terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Fernando Belo

imagem retirada de https://www.publico.pt/2018/12/03/culturaipsilon/noticia/morreu-fernando-belo-1853295


Fernando Belo, filósofo português, foi professor no Curso de Filosofia da Faculdade de Letras  da Universidade de Lisboa (1975-2003). O seu pensamento situa-se sob a influência da fenomenologia de Husserl, da filosofia de Heidegger e do estruturalismo francês. A sua área  de lecionação e de continuada investigação foi a filosofia da linguagem e o seu pensamento procurou entrecruzar o discurso da filosofia e o das ciências. 
Como professor, tinha a capacidade de envolver os alunos na sua própria pesquisa, mostrando a dupla face de qualquer saber. O visível, claro e inteligível, e o invisível, oculto, histórico, incompleto. Percebíamos que havia um saber e ele explicava-o bem. Mas percebíamos também que muito mais faltava para saber. Nunca escondia essa inquietação e nunca ela se confundia com insegurança. Com ele aprendia-se que o saber é um caminho sem fim e que quem escolhe seguir essa via não pode aspirar à tranquilidade. 
Publicou vários livros, em Portugal e em França, mantendo-se sempre ativo, nomeadamente através de participação no jornal Público em artigos de opinião e com um blogue, cujo último post data do último 30 de novembro. Faleceu ontem, dia 3 de dezembro, aos 85 anos.




Acabamos esta notícia com um excerto retirado de um artigo publicado no Público, a 28 de março de 2018 com o título «O enigma do cérebro: biológico e social». Nele aborda, inclusivamente, as últimas investigações de A. Damásio, neurocientista, e retira algumas consequências que advêm para as questões filosóficas tradicionais - como a da liberdade - dos conhecimentos das neurociências. 

«Porque é que um filósofo se mete a falar daquilo que aprendeu com os neurologistas? Por se ter apercebido de que, tal como em outras ciências, eles são vítimas duma tradição filosófica de 24 séculos que não lhes deixa ver senão o ‘biológico’ do órgão que o ‘opõe’ ao mundo, sendo todavia o neuronal irredutível à oposição interior (alma, sujeito, consciência) / exterior (corpo, mundo). Ou seja, um excelente argumento numa das principais questões filosóficas actuais: como é que os estudos de neurologia nos podem ajudar a compreender o que é a liberdade, fora dessa dicotomia platónico-cristã.»

2 comentários:

  1. Muito obrigado pela sua partilha. Aquece o coração de uma filha.

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  2. Grata por ter deixado aqui estas palavras. É bom saber o eco positivo que têm, por vezes, as nossas palavras. Principalmente quando são ditas com autenticidade. Foi meu professor...

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