quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Presos na rede? Teste de dependência da net


Imagem retirada de https://sol.sapo.pt/noticia/124403


O teste que apresentamos encontra-se em https://www.seguranet.pt/sites/default/files/teste_de_dependencia_da_internet_0.pdf (consulta a 23/01/2019). Transcrevemos diretamente.
Teste de Dependência da Internet
(traduzido do site www.netaddiction.com)
Como é que pode saber se já é dependente ou se está a caminhar muito
rapidamente para ter sérios problemas? O Teste de Dependência da Internet
(TDI) é a primeira forma validada e credível de medir o vício da utilização da
Internet. Desenvolvido pela Dra. Kimberly Young, o TDI é um questionário com
20 perguntas que mede níveis ligeiros, moderados e graves de dependência da
Internet.
Para avaliar o seu nível de dependência, responda às perguntas seguintes:
1. Com que frequência repara que está on-line mais tempo do que
tencionava?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
2. Com que frequência negligencia tarefas domésticas para passar mais
tempo on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
3. Com que frequência prefere estar na Internet em vez de estar com o
namorado (a)?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
4. Com que frequência estabelece novas amizades com outros
utilizadores on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
5. Com que frequência as pessoas que fazem parte da sua vida se
queixam sobre a quantidade de tempo que passa on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
6. Com que frequência as suas notas ou trabalho escolar sofrem devido à
quantidade de tempo que passa on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
7. Com que frequência verifica o correio electrónico antes de qualquer
outra coisa que precise de fazer?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
8. Com que frequência o seu desempenho ou produtividade no trabalho
sofrem devido à Internet?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
9. Com que frequência tem uma atitude defensiva ou de secretismo
quando alguém lhe pergunta o que está a fazer on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
10. Com que frequência bloqueia os pensamentos perturbantes sobre a
sua vida com pensamentos reconfortantes da Internet?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
11. Com que frequência se encontra a ansiar por voltar a estar on-line
novamente?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
12. Com que frequência tem receio de que a vida sem Internet seja
aborrecida, vazia e sem alegria?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
13. Com que frequência refila, grita ou fica irritado(a) se alguém o(a)
incomoda enquanto está on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
14. Com que frequência perde o sono devido a estar na Internet até muito
tarde?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
15 – Com que frequência fica preocupado com a Internet quando não está
on-line ou fantasia com estar on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
16. Com que frequência dá por si a dizer "só mais uns minutos" quando
está on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
17. Com que frequência tenta reduzir a quantidade de tempo que passa
on-line e não consegue?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
18. Com que frequência tenta esconder a quantidade de tempo que
passou on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
19. Com que frequência escolhe passar mais tempo on-line em detrimento
de sair com outras pessoas?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
20. Com que frequência se sente deprimido(a), instável ou nervoso(a)
quando não está on-line e isso desaparece quando volta a estar on-line?
1 – Raramente
2 – Ocasionalmente
3 – Frequentemente
4 – Quase Sempre
5 – Sempre
Não se aplica
Resultados: Depois de ter respondido a todas as questões, some os números
que seleccionou para cada resposta para obter uma pontuação final. Quanto
mais alta a pontuação for, maior é o nível de dependência e os problemas que
o uso da Internet provoca. Segue a escala geral para ajudar a medir a sua
pontuação:
20-49 pontos: Você é um utilizador on-line médio. Por vezes poderá até
navegar na Web um pouco demais, no entanto, tem controlo sobre a sua
utilização.
50-79 pontos: Você está a ter problemas ocasionais ou frequentes devido
ao uso da Internet. Deve considerar o verdadeiro impacto de estar on-line na
sua vida.
80-100 pontos: A utilização da Internet está a causar problemas significativos
na sua vida. Deve avaliar o impacto da Internet e lidar com os problemas
causados directamente pela sua utilização da mesma.
Depois de ter identificado a categoria onde a sua pontuação total se insere,
olhe novamente para as questões a que deu uma pontuação de 4 ou 5. Tinha
consciência que isto era um problema significativo para si? Por exemplo, se
respondeu 4 (quase sempre) a Pergunta nº 2 relativa à sua negligência das
tarefas domésticas, estava consciente da frequência com que a sua roupa suja
se amontoa ou o quão vazio fica o frigorífico?
Digamos que respondeu 5 (sempre) à Pergunta nº 4 sobre perda de sono
devido a utilização da Internet durante horas tardias. Já parou para pensar o
quão difícil se tornou levantar-se da cama todas as manhãs? Sente-se exausto
no trabalho? Este padrão começou a afectar o seu corpo e a sua saúde em geral?

Presos na rede?

A internet é, hoje em dia, utilizada por um número cada vez maior de pessoas, sendo os jovens os maiores utilizadores. Segundo dados da PORDATA, 95% dos jovens entre os 16 e os 24 anos são utilizadores  de computadores com acesso à internet. (consultar tabela em 
https://www.pordata.pt/Portugal/Indiv%C3%ADduos+com+16+e+mais+anos+que+utilizam+computador+e+Internet+em+percentagem+do+total+de+indiv%C3%ADduos+por+grupo+et%C3%A1rio-1139 )




retirada de https://sol.sapo.pt/artigo/124399/viciados-em-videojogos

A utilização da internet pode servir os mais diversos propósitos, desde pesquisa de informação, trabalho em rede, comunicação para qualquer ponto do globo, até atividades de entretenimento. 

Como qualquer instrumento, a internet não é boa nem má. Pode ser benéfica ou prejudicial consoante o uso que lhe for dado. É assim que a dependência da net - adição à net - já constitui um problema comportamental a necessitar de acompanhamento clínico, à semelhança dos comportamentos aditivos já conhecidos (dependência de álcool, de estupefacientes...).

"Sem dormir nem comer
Muitos dos doentes que chegam ao Hospital de Santa Maria, conta João Reis, também fazem maratonas à frente ao computador ou da consola. Deixam de ir às aulas e ao trabalho, não dormem nem tomam banho e alguns até se esquecem de comer e isolam-se do mundo. Mas, segundo o psiquiatra, quase todos têm outros problemas psíquicos associados à adição à net, como depressão, ansiedade, hiperactividade e défice de atenção: “São 80% dos casos. É muito difícil perceber se a internet está a ser usada como uma nova forma de manifestação destas doenças ou se sem os videojogos este comportamento aditivo não se teria manifestado”. 
A maioria dos dependentes chega às consultas com os pais, que não conseguem lidar com o tempo que os filhos estão agarrados aos videojogos, com as suas constantes recusas em ir à escola ou à universidade e o isolamento num mundo virtual." 
Notícia do Semanário Sol de 19/02/2015, consulta a 23/01/2019, em https://sol.sapo.pt/artigo/124399/viciados-em-videojogos
Sobre este assunto, ver reportagem de Patrícia Pedrosa, de 2003, em http://ensina.rtp.pt/artigo/prisioneiros-da-internet/

domingo, 20 de janeiro de 2019

Ensaio Filosófico, 5ª edição, Associação de Professores de Filosofia

 Imagem retirada de http://www.rbe.min-edu.pt/np4/2214.html

Em parceria com a RBE (Rede de Bibliotecas Escolares), a ApF, Associação de Professores de Filosofia, lançou a sua 5ª edição de Ensaio Filosófico no passado Dia Mundial da Filosofia.

Trancrevemos do Regulamento:

«1. Promovido pela Associação de Professores de Filosofia (Apf) em parceria com a Rede de Bibliotecas Escolares, o concurso Ensaio filosófico no ensino secundário dirige-se a todos os alunos do ensino secundário público e privado português e visa: 
● promover o interesse pela escrita e reflexão filosóficas; 
● realçar a importância da disciplina de Filosofia na formação geral dos alunos do ensino secundário; 
● consolidar nos alunos competências em literacia da informação; 
● divulgar o trabalho desenvolvido nas escolas do ensino secundário. 
2. Não são definidos temas, pelo que serão admitidos a concurso todos os Ensaios onde sejam discutidos problemas de uma perspetiva filosófica e nos quais sejam mobilizados conhecimentos filosóficos. 
3. Apenas será admitido a concurso um Ensaio por Agrupamento/Escola Secundária, pelo que cada Escola deverá organizar-se no sentido de selecionar o trabalho que considere ser o mais adequado. Os Ensaios poderão ser elaborados individualmente ou por grupos de até três alunos. 
4. Todos os Ensaios submetidos a concurso devem ter, pelo menos, um professor orientador, devidamente identificado. 
5. Os Ensaios devem assumir a forma escrita, de acordo com as especificações que se seguem: 
a) ter uma estrutura reconhecível, nomeadamente com a identificação clara do problema e da(s) tese(s) em discussão; 
b) ter no máximo 12 páginas A4, escritas com um processador de texto, em letra Arial, tamanho 11 e entrelinha 1,5 (as 12 páginas incluem capa, sumário, possíveis índices, lista de referências bibliográficas, glossários e anexos); 
c) deve ter capa e lista de referências bibliográficas; 
d) a lista de referências bibliográficas deve assumir uma norma bibliográfica reconhecível (preferencialmente norma APA ou norma portuguesa 405). 
--------------------------------------------------------------------
13. Ao(s) vencedor(es) será atribuído um prémio pecuniário de 150 euros (valor para o Ensaio vencedor). A entrega do prémio será articulada com a Direção da escola vencedora. 
14. Os Ensaios serão avaliados em função dos seguintes critérios: 
a) exploração rigorosa do problema, tese(s), argumentos e conceitos em discussão 
b) estruturação dos conteúdos 
c) clareza e rigor da expressão 
d) originalidade da discussão e da posição assumida. 
15. Caso considere necessário, o júri pode solicitar uma entrevista com os concorrentes. 
16. A Apf publicará na sua página eletrónica (www.apfilosofia.org) o Ensaio premiado em cada ano sob a licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Partilha nos termos da mesma licença CC BY-NC-SA (para mais pormenores, ver http://creativecommons.org/licenses/). 




VIII Olimpíadas da Filosofia

As Olimpíadas Nacionais de Filosofia estão de volta, para a sua oitava edição, que este ano decorra na belíssima Lisboa (mais concretamente no Agrupamento de Escolas dos Olivais - Escola Secundária António Damásio).
Esta competição, que conta com o apoio da Direção-Geral de Educação, é a maior competição nacional de filosofia e destina-se a alunos e professores do ensino secundário.
(retirado de https://www.facebook.com/pg/prosofos/posts/?ref=page_internal

     

O Regulamento pode ser consultado em
https://drive.google.com/file/d/1tfx4Y0FiVpnpjqFpae05Lu5bNUT8V_cA/view

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Paradoxos, falácias e distrações





Este post surge motivado por um diálogo com o P. M., do 10ºA, em torno de alguns paradoxos que o tinham entusiasmado. Assim, começo por dar uma definição de paradoxo que ajude a compreender o seu significado. Em filosofia ( e não só) convém sempre saber do que estamos a falar. E definir "paradoxo" não é nada fácil!!! Recorro ao Dicionário de Filosofia de Simon Blackburn, que me parece conseguir uma definição bastante acessível:
                     " Um paradoxo surge quando um conjunto de premissas aparentemente indisputáveis dá origem a conclusões inaceitáveis ou contraditórias. A resolução de um paradoxo implica mostrar que há um erro escondido nas premissas, ou que o raciocínio é incorreto, ou que a conclusão aparentemente inaceitável pode, afinal, ser tolerada. Os paradoxos desempenham, portanto, um papel importante na filosofia, visto que a existência de um paradoxo não resolvido mostra que há algo nos nossos raciocínios ou nos nossos conceitos que não compreendemos."

Deste modo, os paradoxos são sempre um desafio para o pensamento. Provavelmente há algo que nos está a a escapar e exige investigação mais rigorosa e conhecimentos que ainda não possuímos. A resolução de um paradoxo representa sempre um avanço na nossa capacidade de análise da linguagem e do pensamento.

Exemplo de um dos mais célebres paradoxos:

Paradoxo do Mentiroso
Este paradoxo é atribuído a Epiménides, filósofo cretense do século VII a. C. Epiménides "terá dito que todos os cretenses são mentirosos. Se falou verdade, então o que ele disse é falso e vice-versa." "Há um certo número de paradoxos que pertencem à família do paradoxo do mentiroso. O exemplo mais simples é a frase «Esta frase é falsa», que tem de ser falsa se for verdadeira, e tem de ser verdadeira se for falsa."

O paradoxo do Pinóquio é uma forma de apresentar este paradoxo de uma forma divertida. Aliás, os paradoxos aparecem muitas vezes sob formas bem engraçadas!
retirado de https://pt.slideshare.net/Will_Ananias/aula03-lgica

No entanto, a resolução dos paradoxos tem pouco de engraçado e muito de trabalho, de análise lógica e matemática! Mas não compliquemos! Uma maneira de resolução do paradoxo do mentiroso é considerar que a frase "Esta frase é falsa" nada diz, por isso não pode ser classificada como verdadeira ou falsa, quer dizer, não tem valor de verdade. Vejamos se explico melhor. Quando digo "este cão é um animal" tenho como referente a realidade "cão" (na qual também não me incluo!!!!) e é em relação a esse referente que é possível classificar a proposição como verdadeira ou falsa. Esta análise não pode ser aplicada a "esta frase é falsa"!  

Pode acontecer que um paradoxo se revele, afinal, uma falácia, quer dizer, um argumento mal construído, inválido, mas com aparência de válido. No entanto, por norma, devemos distinguir os paradoxos das falácias. Os paradoxos envolvem uma contradição logicamente inaceitável e as falácias são argumentos inválidos com aparência de válidos. As falácias contêm violações de regras lógicas, mas que, frequentemente, não se detetam de imediato.

E para não nos deixarmos enganar facilmente convém também analisar o valor de verdade das premissas. É que se tomamos distraidamente como verdade uma premissa que o não é, mesmo raciocinando corretamente,  arriscamo-nos a ter de aceitar uma conclusão falsa!

Atentemos neste argumento que o P. M. nos trouxe:

Tudo o que é raro é caro
Tudo o que é bom e barato é raro
Logo, tudo o que é bom e barato é caro

Perante esta conclusão inaceitável, há uma pergunta que se impõe. Será que tudo o que é raro é caro? Tudo? Não há coisas raras que não sejam caras? É que basta haver uma para a proposição ser falsa! E, na verdade, há coisas raras que não são caras. Aliás, é o que enuncia a premissa menor! Portanto, não é possível aceitar  como verdadeiras simultaneamente a primeira e a segunda premissas! O argumento está logicamente bem construído, é válido, mas tem uma premissa falsa que, caso a aceitemos, compromete a verdade da conclusão. Surpreendidos com a conclusão? Sim, se aceitarmos como verdade aquilo que o não é. Acontece muitas vezes. Por isso é que a filosofia é tão importante! Ela ajuda-nos a estar mais atentos às palavras e aos seus significados! 




sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

"Nós, os refugiados"

Foto de 1949 - Imagem retirada de https://www.gettyimages.pt

Na continuidade da publicação anterior, deixamos aqui um excerto de um texto de H. Arendt, publicado a primeira vez em 1943, no jornal «The Menorah Journal», dois anos depois de ter partido de Lisboa, intitulado «Nós, os Refugiados». 


O texto integral pode ser encontrado aqui http://www.lusosofia.net/textos/20131214-hannah_arendt_nos_os_refugiados.pdf. O subtítulo a negrito é da nossa responsabilidade.

O que é um refugiado?
«Um refugiado costuma ser uma pessoa obrigada a procurar refúgio devido a algum acto cometido ou por tomar alguma opinião política. Bom, é verdade que tivemos que procurar refúgio; mas não cometemos nenhum acto e a maioria de nós nunca sonhou em ter qualquer opinião política radical. O sentido do termo “refugiado” mudou connosco. Agora “refugiados” são aqueles de nós que chegaram à infelicidade de chegar a um novo país sem meios e tiveram que ser ajudados por comités de refugiados. (...)
Perdemos a nossa casa o que significa a familiaridade da vida quotidiana. Perdemos a nossa ocupação o que significa a confiança de que tínhamos algum uso neste mundo. Perdemos a nossa língua o que significa a naturalidade das reacções, a simplicidade dos gestos, a expressão impassível dos sentimentos. Deixámos os nossos familiares nos guetos polacos e os nossos melhores amigos foram mortos em campos de concentração e tal significa a ruptura das nossas vidas privadas.»

Hannah Arendt em Lisboa


Temos aqui várias publicações sobre a importante filósofa Hannah Arendt. Publicamos agora uma notícia relativa à homenagem do município de Lisboa, na casa onde habitou entre janeiro e maio de 1941, numa estadia breve na nossa capital, em trânsito para os EUA. O dia 10 de dezembro foi o escolhido, celebrando o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Arendt partilhou a errância de muitos judeus, que procuraram noutros países, muito particularmente nos EUA, possibilidades de continuarem, antes de mais, vivos, e, depois, com a sua vida. Durante a II Guerra Mundial, Portugal, como país neutral, acolheu muitos refugiados, tendo permitido o seu trânsito e permanência.


Imagens retiradas do site da Câmara Municipal de Lisboa
Transcrevemos a notícia publicada no DN, a 9 de dezembro, da responsabilidade de Viriato Soromenho-Marques, em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/09-dez-2018/interior/hannah-arendt-em-lisboa-10286096.html (consulta a 28 de dezembro)

«A chegada a Lisboa, no início de janeiro de 1941, de Hannah Arendt e do seu marido Heinrich Blücher, culmina um longo processo de exílio, iniciado com a detenção em Berlim pela Gestapo, logo a seguir à subida de Hitler ao poder em 1933. Libertada por falta de provas, a brilhante estudante de Filosofia, que a sua origem judaica condenava para já ao ostracismo, foge para França, onde vive nos círculos dos exilados alemães, até que o exército de Hitler vai ao seu encontro. Munidos de um passaporte de urgência para os EUA, Arendt e Blücher conseguem tomar o comboio para Lisboa, via Barcelona e Madrid, em Portbou, a mesma localidade onde o amigo e grande pensador Walter Benjamin, sem passaporte, se suicidaria.»

Carlos Fiolhais - "A Ética está para além da ciência"


imagem retirada de http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/

Carlos Fiolhais, cientista reconhecido, físico, professor, divulgador de ciência, pedagogo, exercendo uma cidadania ativa, com vasta obra publicada, deu uma entrevista ao portal VER - Valores, Ética, Responsabilidade, da qual transcrevemos alguns excertos,  com sublinhados da nossa responsabilidade, convidando à sua leitura integral em http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/ 

«A ciência e a tecnologia têm, de facto, proporcionado novas condições de vida. Por exemplo, vivemos mais e com mais saúde usando as modernas tecnologias médicas e comunicamos mais facilmente usando as modernas tecnologias da informação e comunicação.
No entanto, são cada vez mais prementes questões sobre a utilização dos meios que a ciência nos proporciona. A genómica possibilita informação sobre a nossa identidade biológica, mas quem e em que condições poderá ter acesso a essa informação? Parece possível a edição do genoma, mas quais são os limites da utilização desse tipo de técnicas? Será legítimo melhorar geneticamente os seres humanos?
Por outro lado, a informática coloca problemas à nossa privacidade. Quem pode ter acesso aos nossos dados pessoais e em que circunstâncias? Não poderá a utilização de algoritmos de inteligência artificial servir para usar os nossos dados para nos manipular, para fazer escolhas em vez de nós, isto é, para ameaçar a nossa liberdade?
As novas tecnologias colocam novos desafios, que não são apenas técnicos e científicos, mas são  éticos, legais, económicos e políticos. Sublinho a palavra “éticos”. Uma coisa é o que se pode fazer, e sobre isso a ciência e a tecnologia podem informar, e outra coisa, bem diferente, é o que se deve fazer. Um meio pode ser bem ou mal utilizado, pode ser utilizado para o bem ou para o mal, sendo o juízo sobre o que é o bem e o que é o mal um juízo necessariamente humano.
As questões éticas são questões individuais e sociais. Cada um de nós e todos nós somos, nas sociedades democráticas, chamados a decidir, quer directamente, quer nas escolhas que fazemos de quem nos representa. O conhecimento científico e técnico ajuda a tomar decisões éticas e legais ao fornecer informação relevante, mas as decisões irão sempre ultrapassar a ciência. A ética está num plano diferente da ciência, está para além da ciência. E, embora os cientistas devam ter preocupações éticas, as preocupações éticas devem ser do conjunto da sociedade.
No passado tivemos de estabelecer novos limites sempre que novas possibilidades surgiram. E agora estamos novamente confrontados com a necessidade de estabelecer limites, surgindo a questão de muito pouca gente perceber a nova ciência e tecnologia. Pouca gente percebe a moderna genética e a moderna inteligência artificial. No entanto todos nós iremos ser, estamos já a ser, afectados por elas. A solução, que não é fácil, reside em maior e melhor difusão da cultura científica, isto é, numa mais nítida percepção pública da ciência.  Entre nós, o “Ciência Viva” pode fazer bem mais neste campo que é o seu. É preciso uma reflexão e são precisas novas iniciativas.»

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Declaração Universal dos Direitos do Homem - um pouco de História (2)



Crianças, filhos de funcionários das Nações Unidas, descobrem a Declaração Universal dos Direitos do Homem, dois anos após a sua adoção a 10 de dezembro de 1948. (in http://unesdoc.unesco.org/images/0026/002659/265904f.pdf, p.7)

Entendemos os direitos humanos como um conjunto de princípios gerais tomados como referência ideal para a construção de um mundo humano onde todos possamos habitar, onde todos possamos conviver. Não representam conquistas definitivas, mas uma orientação para a construção de um mundo humano. Estão permanentemente ameaçados pela guerra, pelas desigualdades, pela pobreza, por novas formas de escravatura, por regimes políticos totalitários... São, por isso, frágeis. 

É isso que nos mostra de modo muito sugestivo este cartaz do artista grego, Dimitris Arvanitis, denominado, precisamente, Frágil. O artista participou na competição Um por todos todos por um! organizada em 2018 pela associação 4tomorrow, por ocasião do septuagésimo aniversário da DUDH.
(informação retirada de http://unesdoc.unesco.org/images/0026/002659/265904f.pdf, p.9).



Frágil, de Dimitris Arvanitis, artista grego
in  http://unesdoc.unesco.org/images/0026/002659/265904f.pdf, p.9

Perante esta "fragilidade", face às continuadas dificuldades de concretizar na organização das sociedades e na vida quotidiana o que denominamos como "Direitos Humanos", podemos considerar como atuais as palavras do filósofo Benedetto Croce em 1946.

«Para o filósofo italiano Benedetto Croce (1866-1952), a UNESCO deve "provocar um debate oficial, público e internacional, sobre os princípios que estão necessariamente na base da dignidade humana e da civilização" para que "a força da lógica, da cultura, das doutrinas e a possibilidade de um acordo fundamental [tragam] o triunfo das consciências livres sobre a obediência à autocracia e aos princípios totalitários" (...) [excerto do] texto enviado à UNESCO de Nápoles, a 15 de abril de 1947, sob o título "Os direitos do homem e o momento histórico presente"» 
retirado de http://unesdoc.unesco.org/images/0026/002659/265904f.pdf.p. 11 (consulta a 6/12/2018.)

Benedetto Croce, imagem retirada de https://www.britannica.com/biography/Benedetto-Croce


Declaração Universal dos Direitos Humanos - um pouco de História (1)


Capa da revista Le Courrier de l' UNESCO de out-dez 2018 

«A Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) é, sem contestação, um dos maiores documentos da História. Primeiro tratado internacional de valor ético a ser adotado pelo conjunto da humanidade, serve, há setenta anos de "ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações", para retomar as palavras do discurso que Eleanor Roosevelt, presidente da Comissão das Nações Unidas para os Direitos do Homem e do Comité de redação da DUDH, pronunciou na Assembleia geral das Nações Unidas, a 9 de dezembro de 1948, a véspera da adoção da Declaração. Saudada como uma carta da humanidade única no seu género e aceite como uma referência incontornável no mundo de hoje quando se trata de defender a dignidade humana de todo o homem, a Declaração não é, no entanto, isenta de críticas que invocam nomeadamente o argumento da diversidade de culturas. Se é verdade que, na sua forma, a DUDH se inspira largamente na tradição ocidental, é também igualmente verdade que, quanto à matéria de fundo, os seus princípios são universais. "A tolerância e o respeito da dignidade do indivíduo são inerentes a todas as culturas e não são estranhas a nenhuma nação", afirmava, aquando da comemoração do cinquentenário da Declaração à UNESCO, Kofi Annan, Secretário Geral da ONU (1997-2006 (....)"
 Droits de l'homme: retour vers le futur; The UNESCO courier; Vol.:4; 2018, p. 3. (consulta online a 6 dez 2018). tradução 
do francês da nossa responsabilidade.