quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

DIA INTERNACIONAL CONTRA A CORRUPÇÃO


 Assinala-se hoje, dia 9 de dezembro, o Dia Internacional Contra a Corrupção.

A corrupção é um problema dos dias de hoje. Assume diversas formas e revela-se em muitos domínios. Ameaça a saúde da democracia e a confiança nas instituições. Todos podemos ser parte ativa na luta contra a corrupção.

REDE DE ESCOLAS CONTRA A CORRUPÇÃO - CONCURSO IMAGENS CONTRA A CORRUPÇÃO 2020-2021 9ª edição

 

O Conselho de Prevenção Contra a Corrupção criou a Rede de Escolas Contra a Corrupção, a 9 de abril deste ano.

"A Rede de Escolas Contra a Corrupção hoje aprovada é uma comunidade aberta constituída por escolas empenhadas em promover a integridade e fortalecer os princípios éticos nas suas práticas quotidianos e em prevenir quaisquer atos ilícitos, de fraude ou de corrupção entre os seus membros e na comunidade escolar.

Os agrupamentos de escolas aderem de livre vontade e comprometem-se, na medida das suas possibilidades, a desenvolver uma estratégia de ação que inclua Intervenções de prevenção da fraude e da corrupção nos seus Planos Anuais de Atividades, a participar e a colaborar regularmente em propostas e iniciativas do CPC, nomeadamente nas iniciativas para a comemoração do Dia Internacional contra a Corrupção, e a desenvolver trabalho em colaboração com os membros da comunidade escolar entre outras iniciativas."

A ESMT aderiu a este projeto e irá participar no concurso Imagens contra a corrupção. Esta atividade está sob dinamização e acompanhamento da BECRE.




Exercícios de apoio à discussão

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Por que não posso confiar nos sentidos?

Por que não posso confiar nos sentidos? Não são eles que me mostram a realidade? Sim, mas... que realidade? Claro, para quem vive um quotidiano rotineiro é indiferente se a Terra gira à volta do sol mesmo que os olhos mostrem o contrário, se a matéria é constituída por átomos ou se o espaço sideral afinal é curvo. Desde que a máquina de lavar funcione, o computador não avarie, possa fazer a ressonância magnética de que precisa e comprar o telemóvel de última geração, nada mais importa.

Mas para quem se interessa pelo conhecimento e pela verdade não é assim. É preciso mesmo saber como as coisas são, é preciso explicá-las e compreender o mundo enigmático onde os homens vivem desde tempos imemoriais. É a essa tarefa nunca acabada que os filósofos e os cientistas se têm dedicado, desde que o homem começou a pensar racionalmente e a organizar as primeiras teorias sobre o cosmos. Foi assim que. desde muito cedo, se deu conta que uma coisa é o modo como as coisas nos aparecem (a Aparência), outra coisa é aquilo que elas são (a Realidade).

Neste pequeno vídeo vamos perceber quais as razões que conduziram Descartes a desconfiar dos sentidos e não só... 




segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

V Olimpíadas Nacionais de Filosofia



Universalidade e particularismos na Religião

                      À partida, é imperioso considerar que qualquer religião, mais ou menos numerosa, mais ou menos organizada, parte dos particularismos e idiossincrasias de onde nasceu (é a Historicidade, que também afeta a própria Filosofia).

          Entende-se como religião, a complexidade, organizada e ordenada, de crenças, ritos, espaços e tempos sagrados, ensinamentos e narrativas, que se referem ao Transcendente, que nas religiões é entendido como fundante e anterior ao Tempo. Faz parte também do fenómeno religioso o conjunto de normas para a existência quotidiana que possibilitem a harmonização com o poder transcendente e com a sua ordem fundante e fundadora. Por este motivo qualquer religião tende a apresentar-se como ‘A Narrativa’ (exclusiva e verdadeira) dos acontecimentos primordiais, a explicação para os acontecimentos presentes e a possibilidade de antecipação dos tempos futuros, assim como oferecer o sentido primeiro e último para a Existência.

          No entanto, porque o mundo se foi transformando num lugar pequeno e fomos cada vez mais podendo comparar as diversas narrativas religiosas, situando-as no espaço e no tempo, podemos verificar que as referidas narrativas, que revelam e permitem a relação com a transcendência, decorrem (decalcam, até) as circunstâncias existenciais, concretas, do povo onde elas nasceram, que nelas acredita e as revela. Por exemplo: para os povos semitas (judaísmo, islamismo), rodeados pelo deserto, que se apresenta sempre inconstante na sua aparência, o Transcendente não pode manifestar-se nunca ao olhar e marca-se com mandamentos severos essa impossibilidade relativa à representação da Transcendência (proibição absoluta da representação de realidades transcendentes) - a experiência do deserto mostra que o olhar está sujeito às miragens e que o território é volátil devido aos ventos que o alteram constantemente; pelo contrário, o subcontinente indiano é rico na sua variedade geográfica, fauna, flora… aí os sentidos são inundados constante e prazenteiramente e é assim que vemos nas religiões da India (no Sanatana Dharma), a valorização dos sentidos e a crença de que estes podem (não só, mas também) conduzir à Transcendência - torna-se muito natural que até tenham um conceito para isso: darshan (ver Deus).


Prof. Carlos Reis

 2/12/2021

sábado, 20 de novembro de 2021

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE MADEIRA TORRES


O QUE É O REAL? 


Foi o G. que propôs esta pergunta para o diálogo com os colegas, a ocorrer no dia da celebração da Filosofia por esta turma do 11ºB. E também se voluntariou para o papel de moderador. Com alguma dificuldade (a timidez não facilita...) lá conseguimos duas oradoras e duas jornalistas. 

Aqui estão duas fotos do momento.

A mesa com o Moderador, Oradoras e Jornalistas






Visão panorâmica da sala do 11ºB





Pedindo a palavra.


Mais notícias em breve!!

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA EM PORTUGAL - Plano Nacional de Leitura

Pelo site do  PNL

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Vamos pensar!








LIVROS PERGUNTADORES
 

Para saber mais, ver aqui 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 18 de novembro de 2021 - UNESCO

 O texto e a imagem deste ano, retirados do site da Unesco. 





O Dia Mundial da Filosofia é mais uma vez celebrado num contexto de crise sanitária, económica e social. Neste ano, a UNESCO deseja lembrar a necessidade mais do que nunca essencial de recorrer à reflexão filosófica para fazer face a estas crises múltiplas. Quando o mundo está mergulhado na incerteza e na desordem, viramo-nos para a filosofia.

Sob a cobertura de tudo querer uniformizar, porque é a primeira vez que uma crise sanitária afeta o conjunto do planeta, consideramos difícil por vezes descrever a multiplicidade das situações.

E é função própria da UNESCO tornar inteligível estas pluralidades, com a ajuda de uma disciplina que permite um verdadeiro diagnóstico dos modos como falamos da crise, como vivemos a crise, como gerimos a crise, de uma região para a outra. Por todo o lado, questões muito concretas foram colocadas no quadro de uma resposta de urgência à pandemia: o que permanece aberto ou fechado, quem é ou não tratado, o que é essencial ou não. E frequentemente as respostas relacionam-se com valores sociais e culturais, com diferenças significativas entre os países e os períodos da pandemia – e isso conta uma história sobre o que pensamos ser.

É por isso que todos os acontecimentos, ecoando uns sobre os outros, contribuirão mutuamente para a planificação do Dia Mundial da Filosofia sobre um terreno comum: discutir as diferentes interações do ser humano com o seu meio social, cultural, geográfico e político, com o objetivo subjacente de compreender melhor o contributo da filosofia nas sociedades contemporâneas e os desafios com que são confrontadas.

Retirado de https://events.unesco.org/event?id=4146300908&lang=1036 (tradução do francês da nossa responsabilidade), consulta a 18 de novembro de 2021.

NOTA - O ano passado distribuímos pela nossa escola e trabalhámos com os alunos alguns textos selecionados sob o tema Filosofia e Pandemia. Esses textos estão publicados aqui e, infelizmente, mantêm a sua pertinência. Podem ser consultados sob a etiqueta "Dia Mundial da Filosofia".

domingo, 14 de novembro de 2021

Deepfakes, o que é isso?

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA  na ESMT 18nov 2021

Já conhecíamos as fakenews...  Com uma história antiga, assumiram novas proporções com a profusão dos media e da Internet. Durante a campanha eleitoral de 2016, nos EUA, em 2016, foram criados sites propositadamente para a emissão de notícias falsas.

Os deepfakes são  vídeos criados a partir de inteligência artificial e que reproduzem a aparência, as expressões e até a voz de alguém do mundo real.  

A partir da publicação de um vídeo na rede social TikTok, tem-se divulgado este termo deepfakes e retomou-se a questão relativa ao perigo que o uso desta tecnologia pode constituir, tornando-se uma arma poderosa de criação de factos e de manipulação.

Uma destas imagens não é verdadeira, quer dizer, uma delas não é uma imagem do verdadeiro Tom Cruise. Descubra qual.




Pode ver aqui o vídeo divulgado no TikTok com imagens de um falso Tom Cruise. Este vídeo é assumidamente uma brincadeira. Saber que quem vemos como Tom Cruise não é Tom Cruise espicaça a nossa curiosidade para descobrir os pontos fracos da imitação. Sabemos que existe uma pessoa de carne e osso, uma pessoa real, e há uma imagem que a reproduz mas que não é uma imagem dela. Sabemos, desde o início, que as imagens que vemos são apenas imagens, imagens vazias, imagens que não remetem para um referente real. E se se der o caso, noutras situações, de não sabermos? 

Não é Tom Cruise


Para saber mais.

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/falso-tom-cruise-no-tiktok-levanta-questoes-sobre-perigos-da-inteligencia-artificial_n1301622

https://super.abril.com.br/tecnologia/afinal-o-que-sao-deepfakes/

https://www.istoedinheiro.com.br/este-nao-e-tom-cruise/

A caverna moderna...

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA na ESMT  18nov 2021


Onde se vê uma TV, poderá ver-se um qualquer outro écran...






«Uma caricatura clássica traçou um paralelo entre a parede da caverna e o écran de um televisor; efetuando um salto tecnológico, poder-se-ia pensar no conjunto de écrans (cinema, computador, telemóvel, etc.) Mais precisamente: à nossa relação ao conteúdo difundido por estes écrans. As imagens que sabemos falsas podem no entanto exercer uma força de atração notável, como quando nos identificamos a uma personagem de ficção, ou quando uma cena violenta ou horripilante nos faz pular da cadeira. As imagens 3D e as imagens de síntese, entre outras novidades tecnológicas, esforçam-se por fazer entrar o espetador em mundos virtuais cada vez mais convincentes e imersivos.»
traduzido de:
http://blogue.nt2.uqam.ca/professeur-s/2015/09/01/la-caverne/



Vivemos hoje na Caverna de Platão?

 DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA  na ESMT 18nov 2021

Em 2000, o escritor José Saramago publica "A Caverna". É o primeiro livro publicado após ter sido galardoado com o Prémio Nobel, em 1998. O título do livro é uma explícita alusão à Alegoria da Caverna de Platão. O que pode ser considerado como algumas ideias principais da história, a de que os homens estão, à partida, numa situação de ignorância, vivendo num universo de imagens de objetos, sombras, que tomam pela realidade, desconhecendo a explicação de tudo aquilo que lhes aparece imediatamente, parece ter sido o ponto de partida para a imaginação literária de Saramago. 

"Uma pequena olaria, um centro comercial gigantesco. Um mundo em rápido processo de extinção, outro que cresce e se multiplica como um jogo de espelhos onde não parece haver limites para a ilusão enganosa. Este romance fala de um modo de viver que vai sendo cada vez menos o nosso e assoma-se à entrada de um brave new world cujas consequências sobre a mentalidade humana são cada vez mais visíveis e ameaçadoras. Todos os dias se extinguem espécies animais e vegetais, todos os dias há profissões que se tornam inúteis, idiomas que deixam de ter pessoas que os falem, tradições que perdem sentido, sentimentos que se convertem nos seus contrários. Fim de século, fim de milénio, fim de civilização."  (Sinopse do editor)

José Saramago - O mito da Caverna nos dias de hoje


A Alegoria da Caverna de Platão

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA na ESMT 18nov 2021

A alegoria, ou mito, da Caverna é um dos textos mais célebres de Platão (427 a.c.- 327 a.c.) e da História da Filosofia. Com esta história imaginada, Platão pretendeu facilitar a compreensão das sua teorias filosóficas. 

No entanto, esta história que facilmente se conta consegue adquirir significados múltiplos e sempre renovados.

Aqui transcrevemos o texto.

«Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
- Estou a ver – disse ele.
– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objetos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.
– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.
Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?
– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?  E os objetos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?
  Sem dúvida.
– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objetos reais, quando designavam o que viam? 
– É forçoso.
 – E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?
– Por Zeus, que sim!
– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objetos.
– É absolutamente forçoso – disse ele.
– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objetos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objetos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objetos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?
– Muito mais – afirmou.
– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objetos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?
– Seria assim – disse ele.
– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objetos?
– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.
– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objetos, refletidas na água, e, por último, para os próprios objetos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.
– Pois não!
– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.
– Necessariamente.
– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.
– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.
– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?
- Com certeza.
– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objetos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?
Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência viver daquela maneira.– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?
– Com certeza
– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?
– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

A República de Platão, Livro VII, 514a-517b, trad. de Maria Helena Rocha Pereira

                                        

Remetemos, agora,  para esta animação a que o grande cineasta Orson Wells empresta a voz (já publicado neste blog a 26 de novembro de 2013).

A legendagem em português é da nossa responsabilidade e acompanha de muito perto a tradução do original grego pela classicista Maria Helena Rocha Pereira.

Alegoria da Caverna, com Orson Wells


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2021- DESAFIOS PARA UM DEBATE (1)

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA  18nov 2021


O Dia Mundial da Filosofia vai ser celebrado na nossa escola, entre outras atividades, com um debate interturmas. A partir de dois recursos fundamentais, o texto da Alegoria da Caverna, de Platão e o filme Matrix (1999), os alunos vão-se responsabilizar por organizar um debate onde irão praticar as suas competências comunicativas e filosóficas. 

Este texto é um desafio para o debate.

Somos responsáveis pelas nossas opiniões?

 Este termo “opinião” deve ser dos que nos é mais familiar… Ouvimo-lo quase diariamente nas mais diversas situações… Na família, na escola, nos media… Tanto se usa para marcar uma posição pessoal sobre algum assunto (1) num contexto comunicativo como se usa para fechar qualquer possibilidade de troca comunicativa (2).

(1)A minha opinião é que as alterações climáticas se estão a fazer sentir e é preciso tomar medidas urgentes.

(2) A minha opinião não é essa. Sempre houve anos mais quentes. Não concordo contigo. É a minha opinião, pronto!

Os sujeitos que enunciam as opiniões acima estão convictos do que afirmam. Esta é uma das características da opinião. Esta vem acompanhada da crença. Crença aqui não é tomada num sentido religioso, mas refere-se ao facto de que sempre que emitimos uma opinião sobre algo isso significa que acreditamos na ideia que estamos a defender. Podemos, então, perguntar: essa ideia está de acordo com a realidade? Essa ideia está de acordo com o objeto a que nos referimos? Dito de outro modo, a nossa crença é verdadeira?

Parece-nos que a verdade é um valor importante? Quer dizer, pretendemos emitir opiniões verdadeiras ou quaisquer opiniões ou opiniões falsas? Ou será que duvidamos da possibilidade de garantir a verdade das nossas opiniões? Ou ainda não tínhamos pensado nisso? Provavelmente esta é a hipótese mais certeira… No entanto, se pensarmos um pouco, creio ser consensual que gostaríamos de garantir a verdade daquilo que pensamos. Ora, aqui é que surgem as dificuldades. Como quando emitimos uma opinião estamos normalmente tão convictos dela temos dificuldade em questioná-la. Porém, se aceitarmos debatê-la, isso significa que temos abertura para recolher outros dados que a reforcem ou que a enfraqueçam. Podemos ajustá-la, alterá-la ou substituí-la. Mas se ela representar para nós uma posição cristalizada que defendemos a todo o custo, então tudo acaba aí…

A maior parte das opiniões que temos parecem-nos naturalmente “nossas”. Recebemo-las, muitas vezes, do contexto familiar, dos grupos a que pertencemos e não nos interrogamos sobre o seu valor.

Quando se pergunta se somos responsáveis pelas nossas opiniões o que se está a perguntar é se as nossas crenças estão justificadas adequadamente ou se fizemos algum esforço para isso.

Os prisioneiros da caverna de Platão emitiam opiniões sobre as sombras, conversavam uns com os outros sobre elas, mas alguma vez se interrogaram acerca da origem delas? Alguma vez procuraram saber a que realidade elas correspondiam? Alguma vez refletiram sobre o que lhes aparecia imediatamente à sua frente? Alguma vez se lembraram de explorar a caverna? Alguma vez fizeram algum esforço?

Um dos meios poderosos de formação de opinião é os mass media. Hoje em dia, com a facilidade de propagação de informações falsas, as denominadas fakenews, somos levados com facilidade a tomar como verdadeiras ideias que são, declarada e intencionalmente, falsas, difundidas com o propósito de manipular a opinião pública em obediência a interesses mais ou menos obscuros. A nossa tendência natural é receber e transmitir estas ideias sem que nos questionemos sobre a sua fonte e credibilidade.

Podemos não ser responsáveis pelas opiniões que recebemos, mas somos ou não responsáveis pelas que tomamos como nossas? Interessa-nos ou não averiguar acerca da verdade das nossas crenças, daquilo em que acreditamos como sendo verdadeiro?

 

Imagem retirada daqui: https://brainly.com.br/tarefa/45585938


A alegoria da Caverna em Banda Desenhada

Esta banda desenhada já não é recente, mas continua atual...  Então, se substituirmos a TV por um telemóvel, ainda mais atual fica!





Maurício de Sousa, As Sombras da Vida, retirado de 
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-alegoria-da-caverna-em-quadrinhos1/

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA EM PORTUGAL - FESTIVAL DE FILOSOFIA DE ABRANTES 2021 - A Cidade e a Arte

 Já vai na 4ª edição o Festival de Filosofia de Abrantes, cuja abertura coincide com o Dia Mundial da Filosofia, celebração instituída pela UNESCO.

O tema central é bem atual e de especial pertinência. Após o encerramento de salas de espetáculo e da ausência de qualquer tipo de manifestações culturais, todos nos demos conta de como a arte integra a vivência das comunidades humanas. É ela que as ilumina, que gera sentimentos de pertença, que contribui para o equilíbrio de todos os que habitam num espaço comum. E não, não nos damos conta. De tudo o que é natural ou integrado no nosso quotidiano habitual só nos damos conta quando existe uma rutura. E sim, esta foi inesperada e brutal. 

Demos, então, voz aos artistas e reflitamos em conjunto sobre o modo como queremos viver (n)o nosso lugar...

Cidades e mundo enfrentam os mesmos problemas e todos somos parte na sua resolução: ambiente e sustentabilidade, desemprego, mobilidade, habitação, migrações, confronto de culturas… porque no essencial todos somos urbanos e estamos todos ligados, local e global, indivíduo e humanidade.

A arte foi vista durante séculos como mero elemento decorativo, de homenagem ou reportório museológico a céu aberto, na sua relação com a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo, disciplinas centrais na reforma da cidade. A arte pública contemporânea exprime os anseios dos movimentos sociais e suas relações de forças, posiciona-se como contrapoder, é participativa e crítica e elemento de atratividade. Por isso deve ser relevante nas políticas ou projetos de cidade.


Cidade é forma e significado. É rede de redes: de estruturas, pessoas, interações, interdependências, experiências, contextos, sensações, sentidos. É o infinitamente complexo espaço do quotidiano e do imaginário, catalisador de cultura e resultado da história. É lugar do indivíduo e da pluralidade, espaço de liberdade e reflexo da ordem social e de valores.

A aceleração da mudança pode transformar as cidades em megalópolis ou em desertos, gerando crises identitárias. A cidade pode ser lugar de especulação desenfreada, mercantilização, gentrificação, consumismo fútil, depressão e abandono, desvalorização da dimensão social do urbano e dos espaços da esfera pública, sem condições para a genuína criação individual e as interações não mercantilistas.

 
Arte e urbanismo devem ser os elementos críticos e criativos geradores dessas interações e recriação de vínculos. Intervenções artísticas e urbanísticas serão parte de projetos e processos de reestruturação e desenvolvimento, identificando linhas de força e mobilizando intervenções transformadoras.

Nas suas contradições a arte é sempre crítica e sistema, criação e destruição, valor e mercadoria, exclusividade e massificação, utopia e alienação. As fragilidades da arte são também a sua força, ajudando-nos a compreender as nossas contradições e a facilidade com que tudo o que é inovador é rapidamente ultrapassado.

Ao produzir a representação estética da cidade, o artista proporciona-lhe, no confronto com a realidade, a reflexão sobre o seu éthos, isto é, um sistema de valores, ideias e crenças. Ou seja, um sentido crítico que corporiza o valor social da arte.
O maior valor da arte é a luta pela liberdade. Aos artistas cabe continuarem a criar, gerando as suas criações na tensão dialética entre a sua realidade e o contexto social.

Cidades e mundo enfrentam os mesmos problemas e todos somos parte na sua resolução: ambiente e sustentabilidade, desemprego, mobilidade, habitação, migrações, confronto de culturas… porque no essencial todos somos urbanos e estamos todos ligados, local e global, indivíduo e humanidade.

A arte foi vista durante séculos como mero elemento decorativo, de homenagem ou reportório museológico a céu aberto, na sua relação com a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo, disciplinas centrais na reforma da cidade. A arte pública contemporânea exprime os anseios dos movimentos sociais e suas relações de forças, posiciona-se como contrapoder, é participativa e crítica e elemento de atratividade. Por isso deve ser relevante nas políticas ou projetos de cidade.


Cidade é forma e significado. É rede de redes: de estruturas, pessoas, interações, interdependências, experiências, contextos, sensações, sentidos. É o infinitamente complexo espaço do quotidiano e do imaginário, catalisador de cultura e resultado da história. É lugar do indivíduo e da pluralidade, espaço de liberdade e reflexo da ordem social e de valores.

A aceleração da mudança pode transformar as cidades em megalópolis ou em desertos, gerando crises identitárias. A cidade pode ser lugar de especulação desenfreada, mercantilização, gentrificação, consumismo fútil, depressão e abandono, desvalorização da dimensão social do urbano e dos espaços da esfera pública, sem condições para a genuína criação individual e as interações não mercantilistas.

 
Arte e urbanismo devem ser os elementos críticos e criativos geradores dessas interações e recriação de vínculos. Intervenções artísticas e urbanísticas serão parte de projetos e processos de reestruturação e desenvolvimento, identificando linhas de força e mobilizando intervenções transformadoras.

Nas suas contradições a arte é sempre crítica e sistema, criação e destruição, valor e mercadoria, exclusividade e massificação, utopia e alienação. As fragilidades da arte são também a sua força, ajudando-nos a compreender as nossas contradições e a facilidade com que tudo o que é inovador é rapidamente ultrapassado.

Ao produzir a representação estética da cidade, o artista proporciona-lhe, no confronto com a realidade, a reflexão sobre o seu éthos, isto é, um sistema de valores, ideias e crenças. Ou seja, um sentido crítico que corporiza o valor social da arte.
O maior valor da arte é a luta pela liberdade. Aos artistas cabe continuarem a criar, gerando as suas criações na tensão dialética entre a sua realidade e o contexto social.

"Cidades e mundo enfrentam os mesmos problemas e todos somos parte na sua resolução: ambiente e sustentabilidade, desemprego, mobilidade, habitação, migrações, confronto de culturas… porque no essencial todos somos urbanos e estamos todos ligados, local e global, indivíduo e humanidade.

A arte foi vista durante séculos como mero elemento decorativo, de homenagem ou reportório museológico a céu aberto, na sua relação com a arquitetura, o urbanismo e o paisagismo, disciplinas centrais na reforma da cidade. A arte pública contemporânea exprime os anseios dos movimentos sociais e suas relações de forças, posiciona-se como contrapoder, é participativa e crítica e elemento de atratividade. Por isso deve ser relevante nas políticas ou projetos de cidade."

Para continuar a ler, consultar o programa e os oradores:


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

FILME MATRIX (1999)

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA  18nov 2021

A primeira reação dos alunos ao falar-lhes da possibilidade de vermos o filme Matrix e de o podermos interpretar numa perspetiva filosófica é de um misto de satisfação e de incredulidade. 

Vamos ver um filme? Boa! (É sempre agradável que uma aula não se pareça com uma aula!) O quê? O Matrix?

Lançado o desafio, vamos ver o que se vai passar...



Ficha Técnica – Título original: The Matrix. 

Ano: 1999. 

Direção: Lilly e Lana Wachowski. 

Género: Ação/ficção científica. 

Países de origem: EUA e Austrália.

Duração: 

Sinopse

Num futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador que mora num cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontra-se conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões acorda gritando no exato momento em que os elétrodos estão para penetrar no seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade. (retirado de http://www.adorocinema.com/filmes/filme-19776/ )

EXAME NACIONAL DE FILOSOFIA 2021 - ÉPOCA ESPECIAL


Aqui deixamos mais uma prova de exame de Filosofia. Desta vez a que é realizada em época especial por alunos atletas de alto rendimento e de seleções nacionais. 

Exame de Filosofia 2021 - Época Especial

EXAME NACIONAL DE FILOSOFIA 2021 - 2ª FASE

Realizou-se no passado mês de setembro, no dia 6, a 2ª fase do Exame Nacional de Filosofia.

 



Consulte as versões da Prova e os Critérios de Correção.

Versão 1 

Versão 2

Critérios de Correção


terça-feira, 6 de julho de 2021

Exame Final Nacional de Filosofia 2021

Realizou-se hoje, dia 6 de julho de 2021, o Exame Nacional de Filosofia. Este exame foi realizado pelos alunos que necessitam da disciplina de Filosofia como prova de ingresso no ensino superior e pelos alunos que não ficaram aprovados no 11º ano.

A Prova e os Critérios de Correção podem ser consultados aqui:

Prova de Filosofia - Versão 1

 Versão 2

Critérios de Correção

quarta-feira, 30 de junho de 2021

O altruísmo eficaz nas palavras de Peter Singer

Devemos ajudar os outros? A distância é um fator moralmente relevante para a nossa decisão de ajudar quem precisa? 

"Longe da vista, longe do coração"? 

Afinal, a única questão é esta:

Qual o maior bem que podemos fazer?

Se lhe despertaram interesse as publicações anteriores, talvez goste de ver aqui o próprio autor, Peter Singer, a apresentar a sua teoria ética.





O que é o Altruísmo Eficaz? Uma filosofia e um movimento social (3)

 (cont.)

O juízo de que seria errado não ajudar a criança é justificável a partir deste princípio: se podemos evitar um grande mal sem sacrificar nada com uma importância comparável, temos a obrigação moral de o fazer. Logo, temos de fazer o mesmo juízo acerca da conduta de todos aqueles que, podendo contribuir sem grande sacrifício para melhorar a sorte dos mais desfavorecidos, não o fazem.

 Há cada vez mais pessoas que compreendem esta ideia, e o resultado é um movimento crescente: o altruísmo eficaz. Uma filosofia e um movimento social que aplica provas e a razão para saber quais são as maneiras mais eficazes de melhorar o mundo. Este é importante porque combina o coração e a mente. O coração faz-nos sentir empatia por aquela criança, mas é realmente importante usarmos também a mente para nos certificarmos que o que fazemos é eficaz e bem direcionado. A razão tem ainda um papel fundamental, já que nos ajuda a compreender que as outras pessoas, onde quer que estejam, são como nós e sofrem como nós.   

Esta filosofia opõem-se ao egoísmo, no entanto não devemos pensar no altruísmo eficaz como exigindo autossacrifício, no sentido de algo necessariamente contrário aos interesses próprios.          

Lança uma nova luz sobre uma velha questão filosófica e psicológica: Seremos fundamentalmente motivados pelas nossas necessidades inatas e respostas emocionais, com as nossas capacidades racionais a não fazerem mais do que dar uma aparência justificativa a ações que já determinámos antes de começarmos a pensar no que fazer? Ou será que a razão pode desempenhar um papel fundamental na determinação do modo como vivemos? O que leva alguns de nós a olharem além dos seus próprios interesses e dos interesses daqueles que amam para os interesses dos estranhos, das gerações futuras ou dos animais?

Singer dedica-se a espalhar as suas ideias e a desmontar as inúmeras barreiras que impedem as pessoas de serem altruístas. Podemos dizer que não ajudamos porque não temos dinheiro suficiente ou porque a contribuição seria mínima e não faria a diferença. Ou ainda porque não temos a certeza se o dinheiro doado chegará ao destino e será usado para o fim pretendido. Estes argumentos mostram que há altruísmo, porém ele é travado por questões racionais, que podem ser facilmente respondidas com recurso a pesquisa e a organização.

Não nos devemos esquecer que nem tudo se resume a doações de quantias monetárias. Doar uma parte do corpo - sangue, medula óssea ou até um rim- a um estranho é também, um ato/experiência repleta de altruísmo.

Ao longo do livro ( que referi logo no início do documento)  são nos apresentados inúmeros exemplos de pessoas que, em graus variáveis e pelas vias mais diversas, adotaram o ideal utilitarista da promoção imparcial do bem e perseguem-no de uma forma efetivamente racional. Peter Singer ambiciona, essencialmente, mostrar que o altruísmo está ao alcance de todos nós, e que podemos sempre fazer a diferença.

M.F. 10ºano, turma A

O que é o Altruísmo Eficaz? Temos mais dever de ajudar os que estão perto de nós do que os que estão longe? (2)

 (cont.)

E, como podemos fazer o bem de forma mais eficaz? Será que o grau de empatia depende dessa pessoa ser uma criança ou, então, da situação ocorrer mais perto de nós e de nos impressionar?

Para dar resposta a estas perguntas, Singer apresenta-nos 2 situações.

Numa primeira, trata-se de imaginar que no caminho a pé para o trabalho passamos por um pequeno lago e deparamo-nos com uma criança que está prestes a afogar-se. Teremos o dever de lhe salvar a vida? Obviamente que sim. Mesmo que essa ação implique estragar a roupa ou os sapatos que adquirimos recentemente, a intuição inicial permanece, até porque esse custo é insignificante quando comparado com aquilo que está em causa - a vida de uma criança.

Já por outro lado, a Unicef reportou em 2011, que 6.9 milhões de crianças abaixo dos 5 anos morreram de doenças evitáveis relacionadas com a pobreza, como é o caso da Malária. Se fizermos as contas estamos perante a morte de 19000 crianças dia após dia.

Mas então realmente importa que estas crianças estejam longe? Que não estejam ao alcance da nossa vista, ainda que sejam conhecidas as condições a que estão sujeitas? Não teremos nós o dever de as ajudar?

Pelos padrões do senso comum, a ajuda individual àqueles que vivem em lugares distantes, sem manter nenhuma relação especial connosco, ultrapassa o dever estrito. Considera-se, claro, que prestar essa ajuda é muito louvável, mas ao mesmo tempo presume-se que não a prestar é eticamente aceitável.

Já para os altruístas, o facto de não estarem ali à sua frente, o facto de serem de uma nacionalidade ou etnia diferente não faz qual tipo de diferença em termos de relevância moral.                                                                                           

A questão que realmente importa é se podemos de alguma forma reduzir o número de mortes? Está ao nosso alcance salvar algumas dessas 19000 crianças que morrem diariamente, vítimas de doenças evitáveis?

E a resposta é sim, podemos. Por exemplo, o dinheiro que gastamos em coisas desnecessárias, fruto dos nossos hábitos consumistas, poderia ser doado a instituições que visam lutar contra a Malária.

O juízo de que seria errado não ajudar a criança é justificável a partir deste princípio: se podemos evitar um grande mal sem sacrificar nada com uma importância comparável, temos a obrigação moral de o fazer. Logo, temos de fazer o mesmo juízo acerca da conduta de todos aqueles que, podendo contribuir sem grande sacrifício para melhorar a sorte dos mais desfavorecidos, não o fazem.

M.F. 10ºano, turma A

O que é o Altruísmo eficaz? Peter Singer e o utilitarismo (1)

 


Depois do nosso trabalho em aula sobre a teoria ética kantiana e a teoria utilitarista de Stuart Mill, o interesse pelas questões éticas na atualidade foi despertado na maioria dos alunos. Foi assim que a aluna M.F. do 10º ano, turma A, decidiu, e muito bem, ler esta obra de Peter Singer, tendo feito um trabalho sobre ela.

Esta publicação inicia um conjunto de publicações sob o mesmo título com excertos selecionados do seu trabalho.

Peter Singer e o utilitarismo

Peter Singer é um utilitarista, isto significa que, no seu entender, a única obrigação moral básica de cada um de nós é promover tanto quanto possível, e de uma forma estritamente imparcial, o bem-estar daqueles que serão afetados pelas nossas escolhas. Por outras palavras, o nosso dever fundamental consiste em fazer sempre aquilo que resulte nas melhores consequências – e as melhores consequências, por sua vez, correspondem sempre à situação em que há um maior bem-estar global. À luz do padrão utilitarista, um agente não deve dar mais importância ao seu próprio bem-estar (ou ao bem-estar daqueles que lhe são mais próximos) do que ao bem-estar de qualquer outro indivíduo que possa ser afetado, positiva ou negativamente, pela sua conduta.                                                               

Obedecer às regras habituais de não roubar, enganar, ferir e matar não é o suficiente. Ou, pelo menos, não é o suficiente para quem tem a enorme sorte de viver com conforto material; pode alimentar-se, tem uma habitação, consegue vestir-se a si próprio e à sua família e ainda tem dinheiro ou tempo de sobra. Viver uma vida ética minimamente aceitável envolve o uso de uma parte substancial dos nossos recursos adicionais para tornar o mundo um lugar melhor. Viver uma vida plenamente ética envolve fazer o maior bem que pudermos.

M.F. 10ºano, turma A


segunda-feira, 28 de junho de 2021

Da Teoria à Prática: em prol do bem comum - Projeto de Cidadania e Desenvolvimento dos alunos do 11ºF

 Os alunos do 11º ano, Turma F, sob orientação da professora de Filosofia e Diretora de Turma, concretizaram o seu projeto de Cidadania e Desenvolvimento através de duas atividades.

1 - GARANTIR A VIDA

No dia 9 de junho de 2021, entre as 9:00 e as 18:00, um grupo de alunos encontrou-se no hipermercado Jumbo a realizar uma recolha de bens de primeira necessidade a favor da Cruz Vermelha, delegação de Torres Vedras. Após vários contactos dos alunos, esta superfície comercial foi a que mostrou disponibilidade para a concretização desta atividade, que foi denominada "Garantir a Vida".

No final do dia, os alunos angariaram bens no valor de 518,10 euros.


2 - UMA ATITUDE DE CARINHO PARA AJUDAR UM FOCINHO

Depois de elaborarem cartazes a publicitar esta atividade e de a divulgarem junto das turmas e da comunidade escolar, um grupo de alunos recolheu alimentos e produtos de higiene, no dia 14 de junho, para doar à APA (Associação Proteção aos Animais de Torres Vedras). Esta atividade desenrolou-se durante todo o dia no átrio da Escola Secundária de Madeira Torres.