www.publico.pt/2017/05/03/sociedade/noticia/pais-devem-proibir-o-acesso-ao-jogo-da-baleia-azul-se-conseguirem-1770838

O Jogo suicidário da Baleia Azul

Há uns meses atrás, surgiu na comunicação social um conjunto de notícias perturbadoras sobre jovens em Portugal que tinham tentado o suicídio por estarem envolvidos num jogo divulgado nas redes sociais denominado "Baleia azul". O Jornal diário Público, a 28 de abril de 2017, publicou um artigo da responsabilidade de Cláudia Carvalho Silva esclarecendo em que consistia o jogo, a origem do fenómeno e o registo de algumas das suas vítimas.

Em que consiste o jogo?
O jogo Baleia Azul – ou Siniy Kit, como é conhecido em russo ou Blue Whale, em inglês – é composto por um total de 50 desafios diários, e que deve, portanto, ser completado no final de 50 dias. Cada desafio é enviado diariamente por um “curador” ou “administrador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que o desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma, adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém. Este jogo acaba por ser, na realidade, um incentivo ao suicídio, já que grande parte dos desafios envolve automutilação e o último desafio é “Tira a tua própria vida”.
O nome “Baleia Azul” vem de um dos desafios – em que é pedido ao jogador que se mutile e desenhe uma baleia azul no braço – com base na crença de que as baleias azuis (os animais) dão à costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida.

Disponível em https://www.publico.pt/2017/04/28/sociedade/perguntaserespostas/perguntas--respostas-sobre-o-jogo-suicidario-baleia-azul-1770413

Daniel Sampaio e a Saúde Mental em Portugal (3)

Em Última Lição (2016), o Professor Daniel Sampaio, no capítulo intitulado "A intervenção nos comportamentos autolesivos na adolescência como paradigma da minha visão da Psiquiatria", começa afirmando:
   «Dados do Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, publicado em 2013, revelam que, em 2012, em cada 100 portugueses 22,9 tinham uma perturbação psiquiátrica, sendo Portugal um dos países com maior prevalência de perturbações psiquiátricas na Europa». Infelizmente, continua o autor, não tem sido dada prioridade em Portugal a políticas de Saúde Mental e estamos muito deficitários no que diz respeito à criação de cuidados integrados de saúde mental. Ao mesmo tempo, colocando algumas questões sobre o estatuto da Psiquiatria, o autor defende a Psiquiatria como »Medicina da Pessoa» numa expressão que adota de Pedro Polónio e aponta alguns dos seus maiores desafios como possa ser o "tratamento da perturbação mental grave" (p. 125). Segundo o autor, a sua "investigação sobre os comportamentos suicidários na adolescência ilustra bem" o seu "modelo de intervenção em Psiquiatria." (p.128). Assim, será tripla a perspetiva de abordagem da doença mental: individual, familiar e social. O autor considera que nos comportamentos autolesivos dos adolescentes, nos comportamentos suicidários ou, diremos nós,  em quaisquer outros comportamentos perturbados a abordagem explicativa e terapêutica deverá seguir um modelo sistémico que faça intervir fatores individuais, familiares e sociais.
    "No plano individual, os fatores de temperamento e de ausência ou presença de perturbação psiquiátrica são decisivos; no plano familiar, damos importância às trajetórias de desenvolvimento e às relações com as figuras parentais; no plano social, valorizamos a ligação ao grupo juvenil e à comunidade onde o jovem se insere. Mais uma vez se regista a nossa ideia da Psiquiatria: como Medicina da Pessoa na perspetiva comunitária."
E, quase no final deste capítulo, refere-se àquilo que nos parece fundamental - a prevenção. E aponta-a como uma exigência que implica diversas estratégias das quais ressalta a prevenção em meio escolar.


Mas o que devemos entender por Saúde Mental? Como determinar os limites do normal e do patológico?

Daniel Sampaio e a dedicação pioneira à adolescência (2)

retirado de http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-10-23-Daniel-Sampaio-A-psiquiatria-nao-me-fez-entender-o-amor-mas-tornou-me-mais-humano
A sua dedicação pioneira aos adolescentes é reflexo de uma adolescência que devia ter sido mais bem resolvida?
É sempre. Na última lição digo de mim próprio que fui um adolescente um pouco sombrio e demasiado responsável. Também tive alguma militância política, distribuía panfletos contra Salazar. Tudo muito sério. Devia ter-me divertido mais. Mas a ida para terapeuta de adolescentes foi ocasional. A minha formação foi na área de adultos, mas trabalhei com João dos Santos, que me alertou que os pedopsiquiatras não davam muito certo com adolescentes. Entusiasmou-me, ajudou-me e, quanto mais estudava, mais interessado ficava.
Tinha-lhe dado jeito encontrar um Daniel Sampaio na sua adolescência?
Acho que sim, gostava de ter falado com alguém. Os meus pais eram grandes educadores em termos da ética e valores, mas muito críticos e restritivos da minha liberdade. Gostaria de ter tido um bocadinho mais de liberdade.
Como chegou à psiquiatria?
Com 17 anos queria ser ator de teatro, mas fui muito influenciado por uma professora de Filosofia, que me aconselhava Psicologia ou Psiquiatria. Fui para Medicina e nunca pensei noutra especialidade. Achava que a psiquiatria ia explicar-me tudo.

(...)
Um amigo seu, António Lobo Antunes, escreveu que “nós somos quem fomos”. Quem foi Daniel Sampaio?
A infância e a adolescência explicam quem sou. O que tenho de positivo: ser responsável e ter noção de serviço devo aos meus pais, alguma reserva e o meu lado um pouco sombrio à minha adolescência e a minha ternura devo-a fundamentalmente à minha avó e à minha mulher com quem sou casado há 45 anos.
Excerto da entrevista dada ao Semanário Expresso a 23 de outubro de 2016. Disponível em http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-10-23-Daniel-Sampaio-A-psiquiatria-nao-me-fez-entender-o-amor-mas-tornou-me-mais-humano