quarta-feira, 11 de abril de 2018

Donald Trump - Um exemplo do novo Populismo Político

A eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos da América, em novembro de 2016, não deixou os nossos alunos indiferentes. Isso foi muito evidente nesse ano letivo e não só... Também a propósito de conteúdos lecionados na disciplina de Filosofia, o L. S. do 11º H, este ano, decidiu escrever este texto em que procura dar conta das razões da eleição de Donald Trump.


«A generalidade dos cidadãos das chamadas democracias ocidentais olha para os políticos com desconfiança, poderemos mesmo dizer com um certo desprezo. 
Este desencanto com o sistema político tradicional tem tido como consequência, por um lado, uma menor participação dos cidadãos nos diferentes atos eleitorais e um crescente alheamento face à escolha dos políticos que os representam. Por outro lado, tem vindo a estimular o ressurgimento de um novo populismo, de que um dos exemplos mais paradigmáticos, de longe o mais mediático de todos, é o atual presidente dos Estados Unidos da América, Donald John Trump.  
Donald Trump não se revê como um político tradicional, e essa foi uma das ideias mestras da sua campanha, um bem sucedido empreendedor que luta contra o sistema e os políticos tradicionais. Confiante para uns, arrogante para outros, assentou toda a sua estratégia eleitoral num renovado engrandecimento dos Estados Unidos da América.
O sucesso eleitoral de Donald Trump refletiu a profunda insatisfação que muitos eleitores americanos mais conservadores têm com a própria ala tradicional do Partido Republicano. Muitos sentem-se abandonados pela sociedade que os rodeia. A Administração Obama, com as suas iniciativas para ajudar as pessoas marginalizadas pela Grande Recessão, foi vista como estando a punir o trabalhador e a recompensar o ocioso. Não é surpreendente que tenha surgido um movimento que pretende devolver a América a uma época mais pura. Donald Trump dá voz a muitos americanos que se sentem abandonados por Washington, Wall Street e os grandes meios de comunicação social.
Donald Trump é o exemplo mais reluzente deste novo estilo de populismo, que critica as políticas do governo federal, que apenas servem os penduras do mundo empresarial e das classes baixas. Trump admite que foi parte do sistema que o ajudou a fazer fortuna, mas agora critica os grandes conglomerados industriais que destroem empregos americanos e enriquecem aproveitando-se da mão de obra barata fora dos Estados Unidos. Por outro lado, adverte também para os perigos que vêm de baixo, ou seja, a imigração em massa, especialmente a partir do México, que não se coíbe de classificar como uma horda de assassinos e violadores que irão tomar os EUA de assalto. Numa outra dimensão externa, os perigos do radicalismo muçulmano resolve-se facilmente com a proibição total à entrada de muçulmanos nos Estados Unidos.
Aliás, as suas promessas eleitorais, algumas delas já cumpridas, atestam bem o completo desconhecimento da realidade internacional e a falta de uma dimensão de estadista, que naturalmente se espera do presidente do país que tem sido a locomotiva do mundo ocidental moderno, com participação decisiva em períodos conturbados da história recente da humanidade.

Ø  Retirada dos EUA do Acordo de Paris (sobre as alterações climáticas) - cumprida
Ø  O encerramento das fronteiras dos EUA a cidadãos de determinados países - cumprida
Ø  Construir um Muro na fronteira com o México que deveria suportar o custo da construção -  ainda não cumprida
Ø  Acabar com o Obamacare (sistema de saúde criado por Barack Obama) e substituí-lo - não cumprida
Ø  Revogar o Acordo Nuclear com o Irão - cumprida

    
A execução destas promessas eleitorais tem merecido a desaprovação de uma ampla percentagem de cidadãos americanos, mas também o repúdio da generalidade da comunidade internacional, não só porque marcam um retrocesso face aos avanços conseguidos em administrações anteriores, como parecem revelar um completo desprezo pela generalidade da comunidade internacional.

Apesar de um certo pragmatismo que tem revelado, pois apesar de toda a pressão da comunidade internacional, tem-se mantido fiel às suas promessas eleitorais, assentes num certo nacionalismo e numa recuperação da soberania económica e política, não pode contudo deixar de ser acusado de um certo populismo demagógico, já que as promessas que cumpriu são, tão só, as que encontram mais eco junto de quem se sente economicamente ameaçado pela globalização, de quem teme que os imigrantes lhe roubem o emprego, de quem está insatisfeito com uma diminuição no seu nível de vida, de quem sente uma certa hostilidade para com o politicamente correto ou seja, aproveitou-se de algumas peculiaridades do sistema eleitoral norte-americano para, sem alcançar a maioria dos votos em absoluto, garantir vitórias em Estados com mais peso no sistema eleitoral norte americano, que permitiram a sua eleição.

Há quem defina o século XXI em termos políticos como a era do populismo. Contudo é preciso não perder de vista que este populismo impregnado de muita demagogia resulta, antes de mais, de uma falta de resposta do sistema político tradicional, do cansaço e desconfiança da generalidade das populações face às estruturas políticas atuais, e que os políticos devem repensar e adaptar-se a esta nova situação. Este tipo de ideologia não teria espaço para se propagar, se este tipo de políticos não merecesse a aprovação de crescentes faixas do eleitorado, que se reveem com grande parte da sua retórica.»



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