sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Dicionário Filosófico - Lógica

     «Ciência geral da inferência. A lógica dedutiva, na qual a conclusão se segue de um conjunto de premissas, distingue-se da lógica indutiva, que estuda a maneira como as premissas podem sustentar uma conclusão sem no entanto a implicar. Na lógica dedutiva, a conclusão não pode ser falsa se as premissas são verdadeiras. O objetivo da lógica é tornar explícitas as regras através das quais as inferências podem realizar-se, e não estudar os processos de raciocínio que as pessoas usam de facto, e que podem ou não conformar-se com essas regras. No caso da lógica dedutiva, se perguntarmos por que razão temos de obedecer às regras, a maneira mais geral de responder é dizer que, se não o fizermos, nos contradizemos.(...)»
Simon Blackburn.(1977). Dicionário de Filosofia. Lisboa: Gradiva.

A origem da filosofia


   «Foi, com efeito, pela admiração que os homens, assim hoje como no começo, foram levados a filosofar, sendo primeiramente abalados pelas dificuldades mais óbvias, e progredindo em seguida pouco a pouco até resolverem problemas maiores: por exemplo, as mudanças da Lua, as do Sol e dos astros e a génese do Universo. Ora quem duvida e se admira julga ignorar: por isso, também quem ama os mitos é, de certa forma, filósofo, porque o mito resulta do maravilhoso. Pelo que, se foi para fugir à ignorância que filosofaram, claro está que procuraram a ciência pelo desejo de conhecer, e não em vista de qualquer utilidade. Testemunha-o o que de facto se passou. Quando já existia quase tudo que é indispensável ao bem estar e à comodidade, então é que se começou a procurar uma disciplina deste género. »

Aristóteles, Metafísica, int. e notas de Joaquim de Carvalho, Coimbra, Atlântida, 1969, pp. 11-12.

Estudar filosofia. Porquê?

       «Uma razão importante para estudar filosofia é o facto de esta lidar com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência. (...)
      Persistir numa existência rotineira sem jamais examinar os princípios na qual esta se baseia pode ser como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão. Podemos justificadamente confiar nos travões, na direção, e no motor, uma vez que sempre funcionaram suficientemente bem até agora; mas esta confiança pode ser completamente injustificada: os travões podem ter uma deficiência e falharem precisamente quando mais precisarmos deles. Analogamente, os princípios nos quais a nossa vida se baseia podem ser inteiramente sólidos; mas, até os termos examinado, não podemos ter a certeza disso.  (...)
   Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser úteis em variadíssimas situações, uma vez que, ao analisar os argumentos a favor e contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras áreas da vida. (...)
        Outra justificação ainda para o estudo da filosofia é o facto de, para muitas pessoas, esta ser uma atividade que dá imenso prazer. (...)»

Nigel Warburton.(1998). Elementos Básicos de Filosofia. Lisboa: Gradiva, p. 24-25 (sublinhados nossos)

  Sobre esta última ideia, a de que o estudo da filosofia é uma atividade que dá prazer, vamos acrescentar mais algumas ideias. De que prazer se trata? Podemos dizer que é o prazer associado ao conhecimento e à descoberta. É o prazer ligado à paixão pelo saber, quer se chame filosofia quer se chame ciência. Neste sentido, tanto a filosofia como a ciência dão resposta ao desejo de conhecer. A este propósito acrescentamos um texto bem mais antigo, de Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C.. 


      «Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas.»

Aristóteles, Metafísica, introdução e notas de Joaquim de Carvalho, Coimbra, Atlântida,1969, p.3.

Questões filosóficas

      A maior parte das pessoas, num ou noutro momento da sua vida já se interrogou a respeito de questões filosóficas. Por que razão estamos aqui? Há alguma demonstração da existência de Deus? As nossas vidas têm algum propósito? O que faz que certas ações sejam moralmente boas ou más? Poderemos alguma vez ter justificação para violar a lei? Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? É a mente diferente do corpo, ou seremos apenas seres físicos? Como progride a ciência? O que é a arte? E assim por diante.

       Nigel Warburton.(1998). Elementos Básicos de Filosofia. Lisboa: Gradiva, p. 23.


A filosofia é uma atividade

    «Que tipo de coisas discutem os filósofos (...)? Muitas vezes examinam crenças que quase toda a gente aceita acriticamente a maior parte do tempo. Ocupam-se de questões relacionadas com o que podemos chamar vagamente "o sentido da vida": questões acerca da religião, do bem, do mal, da política, da natureza do mundo exterior, da mente, da ciência, da arte e de muitos outros assuntos. Por exemplo, muitas pessoas vivem as suas vidas sem questionarem as suas crenças fundamentais, tais como a crença de que não se deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra "dever"? Estas são questões filosóficas. Ao examinar as nossas crenças, muitas delas revelam fundamentos firmes; mas algumas não. O estudo da filosofia não só nos ajuda a pensar claramente sobre os nossos preconceitos, como ajuda a clarificar de forma precisa aquilo em que acreditamos. Ao longo desse processo desenvolve-se uma capacidade para argumentar de forma coerente sobre um vasto leque de temas - uma capacidade muito útil que pode ser aplicada em muitas áreas.»


Nigel Warburton.(1998). Elementos Básicos de Filosofia. Lisboa: Gradiva, p.20-21 (sublinhados nossos)


O que é a filosofia?

   

    «Esta é uma questão notoriamente difícil. Uma das formas mais fáceis de responder é dizer que a filosofia é aquilo que os filósofos fazem, indicando de seguida os textos de Platão, Aristóteles, Descartes, Hume, Kant, Russell, Wittgenstein, Sartre e de outros filósofos famosos. Contudo, é improvável que esta resposta possa ser realmente útil se o leitor está a começar agora o seu estudo da filosofia, uma vez que, nesse caso, não terá provavelmente lido nada desses autores. (...) Outra forma de abordar a questão é indicar que a palavra "filosofia" deriva da palavra grega "amor à sabedoria". Contudo, isto é muito vago (...) Precisamos por isso de alguns comentários gerais sobre o que é a filosofia.
    A filosofia é uma atividade: é uma forma de pensar acerca de certas questões. A sua característica mais marcante é o uso de argumentos lógicos. A atividade dos filósofos é, tipicamente, argumentativa: ou inventam argumentos, ou criticam os argumentos de outras pessoas ou fazem as duas coisas. Os filósofos também analisam e clarificam conceitos. A palavra "filosofia" é muitas vezes usada num sentido mais lato do que este, para referir uma perspetiva mais geral da vida ou algumas formas de misticismo. Não irei usar a palavra neste sentido lato: o meu objetivo é lançar alguma luz sobre algumas das áreas centrais de discussão da tradição que começou com os Gregos antigos e tem prosperado no século XX, sobretudo na Europa e na América.(...)
       Qualquer estudo sério da filosofia terá de envolver uma mistura de estudos históricos e temáticos, uma vez que se não conhecermos os argumentos e os erros dos filósofos anteriores não podemos ter a esperança de contribuir substancialmente para o avanço da filosofia. Sem algum conhecimento da história, os filósofos nunca progrediriam: continuariam a fazer os mesmos erros, sem saber que já tinham sido feitos. E muitos filósofos desenvolvem as suas próprias teorias ao verem o que está errado no trabalho dos filósofos anteriores.»


Nigel Warburton.(1998). Elementos Básicos de Filosofia. Lisboa: Gradiva, p.20 (sublinhados nossos)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Dicionário Filosófico - Sócrates

Para quem se inicia na filosofia um dicionário dá sempre jeito... É claro que ficamos a saber muito pouco, mas é sempre um começo. Um dicionário é como um mapa enorme e complexo, mas que nos ajuda na viagem... E vai dando orientação para possíveis paragens, desvios, sem nunca perder de vista o caminho. 
Neste post apresentamos aquele que se constitui como uma referência filosófica incontornável. Falamos de Sócrates, filósofo grego (séc. V a.C.), cidadão ateniense, que granjeou fama, popularidade e ódios diversos. Concebia a filosofia como uma tarefa intelectual e uma forma de vida, que tinha o seu lugar na polis e que abordava qualquer tema que fosse do interesse dos homens, dos cidadãos, dos homens livres que tinham nas suas mãos o destino da cidade. 

Escultura do séc.I d.C. - Museu do Louvre

«Sócrates (c. 469-399 a. C.)

Uma das figuras mais carismáticas e enigmáticas da história da filosofia. Embora nada tenha escrito, a sua influência é enorme e é responsável pela viragem da filosofia das questões da natureza para as questões humanas. Pouco mais se sabe acerca da sua vida, para além de que participou na guerra do Peloponeso e foi condenado à morte sob a acusação de impiedade e de corromper a juventude. Também se sabe pouco acerca do seu pensamento, embora seja a figura central de muitos diálogos de Platão, uma vez que é difícil diferenciar o Sócrates histórico da personagem platónica. Para Sócrates, a filosofia é um modo de vida e, por isso, fazia filosofia na ágora (praça pública), no ginásio ou nas ruas de Atenas, dialogando com aqueles que estivessem dispostos a investigar com ele um qualquer conceito moral. Começava por pedir ao seu interlocutor a definição de uma virtude, como a justiça, e depois, por intermédio de perguntas e respostas, levava-o a chegar a uma conclusão contraditória (ver contradição) com a definição que tinha apresentado. Com este método de refutação (elenchus) procurava mostrar àqueles que pretendiam ser sábios que as suas crenças (vercrença) eram inconsistentes (ver inconsistência) e, deste modo, levá-los a formular crenças mais adequadas. Apesar de afirmar não saber as respostas às questões que punha sobre as definições, há algumas ideias que parece ter assumido. As mais importantes são que a virtude, embora não possa ser ensinada, é conhecimento; que ninguém faz o mal (ver mal moral) voluntariamente; que não se pode fazer mal a um homem bom; que é pior fazer do que sofrer o mal; e que todas as virtudes se reduzem a uma, o conhecimento do que é e não é bom para um ser humano. Ver dialécticaética das virtudesironiamaiêutica. (Álvaro Nunes)»

Dicionário Escolar de Filosofia em https://criticanarede.com/s.html

domingo, 16 de setembro de 2018

Bem-vindos à Filosofia

     Retomamos com o novo ano letivo a atividade do nosso blogue. E que melhor maneira de começar do que com um antigo aluno da nossa escola que, convidado para um programa televisivo, falando do seu percurso académico, profissional e pessoal, lembrou a importância da filosofia? 
     Quando acontece um aluno dar-nos este eco acerca da importância da Filosofia no seu percurso escolar, muitas dúvidas que em momentos difíceis nos assaltam dissipam-se como se de nuvens escuras se tratasse. 
      Estou a falar do Bernardo Martins, perdão, do fisioterapeuta Bernardo Martins, digo, ativista da Amnistia Internacional, quero dizer, estudante do Curso Superior de Filosofia... Confuso? Nem por isso.
      Mas, para esclarecer todas as dúvidas, o melhor é ver o video. 

       E, caso tenham pressa, e para irmos mais diretamente ao que importa, damos uma orientação.

13' 44 - O Bernardo começa a falar...

16' 26 - Refere a Filosofia pela primeira  vez.

19' 10 - O entrevistador refere-se ao ensino secundário e diz que não se lembra de disciplinas que despertem para uma "consciência dos direitos humanos, de defesa do ambiente..."

20'17 - O Bernardo, após manifestar um conjunto de ideias acerca do ensino e da educação, refere a importância da sua professora de Filosofia na formação dessa consciência. 






Para conhecer mais acerca da Amnistia Internacional:

https://www.amnistia.pt/

https://www.amnistia.pt/projeto-face-to-face/