terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Sexualidade & afetos - Relações abusivas no namoro (4)

Os textos que estamos a publicar enquadram-se no trabalho a ser realizado com os alunos do 12º ano no âmbito do Projeto de Educação Sexual de Turma (PEST). Transcrevemos em várias publicações excertos de artigos da responsabilidade da Ordem dos Psicólogos, disponíveis em https://escolasaudavelmente.pt/


Relações Abusivas

Imagem retirada de: https://feminismonapratica.wordpress.com/2015/12/29/sinais-de-um-relacionamento-abusivo/

É completamente normal termos a sensação de ver o mundo através de óculos cor-de-rosa quando estamos no início de uma relação. Mas ao fim de algum tempo e para algumas pessoas esses “óculos” acabam por deixá-las “cegas”, impedindo-as de reconhecer que estão numa relação pouco saudável.

Uma relação não é saudável quando envolve comportamentos desrespeitosos, controladores e abusivos. Mesmo que, porventura, tenhamos assistido aos nossos pais (ou outras pessoas) a discutirem, brigarem e desrespeitaram-se emocional, verbal e fisicamente, isso não é normal! Nem está bem!

O abuso pode ser físico, emocional ou sexual. As relações são abusivas quando existe alguma forma de violência. O abuso físico inclui bater, empurrar, puxar cabelos, pontapear, etc. O abuso emocional – gozar, provocar, humilhar, chamar nomes, etc. – pode ser mais difícil de reconhecer porque não deixa marcas físicas, mas as suas consequências são mais duradouras. O abuso sexual pode acontecer a qualquer pessoa – rapaz ou rapariga. Nunca está bem sermos forçados a ter qualquer tipo de experiência sexual que não queiramos! Qualquer relação sexual não consentida é violação! Mesmo com alguém com quem namoramos!

Numa relação saudável há equilíbrio, ambos os parceiros são tratados de forma igual, com os mesmos direitos. Numa relação abusiva, um dos parceiros sente-se mais importante, mais amado, controla mais o que acontece. Se temos uma relação romântica desigual está na altura de falar sobre isso, fazer mudanças ou terminá-la e seguir em frente.

Quando o/a nosso/a namorado/a usa insultos verbais, linguagem agressiva, comentários negativos sobre nós, nos bate ou agride fisicamente, ou nos força a qualquer tipo de atividade sexual, estes são sinais verbais, emocionais ou físicos de abusos.

É importante perguntarmos a nós mesmos se o/a nosso/a namorado:

  • Fica zangado quando não desistimos dos nossos planos/interesses/atividades para estarmos com ele/a ou fazer o que ele/a quer;
  • Critica a forma como nos vestimos;
  • Nos diz que nunca seremos capazes de encontrar outra pessoa que queira namorar connosco;
  • Quer saber tudo o que estamos a fazer, a toda a hora, por exemplo, envia constantemente mensagens ou telefona a querer saber onde estamos, com quem estamos, o que estamos a fazer;
  • Quer que passemos todo o nosso tempo com ele/a;
  • Tenta controlar os diferentes aspetos da nossa vida (como nos vestimos, com quem falamos, o que dizemos, controla o nosso telefone, email ou redes sociais sem permissão…);
    • Nos impede de ver os nossos amigos ou de falar com outros rapazes/raparigas;
    • Dá sempre a volta à situação fazendo parecer que a culpa das ações dele/a é nossa;
    • Já nos levantou a mão numa situação em que estava zangado/a ou nos ameaçou bater;
    • Nos pressiona para levar a nossa relação sexual para outro nível, para o qual não nos sentimos preparados.

    E estas não são as únicas questões a considerar. Se nos conseguirmos lembrar de alguma vez que o/a nosso/a namorado/a nos tenha tentado controlar, fazer sentir mal connosco próprios, isolado do resto do mundo ou nos magoou física ou sexualmente, então essa é uma relação da qual devemos sair, rapidamente.

    As relações abusivas podem deixar-nos confusos porque os abusos (físicos, verbais, emocionais, sexuais) podem acontecer só de vez em quando. Muitas vezes as relações abusivas passam por fases, alternando entre períodos bons e maus. Noutros casos, o abusador tão depressa agride o parceiro como no minuto seguinte pede desculpa e parece arrependido. Porque o abusador também pode ser muito amoroso, torna difícil sair da relação ou reconhecê-la como uma relação abusiva (fica-se sempre à espera que não volte a repetir e que seja sempre amoroso…).

    Pode parecer tentador inventar desculpas, achar que afinal não é violência ou abuso, confundir a possessividade ou a agressividade com amor, mas mesmo que achemos que a outra pessoa nos ama, não é uma relação saudável! Ninguém merece ser agredido, menosprezado ou forçado a fazer algo que não quer.

    É importante compreendermos que uma pessoa só muda se quiser, por isso não podemos forçar ou convencer o/a nosso/a namorado a mudar os seus comportamentos, sobretudo se ele/ela não os considerar errados. Tendencialmente, o abuso piora ao longo da relação (não melhora!). Devemos sempre sentir-nos seguros e aceites numa relação, se isso não acontece é tempo de mudarmos nós a nossa vida e garantir a nossa segurança. Devemos considerar terminar a relação antes que o abuso se agrave. Ninguém merece ser maltratado, agredido, castigado. Todos merecemos ser amados e bem tratados.

    Se sentimos que amamos a outra pessoa, mas ao mesmo tempo sentimos medo e não estamos confortáveis nessa relação, é altura de sair dela e pedir ajuda. Às vezes sentimo-nos envergonhados ou pensamos que ninguém vai acreditar em nós. Às vezes já nos isolamos da nossa família e dos nossos amigos por causa da relação abusiva. Mas as pessoas que realmente gostam de nós podem ajudar-nos nesta situação. Assim como um Professor ou um Psicólogo. Contar a alguém em quem confiemos o que se está a passar (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo) pode ajudar-nos a manter em segurança e a sair da relação.

    Artigo disponível em 

    https://escolasaudavelmente.pt/alunos/adolescentes/amor/relacoes-abusivas

Entre o autoritarismo e a pandemia: os efeitos da pandemia na nossa vida quotidiana

Disciplina de Ciência Política

Conferência:

Entre o autoritarismo e a pandemia: os efeitos da pandemia na nossa vida quotidiana” por Corina Lozovan 13-12 - 2021

Colaboração entre o Agrupamento Madeira Torres e a Área da Juventude Divisão de Desenvolvimento Social – Câmara Municipal de Torres Vedras no âmbito do projeto “A Política Contada aos Jovens”

Esta conferência, no âmbito da disciplina de Ciência Política, abordou várias temáticas de cariz político diretamente, ou indiretamente, ligadas ao tema principal: “Entre o autoritarismo e a pandemia: os efeitos da pandemia na nossa vida quotidiana”.

Logo no início, foram realçados os diferentes tipos de acontecimentos políticos que ocorrem “nos bastidores”, em grande sigilo, entre as potências mundiais, como por exemplo a investigação espacial e o desenvolvimento de tecnologia militar.

A pandemia foi um dos tópicos mais abordados. Foram apresentados os efeitos da pandemia, tanto a nível individual como coletivo.

A nível individual, houve várias mudanças em aspetos como o trabalho, a educação e a forma como utilizamos o espaço. A nível coletivo, aconteceram mudanças de ordem global, emergiram várias potências mundiais, os Estados Unidos da América perderam poder hegemónico e a desinformação tornou-se cada vez mais comum, avançada e elaborada, sendo difícil contê-la (mesmo em países democráticos).

Também foi levantada a seguinte pergunta: “Será que o Covid-19 é um precursor do autoritarismo e a vigilância em massa?”. Partindo daí, foi possível chegar a certas conclusões diretamente ligadas à questão política.

Na Europa, há cada vez mais ditadores/líderes autoritários que menosprezam os direitos humanos e abusam do poder. A Europa não tem poder suficiente para combater o aparecimento de autoritarismos; a democracia veio a diminuir no mundo e só os países nórdicos da Europa é que ainda apresentam uma democracia forte; as autocracias emergiram imenso de 2010 para 2020; a autocratização geralmente ocorre quando os grupos políticos mais extremos atacam os meios de comunicação, polarizam as sociedades e utilizam a desinformação; as pessoas assustaram-se e perderam os seus direitos individuais, havendo uma passagem para a tirania; a ameaça à liberdade de expressão intensifica-se e muitos governos aproveitaram-se da pandemia para derivarem para formas de autoritarismo.

Outro tópico importante foi a questão da tecnologia, o seu acelerado desenvolvimento e a sua presença nas nossas vidas. A conferencista apontou que, gradualmente, estamos a transferir a autoridade política para a tecnologia - um ator abstrato supranacional. Há argumentos que declaram que a tecnologia favorece a tirania e a diferença entre uma democracia e autocracia vai estar assente na utilização dos dados (vai ser difícil distinguir as duas).

A sociedade, ligada à tecnologia, tornou-se mais fácil de manipular, pois perdeu laços sociais e laços de comunicação.

Concluindo: esta conferência abordou vários aspetos que realçaram a importância da política nas nossas vidas e demonstrou porque é que é relevante e significante termos um papel ativo na sociedade, prestando atenção em tempos de transição, que podem ser perigosos para a liberdade e para a democracia.


Nota informativa acerca da conferencista

Corina Lozovan: Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais, pela Universidade Nova de Lisboa, pósgraduada em Estudos Estratégicos e de Segurança, pelo Instituto de Defesa Nacional, detém o grau de mestre em Estudos do Médio Oriente, pela Universidade de Lund. Tem experiência em vários projetos de investigação, participou em conferências e seminários sobre política, cidadania e democracia. Atualmente frequenta o doutoramento em Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Católica Portuguesa e é investigadora no Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos (CIEP).

Iustin Dubceac, Nº11, 12ºJ

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Sexualidade & Afetos - Relações: mitos e dificuldades (3)

 

    As Relações Podem Ser Difíceis!Já todos ouvimos dizer que para gostarmos de alguém precisamos de gostar de nós próprios em primeiro lugar. De facto, é uma grande barreira quando numa relação uma das pessoas tem problemas de autoestima. O/a nosso/a namorado/a não serve para nos sentirmos bem connosco próprios se não o conseguimos fazer sozinhos.
    Quando sentimos que o/a nosso/a namorado/a exige demasiado de nós, se a relação é mais um fardo e uma fonte de problemas do que de alegria, então provavelmente não é o par certo para nós.
    Relações muito intensas podem ser difíceis para os adolescentes. Quando somos adolescentes estamos focados em desenvolver os nossos sentimentos e responsabilidades, por isso pode não nos restar energia para responder aos sentimentos e necessidades de outra pessoa. Para além disso, ainda estamos a crescer e a mudar, todos os dias. A pessoa que parecia perfeita para nós há uns meses atrás, pode já não o ser. E é melhor ficarem amigos do que investirem numa relação que já não parece certa.
    Quer estejamos sozinhos ou numa relação devemos ser “picuinhas” quando escolhemos alguém para manter uma relação próxima. Se não nos sentirmos preparados para uma relação não é um problema!
    Alguns Mitos sobre Relações

    Os media, a música que ouvimos ou os filmes que vemos podem transmitir-nos algumas ideias erradas sobre o que são as relações ou como nos devemos comportar numa relação. É importante destruir alguns desses mitos:

    • Ter sexo com alguém não equivale a ter uma relação com alguém. Devemos, no entanto, deixar sempre claro para o outro qual é a nossa intenção e perceber se o outro tem as mesmas expectativas.
    • As relações não são uma competição.
    • O amor não é instantâneo.
    • É normal (e até desejável!) ter de trabalhar e termos de nos esforçar para construir uma relação de amor e fazê-la funcionar.
    • Os homens não mandam numa relação. Ambos os parceiros mandam na relação e são responsáveis por fazê-la funcionar.
    • Não são apenas as nossas características físicas que interessam nem são elas que determinam se ou quem vamos namorar.

     

    Quando Uma Relação Termina

    Terminar uma relação é uma experiência dolorosa. Sobretudo se é o nosso primeiro amor ou se a relação terminou sem nós querermos que isso acontecesse. Podemos sentir-nos completamente esmagados e devastados. Por algum motivo existe a expressão “coração partido”…

    Às vezes, alguns adultos esperam que, como somos adolescentes e a relação que terminámos era uma relação entre adolescentes, ultrapassemos isso e pronto. Mas se estamos a sofrer é importante sentirmos o apoio de alguém em quem confiemos (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um Professor ou um Psicólogo).

    Ao início é difícil imaginar que nos vamos sentir melhor. Mas devagarinho os nossos sentimentos vão tornar-se menos intensos e, eventualmente, até iniciaremos uma nova relação. As relações que vamos mantendo ao longo da vida são sempre oportunidades de experimentar o amor e de aprender a amar e a sermos amados.

    Se a tristeza e a dor de terminar uma relação está a controlar a nossa vida e isso é a única coisa em que conseguimos pensar, devemos procurar ajuda, falar com um Professor ou um Psicólogo pode ajudar ((hiperligação para Procurar Ajuda).

     

    Decidir Ter Relações Sexuais

    O sexo é um assunto complexo, quer para os adultos quer para os adolescentes. Isto porque ser sexualmente ativo envolve emoções profundas e pode mudar as relações (nem sempre para melhor).

    A pressão para deixar de ser virgem é intensa quer para os rapazes quer para as raparigas. Às vezes parece que toda a gente na escola não fala sobre outra coisa: quem é, quem não, quem pode ser. E que ser virgem ou não é uma espécie de condição para pertencermos ou não ao grupo, para sermos aceites.

    Decidir ter relações sexuais com alguém é uma decisão muito importante. Da primeira vez sobretudo, mas também das restantes. Cada um tem de confiar no seu julgamento e decidir se é a altura certa e a pessoa certa.

    O sexo não tem apenas consequências físicas (ex. engravidar, contrair uma doença sexualmente transmissível), mas também emocionais. O sexo relaciona-se com prazer tal como se relaciona com responsabilidade. Para além de termos consciência e conhecermos os factos sobre menstruação, ovulação, recção, ejaculação, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, precisamos igualmente de ter consciência do impacto emocional das relações sexuais. Se nos tornamos sexualmente ativos sem estarmos preparados podemos sentir-nos esmagados e confusos pelos sentimentos que este tipo de intimidade gera. As relações sexuais deixam as pessoas mais emocionalmente vulneráveis e próximas uma da outra. Quando não confiamos inteiramente no nosso parceiro ou não nos sentimos totalmente respeitados/as, ter relações sexuais pode fazer-nos sentir magoados, traídos, sozinhos. Por isso, é realmente algo importante, embora alguns dos nossos amigos ou os filmes que vemos na televisão possam encará-lo como algo muito simples e banal.

    Uma vez que os nossos valores morais, as nossas crenças religiosas, a educação que tivemos da nossa família e as nossas emoções são diferentes, não é uma boa ideia confiar na opinião dos nossos amigos para decidir se é a altura certa para fazer sexo. A longo prazo, ter relações sexuais para impressionar alguém, fazer o/a nosso/a namorado/a feliz ou sentirmos que temos alguma coisa em comum com os nossos amigos não nos vai fazer sentir muito bem connosco próprios. Para além disso, um verdadeiro amigo ou par romântico não quer saber se somos ou não virgens e respeita as nossas decisões, sejam elas quais forem.

    Nas relações entre adolescentes é comum um querer manter relações sexuais e o outro não. E isso pode causar algum stresse na relação. No entanto, tal como em qualquer outra decisão importante da nossa vida devemos fazer aquilo que nós achamos certo para nós e não aquilo que outra pessoa acha que devemos fazer. Não é boa ideia ter sexo só porque o/a nosso/a namorado/a quer e está preparado para isso.

    Se alguém nos tentar pressionar dizendo coisas como “se realmente gostasses de mim, não dizias que não”, na verdade, não se preocupa nem gosta de nós. Está apenas a tentar satisfazer os seus próprios sentimentos sexuais. Se sentirmos que temos que fazer sexo porque temos medo de perder a outra pessoa, então talvez seja melhor ponderarmos terminar a relação.

    No que diz respeito a ter relações sexuais há duas coisas importantes das quais nos devemos lembrar: 1) somos nós os responsáveis pela nossa felicidade e pelo nosso corpo; 2) podemos esperar todo o tempo que for preciso até nos sentirmos seguros da decisão de ter ou não sexo.

    Mesmo que já tenhamos tido relações sexuais anteriormente (com o nosso namorado/a atual ou outra pessoa) a decisão de continuar a ter relações sexuais é sempre nossa. Podemos não querer ter relações sexuais a qualquer momento, seja quem for a pessoa com quem estamos numa relação.

    Quando nos sentimos confusos acerca de decisões relacionadas com sexo podemos falar com alguém em quem confiemos, de preferência um adulto (um dos nossos pais, um professor, um Psicólogo). Embora outras pessoas possam ter conselhos úteis para nós, no fim, a decisão será sempre nossa. 




Sexualidade & afetos - As relações saudáveis (2)

 

As Relações Saudáveis

Quando nos sentimos prontos para nos aventurarmos numa relação romântica uma das principais preocupações é como é que vamos fazer a relação funcionar. E para isso é fundamental manter uma relação saudável com o/a nosso/a namorado/a.

  • Nas relações saudáveis há respeito mútuo. O respeito mútuo significa que cada um valoriza o outro e o compreende, respeitando os limites de cada um. Por exemplo, o nosso/a parceiro/a ouve-nos quando dizemos que não nos sentimos confortáveis com determinada coisa e respeita isso.
  • Nas relações saudáveis há confiança. Ou seja, sabemos que podemos contar um com o outro e que ambos queremos o bem-estar um do outro. É normal ter um pouco de ciúmes, ter ciúmes é uma emoção natural. Mas o que interessa é a forma como reagimos e lidamos com os ciúmes. Por exemplo, não é normal que o nosso/a namorado/a se passe da cabeça porque nos vê falar com um outro/a colega da escola. Não é possível termos uma relação saudável se não confiarmos um no
    • outro.
    • Nas relações saudáveis há honestidade. A honestidade é a liberdade de sermos como somos, sem fingir. Significa que falamos abertamente e sinceramente, partilhamos os nossos sentimentos e opiniões. A honestidade anda de mão-dada com a confiança, não é possível confiar em alguém que não seja honesto. Já apanhamos o nosso/a namorado/a numa mentira? Numa relação honesta nenhum dos dois está preocupado se o outro está a dizer a verdade, partem do pressuposto que está.
    • Nas relações saudáveis há apoio mútuo. E o apoio mútuo não acontece apenas nos períodos maus, quando tudo corre mal, mas também nos períodos bons, quando tudo corre bem. Numa relação saudável temos alguém com quem podemos chorar e alguém com quem podemos celebrar (e somos esse alguém também!).
    • Nas relações saudáveis há igualdade. Dá-se e recebe-se. Umas vezes somos nós a escolher o filme que vamos ver, noutras é o nosso/a namorado/a. Umas vezes fazemos programas com os nossos amigos, noutras vezes com os amigos do/a nosso/a namorado/a. Claro que não precisamos de andar a contar quantas vezes fazemos estas coisas. A ideia é que deve ser equilibrado e justo. As relações deixam de ser saudáveis rapidamente quando uma pessoa quer ser sempre ela a mandar, a decidir, a controlar.
    • Nas relações saudáveis temos identidades separadasNuma relação saudável temos de fazer compromissos. Mas isso não significa deixarmos de ser quem somos. Antes desta relação ambos tinham a sua própria família, amigos, interesses, etc. e isso deve continuar! Ninguém deve ter de fingir ser uma coisa que não é, deixar de ver amigos ou largar atividades de que gosta.
    • Nas relações saudáveis há privacidade. Lá porque estamos numa relação não quer dizer que tenhamos que partilhar tudo e que tenhamos que estar o tempo todo juntos. Nas relações saudáveis para além de tempo a dois, cada um tem o seu espaço.
    • Nas relações saudáveis há uma boa comunicação. Uma boa comunicação significa que é possível falar livremente, sem assuntos tabu, que podemos expressar os nossos sentimentos e pensamentos sem sentirmos receio de sermos julgados. Para que exista uma boa comunicação é igualmente importante perguntarmos e esclarecermos se estamos a perceber o que o/a nosso/a namorado/a nos está a dizer. Se não temos a certeza devemos falar abertamente e honestamente para evitar problemas de comunicação. Não devemos calar um sentimento ou um desejo porque temos medo que o/a nosso/a namorado/a não goste ou porque temos receio de parecemos parvos/as. Numa relação saudável temos o tempo que precisamos para pensar num assunto antes de termos de falar sobre ele.
    • Nas relações saudáveis há reciprocidade. Em todos os aspetos, incluindo os emocionais e sexuais. Ambos os parceiros se preocupam, ambos cuidam, ambos estão interessados em proporcionar prazer um ao outro.

     

    Para sabermos se a nossa relação é ou não saudável temos de saber reconhecer a forma como o nosso/a namorado/a nos trata e como o/a tratamos a ele/a. Estas características das relações saudáveis estão presentes? Como nos sentimos quando estamos com ele/a?

    Numa relação saudável sentimo-nos confortáveis em partilhar os nossos sentimentos, pensamentos e experiências; as coisas privadas que partilhamos mantêm-se entre os dois; podemos falar e resolver conflitos; preocupamo-nos com a outra pessoa e a sua opinião; sentimo-nos amados e valorizados simplesmente por sermos quem somos (não pelas nossas roupas, pela nossa aparência, pelo nosso carro, etc.).

     


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Sexualidade & Afetos - Sexualidade e Amor (1)

Os textos que passamos a publicar enquadram-se no trabalho a ser realizado com os alunos do 12º ano no âmbito do Projeto de Educação Sexual de Turma (PEST). Transcrevemos em várias publicações excertos de um artigo da responsabilidade da Ordem dos Psicólogos, disponível em https://escolasaudavelmente.pt/ e intitulado, precisamente, "Sexualidade e Afetos". A divisão do texto, os subtítulos e as imagens são da nossa responsabilidade.


A sexualidade é uma combinação do sexo e da orientação sexual das pessoas, dos seus sentimentos sexuais pelos outros e dos sentimentos sobre si próprias enquanto seres sexuais. A sexualidade não tem a ver apenas com sexo, mas também com todos os sentimentos e afetos que a envolvem. Explorar e descobrir a nossa sexualidade pode ser confuso, excitante, difícil e maravilhoso, tudo ao mesmo tempo.

Descobrir a sexualidade significa descobrir quem somos sexualmente. Podemos começar a querer ou desejar coisas e pessoas que não queríamos nem desejávamos antes. Por exemplo, podemos experienciar sensações diferentes no nosso corpo que nos fazem querer ter experiências de intimidade com outra pessoa.

Estas mudanças sexuais são difíceis, mas acontecem a toda a gente. Podem ser um choque para nós ou podem acontecer de forma muito gradual. Falar com alguém em quem confiemos (um dos nossos pais, um irmão, um amigo, um professor ou um Psicólogo, por exemplo) sobre o que se está a passar connosco e o que estamos a sentir, pode ser muito útil e ajudar neste processo.

O desenvolvimento da nossa sexualidade acontece a ritmos diferentes para cada um de nós. Por isso é importante explorarmos a sexualidade ao nosso próprio ritmo, sem deixar que ninguém nos pressione a sentir ou a fazer coisas que ainda não queremos fazer ou para as quais não nos sentimos preparados.

Descobrir a sexualidade é também descobrir a nossa capacidade de amar romanticamente. O amor romântico é diferente daquele que sentimos pelos pais, irmãos, amigos ou animais de estimação. É um sentimento intenso, novo, diferente de todos estes tipos de amor.

O Amor

Quando temos oito anos e descobrimos que alguém gosta de nós, podemos ficar um pouco envergonhados ou não ligar nenhuma. Nessa idade o amor não ocupa a nossa cabeça. Mas na adolescência, quando o nosso corpo começa a mudar e os nossos pensamentos mudam também, a ideia de ter um namorado ou namorada pode ser tão excitante que nem conseguimos pensar noutra coisa.

Muitos adolescentes acham que ter um namorado/a é grande parte de ser adolescente. E embora seja verdade que as emoções intensas que vivemos durante a adolescência nos possam levar a sentirmo-nos atraídos por outras pessoas e nos levem a iniciar relações românticas, isso nem sempre acontece. Se formos um dos milhões de adolescentes que nunca se apaixonaram ou tiveram um namorado/a não há nada de errado connosco. Devemos ficar preocupados e arranjar rapidamente um/a namorado/a? Claro que não!

Tudo tem o seu tempo e o mais provável é que, mais tarde ou mais cedo, seja a nossa vez de encontrar o amor.

O amor é uma emoção humana muito poderosa e têm sido muitos os especialistas que a tentam estudar. Mas, na verdade, ninguém compreende inteiramente o que é o amor, até porque o amor é diferente para cada um de nós. O amor tem sido associado a três qualidades principais:

  • Atração. Tem a ver com o interesse físico e sexual que duas pessoas sentem uma pela outra. A atracão é responsável pelo desejo que sentimos de beijar a outra pessoa, por exemplo, ou pelas “borboletas no estômago” que sentimos quando ela está perto. Mas não amamos todas as pessoas por quem nos sentimos atraídos!
  • Proximidade. É o laço que se desenvolve quando partilhamos com alguém sentimentos e pensamentos que não partilhamos com mais ninguém. Quando nos sentimos próximos do nosso namorado/a, sentimo-nos apoiados, compreendidos e aceites por sermos quem somos. A confiança é uma grande parte da proximidade.
  • Compromisso. É a promessa ou a decisão de nos mantermos próximos da outra pessoa durante as fases boas e más da relação.

Estas três qualidades podem ser combinadas de forma diferente e resultam em diferentes tipos de relações. Por exemplo, a atracão sem a proximidade é mais uma paixão – sentimo-nos fisicamente atraídos por alguém mas não conhecemos suficientemente bem a pessoa para sentirmos a proximidade que advém da partilha de sentimentos e experiências pessoais.

No amor romântico combinam-se a atracão e a proximidade. Muitas relações começam por uma atracão inicial e depois desenvolvem a proximidade. Também é possível uma amizade passar da proximidade à atracão, quando dois amigos percebem que se sentem atraídos um pelo outro e que o interesse mútuo vai para lá da amizade.

Algumas pessoas apaixonam-se no secundário e mantém uma relação de compromisso durante a idade adulta. Mas na maior parte das vezes, as relações durante a adolescência são mais curtas. Isto acontece porque a adolescência é uma fase da nossa vida em que queremos experimentar coisas diferentes e andamos à procura daquilo que realmente queremos e nos faz sentir mais confortáveis. Um outro motivo é porque queremos coisas diferentes de uma relação em fases diferentes da nossa vida. Na adolescência, namorar é muitas vezes uma forma de nos divertirmos, de termos companhia para irmos a vários sítios. Também pode ser uma forma de sentirmos que pertencemos ao grupo, sobretudo se a maior parte dos nossos amigos já namoram, podemos sentir-nos pressionados para arranjar um namorado/a. As revistas, a televisão, os filmes, também nos fazem sentir que devíamos apaixonar-nos e namorar.

No final da adolescência, as relações já não têm tanto a ver com nos integrarmos no grupo. A proximidade, a partilha, a confiança em alguém tornam-se mais importantes quer para os rapazes quer para as raparigas. Quando chegam aos 20 anos a maior parte dos rapazes e raparigas valorizam a proximidade, o apoio, a comunicação e a paixão numa relação. Começam a pensar em encontrar alguém com quem se possam comprometer a longo prazo.

(continua)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Filosofia da Religião

Religiões: Sagrado e Profano; Puro e Impuro

 Os perigos de uma visão etnocêntrica


Como sabemos, a Filosofia é autónoma, e procura instaurar a autonomia do pensar. No entanto, também é verdade que não recusa o diálogo e as contribuições dos outros saberes. Entre as contribuições que marcaram o pensar filosófico nos séculos XIX e XX, relativamente à questão da Religião, estão as da Antropologia da Religião.

A Antropologia da Religião acerca-se do fenómeno religioso tendo como objeto de estudo as crenças, os mitos fundantes, os textos sagrados, os ritos específicos, o corpus teológico da religião, etc.

A partir do século XIX, os antropólogos, na sua análise das religiões e crenças não europeias e não-asiáticas, sentiram-se sugestionados, sobretudo, pelos sentimentos, aparentemente constados, do Medo e do binómio Pureza/impureza. Importa desde logo chamar a atenção para o pathos em que estes investigadores navegavam, quer emocional quer concetualmente: mesmo sem o querer, investigam, nomeiam e categorizam a partir de uma visão, sobretudo eurocêntrica - por isso até falam em povos, culturas e crenças a que sem pejo denominam como sendo Primitivos. Primitivos no sentido de ainda se situarem nos primórdios evolutivos da cultura e da civilidade (infra, portanto).

Logo à partida queremos evidenciar o logro em afirmar que as crenças destes povos, de modo praticamente exclusivo, acentuam, cindindo, o Sagrado do Profano, o Puro do Impuro. Só o hábito pode levar a normalizar e a esquecer toda a construção concetual, ritual e vivencial destes opostos nas ditas ‘Grandes Religiões’: As abluções rituais antes das orações, o uso do véu pelos elementos do género feminino, o descobrir ou cobrir a cabeça pelos homens, a orientação correta, segundo os pontos cardeais para as preces, as indumentárias rituais, a confissão dos pecados prévia e obrigatória para a vivência plena dos ritos, as normas relativas aos fluídos corporais, etc, não isentam de modo algum destes binómios as religiões ditas grandes, quiçá confundido quantidade e qualidade.

Qualquer fenómeno cultural visto do exterior, e tomado como exótico, pode levar a dois movimentos (quando é esquecida a objetividade e se recusa a possibilidade de existência dos preconceitos e estereótipos): ou de identificação abusiva (os portugueses quando chegaram ao Oriente inicialmente acreditaram que os budistas e os hindús - sanatana dharma - eram cristãos um pouco diferentes) ou de inferiorização destrutiva (as crenças dos povos colonizados eram vistas como demoníacas, primitivas, boçais).

Na verdade, as dicotomias enunciadas acima, tais como as questões da Impureza/Pureza, radicam nas necessidades, por um lado concetuais (Pureza/Ordem; Impureza /Desordem), mas também higiénica e sanitária (Pureza/Saúde; Impureza/Doença). Temos de entender que estes opostos estão presentes de modo universal em todos os universos religiosos e só são vistos como aberrações e castrações por olhares exteriores e que se sentem confrontados nas suas próprias crenças, mesmo que culturalmente inconscientes. Na verdade, como podemos constatar na atual pandemia, a fuga ao temido Caos, seja ele natural ou social, é o grande objetivo. A construção/manutenção de um Cosmos, fundamenta-se na necessidade profunda, presente em todos os aglomerados humanos, em doar sentido, ordem, quer ao natural, quer ao social.

Importa referir que estes binómios não são estanques e muito menos imutáveis: para aqueles que os seguem religiosamente, existe o sentimento de eles serem eternos e imutáveis, no entanto temos de ter consciência da sua dialética: eles organizam o natural e o social, mas também são redefinidos e atualizados de acordo com as necessidades e mudanças naturais e sociais.

Prof. Carlos Reis

9/12/2021 

Ainda o Dia Mundial da Filosofia - Apontamentos do debate entre o 10º ano, turma C e o 11º ano, turma A



Neste debate entre a nossa turma 10ºC e a turma do décimo primeiro ano que organizou a apresentação do tema, discutimos diversos tópicos relacionados com a Alegoria Da Caverna, o enredo e referências filosóficas do primeiro filme da série Matrix, e o que estes conceitos representam na nossa existência e dia a dia como indivíduos e como humanidade. Apesar da maioria da turma 10ºC não ter visto o filme, foi possível ligar os elementos fundamentais que nos foram apresentados com a matéria que estudámos (A Alegoria da Caverna), assim possibilitando a nossa participação e interpretação do debate.

O mundo de Matrix é nos apresentado como sendo uma realidade que aparenta ser normal, a realidade que conhecemos. No entanto, para a personagem principal, Neo, um homem comum com uma vida normal, algo não faz sentido. Neo começa a receber mensagens estranhas de um tal “Morpheus” mencionando a “Matrix”. Apesar de não saber o que é a Matrix, Neo sabe que Morpheus é terrorista de uma organização perseguida por governos mundialmente. Neo sente-se intrigado e curioso para descobrir o que é a Matrix.

São-nos apresentadas quatro partes do filme nas quais podemos encontrar referências filosóficas, que analisámos e interpretámos no debate.

Na primeira cena, Neo encontra-se com Morpheus. Este conversa com Neo, comparando-o com a Alice do País das Maravilhas, a “cair na toca do coelho”, como que a comparar o que Neo está prestes a descobrir a algo marcante, o qual nunca irá esquecer, como se este fosse redescobrir a realidade – como na Alegoria da Caverna, na qual o prisioneiro que consegue sair experiencia a descoberta de que aquilo que achava ser a realidade não passava de uma reflexo, um eco da verdade. Morpheus então pergunta a Neo se este acredita no destino; Neo responde que não, que não gosta da ideia de que não está a controlar a sua vida – Neo tem uma atitude crítica em relação ao que acontece à sua volta. Morpheus concorda com esta resposta, e conta a Neo que sensação de que algo naquela realidade não parecia real tinha a ver com a Matrix.

Morpheus então apresenta a Neo duas pílulas e uma escolha: tomar a pílula azul e continuar a sua vida normal como se nada tivesse acontecido; ou tomar a pílula vermelha e descobrir finalmente o que é a Matrix, com o custo de nunca mais voltar a ser o mesmo.

Questão:

“O que é que as pílulas azul e vermelha representam?”

Resposta:

A pílula azul representa o mundo sensível, enquanto a vermelha representa o mundo inteligível.

Conclusão:

Determinámos que esta escolha entre permanecer ignorante ou chegar ao conhecimento verdadeiro (...) assemelha-se à distinção entre o interior da caverna (acessível através dos sentidos, uma mera projeção, neste caso, projetada pela Matrix) e o exterior da caverna, acessível através da exploração, curiosidade e pensamento crítico.

Esta cena do filme difere num aspeto em relação à Alegoria da Caverna: na Alegoria, o prisioneiro é forçado a sair da caverna, logo tem muito mais dificuldade em adaptar-se à mudança. No Matrix, a Neo é dado a escolher entre permanecer ignorante ou chegar à verdade. Esta escolha não é forçada.

Surge a questão:

“Entre Neo e Morpheus, quem será o filósofo libertador e quem será o prisioneiro?”

Resposta:

Morpheus é o filósofo libertador e Neo é o prisioneiro libertado.

Conclusão:

Morpheus apenas tem o papel de incentivar Neo a pensar por si próprio, ou seja, representa o filósofo libertador que, através do método socrático - maiêutica - conduz o interlocutor à verdade através de um esforço interior de reflexão, sem dar definição alguma, como podemos ver na fala: “Ninguém sabe o que a Matrix é. Terás de ver por ti próprio.”. Ao dizer isto, Morpheus encoraja Neo, que neste contexto representa um prisioneiro, como todos os que vivem naquele mundo sem saber o que realmente está por trás deste a tomar a pílula vermelha para ver por si próprio, que é o que acaba por acontecer.

Também foi acrescentado que o nome “maiêutica” para este método deriva da comparação de Sócrates do seu papel filósofo ao trabalho da mãe, que era parteira, ou seja ajudava mães a dar à luz, mas não o fazia por elas – tal como Sócrates, que incentivava o interlocutor a pensar por si mesmo, e a chegar ao saber e à luz autonomamente. (...)

Na segunda cena apresentada Neo acorda num sítio estranho, deitado, ligado a máquinas. Ao tentar abrir os olhos, pergunta “Porque me doem os olhos?”, Morpheus então responde “Porque nunca os usaste antes”.

Pergunta:

“Como é que esta fala remete para a Alegoria da Caverna?”

Resposta:

Esta fala remete para o momento em que o prisioneiro sai da caverna e contempla a luz do Sol (completada pelos apresentadores).

Conclusão:

É mais uma referência importantíssima à Alegoria da Caverna, pois chegar ao conhecimento não é a meta final. A dor nos olhos de Neo representa a adaptação ao novo conhecimento, à descoberta de uma nova realidade, pois para ele, este foi quase que um segundo nascimento. Aqui Neo apercebe-se que o mundo real é controlado por máquinas e computadores que se ligam aos cérebros das pessoas e projetam um falso mundo virtual onde todos vivem. Assim, a simulação da Matrix representa o mundo sensível, acessível através dos sentidos, que neste caso, são simulados.

Nos últimos dois fragmentos do filme é apresentada uma nova personagem: Cypher. Cypher também trabalha para a organização de Morpheus para salvar o mundo do Matrix. Mas este indivíduo tem algo de diferente. Cypher confessa que se arrependeu de ter tomado a pílula vermelha e de ter desmistificado o Matrix. A certa altura, ele até trai Morpheus e a organização. Como dito pelo mesmo na quarta cena: “Ignorância é uma bênção”.

Pergunta:

“O que terá levado Cypher a escolher a ignorância?”

(...)

Cypher é o equivalente de um prisioneiro que saiu da caverna, olhou para o exterior, decidiu que não lhe agradava e voltou a entrar. Apesar de se conseguir adaptar ao mundo real, não era do seu agrado. Não lhe proporcionava conforto. Então, Cypher rejeitou a realidade e voltou para a simulação, ignorando todo o conhecimento que tinha obtido acerca do mundo em que vivia.

Com isto, no debate, é levantada a questão:

“Será que nós, diariamente, fazemos o mesmo que o Cypher?”

Com a participação e argumentos de alguns colegas, chegámos à conclusão de que sim, a maior parte de nós ignora problemas com os quais simplesmente não queremos lidar. Exemplos dados foram: a compra de produtos produzidos por marcas não éticas de roupa, tecnologia, estética, medicina e comida, que fazem uso de trabalho infantil, testes de substâncias tóxicas em animais, apoiam maus governos e produzem em massa, poluindo o planeta, simplesmente porque não nos queremos dar o trabalho de pagar mais para apoiar pequenos negócios ou de procurar outras marcas melhores. (...)

- Projeção de uma caricatura na qual está um homem acorrentado a uma televisão com a legenda “La Caverne Moderne”

Pergunta final:

“Será que nós, como humanidade, ainda nos encontramos dentro da caverna?”

Primeiro orador: A humanidade ainda se encontra na caverna pois nós como sociedade somos constantemente influenciados por publicidade, títulos chamativos e exagerados sem nos apercebermos.

Segundo orador: A humanidade já não se encontra na caverna, pois agora já descobrimos e continuamos a descobrir tanto sobre a nossa realidade que os antigos filósofos gregos nos considerariam deuses. Tanto o nosso universo como as mais pequenas partículas, unidades básicas de vida microscópicas, como tudo funciona, a eletricidade, o vento, os elementos…

(...)

O aluno Rúben, do 10º ano, turma C, manifestou concordância com o segundo orador mas acha que ainda não descobrimos o suficiente para estar completamente fora da caverna. Estamos a caminho do seu exterior, mas ainda não o alcançámos.

A maioria concordou com o Rúben.

Pergunta para refletirmos:

“Será possível chegarmos ao verdadeiro conhecimento. Se sim como reagiríamos?”

Relatório feito pela aluna Laura Preto, 10ºC