Já está disponível no site do IAVE o documento «Informação-Prova», relativamente ao exame de Filosofia a realizar em 2016.
Consultar aqui http://provas.iave.pt/np4/file/4/IE_EX_Fil714_2016.pdf
Dinamizado pelo Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres, este blogue abre um espaço de comunicação e de partilha em torno do saber, da cultura e dos problemas do Mundo Contemporâneo. Promove uma perspetiva interdisciplinar do conhecimento e o desenvolvimento de uma cidadania ativa. Pretende dar voz, especialmente, aos alunos, mas encontra-se aberto à colaboração da Comunidade Escolar. E-Mail de contacto: espacocriticomt@gmail.com
domingo, 22 de novembro de 2015
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Dia Mundial da Filosofia na Escola Secundária Madeira Torres (2)
terça-feira, 17 de novembro de 2015
DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2015 (1)
Celebra-se esta quinta feira, dia 19 de novembro, o Dia Mundial da Filosofia.
Dia Mundial da
Filosofia
Pluralidade
das linguagens e dos lugares da filosofia
19 novembro 2015
Mensagem de Mme Irina Bokova
Directora geral da UNESCO,
por ocasião do Dia Mundial da Filosofia
A convicção de que
a filosofia pode trazer uma contribuição essencial ao bem-estar da humanidade,
esclarecer os desafios complexos e fazer progredir a paz está no centro do Dia
Mundial da Filosofia.(…)
A UNESCO considera
a filosofia como um vetor de emancipação individual e coletiva. Pois pensar,
refletindo sobre o pensamento, é filosofar, e nós fazemo-lo constantemente,
movidos pelo (…) espanto. A filosofia é o diálogo suscitado por este espanto,
que é mantido de época para época com a arte e a literatura, que anima os
debates consagrados aos desafios sociais e políticos, e que é praticado por
todos, sem formação especializada, muito para além das salas de aula. Tal é a
mensagem da UNESCO hoje: devemos celebrar alto e bom som os méritos da
filosofia, a fim de acordar o interesse de cada mulher e de cada homem e, sobretudo,
de cada jovem. Devemos dar a conhecer em maior escala, e de maneira diferente,
as maravilhas da filosofia. (…)
Trabalhamos para
que a filosofia, a mais antiga das disciplinas, toque um público mais amplo
graças às tecnologias de ponta, por exemplo, os instrumentos de ensino on line
inspirados no Manuel de philosophie : une perspective Sud-Sud da l’UNESCO(2015) (…).
A UNESCO foi
criada há setenta anos, num mundo em reconstrução após uma guerra devastadora,
na base de uma nova conceção de futuro, ancorada na paz e assente na
solidariedade intelectual e moral dos povos.
A filosofia esteve
sempre no centro do mandato da Organização, sendo o seu objetivo oferecer a
cada um, homens e mulheres indistintamente, ocasião de auto descoberta e de
descoberta dos outros, de compreender as mudanças e de tirar partido delas para
tornar possível um futuro melhor para todos.
Mahatma Gandhi
disse um dia: «Toda a nossa filosofia é tão seca como poeira se ela não se traduz imediatamente em atos ao
serviço da vida»
Sempre foi esta a
mensagem da UNESCO, e ela nunca foi tão importante como hoje.
Irina
Bokova
(tradução do
francês da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola
Secundária de Madeira Torres)
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Fernando Gil
![]() |
Fernando Gil (1937-2006) (imagem retirada de https://www.fct.pt/apoios/premios/fernando_gil/) |
Todos os anos surge a pergunta:
- Há filósofos portugueses?
Este ano não foi exceção.
Por acaso, após resposta afirmativa, o primeiro nome que me surgiu foi o de Fernando Gil.
Não por acaso, encontro no blogue Páginas de Filosofia (http://www.paginasdefilosofia.net/na-logica-de-fernando-gil/), publicado hoje, a seguinte referência
Fernando Gil (1937 – 2006) foi filósofo e ensaísta, autor de vários livros em português e francês que abarcam temas como a epistemologia ou estética, a filosofia moral e política. É um dos grandes nomes do pensamento filosófico português do século XX, que se dedicou ao estudo da objetividade do conhecimento. Frequentou cursos em universidades da África do Sul, Portugal e França. Estudou sociologia, direito e filosofia. Doutorou-se na Sorbonne com a tese “La logique du Nom”, publicada em 1972. Traduziu vários autores estrangeiros, entre eles Karl Jaspers. Uma das suas obras mais marcantes é o ensaio “Mimésis e Negação” de 1984. Foi alvo de várias distinções portuguesas e estrangeiras. Após a sua morte, o Governo Português criou o Prémio Internacional Fernando Gil em Filosofia da Ciência.
Esta notícia, por sua vez, foi retirada de http://ensina.rtp.pt/artigo/na-logica-de-fernando-gil/, onde se pode ver um pequeno video sobre Fernando Gil.
Fernando Gil é irmão de José Gil, que é também filósofo. Este último, em 2005, foi considerado pela revista francesa Le Nouvel Observateur um dos 25 grandes pensadores de todo o mundo. Muito em breve, dedicar-lhe-emos uma publicação no nosso blogue.
terça-feira, 6 de outubro de 2015
III Edição do Prémio Nacional do Ensaio em Ética e Filosofia
Do site da DGE (http://www.dge.mec.pt/noticias/ensino-secundario/iii-edicao-do-premio-nacional-do-ensaio-em-etica-e-filosofia) retirámos esta notícia, que pode interessar aos nosso alunos.
A Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática - APEFP, com o objetivo de sensibilizar os jovens para a reflexão e a criatividade, lança, este ano letivo de 2015/2016, a III Edição do Prémio Nacional do Ensaio em Ética e Filosofia Prática.
Este concurso destina-se a alunos e alunas dos Cursos Científico-Humanísticos do ensino secundário dos estabelecimentos de ensino públicos e do ensino privado e cooperativo.
O Prémio tem como objetivo eleger, sob um critério de mérito, o melhor ensaio, submetido pelas escolas a concurso, sobre um problema ético e/ou filosófico prático, ou seja, remetendo para questões que interessam a toda a sociedade, e este ano é subordinado ao tema:
O que pode fazer a Filosofia pela Tolerância e Paz Mundial?
As candidaturas poderão ser apresentadas pelas escolas à APEFP até ao dia 31 de março de 2016.
Destacando a importância das duas edições anteriores, divulga-se esta iniciativa, relembrando a possibilidade serem entregues aos concorrentes:
- Prémios monetários para o Ensaio vencedor e para o Ensaio com Menção Honrosa.
- Publicação dos Ensaios em Livro, a editar em Junho de 2016.
- Diplomas.
- Entrega dos Prémios em Cerimónia Pública.
sábado, 26 de setembro de 2015
O primeiro filósofo
Tales de Mileto
Na nossa última publicação, ficámos com a pergunta que os primeiros filósofos fizeram
Haverá um elemento primordial a partir do qual tudo é gerado?
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imagem retirada de http://www.infopedia.pt//apoio/recursos/rfa_2035.jpg |
Tales, nascido na colónia grega de Mileto, no século VII a. C.. Tales de Mileto, portanto.
Tales é também conhecido como astrónomo e matemático. Quem não conhece (pelo menos de nome!) o teorema de Tales? Mas Tales não se ficou apenas (!) pela resolução de problemas particulares, como por exemplo, calcular a altura de uma pirâmide no Egipto ou prever um eclipse do Sol. Não, Tales queria encontrar resposta para um problema bem mais complexo como o da origem do Cosmos, palavra grega que continua a significar para nós Mundo ou Universo. O que o distingue como filósofo é precisamente esta necessidade de encontrar uma explicação total, que possa dar conta da existência do universo e das coisas nele existentes. Rejeitou as explicações míticas, as explicações que reconduziam a origem do universo e das coisas a uma ação de elementos acima da natureza (dizemos sobrenaturais). Baseado na observação dos fenómenos naturais e confiante na sua própria e humana capacidade de compreensão e de explicação, dizemos, na razão, Tales teria considerado que tudo teria tido origem na água e que a água seria elemento constituinte de todas as coisas. Assim, a água seria o elemento primeiro (arquê) do qual tudo se teria originado e a água estaria presente em todas as coisas. Enquanto elemento constituinte de todas as coisas a água seria entendida como substância, quer dizer aquilo que subjaz em tudo e aquilo que permanece. Diremos, então, que para os primeiros filósofos há uma matéria de que todas as coisas são feitas e há um princípio de onde todas derivam. Para Tales, teria sido a água.
Data e local de nascimento da filosofia
Quando e onde nasceu a filosofia?
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Mapa da Grécia Antiga Retirado de http://mphmtshistory.weebly.com/history-9-links.html |
«Vemos a filosofia como uma forma completamente diferente de pensar, que surgiu aproximadamente em 600 a.C. na Grécia. (...)
Para compreendermos o pensamento dos primeiros filósofos, temos de compreender igualmente o que significa ter uma conceção mítica do mundo. Tomaremos como exemplo algumas conceções míticas da Europa do Norte.(...)
Certamente já ouviste falar de Thor e do seu martelo. Antes de o cristianismo chegar à Noruega, os homens, aqui no Norte, acreditavam que thor viajava pelo céu num carro puxado por dois bodes. Quando ele brandia o seu martelo, seguiam-se raios e trovões. (...)
Quando troveja ou relampeja, também chove. Isso podia ser indispensável à vida para os camponeses da época dos Vikings. Por isso, Thor era venerado como deus da fertilidade.
A resposta mítica à pergunta porque é que chove, era: Thor brandiu o seu martelo. E quando a chuva vinha, as sementes germinavam e cresciam nos campos. (...)
Passámos um olhar sobre a mitologia nórdica, mas havia representações míticas como estas em todo o mundo antes de os filósofos começarem a criticá-las. Também os Gregos tinham uma conceção mítica do mundo, quando surgiram os primeiros filósofos. Durante séculos, uma geração transmitia à seguinte as histórias dos deuses. Na Grécia, as divindades chamavam-se Zeus e Apolo, Hera e Atena, Dionísio e Asclépio, para citar apenas alguns. (...)
Nesta época, os Gregos fundaram muitas cidades-estado na Grécia e nas suas colónias da Itália meridional e da Ásia Menor. Aí os escravos executavam todo o trabalho físico, e os cidadãos livres podiam dedicar-se à política e à cultura. Com estas condições de vida, a maneira de pensar dos homens mudou: cada indivíduo podia colocar a questão de como a sociedade devia ser organizada. Do mesmo modo, podia também colocar questões filosóficas, sem ter de recorrer aos mitos tradicionais.
Dizemos que se deu um desenvolvimento de um modo de pensar mítico para um género de reflexão baseada na experiência e na razão. O objetivo dos primeiros filósofos gregos era encontrar explicações naturais para os fenómenos da natureza. (...)
Haverá um elemento primordial a partir do qual tudo é gerado?
GAARDER, J. O Mundo de Sofia, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pp. 26-32
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
A Grécia Antiga em 5 minutos
Não há aluno de Filosofia que não tenha referências da Grécia Antiga, que não tenha, pelo menos, ouvido falar de Sócrates, de Platão, de Aristóteles... E muito provavelmente ouviu o seu professor(a) falar com entusiasmo daqueles tempos em que a filosofia circulava pelas ruas e em que os homens tomavam decisões, em conjunto, sobre assuntos que a todos diziam respeito. Os homens, sim, que às mulheres estava vedado o exercício da cidadania (não podemos exigir tudo!). Um povo que nos deu as primeiras explicações racionais sobre o universo, que nos deixou as bases do nosso sistema de pensamento, lógico e matemático, que ainda hoje nos deslumbra com a sua arquitetura e estatuária, que nos deixou obras que nos continuam a interpelar é uma referência na nossa cultura. E não, não são só os professores de filosofia a deixarem-se maravilhar pelas conquistas do povo grego...
Neste pequeno video, produzido pela RTP, podemos, em menos de 5', menos tempo do que aquele que demora a fazer a chamada dos alunos em aula, ter uma visão das coisas extraordinárias que os gregos nos deixaram e da admiração que têm suscitado.
E começa com um poema de Sophia de Mello Breyner...
http://ensina.rtp.pt/artigo/a-grecia-como-farol-da-cultura-ocidental/
Neste pequeno video, produzido pela RTP, podemos, em menos de 5', menos tempo do que aquele que demora a fazer a chamada dos alunos em aula, ter uma visão das coisas extraordinárias que os gregos nos deixaram e da admiração que têm suscitado.
E começa com um poema de Sophia de Mello Breyner...
http://ensina.rtp.pt/artigo/a-grecia-como-farol-da-cultura-ocidental/
Imagem do Partenon, cidade de Atenas, séc. V a.c.
terça-feira, 8 de setembro de 2015
Neuroplasticidade
Cada vez mais os investigadores confirmam a extraordinária capacidade de adaptação do cérebro, reorganizando-se para ultrapassar lesões ou incapacidades. Este é mais um estudo, realizado pela Universidade de Coimbra, que comprova a neuroplasticidade cerebral, neste caso, referente a alterações no córtex auditivo em situações de surdez congénita.
Notícia transcrita daqui: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=60473&op=all
Estudo liderado pela UC revela forte plasticidade
Os surdos congénitos apresentam uma grande neuroplasticidade (capacidade do cérebro se modificar) de longo prazo, fazendo com que o seu córtex auditivo aloje propriedades visuais típicas do córtex visual, revela um estudo internacional liderado pelo investigador Jorge Almeida, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (UC).
Os resultados da pesquisa, já aceite para publicação na Psychological Science, revista internacional de referência na área da psicologia, poderão ser determinantes«para explorar novas abordagens terapêuticas para tratar lesões cerebrais e doenças neurodegenerativas baseadas na neuroplasticidade, e serão centrais para o desenvolvimento de novas gerações de implantes cocleares mais eficazes», nota o coordenador do estudo.
Notícia transcrita daqui: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=60473&op=all
Ver com “olhos de ouvir”
Estudo liderado pela UC revela forte plasticidade
cerebral em pessoas surdas
2015-09-07

Os resultados da pesquisa, já aceite para publicação na Psychological Science, revista internacional de referência na área da psicologia, poderão ser determinantes«para explorar novas abordagens terapêuticas para tratar lesões cerebrais e doenças neurodegenerativas baseadas na neuroplasticidade, e serão centrais para o desenvolvimento de novas gerações de implantes cocleares mais eficazes», nota o coordenador do estudo.
«Os actuais dispositivos», clarifica o investigador, «estão pensados para explorar a organização típica do córtex auditivo, mas o estudo provou alterações na estrutura, passando o córtex auditivo a deter informação relativa à visão. Será assim necessário repensar a concepção dos implantes cocleares de modo a que estes explorem também a nova organização cerebral».
Financiado pela Fundação BIAL e por uma bolsa Marie-Curie (na primeira fase), o estudo foi realizado ao longo dos últimos quatro anos e envolveu um grupo de surdos congénitos e um grupo de normo-ouvintes (pessoas sem surdez) Chineses.

Para perceber os mecanismos de receção e reação do córtex auditivo, ambos os grupos foram sujeitos a diferentes estímulos visuais durante a realização de uma ressonância magnética, tendo os investigadores verificado que, no caso dos surdos, o córtex auditivo herda o tipo de processos e potencialmente organização que vemos no córtex visual dos normo-ouvintes.
Estas modificações neuroplásticas «deverão ser responsáveis pela percepção visual periférica superior normalmente apresentada por surdos congénitos», explica Jorge Almeida.
Entender os «mecanismos que o sistema nervoso central dispõe para se 'reprogramar', modificando o funcionamento do cérebro, é essencial para o desenvolvimento de modelos que expliquem o fenómeno de neuroplasticidade a longo-prazo, ou seja, a compreensão do modo como o cérebro se transforma e adapta a longo prazo, e para a aplicação de terapias baseadas nestes modelos», conclui o líder do estudo, que contou ainda com a participação de investigadores da Universidade do Minho, de duas universidades Chinesas e uma dos Estados Unidos da América.
Financiado pela Fundação BIAL e por uma bolsa Marie-Curie (na primeira fase), o estudo foi realizado ao longo dos últimos quatro anos e envolveu um grupo de surdos congénitos e um grupo de normo-ouvintes (pessoas sem surdez) Chineses.

Jorge Almeida
Estas modificações neuroplásticas «deverão ser responsáveis pela percepção visual periférica superior normalmente apresentada por surdos congénitos», explica Jorge Almeida.
Entender os «mecanismos que o sistema nervoso central dispõe para se 'reprogramar', modificando o funcionamento do cérebro, é essencial para o desenvolvimento de modelos que expliquem o fenómeno de neuroplasticidade a longo-prazo, ou seja, a compreensão do modo como o cérebro se transforma e adapta a longo prazo, e para a aplicação de terapias baseadas nestes modelos», conclui o líder do estudo, que contou ainda com a participação de investigadores da Universidade do Minho, de duas universidades Chinesas e uma dos Estados Unidos da América.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Hannah Arendt e a Banalidade do Mal
Despedimo-nos deste ano letivo com textos da responsabilidade de alunos de Filosofia. Penso que não há melhor maneira de acabar do que esta, com a palavra dos alunos, aqueles que são a justificação de todo o nosso trabalho.
Imediatamente após ter publicado dois textos dos alunos João Silva e Renato Silva, respetivamente, publicamos o da aluna Adriana Fernandes sobre o conceito de «banalidade do mal», da filosofia de Hannah Arendt, filósofa a que também já aqui fizemos referência (post de 7 de março). Todos estes textos foram escritos pelos alunos com a finalidade de serem aqui publicados.
Imediatamente após ter publicado dois textos dos alunos João Silva e Renato Silva, respetivamente, publicamos o da aluna Adriana Fernandes sobre o conceito de «banalidade do mal», da filosofia de Hannah Arendt, filósofa a que também já aqui fizemos referência (post de 7 de março). Todos estes textos foram escritos pelos alunos com a finalidade de serem aqui publicados.
Hannah Arendt e a Banalidade do Mal
Já alguma vez parou para pensar em todas as
atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial? Certamente que sim, já todos
o fizemos. Um dos aspetos mais chocantes que encontramos são as ações das
pessoas envolvidas, atrocidades que nós consideramos completamente imorais e
impensáveis mas que alguém foi capaz de cometer.
É exatamente
sobre este assunto que a filósofa Hannah Arendt se vai debruçar. Hannah Arendt nasceu
na Alemanha (1906), filósofa de origem judaica, passou os seus primeiros 30
anos de vida na Alemanha Nazi, até que saiu ilegalmente do país e emigrou para
os EUA (1940). Foi nos EUA que lhe apareceu uma das maiores oportunidades da
sua carreira: cobrir jornalisticamente o julgamente de Adolf Eichmann, em Jerusalém,
para o jornal New Yorker. (Adolf Eichmann – membro do partido nazi, responsável
pelo transporte de prisioneiros judeus dos territórios ocupados para os campos
de extermínio).
Durante o
decorrer do julgamento, este afirma não ser antissemita, que no final da 2ª
Guerra sentiu medo daquilo que se seguiria por não ter mais ordens e diretivas para
seguir, falava com frases feitas, colocava o dever acima da sua própria
consciência e assumia a culpa do transporte de judeus mas não do extermínio em
si. Hannah Arendt surpreende-se então por estar perante um homem comum, que não
era um monstro nem um indivíduo demoníaco e que, tal como muitos dos envolvidos
no Holocausto, não era sádico nem pervertido, mas sim “assustadoramente
normal”.
É neste
momento que Hannah Arendt coloca uma das suas maiores e mais importantes
questões: O que levará um homem aparentemente normal a cometer tamanhas
atrocidades?
Para começar,
Hannah Arendt procura entender quais as condições que estiveram na origem deste
estado totalitário. Vivia-se, na Alemanha, uma crise económica e política (Pós
1ª Guerra Mundial) onde se encontravam indivíduos isolados, sem terem qualquer
noção de comunidade que ansiavam por algo que desse sentido à sua vida. Neste
contexto, o líder totalitário apercebe-se desta situação e vai transformar uma
sociedade comum num estado totalitário. Como? Alterando completamente os
valores da sociedade. A particularidade de Hitler foi que implementou o regime
nazi como a única alternativa possível e viável e todo este processo foi feito
com um toque e aparência de normalidade. Assim, nesta nova sociedade com os
valores completamente pervertidos, as palavras de Hitler passam a ser a lei e
ninguém desobedece nem sequer as põe em causa. Esta lei passa a ser o dever dos
cidadãos, que obedecem sem questionar.
Deste modo,
Hannah Arendt conclui que a inversão dos valores da sociedade ocorre
principalmente ao nível da lei moral. Enquanto que, hoje em dia, a nossa
moralidade nos diz “Não matarás”, na altura dizia “Matarás”. É sob estas
circunstâncias que o Mal vai perder a sua característica que o torna
reconhecível: ser uma tentação. Enquanto que nós sabemos que não devemos
roubar, a tentação é para roubar mas resistimos à tentação, por ser errado. Da
mesma forma, naquela altura a moral afirmava que deviam roubar e a tentação era
para não roubar, mas eles não cediam à tentação. O mal vai então entrar nesta
sociedade sem qualquer reconhecimento. As pessoas tornam-se incapazes de
distinguir o bem do mal, renunciando àquilo que os torna ‘pessoas’: a
capacidade de pensar.
É a este
fenómeno que Hannah Arendt vai chamar de Banalidade do Mal, o aparecimento do
mal numa sociedade como uma coisa banal e trivial, sem ser reconhecido por
aqueles que o praticam, que se encontram incapazes de fazer juízos morais. Foi
esta ‘incapacidade de pensar’ que levou muitos homens comuns a cometer
atrocidades numa escala monumental nunca antes vista.
Hannah Arendt
conclui assim que o mal não é radical, como o havia considerado, mas sim
extremo, isto é, o mal é algo superficial que não tem raízes. Instaura-se numa sociedade tal como um fungo que se
espalha à superfície, influenciando tudo e todos mas que não tem um
fundamento, é cometido por pessoas que não têm uma índole demoníaca nem
quaisquer más intenções.
Hannah Arendt
considera fundamental refletir sobre estas questões e sobre todo este processo,
para que, caso um dia se voltem a reunir condições como idênticas, consigamos
apercebermo-nos e evitar que uma catástrofe igual se repita.
Gostaria
apenas de concluir com uma passagem do seu livro Eichmann em Jerusalém, sobre a qual todos deveríamos refletir:
“Politicamente falando, a lição é que em condições de
terror, a maioria das pessoas se conformará, mas algumas pessoas não,
da mesma forma que a lição dos países aos quais a Solução Final foi proposta é
que ela "poderia acontecer" na maioria dos lugares, mas não
aconteceu em todos os lugares”
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