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quinta-feira, 16 de abril de 2020

A cientista Maria de Sousa e o método científico (1)


Normalmente, ouvimos falar de filósofos e de cientistas em masculino. Amiúde, os alunos perguntam se não há, ou não houve, mulheres filósofas. Lá dou uma explicação mais ou menos histórica sobre o papel tradicionalmente atribuído à mulher e alguns exemplos para contrariar. A matemática e filósofa Hipátia de Alexandria, século IV, surge à cabeça e, no final, com ênfase, Hanna Arendt, que tem, aliás, neste blogue alguns posts que lhe são dedicados.
Hoje é a vez de nos determos em Maria de Sousa, reconhecida cientista portuguesa que a circunstância atual trouxe para os media.
Maria de Sousa nasceu no Porto, em 1939 e faleceu no dia 14 de abril de 2020, vítima do coronavírus (SARS-COV-2), vítima da doença Covide-19. Pouco antes tinha-se pronunciado sobre este vírus contra o qual o nosso sistema imunológico não nos consegue proteger. Ora, a Imunologia foi precisamente a área da ciência na qual Maria de Sousa se destacou. Sabia bem do que falava.

Foto de Maria de Sousa de 2014, retirada do Jornal Público de 14 de abril 2020. 

MARIA DE SOUSA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Vamos agora fazer uma ligação com os conteúdos lecionados na disciplina de Filosofia, a fim de tornar a aprendizagem mais significativa,. Assim, começamos por apresentar excertos da notícia de dia 14 de abril de 2020, do jornal Público, "Maria de Sousa (1939-2020), uma vida sem muros" e fazemos, seguidamente, algumas perguntas para os nossos alunos responderem. Esperemos que aceitem o desafio.

«Até 1964, pensava-se que todos os tipos de linfócitos – células do sistema imunitário fundamentais no combate a doenças e infecções – vinham do timo, uma glândula situada no peito, entre o esterno e o coração. Pensava-se ainda que, depois do nosso nascimento, os linfócitos migravam do timo e iam proliferar e amadurecer nos órgãos linfáticos periféricos, como os gânglios linfáticos e o baço. Maria de Sousa percebeu que não era bem assim.»

TAREFAS
1- Imagine qual a pergunta que Maria de Sousa poderia ter formulado para desencadear a sua investigação?
2- O modo como é apresentado o processo científico neste excerto está de acordo com a perspetiva positivista do método da ciência ou com a perspetiva de Popper? Justifique a resposta.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Carlos Fiolhais - "A Ética está para além da ciência"


imagem retirada de http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/

Carlos Fiolhais, cientista reconhecido, físico, professor, divulgador de ciência, pedagogo, exercendo uma cidadania ativa, com vasta obra publicada, deu uma entrevista ao portal VER - Valores, Ética, Responsabilidade, da qual transcrevemos alguns excertos,  com sublinhados da nossa responsabilidade, convidando à sua leitura integral em http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/ 

«A ciência e a tecnologia têm, de facto, proporcionado novas condições de vida. Por exemplo, vivemos mais e com mais saúde usando as modernas tecnologias médicas e comunicamos mais facilmente usando as modernas tecnologias da informação e comunicação.
No entanto, são cada vez mais prementes questões sobre a utilização dos meios que a ciência nos proporciona. A genómica possibilita informação sobre a nossa identidade biológica, mas quem e em que condições poderá ter acesso a essa informação? Parece possível a edição do genoma, mas quais são os limites da utilização desse tipo de técnicas? Será legítimo melhorar geneticamente os seres humanos?
Por outro lado, a informática coloca problemas à nossa privacidade. Quem pode ter acesso aos nossos dados pessoais e em que circunstâncias? Não poderá a utilização de algoritmos de inteligência artificial servir para usar os nossos dados para nos manipular, para fazer escolhas em vez de nós, isto é, para ameaçar a nossa liberdade?
As novas tecnologias colocam novos desafios, que não são apenas técnicos e científicos, mas são  éticos, legais, económicos e políticos. Sublinho a palavra “éticos”. Uma coisa é o que se pode fazer, e sobre isso a ciência e a tecnologia podem informar, e outra coisa, bem diferente, é o que se deve fazer. Um meio pode ser bem ou mal utilizado, pode ser utilizado para o bem ou para o mal, sendo o juízo sobre o que é o bem e o que é o mal um juízo necessariamente humano.
As questões éticas são questões individuais e sociais. Cada um de nós e todos nós somos, nas sociedades democráticas, chamados a decidir, quer directamente, quer nas escolhas que fazemos de quem nos representa. O conhecimento científico e técnico ajuda a tomar decisões éticas e legais ao fornecer informação relevante, mas as decisões irão sempre ultrapassar a ciência. A ética está num plano diferente da ciência, está para além da ciência. E, embora os cientistas devam ter preocupações éticas, as preocupações éticas devem ser do conjunto da sociedade.
No passado tivemos de estabelecer novos limites sempre que novas possibilidades surgiram. E agora estamos novamente confrontados com a necessidade de estabelecer limites, surgindo a questão de muito pouca gente perceber a nova ciência e tecnologia. Pouca gente percebe a moderna genética e a moderna inteligência artificial. No entanto todos nós iremos ser, estamos já a ser, afectados por elas. A solução, que não é fácil, reside em maior e melhor difusão da cultura científica, isto é, numa mais nítida percepção pública da ciência.  Entre nós, o “Ciência Viva” pode fazer bem mais neste campo que é o seu. É preciso uma reflexão e são precisas novas iniciativas.»