A Gulbenkian desafia jovens dos 13 aos 17 anos para leitura em voz alta. Dá Voz à Letra oferece uma viagem a Londres e dois iPad aos vencedores. Objectivo: promover a leitura. Método: seguir o formato dos concursos de talentos.
Escolhem um texto de um autor português, lêem-no em voz alta e gravam um vídeo até três minutos com esse desempenho.
Os melhores 20 leitores (dos 13 aos 17 anos) irão passar um dia na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, numa espécie de casting, em que, perante um júri, lerão outros textos, já não à sua escolha. Os dez jovens que se distinguirem nesta selecção irão integrar um espectáculo, a realizar-se no dia 7 de Fevereiro, de novo na Gulbenkian, onde serão então encontrados os três vencedores. O 1.º lugar ganha uma viagem a Londres, que inclui a passagem para um adulto, o 2.º e 3.º lugares recebem um iPad. Qualquer semelhança com um concurso de talentos não é coincidência. É de propósito.
“Como nessas idades gostam de concursos de cantorias, um universo que ocupa cada vez mais as suas cabeças, e também de competição, pensei em criar um concurso de leitura com a mesma lógica”, explica a crítica literária e escritora Helena Vasconcelos, de quem partiu a ideia de Dá Voz à Letra. E prossegue: “A Gulbenkian gostou e avançámos. Queremos que eles percebam que a leitura é sexy e divertida.”
Quando diz “a Gulbenkian”, está a referir-se à equipa liderada por Maria Helena Borges, directora adjunta da fundação e que tem a cargo o Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas. “Vamos pô-los a ler autores contemporâneos, mas não só. Queremos que sejam capazes de ler para os outros e que façam da leitura um acto de sedução, que encontrem algo que os toque, os faça rir ou chorar. E partilhem essas emoções”, diz a crítica literária do PÚBLICO.
Nesta primeira edição, apenas podem concorrer alunos do distrito de Lisboa, “não havia capacidade de resposta para mais”. Os vídeos podem ser enviados até dia 29 de Outubro via site do concurso. “E já chegaram muitos”, disse Helena Vasconcelos, passada uma semana sobre o início das inscrições.
Helena Vasconcelos apercebeu-se de que as acções de promoção do livro e da leitura estavam muito centradas em miúdos até aos 12 anos, altura em que começam a diversificar interesses e “a perder hábitos de leitura”. Também quis reflectir sobre a própria história e evolução do acto de ler e de contar histórias: “Tudo começou com a oralidade, sem texto escrito; passou-se para a leitura em voz alta e em família, não havia dinheiro para muitos livros; e só depois se chegou à leitura privada e em silêncio”, resume. “Agora”, diz, “voltou a ser convivial”. E resolveu aproveitar o facto de os jovens estarem “sempre em rede e a comunicar” para tentar que “partilhem leituras”.
Não é teatro, é leitura
Para os conquistar para as palavras, Helena Vasconcelos costuma dizer aos jovens que estas os podem ajudar “a arranjar namoradas ou namorados”, na certeza de que “a leitura de um poema ou de um excerto de um livro para alguém ficará para sempre na memória” de quem o escutou.
Para os conquistar para as palavras, Helena Vasconcelos costuma dizer aos jovens que estas os podem ajudar “a arranjar namoradas ou namorados”, na certeza de que “a leitura de um poema ou de um excerto de um livro para alguém ficará para sempre na memória” de quem o escutou.
Não se espera que neste concurso dramatizem os textos nem os decorem, “não estamos a falar de teatro, mas podem pôr um chapéu ou usar outro adereço que reforce a comunicação”. Na fase de provas de selecção para os dez finalistas presentes no espectáculo final, “os jovens serão acompanhados pelo director de actores Carlos Pimenta e pela coach de voz Teresa Lima”.
Pretende-se desenvolver, como consta do regulamento, “a dicção, a colocação e a projecção da voz, a noção de ritmo na leitura e a descoberta das possibilidades interpretativas na leitura de diferentes tipos de textos”.
No site de apresentação do concurso, é assim que Vasconcelos tenta cativar os jovens para os vários tipos de narrativa e em qualquer suporte: “A leitura alarga o teu espaço, dá-te novos amigos, leva-te a conhecer lugares, emoções e ideias que nem imaginas que existem. Dirás que não tens tempo, que a leitura é solitária, que a vida é cheia de outras coisas; dirás que já te chegam as aulas. É verdade que, na escola, te preparas, cresces e amadureces. Mas a leitura de livros – que são sempre uma história, com muitos capítulos diferentes – dá-te tudo o resto. Ler define a tua personalidade, faz de ti uma pessoa mais corajosa, mais inteligente, mais sedutora. Por isso, nós desafiamos-te a revelar o teu lado secreto. Mostra do que és capaz e lê em voz alta os textos de que gostas e os que vais descobrir. Revela-te como leitor(a).”
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/achas-que-sabes-ler-1672180
E que tal aceitar o desafio? É só alargar o treino que já têm da aula de filosofia...