quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Vamos fazer um debate? (1)

imagem retirada de http://www.imagenslivres.com/troca-de-ideias-debate/




       Os nossos alunos manifestam com muita frequência a vontade de "debater". No entanto, depressa nos damos conta de que o seu entendimento de debate é frequentemente limitado à ideia de que se trata de uma maneira de expressar e defender uma qualquer opinião sem a preocupação de ouvir outras ou de clarificar sequer o assunto acerca do qual se pretende "ter opinião". Seguramente, é aqui que entra o nosso trabalho: conduzi-los à clarificação e aprofundamento das suas ideias, desenvolver a capacidade de ouvir e de reformular o seu pensamento, frequentemente pouco claro e insuficientemente sustentado, fazê-los sentir a necessidade da informação e do conhecimento sem o qual não existe pensamento estruturado e consistente, em suma, desenvolver um pensamento crítico. Não é tarefa fácil!!!

Antes de nos lançarmos à água, talvez seja bom clarificar o que entendemos por debate no contexto de sala de aula. Socorremo-nos deste texto retirado daquihttp://www.texto.pt/pt/dicas/detalhes.php?sec=7&id=41, acesso a 11 jan. 2017


Como organizar um debate

O debate é uma actividade que decorre naturalmente da vida em sociedade e que nos permite a troca de ideias, o confronto de pontos de vista e a reflexão. Além disso, a informação aumenta, aprende-se a tomar a palavra, a demonstrar e a convencer.
Para que o debate corra bem convém definir:

1. O papel de cada um dos intervenientes 

Um debate é uma troca activa, em que se recebe, ouvindo atentamente os outros, e em que se dá, exprimindo as nossas convicções sobre os temas em discussão. Para tal, é preciso:
  • Saber ouvir
Cada um tem direito à expressão. Não se deve ironizar nem cortar a palavra. Mesmo que não se partilhe da opinião expressa, deve-se respeitá-la e ouvir atentamente o que os outros têm para dizer. Ouvir bem é pensar no que o outro diz.
  • "Praticar" a expressão oral
Não se aproveita o debate se não se estiver resolvido a tomar a palavra. Esta é uma boa ocasião para se vencer a timidez. O que é preciso é exercitar cada vez mais.

Exprimir-se é expor o ponto de vista sobre cada um dos pontos abordados, pelo que deve indicar-se com nitidez a posição que se tem, tendo o cuidado de apoiar cada afirmação com um ou vários documentos/provas.

O valor de um debate reside no valor dos argumentos. Devem procurar-se, pois, provas para convencer os outros. Não se deve ter receio de mudar de opinião no decorrer do mesmo se descobrirmos que o ponto de vista defendido não é válido. Tal atitude é prova de honestidade e de coragem.

2. As etapas para a organização e realização de um debate

  • Escolher um assunto simples e que desperte interesse.

  • Na maioria das vezes, o debate ganha em animação e interesse se tiver sido preparado previamente por quem o organiza, quer a a nível da informação fornecida/adquirida quer pensando sobre o tema em questão. Para o conseguir:
- pode fazer-se um inquérito, reflectir sobre um pequeno questionário.
- estudar/criar um dossier sobre o tema, após reunir documentação sobre o mesmo.
- um grupo pode preparar uma exposição de cerca de 10 minutos que servirá de ponto de partida. Esta exposição pode assumir a forma de uma pequena representação teatral, de um pequeno filme ou uma apresentação em Power Point.


  • O debate deve ser organizado materialmente, ou seja, há que pensar sobre:
- Como se vai dispor a sala?
- Quem vai animar/moderar o debate?

  • O que faz o(a) animador(a)/moderador(a):
- lança o debate, expondo com clareza o assunto a discutir;
- dá a palavra às pessoas que a pedem e impede que a outras intervenham sem a ter pedido;
- estimula os participantes e convida-os a reagir e a exprimirem-se;
- chama a atenção para o assunto que está a ser debatido quando as intervenções dos participantes "fogem" ao mesmo;
- controla o tempo e, no fim, convida a que tirem conclusões.
Durante o debate, dois secretários tomam notas das principais ideias emitidas que permitirão fazer o balanço final.
Este conteúdo foi gentilmente cedido pelo Centro de Competência Nónio da Malha Atlântica(com ligeiras adaptações).

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Pensar é perigoso


«Não há pensamentos perigosos; pensar é perigoso em si mesmo». É com estas duas ideias de H. Arendt que se inicia o documentário Vida Ativa: O Espírito de Hanna Arendt. Mas a filósofa também nos diz que «não pensar é mais perigoso ainda». E porquê? É que a ausência de pensamento próprio e de reflexão pessoal permite o desenvolvimento de comportamentos de obediência cega e acrítica que destituem cada um da sua capacidade de agir, de pensar e de falar, e reduzem-no à condição de peça mecânica, de instrumento de um sistema de poder.

Hanna Arendt continua a estar presente na cultura atual, continua a despertar interesse para além das paredes da Universidade. Depois do filme de 2012 (estreado em Portugal em 2013) surge agora, no âmbito das comemorações dos 110 anos do seu nascimento, um documentário sobre a sua vida e o seu pensamento, da autoria da realizadora Ada Ushpid. Estreia amanhã, 5 de janeiro, em Portugal.




Nota: Para saber mais sobre a filósofa Hanna Arendt, temos neste blogue mais duas publicações. É só procurar em «Etiquetas» por H. Arendt.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (7)

“Deve a União Europeia receber refugiados sírios?”

Na atualidade, a migração de refugiados sírios que fogem de conflitos armados para a Europa, tem feito manchetes em todo o mundo e dividido milhares de opiniões quando se coloca a questão: “Deve a União Europeia receber refugiados sírios?”.
É impossível ficar indiferente a este drama humanitário, quer queiramos quer não, as redes sociais e os mais diversos meios de comunicação social fazem questão de partilhar o desespero e aflição destas pessoas que atravessam frequentemente uma série de obstáculos.
 A verdade é que existem muitos europeus com receio da vinda dos refugiados. Muitos tendem a considera-los terroristas que se estão a aproveitar das circunstâncias para entrar neste continente, o que na minha perspetiva é completamente incompreensível. Estas pessoas viram-se obrigadas a abandonar o seu país onde a extrema violência se tornou praticamente diária, um país onde uma minoria leva a ideologia religiosa ao extremo sem pensar nas consequências e ignorando os inocentes.
Pois também é verdade que existem dois fatores em constante contradição: o facto da  guerra na Síria se agravar cada vez mais e o facto dos europeus se encontrarem divididos no que toca à receção destas pessoas. Pois vos digo eu, que a solidariedade não deve ser um “presente” para os refugiados mas sim um dever legal da União Europeia. Partindo do ponto de vista de Nelson Mandela, que afirmou sonhar “com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que fomos feitos para viver como irmãos” concluiu-se que a entreajuda e a solidariedade devem ser deveres de todos nós. Alias para uma União Europeia que defende valores morais como a dignidade humana, a igualdade e o respeito dos direitos humanos (incluindo os direitos de pessoas pertencentes a minorias), esta deve ser a primeira a agir e tentar trabalhar de modo a que estas pessoas deixem de viver em condições desumanas (como atualmente estão submetidas).

Enfim, como todos sabemos é nosso dever agir de acordo com aquilo que defendemos, por isso a necessidade de agir de modo a ajudar estas pessoas é urgente. Afinal nunca é tarde demais para mudar o rumo da história.

Joana Bezerra, 11ºB

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Ainda a Palestra do Professor Bagão Félix

Coube ao aluno Rui M. realizar o relatório da aula do dia 17 de novembro. Como a aula coincidiu com a palestra, aqui temos o seu relatório:

«A palestra iniciou-se com a habitual apresentação da biografia do professor e economista Bagão Félix.
Este começou por nos apresentar o tema, explicando a origem etimológica da palavra ética e dizendo que esta foi inventada por Aristóteles, derivando da palavra grega ethos.
 Em seguida abordou os sete pecados sociais, de Mahatma Gandhi, que são os seguintes: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício.
 Este explicou que estes pecados a que Gandhi se refere acontecem devido ao facto da nossa sociedade ser individualista e apenas pensar no seu próprio bem e do lucro que estes podem obter através destes comportamentos.
 Após esta breve abordagem, o professor passou a falar sobre a relação entre a ética e a lei. A ética é base de inspiração para as normas jurídicas sendo que nem todas as normas jurídicas se baseiam na ética e nem todas as ações eticamente erradas são punidas por lei. Os exemplos utilizados foram: o tamanho do cartão de cidadão e copiar nos exames, respetivamente.
 Para dar continuidade à palestra foi-nos feita uma pergunta retórica que foi a seguinte: O que é ser indivíduo? Passando-nos a explicar que ser indivíduo é ser único e irrepetível apenas de um ponto de vista biológico, não nos dando direito a acharmos que somos superiores a outros seres.
 Seguindo o tema, explicou que o cidadão possui direitos e deveres, presentes nas leis, sendo originalmente um termo proveniente da Grécia, mais especificamente da polis, ou seja, da cidade.
 Em seguida foi introduzido um terceiro tema: O que é ser pessoa? que consiste em ter vontade, perceção, sensibilidade e consciência das nossas ações.
 Isto serviu para introduzir o seguinte tópico, que nos diz que nenhuma lei proíbe o ódio, maldade, ganância, mentira,...
 As leis são apenas uma pequena porção (de adesão obrigatória) da ética, que se aproximam dela mas nunca a atingem na sua totalidade.
 Sendo assim, podemos concluir que a pessoa tem mais deveres que o cidadão, pois o cidadão tem de cumprir a lei, mas a pessoa além de leis, também tem o dever de seguir aquilo que a ética aceita como correto.
 Assim sendo percebemos que as leis distinguem o que é legal do que é ilegal, já a ética distingue o que é legítimo do que é ilegítimo.
 Em seguimento é-nos apresentado algo novo que consiste na aritmética da ética, que nos diz que a ética é a combinação dos saberes e dos valores.
 O professor aconselhou a leitura do livro de Aristóteles, intitulado Ética a Nicómaco, que, mesmo tendo sido escrito há 2500 anos, levanta questões éticas presentes na sociedade de hoje em dia.
 Foi utilizada então a expressão decência, que é considerada pelo autor uma expressão em desuso, que se refere à estética da ética e que implica que o nosso comportamento se baseie nos valores.
 Outra expressão que o professor também destacou foi integridade, que consiste na combinação de integral com responsabilidade.
 Posto isto, foi assim abordado algo novo para mim a que o professor chamou orgulho de pertença, que é a falta de orgulho naquilo que possuímos, como a nossa escola, casa, etc. O caso que mais o choca é a falta de utilização da palavra Portugal, e o facto da população portuguesa, na sua maioridade, apenas mostrar orgulho no seu país quando se fala em futebol.
 Retomando a abordagem dos direitos e deveres, foi levantado o caso de desarmonia que por vezes é notório entre estes, tendo um impacto enorme na nossa sociedade, o que leva à revolta e insatisfação.
 Foram utilizados alguns exemplos como:
o direito à vida implica não atentar contra a mesma, o direito à verdade implica não mentir, o direito ao trabalho implica trabalhar.
 Por estas mesmas razões devemos optar por merecer os nossos direitos através do cumprimento dos nossos deveres e não através de facilitismos, contornando obstáculos em vez de os ultrapassar.
 Em seguida passámos a falar sobre os saberes. Os exemplos foram: o conhecimento, diretamente ligado ao lado cognitivo, o saber mudar que é a adaptação, o saber comandar que é a liderança, o saber rir que é o humor e o saber entender que é a compreensão. Após ficarmos mais esclarecidos sobre no que é que os saberes consistem, o professor referiu que nem sempre podemos aprender tudo através do saber cognitivo mas que temos também de nos envolver e de experimentar através da compreensão. Aconselhou-nos também que, quando nos envolvemos não nos devemos comprometer, dando o exemplo do fiambre e do ovo. Quando comemos um ovo a galinha esteve envolvida, pois é ela quem o põe, mas quando comemos fiambre o porco está comprometido pois este teve de falecer para o podermos comer.
 Este concluiu que a ética é uma combinação de conhecimento, sabedoria e experiência.
 Em seguida o professor dividiu a ética em exemplo, erro e exigência.
Em relação ao exemplo este apresentou-nos uma citação, que é a seguinte: longo é o caminho através de regras e normas, curto e eficaz através de exemplos.
Já cometer erros é um privilégio, que vai de encontro ao referido acima, e que nos diz que devemos experimentar e não nos devemos restringir ao saber cognitivo.
Por fim, na exigência, este distingue a pessoa comum, que é exigente com os outros exclusivamente, da pessoa superior, que é exigente consigo própria.
 Dando continuidade foi abordado um tema relativo à gestão de tempo. Foi-nos dito que em primeiro lugar devemos dar atenção ao que é importante e urgente, deixando para último o que não possui importância ou urgência.
Quando nos é apresentada uma situação urgente, mas não importante, e uma importante, mas não urgente devemos resolve-las pela ordem apresentada.
Todavia, o homem é o único ser que possui noção de importância, pois os animais apenas sabem o que é urgente, nomeadamente as suas necessidades biológicas como, por exemplo, comer.
 Avançámos assim para os graus éticos. Estes dividem-se em três: ética requerida (segredo profissional), ética permitida (silêncio de um arguido) e ética proibida (matar uma pessoa).Ambos os exemplos dados para a ética requerida e permitida, podem tornar-se em ética proibida se estes possuírem informações sobre um crime. Já o exemplo dado na ética proibida pode ser permitido quando em legítima defesa.
 O subtema abordado em seguida foi a globalização (progressiva erosão da relevância da noção de distância e de tempo para as atividades, relações e processos políticos, económicos e sociais), levando assim a uma vulgarização do mal. O professor deu-nos a compreender, através de exemplos divertidos, que hoje em dia, mais e mais convivemos com objetos e produtos das mais variadas zonas do mundo.
Como consequência da globalização, tudo se tende a igualar, menos as pessoas.
Em continuidade este dividiu as pessoas em quatro tipos:
Os inteligentes, em que ambos, ele e outrem, lucram.
Os generosos, em que apenas outrem lucra.
Os malfeitores, que ganham através da perda de outrem,
E os estúpidos, em que não existe lucro algum, chamando assim, àquele que perde mais que outrem, um estúpido mais que perfeito.
 Continuando a palestra, este abordou de forma superficial o imperativo categórico de Kant, que nos diz para agir da forma que queremos que todos ajam, de forma a essas ações se tornarem máximas.
Assim sendo os deveres dividem-se em dois tipos:
O dever legal, não tendo grande importância ética, mas sim devido a uma obrigação legal.
O dever moral, este sim com relevância ética, pois a ação é baseada na consciência.
 Passámos então a ouvir um novo tópico, o todo e as partes.
Aqui o professor falou-nos sobre individualismo, afirmando que deveríamos funcionar como uma orquestra: todos têm a mesma partitura, existe pouca hierarquia, e todos são cruciais.
Tal como o Papa Francisco disse: Poliedro, a união de todas as partes, que, na unidade, mantêm a originalidade das partes individuais.
Ainda relativo ao tema, o professor contou-nos a história da visita do rei Luís IX de França à catedral de Chartres. De forma resumida, nesta história o rei visita a catedral, que estava a ser construída, perguntando a cada pessoa que lá trabalhava o que estava a fazer. O carpinteiro dizia que estava a tratar da madeira, o escultor a esculpir, etc. Por fim, já à saída, vê um homem baixo e corcunda, já idoso a varrer o chão, e fazendo a mesma pergunta este responde: Estou a construir uma catedral!

Sendo assim podemos concluir que todos são importantes independentemente da posição que ocupam, ou seja, não deve existir individualização pois todos lutam para um objetivo comum. No final da palestra apenas duas dúvidas foram colocadas (referidas na participação oral) e após o seu esclarecimento, foram feitos os habituais agradecimentos, sobretudo ao professor Bagão Félix. Após o vereador e a vice-presidente darem a sua apreciação sobre a palestra, abandonámos o auditório dando a lição por terminada.

Ainda a Palestra do Professor Bagão Félix

A (in)sustentável urgência da ética
      Foi este afinal o título da comunicação a que assistimos no passado dia 17 de novembro, na qual o Professor Bagão Félix defendeu a tese de que a crise pela qual estamos a passar «mais do que económica é uma crise ética». Podemos considerar que esta tese fornece  uma  resposta para entender o que sucedeu nos Estados Unidos da América e na Europa com o colapso do sistema financeiro e bancário, em 2008, que conduziu a uma crise global com consequências económicas e sociais enormes, nomeadamente a nível do aumento das taxas de desemprego e da pobreza.
     A tese defendida por Bagão Félix parece aproximar-se da de todos aqueles que defendem que a  ausência de princípios morais e a ganância esteviveram na origem da crise. Como consequência, a solução deverá ser encontrada na ética, o que de forma muito coerente foi sustentado pelo palestrante.
    A propósito deste problema dos nossos dias, diz o  filósofo norte americano M. Sandel:
    «Há quem afirme que a ausência de princípios morais no âmago do triunfalismo do mercado se deveu à ganância, que por sua vez levou a uma irresponsável propensão para assumir riscos. A solução segundo esta visão consiste em refrear a ganância, insistir numa maior integridade e responsabilidade dos banqueiros dos executivos de Wall Street e decretar regulações sensatas, de modo a evitar que volte a ocorrer uma crise semelhante.» (M. Sandel, 2015, O que o dinheiro não pode comprar, Presença, Lisboa) Pode-se objetar, como faz M. Sandel, que se trata de uma visão parcelar e apresentar outra resposta, que é precisamente o este filósofo faz. 
        O facto de um problema possibilitar vários tipos de respostas, quer para o seu entendimento quer para a sua solução, permite que nos demos conta da sua complexidade e convida-nos a um exercício ativo do nosso pensamento de uma forma autónoma e crítica. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Para lá do discurso de Trump

A revista francesa Philosophie Magazine, no seu número de novembro, inclui uma entrevista com Moisés Naím, apresentado como «um dos intelectuais mais influentes dos Estados Unidos». A entrevista aborda o seu último livro intitulado The End of Power e, naturalmente, a questão mais atual da política americana -  a campanha para as eleições presidenciais.
Transcrevo uma parte da sua entrevista que nos pode ajudar a interpretar o discurso de Trump e a sua recetividade junto de largas camadas da população americana, a ponto de a ter convencido a votar nele para presidente dos Estados Unidos da América e de o sistema eleitoral americano o ter feito eleger.

« (...) Toda a gente sente que há mudanças sísmicas, a todos os níveis. E a maior parte das pessoas não sabem se estas mudanças lhes vão ser favoráveis. Para um grande número, essencialmente nos países desenvolvidos, estas mudanças não foram benéficas. Elas veem-nas, então, como ameaças. E querem que alguém páre isso, que elimine a incerteza. Trump promete a segurança. Ele prometeu, por exemplo, que se fosse eleito, acabaria com o terorismo. Isso não tem nenhum sentido. Ninguém tem a fórmula mágica. E no entanto esta promessa acertou no alvo. Trump não faz promessas excessivas. Faz promessas que toda a gente sabe que não funcionam. O seu programa está cheio de ideias mortas. Nós sabemos que os muros não impedem os migrantes.Isso não o impede de ter feito da construção de um muro entre os Estados Unidos e o México o eixo central da sua política de imigração. Na realidade, a exequibilidade desta medida não lhe interessa. Trump evolui num regime de "verdade" que o torna hermético à crítica.

      Fala-se muito neste momento da post-truth politics, de uma política " para além da verdade". Trump é o rosto desta nova política?
Ele introduziu um novo modo, muito eficaz, de se comportar em relação aos factos, que consiste em injetar na política, à vista de toda a gente, mentiras. Trump mente sempre. Isso está estabelecido e documentado. Mas isso não muda grande coisa. Os eleitores têm afetos e a principal função das mentiras de Trump é dar expressão a estes afetos. Assim, eles não se preocupam com o facto de serem mentiras. Houve, durante esta campanha, todo um trabalho de fact-checking, de "verificação de factos" por parte da imprensa e mesmo dos cidadãos comuns. É importante que este trabalho seja feito. Mas isso não afeta propriamente Trump. Vimos a mesma coisa com os partidários do Brexit que avançaram números totalmente erróneos sobre as consequências da saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Reconheceram-no no dia a seguir ao referendo. Sem que isso tenha chocado excessivamente os eleitores. Estes números têm a função de exprimir a sua ansiedade, eles querem acreditar neles, mesmo que sejam falsos. Estamos portanto na era da política pós factual.

    Trump tem alguma chance de ganhar?
As sondagens indicam que é um verdadeiro competidor e que tudo pode acontecer. (...)»

Naím, Moisés (2016), Entrevista a Martin Legros, Philosophie Magazine, nº 104, pp. 70-75.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Discurso político?

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos não deixou os nossos alunos indiferentes. Bem pelo contrário!! Aliás, não me lembro de nenhum outro acontecimento político ter causado tanto efeito...
Não tenho por hábito fazer qualquer tipo de comentário à política partidária. Procuro nunca resvalar para um discurso superficial, imediatista e fácil e conseguir levar a cabo o papel que considero ser o da filosofia: pôr travão à tendência acrítica e à dificuldade de análise racional dos problemas. Aliás, é também essa a maior dificuldade, e também o maior desafio, no seu ensino.

Quando o R.G. percebeu que iríamos abordar o discurso político no âmbito do tema «Argumentação e Retórica» sugeriu que analisássemos um discurso de Donald Trump. Muito bem! A primeira etapa era trazê-lo (traduzido).

1ª etapa cumprida!


Imagem retirada de http://www.magazineindependente.com/www2/trump-ja-estava-confiante-republicanos-vatariam-casa-branca/

Excertos do discurso de candidatura à presidência dos EUA – Donald Trump (16 de junho de    2015):

“O nosso país encontra-se numa situação extremamente problemática. Já não vencemos em nada. Era hábito vencermos, mas agora já não. Quando foi a última vez que ganhámos um acordo comercial, digamos, à China? Eles destroem-nos. Eu ganho sempre à China. Sempre.”
“Quando o México envia pessoas, não envia as melhores. (…) Envia pessoas com muitos problemas, e essas pessoas trazem os seus problemas com elas. Trazem drogas. Trazem crime. Eles são violadores. E talvez alguns sejam boas pessoas.”
“E lembram-se do site de 5 mil milhões de dólares? 5 mil milhões de dólares que gastámos num site, e ainda agora não funciona. Um site de 5 mil milhões de dólares. Eu tenho imensos sites, tenho-os em todo o lado. Contrato pessoas, elas fazem-me um site. Custa-me 3 dólares. O outro custou 5 mil milhões.”
“Precisamos de um líder que consiga os empregos de volta, que consiga trazer a manufatura de volta, que consiga trazer as forças militares de volta, que consiga tratar os nossos veteranos. Os nossos veteranos foram abandonados. (…) Precisamos de alguém que pegue na marca dos EUA e a faça grande de novo. Não está grande neste momento. Precisamos — precisamos de alguém — que pegue neste país e o faça grande de novo. Conseguimos fazer isso. Assim, senhoras e senhores, vou candidatar-me ao cargo de presidente dos EUA, e vamos tornar este país grande outra vez.”
“Vou ser o melhor presidente a nível de empregos que Deus alguma vez criou. Digo-vos isso. Vou trazer de volta os empregos da China, do México, do Japão, de diversos lugares. Vou trazer de volta os empregos e vou trazer de volta o dinheiro.”
“Temos 18 triliões de dólares em dívida. Não temos nada a não ser problemas. Temos forças militares que precisam de equipamento em todo o lado. Temos armas nucleares obsoletas. Não temos nada. Temos uma Segurança Social que vai ser destruída a não ser que uma pessoa como eu traga o dinheiro de volta para o país. Temos imensas pessoas que querem cortar nisso. Eu não vou cortar nisso; eu vou trazer dinheiro de volta e nós vamos salvá-la.”

Excertos do discurso sobre política de imigração – Donald Trump (27 de abril de 2016):
“Nos anos 40 salvámos o mundo. A nossa melhor geração venceu os Nazis e os imperialistas japoneses. Depois voltámos a salvar o mundo. Dessa vez, do totalitarismo e do comunismo. A Guerra Fria durou anos mas, adivinhem, ganhámos e ganhámos em grande. Democratas e Republicanos a trabalharem juntos fizeram o Sr. Gorbachev atender ao presidente Reagan, o nosso presidente, quando ele disse: “Deitem abaixo esse muro.” (…) Infelizmente, após a Guerra Fria a nossa política de imigração afastou-se gravemente do percurso. Falhámos em desenvolver uma nova visão. De facto, com o avanço dos anos, a nossa política de imigração começou a fazer cada vez menos sentido. A lógica foi substituída por tolice e arrogância, o que levou a desastre atrás de desastre.”
“Estamos a reconstruir outros países enquanto enfraquecemos o nosso. Acabar com o roubo de empregos americanos dar-nos-á os recursos necessários para reconstruir as nossas forças armadas, o que tem de acontecer, e recuperar a nossa força e a nossa independência financeira. Eu sou o único candidato à presidência que percebe isto, e isso é um grave problema. Eu sou o único — acreditem, eu conheço-os a todos – eu sou o único que sabe como remediar a situação.”
“E depois existe o Estado Islâmico. Eu tenho uma simples mensagem para eles. Os seus dias estão contados. Não lhes direi quando e não lhes direi como. (…) Mas eles irão desaparecer. O estado Islâmico vai desaparecer se eu for eleito presidente. E vai desaparecer rapidamente. Vai desaparecer muito, muito rapidamente.”


Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (6)








“Eutanásia”

A Eutanásia consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado grave, terminal ou que esteja sujeito a dores intoleráveis. Esta é uma questão bastante polémica, havendo uma grande divergência de opiniões, uma vez que defender uma posição a favor ou contra esta prática exige um confronto de diversos valores cuja importância varia consoante a cultura em que cada indivíduo está inserido. Poucos são os países que permitem legalmente a prática da eutanásia, como a Suíça, a Holanda e a Bélgica, enquanto outros têm esta prática ilegalizada por diversos motivos, principalmente religiosos, éticos e culturais. Eu defendo a legalização da prática da Eutanásia em casos de sofrimento extremo e sempre de livre vontade do paciente em causa por diversas razões que irei passar a explicar.
Em primeiro lugar, sendo a eutanásia uma forma de evitar a dor e sofrimento de um paciente cujas possibilidades de viver são reduzidas, eu considero perfeitamente compreensível que seja praticada em pacientes nestas condições. Há quem interprete a prática da eutanásia como o ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer o suicídio, utilizando argumentos éticos para defender a sua posição, mas será que evitar a dor de uma pessoa pondo um fim ao seu sofrimento não pode ser considerado moralmente mais correto do que deixar a pessoa viver os poucos dias que lhe restam e acabar por ter uma morte dolorosa? Sim, eu defendo que seria moralmente mais correto a prática da eutanásia em pacientes em estado terminal. Qual a razão de adiar uma morte tão próxima e dolorosa quando se pode simplesmente acabar com o sofrimento sem ser dessa forma? Para a pessoa viver mais um pouco até morrer de tanta tortura imposta pelas circunstâncias da sua vida? Há pessoas que consideram esta prática como uma violação dos direitos humanos, nomeadamente o direito à vida, mas na minha opinião acaba por ser mais humano recorrer à eutanásia a pedido do doente, a chamada  morte digna, do que obrigá-lo  a viver o resto da sua vida em intenso sofrimento.
Em segundo lugar, cada pessoa tem o direito de decidir por si próprio e aceitar o seu pedido da eutanásia seria respeitar a autodeterminação de cada um. É claro que a decisão de recorrer ou não à eutanásia tem de ser muito bem pensada pelo paciente e não pode ser uma escolha irrefletida. O estado de saúde mental do paciente teria de ser avaliado assim como outras componentes, como as biológicas, sociais, culturais e económicas, de forma a que o indivíduo tenha total consciência das suas decisões, assegurando, assim, a autonomia da pessoa que não deve ser influenciada por motivos exteriores a si. Desde que este protocolo fosse seguido, não haveria razões para recusar o pedido de um doente para recorrer à eutanásia. Ainda assim, com base em crenças religiosas, há quem defenda que retirar a vida a alguém é uma prática que apenas a Deus é permitido realizar, já que acreditam que foi este que deu a vida aos Homens. Se isto for verdade, seria necessário referir que Deus não só criou o Homem, como o criou como ser inteligente e livre. Daqui resulta a liberdade do doente poder escolher a forma como deseja morrer, assim como a possibilidade de antecipar o dia da sua morte, sendo assim respeitados os seus direitos, tal como Jorge Torgal, médico e professor catedrático, defende que “esta situação tem a ver com os direitos individuais dos cidadãos. É por isso que defendo que deve haver uma despenalização da eutanásia”.
Sendo a eutanásia um último recurso, uma última liberdade, um último pedido, eu defendo que o pedido a este recurso não deveria ser recusado a quem está plenamente consciente da sua condição. Afinal, a legalização da eutanásia não a tornaria obrigatória, apenas a disponibilizaria como uma escolha legítima, assim como não excluiria o acesso e investimento em cuidados médicos. Só que nem sempre os cuidados médicos eliminam por completo o sofrimento do doente assim como também nem sempre impedem que este chegue a um estado terminal. Nestes casos, deveria caber ao doente, em perfeita condição de saúde mental, tomar a decisão de recorrer ou não à eutanásia, sendo assim respeitados os seus direitos. Em muitos países as pessoas julgam que respeitar os direitos individuais de cada pessoa, nesta situação, seria respeitar o seu direito a vida, o que acaba por tornar a eutanásia ilegal em certos países. Mas assim como o direito à vida é um direito universal e legal, eu defendo que também deveria ser legal e universal ter o direito de optar por uma morte com dignidade e menos sofrimento.

Inês Lucas  Nº10  11ºA

Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (5)







A eutanásia
Eutanásia, o ato através da qual se abrevia sem dor ou sofrimento a vida de um doente sem possibilidade de cura. Este ato, tanto pode ser executado através da administração de uma injeção letal, do pedido do paciente para que qualquer tipo de equipamento, a que este esteja dependente, seja desligado ou até mesmo da escolha do paciente que passa por deixar a doença tomar o seu rumo, não sendo efetuados quaisquer tipos de tratamentos.
A eutanásia não deixa de ser um assunto delicado onde é difícil a obtenção de um consenso sobre a sua utilização, na medida em que para uns se trata de uma benesse, pois pode ser considerado um alívio eterno, e para outros é um crime, uma vez que não deixa de ser morte de alguém, realizada por outrem (homicídio).
Na minha opinião a utilização da eutanásia deve ser bastante ponderada, quer por parte dos médicos, quer por parte do paciente, e caso essa ponderação seja efetuada em plena consciência então a eutanásia deverá ser administrada. Os profissionais de saúde responsáveis por este procedimento devem sempre analisar cuidadosamente o perfil do paciente em questão tendo em conta o motivo que o leva a quer abdicar da sua própria vida e para além disto, também devem ter em conta se a administração de eutanásia é realmente a ultima opção ou se existem outras possibilidades, como tratamentos alternativos de modo a tornar a dor suportável. E assim como os médicos necessitam de avaliar este método, o paciente deve ponderar se realmente está num estado de tão grande desespero e dor, tanto física como psicologicamente que para este, o sentido da vida já não tem fundamento e a morte é a única opção.
Apesar de muitos considerarem a eutanásia um crime, uma vez que se trata de um suicídio assistido, eu penso que este não deve ser considerado crime porque uma pessoa tem o direito a decidir, desde que o faça consciente das consequências que se seguem à sua tomada de decisão. E penso que aqueles que não concordam, tanto pelos problemas éticos e morais que este assunto levanta, gostariam de ter a possibilidade de efetuar uma escolha entre querer ou não querer “morrer voluntariamente” caso se encontrassem em tal situação.
Infelizmente em Portugal, a prática da eutanásia a partir de uma injeção não é legal e na Europa, somente os países Luxemburgo, Bélgica e Holanda (que recentemente alargou a legalidade do uso da eutanásia a menor de dezoito anos) possuem clínicas onde pacientes de todo o mundo se dirigem para poderem “morrer com dignidade”. Contudo a possibilidade de pedido a um médico para desligar os equipamentos a um paciente dependente dos mesmos ou o facto de ser possível uma pessoa não querer receber quaisquer tratamentos e permitir que a doença siga o seu rumo, não são práticas puníveis pela lei, embora em alguns casos alguns dilemas sejam levantados em relação a estas práticas em hospitais portugueses.
Concluindo, a eutanásia é um dos dilemas mais atuais que ainda necessita de muito estudo, mas que mesmo assim dificilmente se chegará a um consenso sobre a sua prática e por isso mesmo também a filosofia tenta ponderar sobre este assunto, pretendendo garantir ao ser humano uma vida digna e a possibilidade de efetuar as escolhas que considera mais relevantes perante a sua situação.


11ºA Carlota Alves Nunes



Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (4)




O problema dos Direitos Humanos
        Os Direitos Humanos são um assunto muito falado e contestado hoje em dia pela nossa sociedade. Mas o que são os Direitos Humanos? São direitos inerentes a todos os seres humanos, promovendo a igualdade, independentemente da raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma ou qualquer outra condição. Estes incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho e à educação, à saúde, entre muitos outros. Apesar de terem sido postos em prática por todo o mundo, infelizmente nem todos têm o mesmo alcance aos mesmos. O que pretendo dizer com isto é que existem tremendas violações destes direitos, bem como desigualdades a nível social. Os promotores dos Direitos Humanos estão de acordo que, anos depois da sua emissão, a Declaração Universal dos Direitos do Homem ainda é mais um sonho que uma realidade.
            Falando em exemplos, relativamente ao direito à vida, podemos dar como exemplo o seguinte facto: estima-se que 6500 pessoas foram mortas em combate armado no Afeganistão em 2007, sendo que quase metade delas foram mortes de civis não combatentes; centenas de civis também foram mortos em ataques suicidas por grupos armados. Então e o direito que afirma que “Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”? No que toca ao direito à liberdade de opinião e de expressão: no Sudão, dezenas de defensores dos Direitos Humanos foram presos e torturados pelos serviços secretos nacionais e forças de segurança; na Somália, foi assassinado um proeminente defensor dos Direitos Humanos. O que aconteceu ao direito que diz: “Todos têm direito à liberdade de opinião e de expressão. Este direito inclui a liberdade para ter opiniões sem interferência e para procurar, receber e dar informação e ideias através de qualquer meio de comunicação, sem importarem as fronteiras.”?
            Salientando dois direitos muito importantes, temos os direitos à saúde e à educação. Podemos encontrar sérias violações destes, uma vez que em muitos países (sendo a maior parte localizada em África) não existe um sistema de saúde nem de educação. Estes nem sequer possuem instalações necessárias para tal. O que acontece é que muitas pessoas morrem devido a uma falta de tratamentos, em caso de doenças, e a maior parte da população nunca frequentou sequer a escola. Onde se encontram os direitos que afirmam: “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família, a saúde e o bem-estar, principalmente quanto (…) à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários.” e “A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais (…).”.
            Com isto, podemos conferir as violações dos Direitos Humanos e as desigualdades sociais que as mesmas provocam. E a pergunta mais lógica será: “E o que poderá ser feito contra esta situação?”. Bem, esta é uma questão cuja resposta é bastante delicada, envolvendo a mobilização do mundo inteiro. Para existir igualdade de direitos, tem de haver uma propensão por parte de todos para tal, caso contrário, esta igualdade nunca será atingida. Uma pessoa só não provoca a mudança. Concluindo, ainda que tenham sido conseguidas algumas vitórias em 6 décadas, a violação dos Direitos Humanos ainda representa uma praga no nosso mundo atual.


Patrícia Mota; Nº15; 11ºA