Haverá afinal espaço para o livre arbítrio?
2014-10-02
No estudo publicado na revista Nature Neuroscience, investigadores do Centro Champalimaud, em Lisboa, revelam que os registos de actividade neural podem ser usados para prever quando é que decisões espontâneas vão ocorrer. “Experiências como esta têm sidas usadas para argumentar que o livre arbítrio é uma ilusão. Mas agora achamos que essa interpretação é equívoca”, explica Zachary Mainen, investigador principal e director do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud.
A fim de tentarem prever quando é que o rato iria desistir de esperar por um sinal sonoro retardado, os investigadores registaram a actividade de neurónios numa área do cérebro conhecida por estar envolvida no planeamento de movimentos. “Nós sabíamos que os ratos não estavam apenas a responder a um estímulo, mas também a decidir espontaneamente quando desistir, pois a sua escolha variava de forma imprevisível de uma tentativa para outra”, explica Mainen.
Os investigadores descobriram que os neurónios do córtex pré-motor conseguem prever as acções dos animais com mais do que um segundo de antecedência. Segundo Mainen, “isto é notável porque, em experiências semelhantes realizadas em seres humanos, estes relatam tomar a decisão de se moverem apenas dois décimos de segundo antes de se moverem.”
No entanto, os investigadores afirmam que este tipo de actividade neural de previsão não significa que o cérebro tenha feito uma decisão. "Os nossos dados podem ser muito bem explicados por uma teoria de tomada de decisão conhecida como um modelo de "integration - to - bound" (integração - até um - limite), diz Mainen.
Segundo esta teoria, as células cerebrais individuais votam a favor ou contra uma determinada acção, tal como quando levantamos um braço para votar. Os circuitos neurais dentro do cérebro vão mantendo um registo dos votos a favor de cada acção e, quando o limite é atingido, a acção ocorre.
Tal como acontece com os eleitores individuais numa determinada eleição, os neurónios individuais podem influenciar uma decisão, mas não determinam o resultado. Mainen explica:
"Os resultados das eleições podem ser previstos, e quanto mais dados disponíveis melhor será o prognóstico, mas estas previsões nunca são 100% precisas e ser capaz de prever parcialmente uma eleição não significa que os resultados são pré-determinados. Da mesma forma, ser capaz de usar a actividade neural para prever uma decisão não significa que a decisão já tenha ocorrido."
Neste estudo, os investigadores também descrevem uma segunda população de neurónios cuja actividade pensa-se reflectir o registo activo de votos para uma determinada acção. Esta actividade, descrita como do tipo "rampa", já tinha sido relatada anteriormente mas apenas em humanos e outros primatas.
Segundo Masayoshi Murakami, co-autor do estudo,"Acreditamos que os nossos dados fornecem fortes evidências de que o cérebro está a operar por integração, até um limite, mas ainda há muitas incógnitas".
E Mainen conclui: "Conseguir perceber qual é a origem da variabilidade é a grande questão. E até conseguirmos percebê-la, não podemos dizer que percebemos como funciona a tomada de uma decisão."
A fim de tentarem prever quando é que o rato iria desistir de esperar por um sinal sonoro retardado, os investigadores registaram a actividade de neurónios numa área do cérebro conhecida por estar envolvida no planeamento de movimentos. “Nós sabíamos que os ratos não estavam apenas a responder a um estímulo, mas também a decidir espontaneamente quando desistir, pois a sua escolha variava de forma imprevisível de uma tentativa para outra”, explica Mainen.
No entanto, os investigadores afirmam que este tipo de actividade neural de previsão não significa que o cérebro tenha feito uma decisão. "Os nossos dados podem ser muito bem explicados por uma teoria de tomada de decisão conhecida como um modelo de "integration - to - bound" (integração - até um - limite), diz Mainen.
Segundo esta teoria, as células cerebrais individuais votam a favor ou contra uma determinada acção, tal como quando levantamos um braço para votar. Os circuitos neurais dentro do cérebro vão mantendo um registo dos votos a favor de cada acção e, quando o limite é atingido, a acção ocorre.
"Os resultados das eleições podem ser previstos, e quanto mais dados disponíveis melhor será o prognóstico, mas estas previsões nunca são 100% precisas e ser capaz de prever parcialmente uma eleição não significa que os resultados são pré-determinados. Da mesma forma, ser capaz de usar a actividade neural para prever uma decisão não significa que a decisão já tenha ocorrido."
Neste estudo, os investigadores também descrevem uma segunda população de neurónios cuja actividade pensa-se reflectir o registo activo de votos para uma determinada acção. Esta actividade, descrita como do tipo "rampa", já tinha sido relatada anteriormente mas apenas em humanos e outros primatas.
E Mainen conclui: "Conseguir perceber qual é a origem da variabilidade é a grande questão. E até conseguirmos percebê-la, não podemos dizer que percebemos como funciona a tomada de uma decisão."
O problema do livre-arbítrio é um problema filosófico muito antigo que hoje tem vindo a receber um conjunto de contribuições das neurociências. Não sabemos ainda o que vai acontecer. Restam duas hipóteses:
1. ou a ciência irá conseguir obter uma resposta que solucionará o problema que, assim, abandonará o campo da filosofia (como tem acontecido ao longo da História noutros casos)
2. ou a ciência esclarecerá uma parte do problema que continuará a persistir como questão filosófica
Simplificando, tradicionalmente considera-se a existência de duas teorias filosóficas fundamentais. Temos
1. as que defendem que o homem está sujeito ao determinismo, que todas as ações são causadas e que, portanto, o homem não pode ser considerado livre nas suas escolhas e decisões. Julgamo-nos livres, apenas porque desconhecemos as causas das nossas ações, no dizer de Espinoza (filósofo do século XVII).
2. as que defendem que há escolhas livres, que o homem tem poder para decidir de acordo com a sua consciência racional e a sua vontade.
Simplificando, tradicionalmente considera-se a existência de duas teorias filosóficas fundamentais. Temos
1. as que defendem que o homem está sujeito ao determinismo, que todas as ações são causadas e que, portanto, o homem não pode ser considerado livre nas suas escolhas e decisões. Julgamo-nos livres, apenas porque desconhecemos as causas das nossas ações, no dizer de Espinoza (filósofo do século XVII).
2. as que defendem que há escolhas livres, que o homem tem poder para decidir de acordo com a sua consciência racional e a sua vontade.
Segundo esta notícia, parece que os deterministas perderam um argumento a favor da sua tese. Afinal, o livre-arbítrio poderá não ser uma ilusão!
Sendo assim, a questão de saber se o livre-arbítrio existe, a questão de saber se somos livres ou determinados nas nossas ações/decisões continua em aberto.
Os alunos de filosofia seniores sabem bem do que estamos a falar!!!
Aliás, esta notícia é um desafio para o J.S., aluno de filosofia do 11ºano, que se declara determinista!
Aliás, esta notícia é um desafio para o J.S., aluno de filosofia do 11ºano, que se declara determinista!
Consideramos que esta notícia não retira nenhum valor a qualquer das teorias sobre o problema do livre arbítrio. Quem pensa ter livre arbítrio continuará a pensar que o tem, e quem julga que as suas ações são determinadas por eventos anteriores, ou seja, assim como todos os outros sistemas no cosmos, respeitam a relação causa-efeito. É, no entanto, da nossa opinião, que pensar que somos diferentes de tudo o mais que já observámos é, no mínimo, uma falta de modéstia. Assim, mantemos a nossa posição: o determinismo; pois esta notícia revela apenas o desconhecimento, por parte da ciência, de uma resposta definitiva para este problema.
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