segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Dá voz à letra


A Gulbenkian desafia jovens dos 13 aos 17 anos para leitura em voz alta. Dá Voz à Letra oferece uma viagem a Londres e dois iPad aos vencedores. Objectivo: promover a leitura. Método: seguir o formato dos concursos de talentos.

Escolhem um texto de um autor português, lêem-no em voz alta e gravam um vídeo até três minutos com esse desempenho.
Os melhores 20 leitores (dos 13 aos 17 anos) irão passar um dia na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, numa espécie de casting, em que, perante um júri, lerão outros textos, já não à sua escolha. Os dez jovens que se distinguirem nesta selecção irão integrar um espectáculo, a realizar-se no dia 7 de Fevereiro, de novo na Gulbenkian, onde serão então encontrados os três vencedores. O 1.º lugar ganha uma viagem a Londres, que inclui a passagem para um adulto, o 2.º e 3.º lugares recebem um iPad. Qualquer semelhança com um concurso de talentos não é coincidência. É de propósito.
“Como nessas idades gostam de concursos de cantorias, um universo que ocupa cada vez mais as suas cabeças, e também de competição, pensei em criar um concurso de leitura com a mesma lógica”, explica a crítica literária e escritora Helena Vasconcelos, de quem partiu a ideia de Dá Voz à Letra. E prossegue: “A Gulbenkian gostou e avançámos. Queremos que eles percebam que a leitura é sexy e divertida.”
Quando diz “a Gulbenkian”, está a referir-se à equipa liderada por Maria Helena Borges, directora adjunta da fundação e que tem a cargo o Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas. “Vamos pô-los a ler autores contemporâneos, mas não só. Queremos que sejam capazes de ler para os outros e que façam da leitura um acto de sedução, que encontrem algo que os toque, os faça rir ou chorar. E partilhem essas emoções”, diz a crítica literária do PÚBLICO.
Nesta primeira edição, apenas podem concorrer alunos do distrito de Lisboa, “não havia capacidade de resposta para mais”. Os vídeos podem ser enviados até dia 29 de Outubro via site do concurso. “E já chegaram muitos”, disse Helena Vasconcelos, passada uma semana sobre o início das inscrições.
Helena Vasconcelos apercebeu-se de que as acções de promoção do livro e da leitura estavam muito centradas em miúdos até aos 12 anos, altura em que começam a diversificar interesses e “a perder hábitos de leitura”. Também quis reflectir sobre a própria história e evolução do acto de ler e de contar histórias: “Tudo começou com a oralidade, sem texto escrito; passou-se para a leitura em voz alta e em família, não havia dinheiro para muitos livros; e só depois se chegou à leitura privada e em silêncio”, resume. “Agora”, diz, “voltou a ser convivial”. E resolveu aproveitar o facto de os jovens estarem “sempre em rede e a comunicar” para tentar que “partilhem leituras”.
Não é teatro, é leitura
Para os conquistar para as palavras, Helena Vasconcelos costuma dizer aos jovens que estas os podem ajudar “a arranjar namoradas ou namorados”, na certeza de que “a leitura de um poema ou de um excerto de um livro para alguém ficará para sempre na memória” de quem o escutou.
Não se espera que neste concurso dramatizem os textos nem os decorem, “não estamos a falar de teatro, mas podem pôr um chapéu ou usar outro adereço que reforce a comunicação”. Na fase de provas de selecção para os dez finalistas presentes no espectáculo final, “os jovens serão acompanhados pelo director de actores Carlos Pimenta e pela coach de voz Teresa Lima”.
Pretende-se desenvolver, como consta do regulamento, “a dicção, a colocação e a projecção da voz, a noção de ritmo na leitura e a descoberta das possibilidades interpretativas na leitura de diferentes tipos de textos”.
No site de apresentação do concurso, é assim que Vasconcelos tenta cativar os jovens para os vários tipos de narrativa e em qualquer suporte: “A leitura alarga o teu espaço, dá-te novos amigos, leva-te a conhecer lugares, emoções e ideias que nem imaginas que existem. Dirás que não tens tempo, que a leitura é solitária, que a vida é cheia de outras coisas; dirás que já te chegam as aulas. É verdade que, na escola, te preparas, cresces e amadureces. Mas a leitura de livros – que são sempre uma história, com muitos capítulos diferentes – dá-te tudo o resto. Ler define a tua personalidade, faz de ti uma pessoa mais corajosa, mais inteligente, mais sedutora. Por isso, nós desafiamos-te a revelar o teu lado secreto. Mostra do que és capaz e lê em voz alta os textos de que gostas e os que vais descobrir. Revela-te como leitor(a).”
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/achas-que-sabes-ler-1672180
E que tal aceitar o desafio? É só alargar o treino que já têm da aula de filosofia...

domingo, 12 de outubro de 2014

Prémio Nobel da Paz para Malala e Satyarthi (2)


A notícia do Público

O Prémio Nobel da Paz foi atribuído nesta sexta-feira à activista paquistanesa Malala Yousufzai e ao indiano Kailash Satyarthi.
O anúncio foi feito esta manhã em Oslo pelo presidente do Comité Norueguês do Nobel, Thorbjoern Jagland, que afirmou que "as crianças têm de ir à escola e não podem ser financeiramente exploradas". O prémio foi atribuído aos dois activistas "pela sua luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação", segundo o comité.
O Comité Nobel chama a atenção para a atribuição do prémio a "um hindu e a uma muçulmana, um indiano e uma paquistanesa, que se juntam numa luta comum pela educação e contra o extremismo".
Malala Yousufzai tornou-se conhecida pela sua defesa do direito universal à educação em todo o mundo. Em 2013, a paquistanesa de 17 anos foigalardoada com o Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu. Torna-se agora a mais jovem vencedora do Prémio Nobel.
Em 2012, fez esta quinta-feira dois anos, a jovem foi alvo de um atentado por um grupo de taliban que controlava a região paquistanesa onde vivia. Malala sobreviveu e tornou-se uma das vozes mais ouvidas na área dos direitos das crianças à educação. Entre as muitas acções em que participou, sublinha-se odiscurso da jovem na sede da ONU em Nova Iorque, em que apelou à tolerância e compreensão entre os povos.
O dia 12 de Julho, data do seu aniversário, foi baptizado pela ONU como o “Dia de Malala”. Há um ano foi publicada a sua biografia, Eu Malala, da autoria da jornalista britânica Christina Lamb. 
Na escola, como é habitual
A notícia do Nobel já chegou a Malala, que “estava na escola, como é habitual”, segundo um porta-voz da Edelman, uma empresa de relações públicas que gere a sua imagem, citado pela AFP. Desde que foi vítima do atentado a jovem vive com a família em Birmingham, no Reino Unido.
A acompanhar o primeiro Nobel da Paz atribuído a uma adolescente (Malala é a mais jovem de sempre a receber o prémio) surge um activista dos direitos das crianças: Kailash Satyarthi, 60 anos, abandonou uma carreira de engenheiro electrónico para se dedicar à luta contra o trabalho infantil nos anos 1980. A organização que fundou, Bachpan Bachao Andolan, já conseguiu retirar perto de 80 mil crianças do trabalho escravo, conseguindo devolvê-las à educação e ajudar na sua reintegração.
O activista agradeceu o prémio, que representa o "reconhecimento da dor que milhões de crianças sofrem", em declarações à agência Press Trust of India.
Satyarthi é o promotor de vários movimentos da sociedade civil, incluindo o maior dedicado a este tema, a Marcha Global contra o Trabalho Infantil, que une organizações não-governamentais, sindicatos de professores e de comércio de todo o mundo (2000 grupos em 140 países). Também fundou a Campanha Global pela Educação, que visa combater a crise global na área.
Na Índia, promoveu acções para tornar a educação num artigo constitucional. Na sequência disso, em 2009, foi aprovado no seu país a Lei do Direito à Educação Gratuita e Obrigatória. Outras leis foram entretanto aprovadas, mas o problema continua a ser a prática, consequência da pobreza e da corrupção (que diminiu as hipóteses de os empregadores serem responsabilizados pelas autoridades), mas também da falta de escolas com boas condições e de professores.
Um primeiro dia de escola chocante
"O meu primeiro dia de escola foi emocionante, mas também foi chocante. Havia uma criança da minha idade a trabalhar à porta da escola com o pai. Perguntei ao meu professor por que é que aquela criança não vinha à escola e ele não respondeu. Falei com o director e ele disse: 'É comum, são crianças pobres'", contou o agora laureado numa entrevista ao PÚBLICO, em 2005. Quando ganhou coragem e foi falar com o miúdo, este explicou-lhe que toda a sua família tinha começado a trabalhar na infância. "Nós nascemos para trabalhar", disse-lhe.
Na mesma entrevista, Satyarthi conta à jornalista Ana Cristina Pereira que, ainda jovem, começou a fazer uma revista chamada A luta deve continuar"sobre as pessoas ignoradas e as suas lutas", uma publicação que fazia sozinho e enviava para as autoridades. "Um dia, apareceu-me um homem com 40 e muitos anos, cheio de fome e sede e com umas revistas dessas na mão. Um leitor tinha-lhe dado e dito que me procurasse. Ele contou-me que tinha sido vendido e que durante 17 anos estivera a trabalhar numa fábrica. Fugiu de noite, com a família, porque os patrões queriam vender a filha, de 14, 15 anos a um bordel", recordou, numa conversa à margem da Conferência Europeia sobre Tráfico de Crianças.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/nobel-da-paz-para-1672461#/0

Prémio Nobel da Paz para Malala e Satyarthi (1)

 O que têm em comum a jovem Malala e o experiente Satyarthi? Se a primeira surgiu de rompante nas notícias do mundo inteiro ao ser alvejada por insistir em ir à escola, num Paquistão dominado pelos Talibã, o segundo, indiano, tem dedicado a sua vida à luta contra o trabalho infantil e o trabalho escravo.


retirada daqui: http://parade.condenast.com/170557/parade/malala-yousafzai-the-bravest-girl-in-the-world/
                                                                         
Retirada daqui: http://kailashsatyarthi.net/blog/?page_id=7

Duas gerações, a mesma luta pelo direito à educação.

Quando possuímos um bem pelo qual não lutámos, muitas vezes não entendemos o seu valor...

«Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo», foram palavras de Malala no seu discurso às Nações Unidas em 2013. A este propósito, lembro-me da C., que veio ter comigo no final de uma das aulas de Filosofia, falando-me entusiasmada de Malala! Este post é-lhe especialmente dedicado.

Fica aqui o discurso de Malala nas Nações Unidas

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Prémio Nobel da Medicina para investigadores do "GPS" do cérebro

Notícia retirada daqui http://www.publico.pt/ciencia/noticia/nobel-da-medicina-de-2014-1671990?page=-1

Por que não nos perdemos quando vamos trabalhar, ao supermercado ou à escola buscar os miúdos? Porque temos um GPS no nosso cérebro. Os laureados do Nobel da Medicina deste ano descobriram-no.

O prémio Nobel da Medicina de 2014 foi atribuído esta segunda-feira a John O'Keefe, do University College de Londres (UCL, Reino Unido) e ao casal May-Britt e Edvard Moser, da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia de Trondheim, pela sua descoberta “de células que constituem um sistema de posicionamento no cérebro”, anunciou o comité do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia).
Mais precisamente, este “GPS interno” cerebral “permite orientarmo-nos no espaço e demonstra a existência de uma base celular para uma função cognitiva de alto nível”, diz ainda o comité Nobel em comunicado.
O'Keefe, que recebe metade do prémio de oito milhões de coroas suecas (cerca de 881.000 euros), tem 74 anos. Nasceu nos EUA, doutorou-se no Canadá em finais da década de 1960 e a seguir foi trabalhar – e ainda trabalha – no UCL (é cidadão norte-americano e britânico).
Em 1971, lê-se no mesmo comunicado, descobriu que, no cérebro do rato, numa estrutura chamada hipocampo, certas células se activavam quando o animal se encontrava numa dada posição de uma sala e outras quando se encontrava noutras posições. O hipocampo desempenha um papel particularmente importante na consolidação da memória e nas capacidades de navegação no espaço circundante.
O cientista especulou então que essas células formavam um mapa cerebral interno do mundo exterior e baptizou-as “células de posicionamento” (place cells). Tinha de facto assim descoberto o primeiro componente de um GPS cerebral interno que, segundo se viria a saber muito mais recentemente, também existe nos seres humanos.
Entretanto, em meados dos anos 1990, relata a revista Nature, dois jovens neurocientistas noruegueses (nascidos no início dos anos 1960) chegaram ao laboratório de O’Keefe para fazerem um pós-doutoramento: May-Britt e Edvard Moser, os outros dois laureados deste ano.
Depressa os Moser ficaram entusiasmados com a questão das células de posicionamento, mas poucos meses depois tiveram de regressar à Noruega, o seu país de origem, de onde receberam ofertas de emprego para trabalhar em Trondheim que lhes pareciam difíceis de recusar.
Já no seu novo laboratório, os Moser começaram a analisar as ligações nervosas entre as células de posicionamento descobertas por O’Keefe e outras células nervosas. E foi assim que, também em experiências com ratos, encontraram, numa estrutura cerebral próxima do hipocampo chamada córtex entorinal, certas células que se activavam quando um rato passava numa dada posição do espaço onde se encontrava.
Para tentar perceber o que se passava, deixaram os animais circular livremente dentro de caixas enquanto registavam, através de electrodos implantados no seu cérebro, os locais onde se activava cada uma das células do córtex entorinal que estavam a monitorizar. Foi assim que, em 2005, mais de 30 anos depois da descoberta inicial de O’Keefe, a dupla norueguesa anunciou, num artigo na Nature, que esses locais de activação formavam uma grelha hexagonal, à maneira de um favo de mel. As células do córtex entorinal, que os Moser designaram de “células em grelha” (grid cells), constituíam assim um sistema abstracto de coordenadas espaciais. Tinham descoberto um segundo elemento-chave do sistema cerebral integrado de ajuda à navegação.
Os dois sistemas interagem: quando por cima desta “grelha” celular abstracta formada no córtex entorinal se vem sobrepor o padrão de actividade das células de posicionamento do hipocampo, isso permite ao animal saber onde estão os marcos de referência relevantes à sua volta – “tais como uma roda de exercício ou a porta” da gaiola, lê-se ainda na Nature –, navegar entre eles e integrá-los na sua memória para futura utilização.
“Juntamente com outras células do córtex entorinal que reconhecem a direcção da cabeça e os limites da sala, as células [em grelha] estabelecem circuitos com as células de posicionamento do hipocampo”, explica ainda o comunicado Nobel. “Estes circuitos constituem um sistema de posicionamento global, um GPS interno, dentro do cérebro.”
Como já foi referido, tudo indica hoje, com base em técnicas não invasivas de visualização do cérebro humano e em estudos de doentes submetidos a neurocirurgias, que os mesmos elementos do GPS cerebral existem no hipocampo e no córtex entorinal dos seres humanos. E nos doentes com Alzheimer, que frequentemente perdem o sentido da orientação e deixam de reconhecer mesmo os sítios mais familiares, sabe-se que os neurónios de precisamente aquelas duas estruturas cerebrais estão entre os primeiros a ser afectados.
“A compreensão deste sistema de posicionamento global do cérebro poderá portanto ajudar a perceber o mecanismo subjacente à devastadora perda de memória espacial que afecta as pessoas que padecem a doença de Alzheimer”, salienta o comunicado Nobel.
“Ainda estou em choque. Isto é tão fantástico”, disse May-Britt Moser quando recebeu, pelo telefone, a notícia oficial na segunda-feira de manhã. O seu marido Edvard só viria a sabê-lo umas horas mais tarde, ao desembarcar de um avião em Munique.
O’Keefe, citado pela agência Reuters, ficou muito surpreendido de receber o Nobel, em particular depois de aquilo que descreveu como uma “juventude multifacetada”, durante a qual passou dos estudos clássicos para a aeronáutica antes de enveredar pela filosofia e a psicologia.

domingo, 5 de outubro de 2014

A ciência e o problema do livre-arbítrio


Haverá afinal espaço para o livre arbítrio?

2014-10-02
Depois de algum tempo de espera, desiste e levanta o braço para chamar um táxi
Depois de algum tempo de espera, desiste e levanta o braço para chamar um táxi
Está sentado numa paragem de autocarro e acredita que o autocarro irá chegar em breve. Olha para a estrada. Nada. Alguns minutos depois, levanta-se e começa a andar. “Talvez haja algum problema” - pensa. Depois de algum tempo de espera, desiste e levanta o braço para chamar um táxi. Assim que se começa a afastar da paragem, vê no retrovisor o autocarro a chegar à paragem. Mas será que teve possibilidade de esperar um pouco mais? Ou desistir de esperar pelo autocarro foi o resultado inevitável e previsível de uma determinada cadeia de eventos neurais?
No estudo publicado na revista Nature Neuroscience, investigadores do Centro Champalimaud, em Lisboa, revelam que os registos de actividade neural podem ser usados para prever quando é que decisões espontâneas vão ocorrer. “Experiências como esta têm sidas usadas para argumentar que o livre arbítrio é uma ilusão. Mas agora achamos que essa interpretação é equívoca”, explica Zachary Mainen, investigador principal e director do Programa de Neurociências da Fundação Champalimaud.

A fim de tentarem prever quando é que o rato iria desistir de esperar por um sinal sonoro retardado, os investigadores registaram a actividade de neurónios numa área do cérebro conhecida por estar envolvida no planeamento de movimentos. “Nós sabíamos que os ratos não estavam apenas a responder a um estímulo, mas também a decidir espontaneamente quando desistir, pois a sua escolha variava de forma imprevisível de uma tentativa para outra”, explica Mainen.

O livre arbítrio não é uma ilusão
O livre arbítrio não é uma ilusão
Os investigadores descobriram que os neurónios do córtex pré-motor conseguem prever as acções dos animais com mais do que um segundo de antecedência. Segundo Mainen, “isto é notável porque, em experiências semelhantes realizadas em seres humanos, estes relatam tomar a decisão de se moverem apenas dois décimos de segundo antes de se moverem.”
No entanto, os investigadores afirmam que este tipo de actividade neural de previsão não significa que o cérebro tenha feito uma decisão. "Os nossos dados podem ser muito bem explicados por uma teoria de tomada de decisão conhecida como um modelo de "integration - to - bound" (integração - até um - limite), diz Mainen.

Segundo esta teoria, as células cerebrais individuais votam a favor ou contra uma determinada acção, tal como quando levantamos um braço para votar. Os circuitos neurais dentro do cérebro vão mantendo um registo dos votos a favor de cada acção e, quando o limite é atingido, a acção ocorre.

Previsões eleitorais nunca são cem por cento precisas
Previsões eleitorais nunca são cem por cento precisas
Tal como acontece com os eleitores individuais numa determinada eleição, os neurónios individuais podem influenciar uma decisão, mas não determinam o resultado. Mainen explica:

"Os resultados das eleições podem ser previstos, e quanto mais dados disponíveis melhor será o prognóstico, mas estas previsões nunca são 100% precisas e ser capaz de prever parcialmente uma eleição não significa que os resultados são pré-determinados. Da mesma forma, ser capaz de usar a actividade neural para prever uma decisão não significa que a decisão já tenha ocorrido."

Neste estudo, os investigadores também descrevem uma segunda população de neurónios cuja actividade pensa-se reflectir o registo activo de votos para uma determinada acção. Esta actividade, descrita como do tipo "rampa", já tinha sido relatada anteriormente mas apenas em humanos e outros primatas.

 Zachary Mainen
Zachary Mainen
Segundo Masayoshi Murakami, co-autor do estudo,"Acreditamos que os nossos dados fornecem fortes evidências de que o cérebro está a operar por integração, até um limite, mas ainda há muitas incógnitas".

E Mainen conclui: "Conseguir perceber qual é a origem da variabilidade é a grande questão. E até conseguirmos percebê-la, não podemos dizer que percebemos como funciona a tomada de uma decisão."

O problema do livre-arbítrio é um problema filosófico muito antigo que hoje tem vindo a receber um conjunto de contribuições das neurociências. Não sabemos ainda o que vai acontecer. Restam duas hipóteses:
1. ou a ciência irá conseguir obter uma resposta que solucionará o problema que, assim, abandonará o campo da filosofia (como tem acontecido ao longo da História noutros casos)
2. ou a ciência esclarecerá uma parte do problema que continuará a persistir como questão filosófica

Simplificando, tradicionalmente considera-se  a existência de duas teorias filosóficas fundamentais. Temos
1. as que defendem que o homem está sujeito ao determinismo, que todas as ações são causadas e que, portanto, o homem não pode ser considerado livre nas suas escolhas e decisões. Julgamo-nos livres, apenas porque desconhecemos as causas das nossas ações, no dizer de Espinoza (filósofo do século XVII).
2. as que defendem que há escolhas livres, que o homem tem poder para decidir de acordo com a sua consciência racional e a sua vontade.

Segundo esta notícia, parece que os deterministas perderam um argumento a favor da sua tese. Afinal, o livre-arbítrio poderá não ser uma ilusão! 

Sendo assim, a questão de saber se o livre-arbítrio existe, a questão de saber se somos livres ou determinados nas nossas ações/decisões continua em aberto. 

Os alunos de filosofia seniores sabem bem do que estamos a falar!!!

Aliás, esta notícia é um desafio para o J.S., aluno de filosofia do 11ºano, que se declara determinista!

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O que é a Filosofia?

Este post é dedicado muito especialmente aos alunos do 10ºano, que só a partir de agora se deparam com uma disciplina que dá pelo nome de «Filosofia».




A propósito, a «Mafalda», assim se chama esta banda desenhada, comemorou 50 anos a 29 de setembro deste ano. Bem sei que isto foi há muito tempo, mas gostaríamos de saber o que é que os jovens de 15 anos (é uma força de expressão, pode ser com mais um anito ou dois...) conhecem desta «menina» que faz perguntas tão difíceis!!!

Olimpíadas Internacionais da Filosofia

É com uma boa notícia relativa ao ano letivo passado que recomeçamos!
É motivo de satisfação o desempenho dos jovens portugueses, alunos do ensino secundário, nas Olimpíadas Internacionais de Filosofia. As Olimpíadas Internacionais de Filosofia já vão na 22 ª edição, mas Portugal só participa há 3 anos. E muito bem, diga-se!
Deixamos o link para o site oficial http://www.philosophy-olympiad.org/
E transcrevemos a notícia que retirámos da Prosofos (https://sites.google.com/site/prosofos/) a organização que, em Portugal, promove as Olimpíadas Nacionais de Filosofia, a partir das quais se selecionam os participantes nas Olimpíadas internacionais. 

Decorreu entre os dias 15 e 18 de maio, em Vilnius, Lituânia, a XXII edição das Olimpíadas Internacionais de Filosofia (IPO), subordinada ao tema “Emmanuel Levinas: Infinity and the Face of the Other”.
Em 2014, o evento contou com a participação de 41 países, sendo que Portugal concorre pela quarta vez consecutiva. No primeiro ano, Portugal participou a título condicional com o aluno José Rodrigues - que ganhou uma medalha de prata; nos dois anos seguintes os alunos portugueses obtiveram menções honrosas; este ano, os dois representantes do nosso país ganharam medalhas de prata.
Os alunos são apurados nas Olimpíadas Nacionais de Filosofia, organizadas anualmente pela PROSOFOS- Associação para a Promoção da Filosofia, mediante a realização de uma prova específica de Filosofia e outra em língua estrangeira. Os alunos Maria Beatriz Correia Santos (Agrupamento de Escolas Ibn Mucana, Alcabideche) e João Filipe Quintas Madeira (Escola Secundária Dr. Ginestal Machado, Santarém) foram os vencedores das III Olimpíadas Nacionais de Filosofia, as quais se realizaram em Paços de Ferreira, nos dias 7 e 8 de maio do corrente ano, tendo sido selecionados para participarem nas Olimpíadas Internacionais de Filosofia.
Os resultados obtidos demonstram que o empenho, esforço e dedicação são recompensados e estão bem presentes no ensino português.
Parabéns à Beatriz e ao João!
» Leia os ensaios filosóficos dos medalhados (anexo, no fim da página)

TOPICS (IPO, Vilnius, 2014) 

I. Choosing to kill the innocent as a means to your ends is always murder...Killing the innocent, even if you know as a matter of statistical certainty that the things you do involve it, is not necessarily murder….On the other hand, unscrupulousness in considering the possibilities turns it into murder. – G.E.M. Anscombe, “Mr Truman’s Degree”, in her Collected Philosophical Papers, vol. III (Ethics, Religion and Politics), Minneapolis: University of Minnesota Press, 1981, p.66.

II. The most tantalizing question of all: If a fake is so expert that even after the most thorough and trustworthy examination its authenticity is still open to doubt, is it or is it not as satisfactory a work of art as if it were unequivocally genuine? -- Aline B. Saarinen, New York Times Book Review, July 30, 1961, p.14; cited in Nelson Goodman, Languages of Art, 1976, p.99

III. Knowledge is true belief based on argument. -- Plato, Theaetetus, 201 c-d

“Is Justified True Belief Knowledge?” -- Edmund Gettier, Analysis 23: 121–123

IV. Confucius said: “Now I understand why the doctrine of the mean can not be put into practice. Clever people, knowing it thoroughly, don't think it is practicable, while stupid people, unable to understand it, do not know how to practice it. I also know why the doctrine of the mean can not be popularized. Talented people overdo it while unskilled people can not do it.” -- The Doctrine of the Mean, translated by Fu Yunlong, Beijing 1996, pp. 11-12