Um dia destes, numa apresentação de um trabalho que versava sobre a dúvida cartesiana, os alunos trouxeram um cesto com maçãs... Procuraram, assim, seguir a metáfora de Descartes que, na sua carta ao Padre Bourdin, terá dito:
«Se tiver um cesto de maçãs das quais várias estão podres e, por isso, envenenam o resto, que fazer senão esvaziá-lo todo e retomar as maças uma a uma para voltar a pôr as boas no cesto e deitar as más para o lixo...»
(citado a partir de Koiré, Considerações sobre Descartes, Lisboa, Presença, p.p.49-50)
O texto de Descartes parece claro em considerar que a operação deve dar-se em dois tempos:
1º esvaziar o cesto
2º recolocar as maçãs boas.
No entanto, os nossos jovens decidiram retirar uma a uma as maçãs e verificar o seu estado sem, contudo, esvaziar o cesto.
Não me parece que tenha resultado mal. É que as maçãs eram poucochinhas, o que facilitou a tarefa. Afinal, alguém disse que era um cesto MUITO GRANDE, CHEIINHO de maçãs?
As metáforas são apenas sugestivas de modo a, através de uma realidade mais facilmente conhecida, ajudar a mente a penetrar no menos conhecido. Neste caso, mesmo com outro método de análise às maçãs, foi possível perceber que a dúvida em Descartes é o crivo pelo qual têm que passar todas as representações da mente. Só deste modo será possível assegurar o seu valor cognitivo.
Pena que, no final, não tivessemos podido provar as maçãs... Bem que elas apareciam apetitosas!!
Mas... as maçãs na filosofia são apenas, e só, ideias. E estas, por mais belas e apelativas que possam ser ( e que as há! ) são prováveis...,
mas não são comestíveis.
É como na Arte...
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RENÉ MAGRITTE (1898-1967)
CECI N'EST PAS UNE POMME (isto não é uma maçã)
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