quarta-feira, 20 de novembro de 2019

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2019 (2)

Esta publicação surge diretamente na continuidade da anterior.

Apresentamos um segundo texto, precedido de uma imagem de «Guernica», publicado no site oficial da UNESCO, com tradução da nossa responsabilidade.

Tapeçaria representando o quadro de Pablo Picasso pintado em 1937 e intitulado «Guernica». Exposto perto da sala do Conselho de Segurança em Nova Iorque, esta tapeçaria evoca os horrores da guerra e tem o nome de uma cidade basca destruída durante a guerra civil espanhola.
A Filosofia
Vários pensadores sugerem que o «espanto» está no cerne da filosofia. Seguramente, a filosofia surgiu desta tendência natural própria dos homens de se espantarem deles mesmos e do mundo no qual vivem.
Esta disciplina que se pretende «sabedoria» ensina-nos a refletir sobre a reflexão, a pôr em causa verdades bem estabelecidas, a verificar as hipóteses e a encontrar conclusões.
Desde há séculos e isto em todas as culturas, a filosofia deu origem a conceitos, ideias e análises, formulando assim os fundamentos do pensamento crítico, independente e criativo. O Dia da Filosofia na UNESCO permitiu a esta instituição celebrar em especial a importância da reflexão filosófica e em encorajar as populações do mundo inteiro a partilhar entre si a sua herança filosófica.
Para a UNESCO, a filosofia oferece os fundamentos concetuais dos princípios e dos valores de que a paz mundial depende – a democracia, os direitos humanos, a justiça e a igualdade.
A filosofia permite consolidar estes autênticos fundamentos da coexistência pacífica.
Mais de setenta países, vinte e cinco deles em África, celebraram as duas primeiras edições do Dia que deu a todos, independentemente da sua cultura, a feliz oportunidade de refletir sobre variadas questões tais como – quem somos nós enquanto indivíduo e enquanto comunidade mundial? A interrogarmo-nos sobre o estado do mundo e se ele corresponde aos nossos ideais de justiça e de igualdade, a perguntarmo-nos se a nossa sociedade vive de acordo com as normas éticas e morais das nossas grandes Declarações.
Este Dia deu-nos a oportunidade de fazer também perguntas frequentemente esquecidas:
  • De que é que nos esquecemos de pensar?
  • A que realidades intoleráveis nós nos estamos a habituar?
Disponível em https://www.un.org/fr/events/philosophyday/background.shtml , consulta a 19 de novembro, 2019. Tradução para português da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2019 (1)

Inauguramos este novo ano celebrando o Dia Mundial da Filosofia! Neste ano de 2019 é comemorado a 21 de novembro.

Este ano, iremos celebrar este Dia com diversas atividades, tais como: a participação dos nossos alunos de Filosofia numa conferência a ser proferida por dois jornalistas sobre a importância da Comunicação Social no mundo atual, exposição na BECRE com trabalhos realizados no âmbito da disciplina de Filosofia, exposição de textos informativos oficiais (publicados no site da UNESCO e traduzidos por nós) sobre o significado da existência de um Dia Mundial da Filosofia e uma atividade de divulgação de textos de filósofos contemporâneos «O que pensam os filósofos hoje».

Vamos, então, iniciar uma série de publicações a propósito desta celebração. 

Vitral da paz de Marc Chagall,realizado em colaboração com Charles Marq em Reims (França). O vitral, exposto no edifício da Assembleia geral, honra a memória de Dag Hammarskjöld e de todos aqueles que perderam a sua vida ao serviço da paz.


À procura da sabedoria

Instituído em 2005 pela UNESCO, o Dia Mundial da Filosofia é celebrado todos os anos na terceira quinta feira do mês de novembro.
O termo «filosofia» provém do grego e traduz-se literalmente por «amor à sabedoria». Se tivéssemos que descrever a Filosofia, poderíamos dizer que se trata de um conjunto de reflexões críticas e argumentos referentes ao mundo e ao lugar que nele ocupamos. A Filosofia fornece a base concetual dos princípios e dos valores de que dependem a paz mundial: a democracia, os direitos humanos, a justiça e a igualdade. Por outro lado, a Filosofia contribui para consolidar os verdadeiros fundamentos da coexistência pacífica e da tolerância.
Ao proclamar o Dia Mundial da Filosofia, a UNESCO sublinha a importância desta disciplina, sobretudo para os jovens - «a Filosofia é uma disciplina que encoraja o pensamento crítico e independente, ao mesmo tempo que trabalha no sentido de melhorar a compreensão do mundo e de promover a tolerância e a paz».
Neste dia o exercício coletivo de reflexão livre, racional (raisonnée) e informada sobre os desafios importantes do nosso tempo, todos os parceiros da UNESCO – os governos nacionais, as suas instituições e organismos públicos, incluindo as Comissões nacionais para a UNESCO, as organizações não governamentais pertinentes, as associações, as universidades, os institutos, as escolas, as Cadeiras UNESCO/UNITWIN, etc. – são encorajados a organizar atividades variadas (diálogos filosóficos, discussões, conferências, ateliers, acontecimentos culturais e apresentações diversas).

Disponível em https://www.un.org/fr/events/philosophyday/index.shtml, acesso a 19 de nov. 2019 (tradução para português da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres).

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Filosofia para Crianças - sobre animais, pessoas e robots

Registamos aqui alguns momentos de um projeto de Filosofia para Crianças desenvolvido com uma turma do 1º ano de escolaridade.

Alguns momentos do nosso diálogo a partir da história do Pato Patudo…





2. Os animais podem mostrar que estão contentes? Por que dizes isso? Dá exemplos.

·      Os cães podem mostrar e abanar a cauda para cima e tristes para baixo, diz a F.

·      Os cães quando estão felizes metem as orelhas para cima e quando não eles metem para baixo, diz a E.

·      A minha avó tem um cão e quando chego abana sempre a cauda, diz o G.


3. Os robots precisam de atenção e de carinho? Porquê?


 

·      Os robots não precisam. Os robots têm pilhas, diz o S.

·      Porque eles são feitos de metal e são máquinas. Como os carros, diz o J.

·      São máquinas, diz o M.

·      Porque não são seres humanos nem seres vivos, diz a E.

·      São máquinas; têm cabos que permitem não comer, diz a F.

·      Não comem. São de metal, diz o D.

·      Porque eles são feitos de fios, diz o D.

·      Porque eles foram construídos, diz o R.

·      Sim, porque eles quando estamos a brincar se não dermos carinho eles partem-se, diz o J.

·      Não, porque não são seres vivos, diz a E.

·      Concordo com a E., diz a L.

·      Concordo com o J., diz a C.

·      Não são seres vivos e não são iguais a nós. Não precisam, diz o G.

·      Os robots não são seres vivos e nós somos. Por isso é que nós precisamos de comida, atenção e carinho, diz a L.

·      Eles não são humanos como nós. Mas, mesmo assim, precisam de atenção e carinho, diz o D.


4. Ser amigo de um robot é como ser amigo de uma animal? Porquê?

·      Acho que não. Porque um robot é feito de metal e os animais são seres vivos, diz o M.

·      Conforme seja o robot. Porque o animal pode ser muito chato ou pode ser querido, diz a E.

·      Se nós damos carinho ao robot é a mesma coisa que dar aos animais, diz o D.

·      Os animais mexem-se e os robots não, diz o G.

·      Os robots não são iguais aos animais, diz a L.

O que se pensa sobre a amizade quando se tem 6 anos?

Registamos aqui alguns momentos de um projeto de Filosofia para Crianças desenvolvido com uma turma do 1º ano de escolaridade.

TEMA – A AMIZADE



“Os amigos sentem-se bem quando estão juntos. Sentimo-nos felizes”


Depois de todos terem acompanhado a história dos três amigos que procuravam decidir qual o melhor sítio para passar férias, sendo todos tão diferentes, a nossa conversa desenrolou-se em torno de algumas perguntas.

1.   O QUE É UM AMIGO?

Aqui fica o registo de algumas das participações:
·               Um amigo é ser verdadeiro, diz o J.
·               Um amigo é não mentir, diz a E.
·               Quando um amigo está por último, podemos deixar passar à frente, diz a C.
·               Um amigo ajuda o outro quando está magoado, diz a F.
·               Se um amigo está preso, podemos salvar, diz o G.
·               Um amigo é quando outro amigo está a chorar e ajudamos a animar, diz o D.
·      Quando a mãe está muito cansada podemos ajudar a lavar a roupa, diz a E.
·      Às vezes, quando não têm a mesma decisão, podemos ser amigos à mesma, diz a F.
·      Se o meu amigo tem uma decisão diferente podemos pensar noutra que os dois gostarmos, diz a C.

2.   PODEMOS CONTAR TUDO A UM AMIGO?
Para esta pergunta foi pedida uma resposta com justificação. Quem se propunha responder, pondo o dedo no ar, apresentava as suas razões ou, simplesmente, concordava com as já expostas. O importante é que se ouviam uns aos outros e procuravam formar uma ideia sobre o assunto. Deixamos aqui o registo de algumas respostas.
·      Sim. Porque se nós estamos tristes se dissessem a um amigo se soubesse podia ajudar, diz a L.
·      Não. Porque se o amigo está triste, se contarmos uma coisa má da família dele fica ainda mais triste, diz o M.
·      Sim. Concordo com a L., diz o M.
·      Não. Concordo com o M., diz o J.
·      Sim. Concordo com a L., diz a M.
·      Não. Não podemos contar tudo porque os amigos podem dizer aos nossos irmãos e os nossos irmãos ficarem zangados connosco, diz a L.
·      Sim. Quando temos um segredo muito feliz podemos contar para o nosso amigo, diz a L.

3.   PODEMOS PARTILHAR OS BONS E OS MAUS MOMENTOS COM UM AMIGO?

·      Sim. Porque quando os amigos estão chateados um amigo vai ajudar e fica feliz, responde a M.
·      Sim. Os amigos ajudam os amigos e ficam felizes, diz a L.
·      Sim. Concordo, diz o J.
·      Sim. Quando nos magoamos, vêm ajudar, diz a L.


O problema filosófico do livre arbítrio - a teoria do Determinismo Moderado


retirado de http://seo007.info/Scientific-Replication-Clipart-86a3f0/


O aluno Pedro M., do 10º ano, turma A, escreveu este texto no qual se posiciona relativamente ao problema filosófico do livre-arbítrio. Foi um texto escrito em contexto de sala de aula, sem recurso a materiais de consulta. 

«No que toca ao problema do lívre-arbítrio, defendo o determinismo moderado, que, como teoria compatibilista, defende que o determinismo e o lívre-arbítrio são conceitos que podem coexistir na mesma realidade. É possível, por isso, afirmar que tudo tem uma causa mas esse facto não implica a inexistência de liberdade nas ações humanas.
O determinista moderado afirma que tudo está sujeito ao determinismo, ou seja, tudo tem uma causa. Mas a liberdade existe pois esta não reside no facto de as nossas ações se realizarem na ausência de causa, mas na ausência de compulsão externa ou interna.
Esta teoria surge porque quando olhamos para as teorias incompatibilistas e as analisamos ficamos num beco sem saída. Temos de rejeitar o determinismo radical pois nega a responsabilidade moral mas temos de negar o libertismo pois, se ele for real, não teríamos justificação para considerar as pessoas moralmente responsáveis pelas suas ações (já que se as pessoas são livres na ausência de causa estas não podem dizer o motivo porque fizeram uma ação - já que não existe).
Sendo tudo determinado no Universo (incluindo os nossos desejos, crenças, valores e personalidade) como podemos ser nós criaturas livres? A resposta reside no conceito de liberdade que estes teóricos defendem (já referido), sendo que estes afirmam que a nossa ação pode ser livre mesmo determinada, mas isto só acontece se esta estiver de acordo com a nossa personalidade.
Mas esta teoria não é irrefutável. E um dos principais problemas desta teoria é que "o critério de liberdade precisa de ser aprimorado" e que estando de acordo com tantos argumentos do determinismo radical (incluindo o da inevitabilidade - o que aconteceu teve de acontecer e não poderia ter acontecido de outro modo) como é que o ser humano pode ter livre-arbítrio?
Na minha opinião, a pergunta que devemos de fazer não é "Somos livres?" mas antes "Quão condicionada se encontra a nossa ação?" e que a própria definição de liberdade faz com que uma teoria possa ser mais ou menos fiável.»

IX Encontro Ciência, Arte e Cultura - Debate interturmas




O Grupo Disciplinar de Filosofia promoveu, entre outras atividades,  um debate interturmas sobre "O problema filosófico do livre-arbítrio", no passado dia 3 de maio de 2019, entre as 20:30 e as 21:30 horas, no âmbito do IX Encontro Ciência, Arte e Cultura. Tivemos o envolvimento de alunos de várias turmas de 10º e de 11º ano, a presença de professores de diversos ciclos de ensino e a de alguns Encarregados de Educação (tal como já tinha acontecido no X Encontro, aquando do debate sobre "Eutanásia", dinamizado por uma turma de 11º ano).
Após a apresentação, por parte dos oradores, das teses e principais argumentos do determinismo radical, do libertismo e do determinismo moderado seguiu-se um debate com participação ativa de vários intervenientes. Este debate evidenciou o interesse que este tema desperta, tendo que ocupado todo o tempo previsto sem sinais de esmorecimento.
No próximo post publicaremos um texto sobre o determinismo moderado da responsabilidade do orador que o representou.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Ética, Valores e Política





Quase a fechar o ano, ainda temos algumas notícias para publicar. Uma delas é esta, que dá conta da presença do filósofo norte-americano, Professor na Universidade de Harvard, Michael Sandel, em Portugal, a convite da Fundação Manuel dos Santos, no dia 1 do presente mês. "Ética, valores e Política" é o tema em debate que conta igualmente com Steven Pinker. 

Retirado do site da Fundação Manuel dos Santos, 
Com Michael Sandel, professor em Harvard considerado pela "Foreign Policy"um dos 100 Global Thinkers, apelidado como o «professor de filosofia mais famoso do planeta» e Steven Pinker, psicólogo e linguista, autor de vários livros de divulgação científica, incluído pela revista "Time" na lista das pessoas mais influentes da actualidade. 

(https://www.ffms.pt/conferencias/detalhe/2955/etica-valores-e-politica)

Deixamos aqui o link para o vídeo disponível no youtube em https://www.youtube.com/watch?time_continue=818&v=EaTC07BdfIQ

Não podíamos deixar de fazer esta referência, não só pela importância dos oradores, mas também por M. Sandel não ser um desconhecido para os nossos alunos, já que integra as atuais orientações de lecionação da disciplina de filosofia. A ele havemos de voltar!

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Vamos identificar as seis emoções básicas do ser humano?

Não há quem nunca tenha sentido uma explosão de alegria incontrolável... ou, pelo contrário, uma profunda tristeza, um desânimo profundo...E medo? Ui, por um ratito insignificante, um aranhiço...E surpresa? Às vezes bem que gostaríamos de disfarçar! Mas não, as emoções não enganam, embora muitas vezes as procuremos controlar. E talvez o consigamos algumas vezes, principalmente se não houver por perto nenhum olhar atento...
Estas são as fotos de Ekman que, na sequência do trabalho de Darwin, fez o registo de seis emoções básicas no ser humano, quer dizer seis emoções que pertencem ao património genético da espécie, que têm uma função adaptativa e que, portanto, são universais e reconhecíveis em qualquer ser humano, independentemente da cultura. 


P. Ekman, 2003, Unmasking  the Face (imagem daqui https://clue-lab.com.br/2018/01/04/as-7-emocoes-universais/

São elas, a tristeza, o medo, a surpresa, a repulsa (ou aversão, nojo, disgusting), a raiva, a alegria (mais tarde Ekman acrescentou o desprezo).
Não estão por ordem, mas é de propósito. Ora se são universais, devem ser facilmente reconhecíveis, não?

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Hoje vimos pela primeira vez um buraco negro!

Como sabemos, as teorias científicas nunca são diretamente verificáveis. O que é possível verificar são os factos que elas prevêem. Todas as boas teorias, entre outras qualidades, têm poder preditivo, quer dizer, os seus enunciados permitem deduções de factos que deverão ser verificados. "Uma consequência imediata da generalização do princípio da relatividade era que um raio de luz vindo do espaço longínquo encurvaria ao passar perto do Sol", diz-nos Carlos Fiolhais (A Luz de Einstein, publicado a 5/03/2015 em https://acervo.publico.pt/ciencia/noticia/a-luz-de-einstein-1687559, consulta a 10/04/2019). Por isso, Einstein ficou tão contente quando a sua previsão se verificou. Foi há cerca de cem anos, em maio de 1919, 3 anos depois da formulação da sua Teoria da Relatividade. E foi em terras, na altura, sob domínio luso. Sim, foi na ilha de Príncipe, durante um eclipse do Sol que isso pôde ser verificado. E também em Sobral, no Brasil. No entanto, diga-se de passagem, a contribuição portuguesa resumiu-se à autorização da expedição de astrónomos da Royal Society conduzida por Sir Arthur Eddington, visto que "não se conhece qualquer tentativa da comunidade científica portuguesa em participar nesta expedição", diferentemente do que aconteceu com o Brasil em que uma equipa de astrónomos brasileiros acompanhou os trabalhos (cf. Fitas, A. «A Teoria da Relatividade em Portugal no período entre Guerras», Gazeta de Física, Revista da Sociedade Portuguesa de Física, vol. 27, Fasc. 2, 2004, consultada em http://nautilus.fis.uc.pt/gazeta/, a 10/04/2019). 




Como Einstein ficaria agora  contente com o primeiro registo da existência de um buraco negro!!! 

Imagem do buraco negro no centro da galáxia M87, captada pelo projeto Event Horizon Telescope (Telescópio de Horizonte de Eventos)
imagem retirada de https://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/2019041013648164-buraco-negro-galaxia-m87-imagem-foto-video/

«O que se esperava ver era exatamente esta silhueta escura circundada por um disco luminoso a ser engolido pelo buraco negro. Essa foi a previsão que Albert Einstein fez quando postulou a Teoria da Relatividade Geral, afirmando que há regiões no Universo que distorcem o tempo e o espaço porque são de tal maneira densos que nada, nem mesmo a luz, lhes consegue escapar. Até agora, estas afirmações têm servido de inspiração às pinturas e ilustrações de buracos negros. Mas esta fotografia volta a tirar as teimas em redor da Teoria da Relatividade Geral. Ela está correta, uma vez mais.» (Notícia do jornal Observador, em https://observador.pt/2019/04/10/o-mundo-esta-prestes-a-ver-um-buraco-negro-pela-primeira-vez-siga-em-direto/)


terça-feira, 26 de março de 2019

"Rain Man", entre a ficção e a realidade

Dustin Hoffman no filme "Rain Main"
Kim Peek
Imagem retirada de https://commodore64crap.wordpress.com/2014/07/11/rain-mans-computer/


Os filmes mais poderosos situam-se normalmente entre a ficção e a realidade. É o caso do filme "Rain Man", com tradução portuguesa de "Encontro entre Irmãos" realizado por Barry Levinson, que se inspirou no caso real de Kim Peek. O filme ganhou 4 Óscares em 1989, incluindo o óscar de melhor ator para Dustin Hoffman, que representa o papel de Raymond Babbit (personagem inspirada em Kim Peek). Raymond Babbit aparece diagnosticado com síndrome de Savant. Esta síndrome aparece, em alguns casos, associado ao autismo que, considerado de forma abreviada, se caracteriza globalmente por acentuadas dificuldades de relacionamento interpessoal e isolamento mental. 
     "O personagem Raymond apresenta rigidez comportamental, dificuldade de lidar com mudanças repentinas na rotina, dificuldade em aceitar coisas novas, preferência pelos mesmos objetos, falas repetitivas, déficit de comportamento intraverbal (diálogos) e ecolalia (repetição de palavras ou frases), que são características autistas" (Bárbara Guerra, «CINE-AUTISMO: PSICOLOGIA EM CONSTRUÇÃO E SOCIEDADE EM DESCONSTRUÇÃO», notícia publicada em 
https://webjornalunesp.wordpress.com/2015/12/13/cine-autismo-psicologia-em-construcao-e-sociedade-em-desconstrucao/, consulta a 15 março 2015)

 «Na Síndrome de Savant, as capacidades dizem frequentemente respeito a modalidades bem definidas e limitadas (memória fotográfica, capacidade de cálculo, memória de dígitos, etc.) exibidas por pessoas que têm uma marcada assimetria de competências cognitivas e funcionais. O que se destaca são tanto os excessos como os defeitos, tanto as incapacidades como as prováveis “genialidades”, que coexistem num mesmo indivíduo.
Estes sujeitos podem ser surpreendentemente incapazes em gerir de forma competente a sua vida e a relação com os outros, pelo que muitos apresentam sintomatologia compatível com os critérios de diagnóstico das Perturbações do Espectro do Autismo. No entanto, nem todos os autistas têm Síndrome de Savant, e nem todos os indivíduos com Síndrome de Savant apresentam uma Perturbação do Espectro do Autismo.»  Artigo de Ana Trindade, 
Psicóloga do ITAD, retirado de http://www.itad.pt/sindrome-de-savant/, consulta a 26 de março de 2019.

«No filme Rain Man, de 1988, Kim Peek inspirou a personagem principal, Raymon Babbit, interpretada por Dustin Hoffman. Como ele, vivia uma deficiência associada à síndrome de Savant. Era uma pessoa especial, um "mega-savant". Tinha uma capacidade extraordinária para memorizar o que lia, mas dificilmente se adaptava aos gestos quotidianos de um adulto, como vestir-se ou calçar-se.
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Com Rain Man, a história de Kim transformou-se num fenómeno global. Mas as suas capacidades já o eram: Kim retinha 98 por cento de toda a informação que lia ou ouvia quando, em média, uma pessoa memoriza apenas 45 por cento. Com dois anos, já conseguia ler e memorizar livros. Ao longo da vida, terá memorizado 12 mil livros, entre os quais a Bíblia e toda a obra de William Shakespeare - esta, com apenas 16 anos. "Kim ensinou-nos algo acerca do potencial humano muito para além do que a maioria de nós pode imaginar", escreveu um comentador do jornal local de Salt Lake City.
Quando o filho tinha dois anos, Fran Peek recusou-se a interná-lo numa instituição para deficientes mentais, como recomendavam os médicos. Sem essa escolha, a vida de Kim teria um rumo muito diferente. Com a vida que teve, diz Darold Treffert, psiquiatra na Universidade do Wisconsin, que ajudou a equipa de Rain Man e foi amigo de Kim, o legado de Kim define-se numa palavra: "Inspiração".»

Notícia do jornal diário Público de 24 de dezembro de 2009, a propósito da morte de Kim Peek, consultado em https://www.publico.pt/2009/12/24/mundo/noticia/morreu-kim-peek-o-verdadeiro-rain-man-1415244, a 26 de março de 2019.

terça-feira, 19 de março de 2019

Quando Greta foi a Davos

«À medida que foi ganhando notoriedade, as sextas-feiras de Greta deixaram de ser apenas em frente ao parlamento sueco para serem noutras coordenadas. Na Alemanha e na Bélgica — países para os quais viajou de comboio, já que se recusa a andar de avião por ser mais poluente —, foi recebida por centenas de outros estudantes em greve e também em protesto. Mas uma das viagens que mais marcaram a perceção pública de Greta Thunberg foi até a um ambiente bem mais calmo e sereno do que a frente de um parlamento e a primeira linha de uma manifestação de rua: a reunião anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, onde durante dias se reúnem os principais líderes e empresários mais importantes do mundo.
“A nossa casa está a arder”, começou por dizer. “De acordo com o IPCC [sigla inglesa para o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, da ONU], temos menos de 12 anos até não podermos apagar os nossos erros. Até lá, são necessárias mudanças sem precedentes, incluindo uma redução das nossas emissões de C02 de pelo menos 50%.”
O discurso, porém, não se cingiu apenas a questões técnicas — questões essas que Greta costuma evitar nos seus discursos. A estratégia da jovem sueca passa mais por apontar o dedo aos mais velhos — e, em Davos, os mais velhos são também os mais ricos. “Aqui em Davos, tal como no resto do mundo, toda a gente está a falar de dinheiro. Parece que o dinheiro e o crescimento são as nossas únicas preocupações. E já que a crise climática é uma crise que nunca foi abordada com sendo uma crise, as pessoas simplesmente não estão conscientes das consequências que isto terá nas nossas vidas quotidianas”, disse.
Por isso, Greta sublinhou ali que não há espaço nem tempo para soluções de meio-termo. “Vocês dizem que nada na vida é a preto e branco. Mas isso é uma mentira. Uma mentira muito perigosa. Ou prevenimos o aquecimento a 1,5 graus ou não prevenimos. Ou evitamos uma reação em cadeia além do controlo humano ou não evitamos. Ou escolhemos voltar a casa enquanto uma civilização ou não escolhemos. Mais preto ou branco do que isto não há. Não há zonas cinzentas no que diz respeito à sobrevivência”, disse, para uma plateia em completo silêncio.
Tão silenciosa que, quando o discurso chegou ao fim, demoraram a brindá-lo com palmas.
Os adultos estão sempre a dizer ‘devemos aos nossos jovens a possibilidade de lhe darmos esperança’. Mas eu não quero a vossa esperança, eu não quero que vocês tenham esperança. Eu quero que vocês entrem em pânico. Eu quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias. E eu quero que vocês ajam como se estivessem numa crise. Quero que ajam como se a casa estivesse a arder. Porque está.”
Cinco segundos depois, soaram os aplausos.
Imagem retirada de https://observador.pt/2019/03/14/greta-a-miuda-de-16-anos-que-convenceu-os-jovens-do-mundo-a-fazer-greve-as-aulas-por-causa-das-alteracoes-climaticas/
A mudança começou em casa, pelos pais, ambos figuras públicas na Suécia. A mãe, Malena Ernman, é uma conhecida cantora de ópera que, por influência da filha, deixou de viajar de avião para o estrangeiro — o que, na prática, a levou a dar menos espetáculos. O pai, Svante Thunberg, ator e escritor, é agora vegan, tal como a filha. Na casa da família, onde vive também a irmã mais nova de Greta, foram instalados painéis solares. As deslocações são feitas por regra de bicicleta e só em situações específicas usam o carro. Elétrico, claro.
Tudo isto, porém, é ao nível doméstico — e Greta, como já se sabe, quer ir muito para lá disso. Até porque, sublinha, não é necessário. Foi precisamente isso que disse na sua Tedx Talk, já no final da sua intervenção.
“É nesta parte em que as pessoas começam a falar de esperança, de painéis solares, de energia eólica, da economia circular, e por aí em diante. Mas não é isso que eu vou fazer. Já andamos há 30 anos a dar palmadinhas nas costas e a vender ideias positivas. Lamento, mas não funciona. Porque se funcionasse, as emissões já teriam descido por esta altura. E não desceram. Claro que precisamos de esperança. Mas aquilo de que precisamos mais é de ações. E assim que começarmos a agir, a esperança estará em todo o lado. Por isso, em vez de procurarem por esperança, procurem por ações”, disse Greta que vai faltar às aulas esta sexta-feira. Como em tantas outras e, agora que já não está sozinha, como tantos outros.

O que é o Acordo de Paris?


O Acordo de Paris é um acordo mundial sobre as alterações climáticas alcançado em 12 de dezembro de 2015, em Paris. O acordo apresenta um plano de ação destinado a limitar o aquecimento global a um valor "bem abaixo" dos 2 °C, e abrange o período a partir de 2020.
Principais elementos do novo Acordo de Paris:
  • Objetivo a longo prazo: os governos acordaram em manter o aumento da temperatura média mundial bem abaixo dos 2 °C em relação aos níveis pré-industriais e em envidar esforços para limitar o aumento a 1,5 °C
  • Contributos: antes e durante a conferência de Paris, os países apresentaram planos de ação nacionais abrangentes no domínio das alterações climáticas para reduzirem as suas emissões
  • Ambição: os governos acordaram em comunicar de cinco em cinco anos os seus contributos para estabelecer metas mais ambiciosas
  • Transparência: aceitaram também apresentar relatórios aos outros governos e ao público sobre o seu desempenho na consecução das suas metas, para assegurar a transparência e a supervisão
  • Solidariedade: a UE e outros países desenvolvidos continuarão a prestar financiamento à luta contra as alterações climáticas para ajudar os países em desenvolvimento a reduzirem as emissões e a criarem resiliência aos impactos das alterações climáticas.
As alterações climáticas são uma questão importante a nível mundial, que afeta todas as pessoas. Esta cronologia abrange o processo que levou à conclusão de um novo acordo mundial juridicamente vinculativo sobre as alterações climáticas – o Acordo de Paris e o seu seguimento. Abrange, igualmente, o papel da UE neste processo.
Informação retirada de https://www.consilium.europa.eu/pt/policies/climate-change/timeline/
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Infografia retirada de https://www.consilium.europa.eu/pt/infographics/paris-agreement-tools-info/