segunda-feira, 29 de junho de 2015

Determinismo e Liberdade

Perante o problema filosófico do livre-arbítrio, o aluno João Silva toma posição neste texto da sua responsabilidade. Após dois anos como aluno de Filosofia, elegeu este tema como aquele que mais o sensibilizou.

«O Determinismo é a teoria filosófica que diz que para qualquer acontecimento existem condições que não poderiam ter causado qualquer outro acontecimento. Deste modo, podemos dizer que é baseado no Princípio da Causalidade, segundo o qual se considera que todos os acontecimentos têm uma causa, e por conseguinte os acontecimentos são determinados pelas suas causas e teoricamente previsíveis.
Então, como podemos pensar que temos a liberdade de escolher o que fazer? A resposta é simples, o livre arbítrio é uma ilusão que resulta de não conhecermos inteiramente as causas das nossas ações, levando-nos a pensar que não têm causa. Para ilustrar este argumento, J. Locke criou uma interessante analogia: um indivíduo a dormir é trancado numa sala escura; ao acordar ele decide permanecer na sala, não sabendo que esta está fechada à chave. No entanto, o desconhecimento da sua condição levou-o a acreditar que tem a liberdade de escolher ficar na sala.
Porém, o Determinismo tem implicações sobre a responsabilidade moral: pode-se argumentar que não podemos ser moralmente responsáveis pelas nossas ações se não temos alternativa a estas, se estamos predeterminados, ainda antes de nascer, a realizá-las. Logo, argumentar-se-ia que é injusto castigar (com penas de prisão, por exemplo) aqueles que cometem crimes, por muito graves que sejam.
É esta a linha de argumentação que seguiu o advogado C. Darrow na defesa de Leopold e Loeb em 1924, que raptaram e assassinaram um rapaz de 14 anos. C. Darrow argumentou que os criminosos não poderiam ter feito outra escolha, dados os valores da sociedade pós-guerra em que cresceram: o valor atribuído à vida humana era pouco, visto que a população se regozijava com a morte de milhares de soldados inimigos (o que dá que pensar acerca dos muitos jogos e filmes que atualmente banalizam a violência). Leopold e Loeb foram condenados a prisão perpétua.
Voltando à questão do Determinismo, a ciência, sendo também baseada no Princípio da Causalidade, tem-nos mostrado que para todo o acontecimento físico existe uma causa, que forma uma cadeia causal até ao Big Bang. Laplace chega a conjeturar que, se fosse possível conhecer a posição e velocidade de cada uma das partículas do Universo, seria possível calcular a sua posição no passado e no futuro, o que implicaria, teoricamente, a possibilidade de prever o futuro.
Todavia surgiu recentemente a mecânica quântica que explica acontecimentos ao nível subatómico como sendo baseados em probabilidade, considerando que alguns acontecimentos têm uma natureza aleatória. Esta teoria tem sido usada para argumentar contra o Determinismo, contudo admitir que os acontecimentos ocorrem aleatoriamente não implica a existência de livre arbítrio, pelo contrário, não só as ações não seriam livremente escolhidas pelo agente, como seriam escolhidas aleatoriamente. Imagina então que em vez de leres este texto como tens lido, lerias as palavras numa ordem aleatória, ou, ainda mais absurdo, que quem escreveu o texto apenas martelou aleatoriamente o seu teclado.
Concluindo, a minha opinião pessoal é que face aos argumentos que referi é difícil pensar que temos alguma possibilidade de escolha do que fazer a seguir. Dito isto, e dada a contradição com a natural crença de senso comum no livre arbítrio, não posso deixar de referir que é quase impossível acreditar a tempo inteiro que não podia ter agido de outra maneira.»

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