domingo, 11 de dezembro de 2016

Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (7)

“Deve a União Europeia receber refugiados sírios?”

Na atualidade, a migração de refugiados sírios que fogem de conflitos armados para a Europa, tem feito manchetes em todo o mundo e dividido milhares de opiniões quando se coloca a questão: “Deve a União Europeia receber refugiados sírios?”.
É impossível ficar indiferente a este drama humanitário, quer queiramos quer não, as redes sociais e os mais diversos meios de comunicação social fazem questão de partilhar o desespero e aflição destas pessoas que atravessam frequentemente uma série de obstáculos.
 A verdade é que existem muitos europeus com receio da vinda dos refugiados. Muitos tendem a considera-los terroristas que se estão a aproveitar das circunstâncias para entrar neste continente, o que na minha perspetiva é completamente incompreensível. Estas pessoas viram-se obrigadas a abandonar o seu país onde a extrema violência se tornou praticamente diária, um país onde uma minoria leva a ideologia religiosa ao extremo sem pensar nas consequências e ignorando os inocentes.
Pois também é verdade que existem dois fatores em constante contradição: o facto da  guerra na Síria se agravar cada vez mais e o facto dos europeus se encontrarem divididos no que toca à receção destas pessoas. Pois vos digo eu, que a solidariedade não deve ser um “presente” para os refugiados mas sim um dever legal da União Europeia. Partindo do ponto de vista de Nelson Mandela, que afirmou sonhar “com o dia em que todos se levantarão e compreenderão que fomos feitos para viver como irmãos” concluiu-se que a entreajuda e a solidariedade devem ser deveres de todos nós. Alias para uma União Europeia que defende valores morais como a dignidade humana, a igualdade e o respeito dos direitos humanos (incluindo os direitos de pessoas pertencentes a minorias), esta deve ser a primeira a agir e tentar trabalhar de modo a que estas pessoas deixem de viver em condições desumanas (como atualmente estão submetidas).

Enfim, como todos sabemos é nosso dever agir de acordo com aquilo que defendemos, por isso a necessidade de agir de modo a ajudar estas pessoas é urgente. Afinal nunca é tarde demais para mudar o rumo da história.

Joana Bezerra, 11ºB

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Ainda a Palestra do Professor Bagão Félix

Coube ao aluno Rui M. realizar o relatório da aula do dia 17 de novembro. Como a aula coincidiu com a palestra, aqui temos o seu relatório:

«A palestra iniciou-se com a habitual apresentação da biografia do professor e economista Bagão Félix.
Este começou por nos apresentar o tema, explicando a origem etimológica da palavra ética e dizendo que esta foi inventada por Aristóteles, derivando da palavra grega ethos.
 Em seguida abordou os sete pecados sociais, de Mahatma Gandhi, que são os seguintes: política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e culto sem sacrifício.
 Este explicou que estes pecados a que Gandhi se refere acontecem devido ao facto da nossa sociedade ser individualista e apenas pensar no seu próprio bem e do lucro que estes podem obter através destes comportamentos.
 Após esta breve abordagem, o professor passou a falar sobre a relação entre a ética e a lei. A ética é base de inspiração para as normas jurídicas sendo que nem todas as normas jurídicas se baseiam na ética e nem todas as ações eticamente erradas são punidas por lei. Os exemplos utilizados foram: o tamanho do cartão de cidadão e copiar nos exames, respetivamente.
 Para dar continuidade à palestra foi-nos feita uma pergunta retórica que foi a seguinte: O que é ser indivíduo? Passando-nos a explicar que ser indivíduo é ser único e irrepetível apenas de um ponto de vista biológico, não nos dando direito a acharmos que somos superiores a outros seres.
 Seguindo o tema, explicou que o cidadão possui direitos e deveres, presentes nas leis, sendo originalmente um termo proveniente da Grécia, mais especificamente da polis, ou seja, da cidade.
 Em seguida foi introduzido um terceiro tema: O que é ser pessoa? que consiste em ter vontade, perceção, sensibilidade e consciência das nossas ações.
 Isto serviu para introduzir o seguinte tópico, que nos diz que nenhuma lei proíbe o ódio, maldade, ganância, mentira,...
 As leis são apenas uma pequena porção (de adesão obrigatória) da ética, que se aproximam dela mas nunca a atingem na sua totalidade.
 Sendo assim, podemos concluir que a pessoa tem mais deveres que o cidadão, pois o cidadão tem de cumprir a lei, mas a pessoa além de leis, também tem o dever de seguir aquilo que a ética aceita como correto.
 Assim sendo percebemos que as leis distinguem o que é legal do que é ilegal, já a ética distingue o que é legítimo do que é ilegítimo.
 Em seguimento é-nos apresentado algo novo que consiste na aritmética da ética, que nos diz que a ética é a combinação dos saberes e dos valores.
 O professor aconselhou a leitura do livro de Aristóteles, intitulado Ética a Nicómaco, que, mesmo tendo sido escrito há 2500 anos, levanta questões éticas presentes na sociedade de hoje em dia.
 Foi utilizada então a expressão decência, que é considerada pelo autor uma expressão em desuso, que se refere à estética da ética e que implica que o nosso comportamento se baseie nos valores.
 Outra expressão que o professor também destacou foi integridade, que consiste na combinação de integral com responsabilidade.
 Posto isto, foi assim abordado algo novo para mim a que o professor chamou orgulho de pertença, que é a falta de orgulho naquilo que possuímos, como a nossa escola, casa, etc. O caso que mais o choca é a falta de utilização da palavra Portugal, e o facto da população portuguesa, na sua maioridade, apenas mostrar orgulho no seu país quando se fala em futebol.
 Retomando a abordagem dos direitos e deveres, foi levantado o caso de desarmonia que por vezes é notório entre estes, tendo um impacto enorme na nossa sociedade, o que leva à revolta e insatisfação.
 Foram utilizados alguns exemplos como:
o direito à vida implica não atentar contra a mesma, o direito à verdade implica não mentir, o direito ao trabalho implica trabalhar.
 Por estas mesmas razões devemos optar por merecer os nossos direitos através do cumprimento dos nossos deveres e não através de facilitismos, contornando obstáculos em vez de os ultrapassar.
 Em seguida passámos a falar sobre os saberes. Os exemplos foram: o conhecimento, diretamente ligado ao lado cognitivo, o saber mudar que é a adaptação, o saber comandar que é a liderança, o saber rir que é o humor e o saber entender que é a compreensão. Após ficarmos mais esclarecidos sobre no que é que os saberes consistem, o professor referiu que nem sempre podemos aprender tudo através do saber cognitivo mas que temos também de nos envolver e de experimentar através da compreensão. Aconselhou-nos também que, quando nos envolvemos não nos devemos comprometer, dando o exemplo do fiambre e do ovo. Quando comemos um ovo a galinha esteve envolvida, pois é ela quem o põe, mas quando comemos fiambre o porco está comprometido pois este teve de falecer para o podermos comer.
 Este concluiu que a ética é uma combinação de conhecimento, sabedoria e experiência.
 Em seguida o professor dividiu a ética em exemplo, erro e exigência.
Em relação ao exemplo este apresentou-nos uma citação, que é a seguinte: longo é o caminho através de regras e normas, curto e eficaz através de exemplos.
Já cometer erros é um privilégio, que vai de encontro ao referido acima, e que nos diz que devemos experimentar e não nos devemos restringir ao saber cognitivo.
Por fim, na exigência, este distingue a pessoa comum, que é exigente com os outros exclusivamente, da pessoa superior, que é exigente consigo própria.
 Dando continuidade foi abordado um tema relativo à gestão de tempo. Foi-nos dito que em primeiro lugar devemos dar atenção ao que é importante e urgente, deixando para último o que não possui importância ou urgência.
Quando nos é apresentada uma situação urgente, mas não importante, e uma importante, mas não urgente devemos resolve-las pela ordem apresentada.
Todavia, o homem é o único ser que possui noção de importância, pois os animais apenas sabem o que é urgente, nomeadamente as suas necessidades biológicas como, por exemplo, comer.
 Avançámos assim para os graus éticos. Estes dividem-se em três: ética requerida (segredo profissional), ética permitida (silêncio de um arguido) e ética proibida (matar uma pessoa).Ambos os exemplos dados para a ética requerida e permitida, podem tornar-se em ética proibida se estes possuírem informações sobre um crime. Já o exemplo dado na ética proibida pode ser permitido quando em legítima defesa.
 O subtema abordado em seguida foi a globalização (progressiva erosão da relevância da noção de distância e de tempo para as atividades, relações e processos políticos, económicos e sociais), levando assim a uma vulgarização do mal. O professor deu-nos a compreender, através de exemplos divertidos, que hoje em dia, mais e mais convivemos com objetos e produtos das mais variadas zonas do mundo.
Como consequência da globalização, tudo se tende a igualar, menos as pessoas.
Em continuidade este dividiu as pessoas em quatro tipos:
Os inteligentes, em que ambos, ele e outrem, lucram.
Os generosos, em que apenas outrem lucra.
Os malfeitores, que ganham através da perda de outrem,
E os estúpidos, em que não existe lucro algum, chamando assim, àquele que perde mais que outrem, um estúpido mais que perfeito.
 Continuando a palestra, este abordou de forma superficial o imperativo categórico de Kant, que nos diz para agir da forma que queremos que todos ajam, de forma a essas ações se tornarem máximas.
Assim sendo os deveres dividem-se em dois tipos:
O dever legal, não tendo grande importância ética, mas sim devido a uma obrigação legal.
O dever moral, este sim com relevância ética, pois a ação é baseada na consciência.
 Passámos então a ouvir um novo tópico, o todo e as partes.
Aqui o professor falou-nos sobre individualismo, afirmando que deveríamos funcionar como uma orquestra: todos têm a mesma partitura, existe pouca hierarquia, e todos são cruciais.
Tal como o Papa Francisco disse: Poliedro, a união de todas as partes, que, na unidade, mantêm a originalidade das partes individuais.
Ainda relativo ao tema, o professor contou-nos a história da visita do rei Luís IX de França à catedral de Chartres. De forma resumida, nesta história o rei visita a catedral, que estava a ser construída, perguntando a cada pessoa que lá trabalhava o que estava a fazer. O carpinteiro dizia que estava a tratar da madeira, o escultor a esculpir, etc. Por fim, já à saída, vê um homem baixo e corcunda, já idoso a varrer o chão, e fazendo a mesma pergunta este responde: Estou a construir uma catedral!

Sendo assim podemos concluir que todos são importantes independentemente da posição que ocupam, ou seja, não deve existir individualização pois todos lutam para um objetivo comum. No final da palestra apenas duas dúvidas foram colocadas (referidas na participação oral) e após o seu esclarecimento, foram feitos os habituais agradecimentos, sobretudo ao professor Bagão Félix. Após o vereador e a vice-presidente darem a sua apreciação sobre a palestra, abandonámos o auditório dando a lição por terminada.

Ainda a Palestra do Professor Bagão Félix

A (in)sustentável urgência da ética
      Foi este afinal o título da comunicação a que assistimos no passado dia 17 de novembro, na qual o Professor Bagão Félix defendeu a tese de que a crise pela qual estamos a passar «mais do que económica é uma crise ética». Podemos considerar que esta tese fornece  uma  resposta para entender o que sucedeu nos Estados Unidos da América e na Europa com o colapso do sistema financeiro e bancário, em 2008, que conduziu a uma crise global com consequências económicas e sociais enormes, nomeadamente a nível do aumento das taxas de desemprego e da pobreza.
     A tese defendida por Bagão Félix parece aproximar-se da de todos aqueles que defendem que a  ausência de princípios morais e a ganância esteviveram na origem da crise. Como consequência, a solução deverá ser encontrada na ética, o que de forma muito coerente foi sustentado pelo palestrante.
    A propósito deste problema dos nossos dias, diz o  filósofo norte americano M. Sandel:
    «Há quem afirme que a ausência de princípios morais no âmago do triunfalismo do mercado se deveu à ganância, que por sua vez levou a uma irresponsável propensão para assumir riscos. A solução segundo esta visão consiste em refrear a ganância, insistir numa maior integridade e responsabilidade dos banqueiros dos executivos de Wall Street e decretar regulações sensatas, de modo a evitar que volte a ocorrer uma crise semelhante.» (M. Sandel, 2015, O que o dinheiro não pode comprar, Presença, Lisboa) Pode-se objetar, como faz M. Sandel, que se trata de uma visão parcelar e apresentar outra resposta, que é precisamente o este filósofo faz. 
        O facto de um problema possibilitar vários tipos de respostas, quer para o seu entendimento quer para a sua solução, permite que nos demos conta da sua complexidade e convida-nos a um exercício ativo do nosso pensamento de uma forma autónoma e crítica. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Para lá do discurso de Trump

A revista francesa Philosophie Magazine, no seu número de novembro, inclui uma entrevista com Moisés Naím, apresentado como «um dos intelectuais mais influentes dos Estados Unidos». A entrevista aborda o seu último livro intitulado The End of Power e, naturalmente, a questão mais atual da política americana -  a campanha para as eleições presidenciais.
Transcrevo uma parte da sua entrevista que nos pode ajudar a interpretar o discurso de Trump e a sua recetividade junto de largas camadas da população americana, a ponto de a ter convencido a votar nele para presidente dos Estados Unidos da América e de o sistema eleitoral americano o ter feito eleger.

« (...) Toda a gente sente que há mudanças sísmicas, a todos os níveis. E a maior parte das pessoas não sabem se estas mudanças lhes vão ser favoráveis. Para um grande número, essencialmente nos países desenvolvidos, estas mudanças não foram benéficas. Elas veem-nas, então, como ameaças. E querem que alguém páre isso, que elimine a incerteza. Trump promete a segurança. Ele prometeu, por exemplo, que se fosse eleito, acabaria com o terorismo. Isso não tem nenhum sentido. Ninguém tem a fórmula mágica. E no entanto esta promessa acertou no alvo. Trump não faz promessas excessivas. Faz promessas que toda a gente sabe que não funcionam. O seu programa está cheio de ideias mortas. Nós sabemos que os muros não impedem os migrantes.Isso não o impede de ter feito da construção de um muro entre os Estados Unidos e o México o eixo central da sua política de imigração. Na realidade, a exequibilidade desta medida não lhe interessa. Trump evolui num regime de "verdade" que o torna hermético à crítica.

      Fala-se muito neste momento da post-truth politics, de uma política " para além da verdade". Trump é o rosto desta nova política?
Ele introduziu um novo modo, muito eficaz, de se comportar em relação aos factos, que consiste em injetar na política, à vista de toda a gente, mentiras. Trump mente sempre. Isso está estabelecido e documentado. Mas isso não muda grande coisa. Os eleitores têm afetos e a principal função das mentiras de Trump é dar expressão a estes afetos. Assim, eles não se preocupam com o facto de serem mentiras. Houve, durante esta campanha, todo um trabalho de fact-checking, de "verificação de factos" por parte da imprensa e mesmo dos cidadãos comuns. É importante que este trabalho seja feito. Mas isso não afeta propriamente Trump. Vimos a mesma coisa com os partidários do Brexit que avançaram números totalmente erróneos sobre as consequências da saída da Grã-Bretanha da União Europeia. Reconheceram-no no dia a seguir ao referendo. Sem que isso tenha chocado excessivamente os eleitores. Estes números têm a função de exprimir a sua ansiedade, eles querem acreditar neles, mesmo que sejam falsos. Estamos portanto na era da política pós factual.

    Trump tem alguma chance de ganhar?
As sondagens indicam que é um verdadeiro competidor e que tudo pode acontecer. (...)»

Naím, Moisés (2016), Entrevista a Martin Legros, Philosophie Magazine, nº 104, pp. 70-75.


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Discurso político?

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos não deixou os nossos alunos indiferentes. Bem pelo contrário!! Aliás, não me lembro de nenhum outro acontecimento político ter causado tanto efeito...
Não tenho por hábito fazer qualquer tipo de comentário à política partidária. Procuro nunca resvalar para um discurso superficial, imediatista e fácil e conseguir levar a cabo o papel que considero ser o da filosofia: pôr travão à tendência acrítica e à dificuldade de análise racional dos problemas. Aliás, é também essa a maior dificuldade, e também o maior desafio, no seu ensino.

Quando o R.G. percebeu que iríamos abordar o discurso político no âmbito do tema «Argumentação e Retórica» sugeriu que analisássemos um discurso de Donald Trump. Muito bem! A primeira etapa era trazê-lo (traduzido).

1ª etapa cumprida!


Imagem retirada de http://www.magazineindependente.com/www2/trump-ja-estava-confiante-republicanos-vatariam-casa-branca/

Excertos do discurso de candidatura à presidência dos EUA – Donald Trump (16 de junho de    2015):

“O nosso país encontra-se numa situação extremamente problemática. Já não vencemos em nada. Era hábito vencermos, mas agora já não. Quando foi a última vez que ganhámos um acordo comercial, digamos, à China? Eles destroem-nos. Eu ganho sempre à China. Sempre.”
“Quando o México envia pessoas, não envia as melhores. (…) Envia pessoas com muitos problemas, e essas pessoas trazem os seus problemas com elas. Trazem drogas. Trazem crime. Eles são violadores. E talvez alguns sejam boas pessoas.”
“E lembram-se do site de 5 mil milhões de dólares? 5 mil milhões de dólares que gastámos num site, e ainda agora não funciona. Um site de 5 mil milhões de dólares. Eu tenho imensos sites, tenho-os em todo o lado. Contrato pessoas, elas fazem-me um site. Custa-me 3 dólares. O outro custou 5 mil milhões.”
“Precisamos de um líder que consiga os empregos de volta, que consiga trazer a manufatura de volta, que consiga trazer as forças militares de volta, que consiga tratar os nossos veteranos. Os nossos veteranos foram abandonados. (…) Precisamos de alguém que pegue na marca dos EUA e a faça grande de novo. Não está grande neste momento. Precisamos — precisamos de alguém — que pegue neste país e o faça grande de novo. Conseguimos fazer isso. Assim, senhoras e senhores, vou candidatar-me ao cargo de presidente dos EUA, e vamos tornar este país grande outra vez.”
“Vou ser o melhor presidente a nível de empregos que Deus alguma vez criou. Digo-vos isso. Vou trazer de volta os empregos da China, do México, do Japão, de diversos lugares. Vou trazer de volta os empregos e vou trazer de volta o dinheiro.”
“Temos 18 triliões de dólares em dívida. Não temos nada a não ser problemas. Temos forças militares que precisam de equipamento em todo o lado. Temos armas nucleares obsoletas. Não temos nada. Temos uma Segurança Social que vai ser destruída a não ser que uma pessoa como eu traga o dinheiro de volta para o país. Temos imensas pessoas que querem cortar nisso. Eu não vou cortar nisso; eu vou trazer dinheiro de volta e nós vamos salvá-la.”

Excertos do discurso sobre política de imigração – Donald Trump (27 de abril de 2016):
“Nos anos 40 salvámos o mundo. A nossa melhor geração venceu os Nazis e os imperialistas japoneses. Depois voltámos a salvar o mundo. Dessa vez, do totalitarismo e do comunismo. A Guerra Fria durou anos mas, adivinhem, ganhámos e ganhámos em grande. Democratas e Republicanos a trabalharem juntos fizeram o Sr. Gorbachev atender ao presidente Reagan, o nosso presidente, quando ele disse: “Deitem abaixo esse muro.” (…) Infelizmente, após a Guerra Fria a nossa política de imigração afastou-se gravemente do percurso. Falhámos em desenvolver uma nova visão. De facto, com o avanço dos anos, a nossa política de imigração começou a fazer cada vez menos sentido. A lógica foi substituída por tolice e arrogância, o que levou a desastre atrás de desastre.”
“Estamos a reconstruir outros países enquanto enfraquecemos o nosso. Acabar com o roubo de empregos americanos dar-nos-á os recursos necessários para reconstruir as nossas forças armadas, o que tem de acontecer, e recuperar a nossa força e a nossa independência financeira. Eu sou o único candidato à presidência que percebe isto, e isso é um grave problema. Eu sou o único — acreditem, eu conheço-os a todos – eu sou o único que sabe como remediar a situação.”
“E depois existe o Estado Islâmico. Eu tenho uma simples mensagem para eles. Os seus dias estão contados. Não lhes direi quando e não lhes direi como. (…) Mas eles irão desaparecer. O estado Islâmico vai desaparecer se eu for eleito presidente. E vai desaparecer rapidamente. Vai desaparecer muito, muito rapidamente.”


Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (6)








“Eutanásia”

A Eutanásia consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado grave, terminal ou que esteja sujeito a dores intoleráveis. Esta é uma questão bastante polémica, havendo uma grande divergência de opiniões, uma vez que defender uma posição a favor ou contra esta prática exige um confronto de diversos valores cuja importância varia consoante a cultura em que cada indivíduo está inserido. Poucos são os países que permitem legalmente a prática da eutanásia, como a Suíça, a Holanda e a Bélgica, enquanto outros têm esta prática ilegalizada por diversos motivos, principalmente religiosos, éticos e culturais. Eu defendo a legalização da prática da Eutanásia em casos de sofrimento extremo e sempre de livre vontade do paciente em causa por diversas razões que irei passar a explicar.
Em primeiro lugar, sendo a eutanásia uma forma de evitar a dor e sofrimento de um paciente cujas possibilidades de viver são reduzidas, eu considero perfeitamente compreensível que seja praticada em pacientes nestas condições. Há quem interprete a prática da eutanásia como o ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer o suicídio, utilizando argumentos éticos para defender a sua posição, mas será que evitar a dor de uma pessoa pondo um fim ao seu sofrimento não pode ser considerado moralmente mais correto do que deixar a pessoa viver os poucos dias que lhe restam e acabar por ter uma morte dolorosa? Sim, eu defendo que seria moralmente mais correto a prática da eutanásia em pacientes em estado terminal. Qual a razão de adiar uma morte tão próxima e dolorosa quando se pode simplesmente acabar com o sofrimento sem ser dessa forma? Para a pessoa viver mais um pouco até morrer de tanta tortura imposta pelas circunstâncias da sua vida? Há pessoas que consideram esta prática como uma violação dos direitos humanos, nomeadamente o direito à vida, mas na minha opinião acaba por ser mais humano recorrer à eutanásia a pedido do doente, a chamada  morte digna, do que obrigá-lo  a viver o resto da sua vida em intenso sofrimento.
Em segundo lugar, cada pessoa tem o direito de decidir por si próprio e aceitar o seu pedido da eutanásia seria respeitar a autodeterminação de cada um. É claro que a decisão de recorrer ou não à eutanásia tem de ser muito bem pensada pelo paciente e não pode ser uma escolha irrefletida. O estado de saúde mental do paciente teria de ser avaliado assim como outras componentes, como as biológicas, sociais, culturais e económicas, de forma a que o indivíduo tenha total consciência das suas decisões, assegurando, assim, a autonomia da pessoa que não deve ser influenciada por motivos exteriores a si. Desde que este protocolo fosse seguido, não haveria razões para recusar o pedido de um doente para recorrer à eutanásia. Ainda assim, com base em crenças religiosas, há quem defenda que retirar a vida a alguém é uma prática que apenas a Deus é permitido realizar, já que acreditam que foi este que deu a vida aos Homens. Se isto for verdade, seria necessário referir que Deus não só criou o Homem, como o criou como ser inteligente e livre. Daqui resulta a liberdade do doente poder escolher a forma como deseja morrer, assim como a possibilidade de antecipar o dia da sua morte, sendo assim respeitados os seus direitos, tal como Jorge Torgal, médico e professor catedrático, defende que “esta situação tem a ver com os direitos individuais dos cidadãos. É por isso que defendo que deve haver uma despenalização da eutanásia”.
Sendo a eutanásia um último recurso, uma última liberdade, um último pedido, eu defendo que o pedido a este recurso não deveria ser recusado a quem está plenamente consciente da sua condição. Afinal, a legalização da eutanásia não a tornaria obrigatória, apenas a disponibilizaria como uma escolha legítima, assim como não excluiria o acesso e investimento em cuidados médicos. Só que nem sempre os cuidados médicos eliminam por completo o sofrimento do doente assim como também nem sempre impedem que este chegue a um estado terminal. Nestes casos, deveria caber ao doente, em perfeita condição de saúde mental, tomar a decisão de recorrer ou não à eutanásia, sendo assim respeitados os seus direitos. Em muitos países as pessoas julgam que respeitar os direitos individuais de cada pessoa, nesta situação, seria respeitar o seu direito a vida, o que acaba por tornar a eutanásia ilegal em certos países. Mas assim como o direito à vida é um direito universal e legal, eu defendo que também deveria ser legal e universal ter o direito de optar por uma morte com dignidade e menos sofrimento.

Inês Lucas  Nº10  11ºA

Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (5)







A eutanásia
Eutanásia, o ato através da qual se abrevia sem dor ou sofrimento a vida de um doente sem possibilidade de cura. Este ato, tanto pode ser executado através da administração de uma injeção letal, do pedido do paciente para que qualquer tipo de equipamento, a que este esteja dependente, seja desligado ou até mesmo da escolha do paciente que passa por deixar a doença tomar o seu rumo, não sendo efetuados quaisquer tipos de tratamentos.
A eutanásia não deixa de ser um assunto delicado onde é difícil a obtenção de um consenso sobre a sua utilização, na medida em que para uns se trata de uma benesse, pois pode ser considerado um alívio eterno, e para outros é um crime, uma vez que não deixa de ser morte de alguém, realizada por outrem (homicídio).
Na minha opinião a utilização da eutanásia deve ser bastante ponderada, quer por parte dos médicos, quer por parte do paciente, e caso essa ponderação seja efetuada em plena consciência então a eutanásia deverá ser administrada. Os profissionais de saúde responsáveis por este procedimento devem sempre analisar cuidadosamente o perfil do paciente em questão tendo em conta o motivo que o leva a quer abdicar da sua própria vida e para além disto, também devem ter em conta se a administração de eutanásia é realmente a ultima opção ou se existem outras possibilidades, como tratamentos alternativos de modo a tornar a dor suportável. E assim como os médicos necessitam de avaliar este método, o paciente deve ponderar se realmente está num estado de tão grande desespero e dor, tanto física como psicologicamente que para este, o sentido da vida já não tem fundamento e a morte é a única opção.
Apesar de muitos considerarem a eutanásia um crime, uma vez que se trata de um suicídio assistido, eu penso que este não deve ser considerado crime porque uma pessoa tem o direito a decidir, desde que o faça consciente das consequências que se seguem à sua tomada de decisão. E penso que aqueles que não concordam, tanto pelos problemas éticos e morais que este assunto levanta, gostariam de ter a possibilidade de efetuar uma escolha entre querer ou não querer “morrer voluntariamente” caso se encontrassem em tal situação.
Infelizmente em Portugal, a prática da eutanásia a partir de uma injeção não é legal e na Europa, somente os países Luxemburgo, Bélgica e Holanda (que recentemente alargou a legalidade do uso da eutanásia a menor de dezoito anos) possuem clínicas onde pacientes de todo o mundo se dirigem para poderem “morrer com dignidade”. Contudo a possibilidade de pedido a um médico para desligar os equipamentos a um paciente dependente dos mesmos ou o facto de ser possível uma pessoa não querer receber quaisquer tratamentos e permitir que a doença siga o seu rumo, não são práticas puníveis pela lei, embora em alguns casos alguns dilemas sejam levantados em relação a estas práticas em hospitais portugueses.
Concluindo, a eutanásia é um dos dilemas mais atuais que ainda necessita de muito estudo, mas que mesmo assim dificilmente se chegará a um consenso sobre a sua prática e por isso mesmo também a filosofia tenta ponderar sobre este assunto, pretendendo garantir ao ser humano uma vida digna e a possibilidade de efetuar as escolhas que considera mais relevantes perante a sua situação.


11ºA Carlota Alves Nunes



Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (4)




O problema dos Direitos Humanos
        Os Direitos Humanos são um assunto muito falado e contestado hoje em dia pela nossa sociedade. Mas o que são os Direitos Humanos? São direitos inerentes a todos os seres humanos, promovendo a igualdade, independentemente da raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma ou qualquer outra condição. Estes incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho e à educação, à saúde, entre muitos outros. Apesar de terem sido postos em prática por todo o mundo, infelizmente nem todos têm o mesmo alcance aos mesmos. O que pretendo dizer com isto é que existem tremendas violações destes direitos, bem como desigualdades a nível social. Os promotores dos Direitos Humanos estão de acordo que, anos depois da sua emissão, a Declaração Universal dos Direitos do Homem ainda é mais um sonho que uma realidade.
            Falando em exemplos, relativamente ao direito à vida, podemos dar como exemplo o seguinte facto: estima-se que 6500 pessoas foram mortas em combate armado no Afeganistão em 2007, sendo que quase metade delas foram mortes de civis não combatentes; centenas de civis também foram mortos em ataques suicidas por grupos armados. Então e o direito que afirma que “Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”? No que toca ao direito à liberdade de opinião e de expressão: no Sudão, dezenas de defensores dos Direitos Humanos foram presos e torturados pelos serviços secretos nacionais e forças de segurança; na Somália, foi assassinado um proeminente defensor dos Direitos Humanos. O que aconteceu ao direito que diz: “Todos têm direito à liberdade de opinião e de expressão. Este direito inclui a liberdade para ter opiniões sem interferência e para procurar, receber e dar informação e ideias através de qualquer meio de comunicação, sem importarem as fronteiras.”?
            Salientando dois direitos muito importantes, temos os direitos à saúde e à educação. Podemos encontrar sérias violações destes, uma vez que em muitos países (sendo a maior parte localizada em África) não existe um sistema de saúde nem de educação. Estes nem sequer possuem instalações necessárias para tal. O que acontece é que muitas pessoas morrem devido a uma falta de tratamentos, em caso de doenças, e a maior parte da população nunca frequentou sequer a escola. Onde se encontram os direitos que afirmam: “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família, a saúde e o bem-estar, principalmente quanto (…) à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários.” e “A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais (…).”.
            Com isto, podemos conferir as violações dos Direitos Humanos e as desigualdades sociais que as mesmas provocam. E a pergunta mais lógica será: “E o que poderá ser feito contra esta situação?”. Bem, esta é uma questão cuja resposta é bastante delicada, envolvendo a mobilização do mundo inteiro. Para existir igualdade de direitos, tem de haver uma propensão por parte de todos para tal, caso contrário, esta igualdade nunca será atingida. Uma pessoa só não provoca a mudança. Concluindo, ainda que tenham sido conseguidas algumas vitórias em 6 décadas, a violação dos Direitos Humanos ainda representa uma praga no nosso mundo atual.


Patrícia Mota; Nº15; 11ºA

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (3)




Eutanásia – uma questão de morte digna

«Não é uma questão de morrer cedo ou tarde, mas de morrer bem ou mal. Morrer bem significa escapar vivo do risco de morrer doente.» - Séneca
Mas afinal, em que consiste propriamente a eutanásia? A ideia base desta prática é a de que todo o indivíduo tem o direito a pôr fim à sua vida, caso esteja em estado terminal ou sujeito a sofrimento intolerável ou dores físicas ou psíquicas. Aliás, as razões invocadas para esta prática consistem na perda de capacidades (físicas ou mentais), as quais são entendidas como “privadoras da dignidade” ou doença incurável.
A reflexão sobre a eutanásia sempre suscitou grande polémica na sociedade. Entre argumentos que a defendem e que a condenam, esta questão parece não encontrar respostas consensuais, visto ainda haver dificuldade em compreender como agir perante o direito de viver. De tal modo que, até agora a opinião pública e o seu reflexo na lei rejeitaram a morte a pedido, mas recentemente surgiu uma petição no sentido de despenalizar e regulamentar a morte assistida em Portugal. Tal gerou grande controvérsia, o que comprova que, no nosso país, a eutanásia sempre foi e continua a ser vista como um tabu.
É a diferença essencialmente cultural e social, que faz com que a legislação mude de país para país. De facto, em todo o mundo só três países admitem esta prática (Bélgica, Holanda, Luxemburgo). Algumas legislações consideram a eutanásia como uma forma de homicídio, e por isso, refutam-na por motivos principalmente religiosos e culturais.
A eutanásia não defende a morte, mas a escolha da mesma por parte de quem a reconhece como a melhor opção (ou até a única). É considerada uma forma de “escapar” à dor, evitando o prolongamento do sofrimento do indivíduo; é concebida como a resposta para aqueles que olham para o futuro e nada vêm. No entanto, note-se que esta forma de morte assistida deverá sempre ser uma escolha informada e refletida, alheia a fatores económicos, sociais, culturais, religiosos ou psíquicos, os quais poderão suscitar arrependimento.
A grande questão que se coloca é: Que direito temos de prolongar uma vida, estender o sofrimento, quando não é isso que a pessoa quer? O Estado deve respeitar quando estão em causa as convicções refletidas de um individuo sobre a vida e a morte. Assim, cada um deve ter direito a escolher morrer com dignidade, quando, em estado de plena consciência, reconhece que não compensa permanecer em sofrimento até que o inevitável aconteça.
No entanto, a prática médica não é a favor deste argumento, como se constata no juramento de Hipócrates efetuado pelos médicos: «Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade.». Assim, este juramento concebe que o médico não pode ser juiz da vida ou da morte de ninguém, sendo a eutanásia considerada homicídio, nestes termos. Deste modo, não é surpresa nenhuma que a Associação Médica Mundial, através da declaração de Madrid, considere a eutanásia como um “procedimento eticamente inadequado”, desde 1987. Todavia, será justo forçar um paciente a passar o resto da vida em sofrimento, em condições que são tudo menos dignas? Penso, por exemplo, num jovem que fique tetraplégico como consequência de um acidente de viação. Atualmente há formas de minimizar o sofrimento, é verdade; porém, por mais recursos que tenhamos, há momentos e casos em que não há mais nada a fazer para aliviar a dor.
Ao argumentar a favor da eutanásia, defende-se assim a autonomia absoluta de cada ser humano, o direito à autodeterminação, direito à escolha pela vida e pelo momento da morte.
Do meu ponto de vista, cada ser humano deve ser dado o direito de escolher morrer com dignidade. Quando o sofrimento é insuportável e não há qualquer hipótese de recuperação, quando a decisão é consciente e reiterada, aceito que um médico os possa ajudar através de morte assistida.

Sofia Pereira, nº21, 11ºA

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (2)






A adoção por casais homossexuais

Em Portugal, como em muitos outros países, a homossexualismo sempre foi uma questão polémica, por contar com um estilo de vida diferente do convencional. Tratando-se de uma relação afetiva entre duas pessoas do mesmo sexo, por isso gera muitas opiniões. Existindo ainda certas dificuldades por este tipo de casal em adotarem uma criança, mesmo após o Parlamento português em 10 de fevereiro de 2016 finalmente aprovar tal lei.
Diante dos preconceitos impostos pela sociedade, faço a seguinte pergunta: qual seria o critério real da adoção? Não está relacionado com as condições económicas, psicológicas e morais?
Um casal homossexual pode ter tantas condições na criação de um filho como um casal heterossexual e, uma vez que, uma criança já não está com os seus pais biológicos não deve ser privada de ter uma família, pelo facto das pessoas que querem adotar serem do mesmo sexo. Decerto, uma criança não se irá questionar sobre se tem dois pais ou duas mães, dado que o que ela quer é ter uma família que lhe dê amor e carinho.
Porém, surgem ainda muitas pessoas contra a adoção nestes termos, que defendem convictamente, argumentos totalmente inválidos, a meu ver, como é o caso de que uma criança criada por homossexuais ter mais probabilidade de ser também homossexual. Defendo que, a criança não vai decidir a sua orientação sexual em função da dos pais adotivos, porque é uma escolha livre e pessoal independentemente daquilo que ocorre no seio familiar. O único argumento que me parece mais válido, é o de que estas crianças terão maiores dificuldades na adaptação social, por serem filhos de homossexuais. Relativamente a isto, eu diria que não existem soluções perfeitas, a sociedade é constituída por pessoas, e como tal, somos confrontados com diferentes atitudes comportamentais, mas é preferível isto do que a criança ser órfã a vida inteira.
Por essas razões, penso que a adoção de crianças por casais homossexuais não constitui uma desvantagem, bem pelo contrário, uma vez que esta vai poder ter uma família que garantirá um ambiente indispensável ao seu desenvolvimento equilibrado como ser humano.


Joana Lopes, nº11, 11ºB

Parabéns, Aristóteles (2)


A UNESCO declarou 2016 como o ano de Aristóteles


…e aqueles que por obras valerosas se vão da lei da Morte libertando…




Há cerca de 2400 anos, Aristóteles escreveu assim sobre a AMIZADE

«Posto isto, analisemos agora a amizade. De facto, trata-se de uma certa excelência, ou algo de estreitamente ligado à excelência; além disso, é do que mais necessário há para a vida. Pois ninguém há-de querer viver sem amigos, mesmo tendo todos os restantes bens. E até os ricos, os que têm posição e poder, têm uma necessidade extrema de amigos. Que vantagem haveria numa tal prosperidade se lhes tivesse sido retirada a possibilidade de fazer bem, sobretudo quando fazer bem aos amigos é o melhor e mais louvável que há? Ou de que outro modo poderá ser cuidada e preservada a prosperidade assim sem amigos? Pois quanto maior for a prosperidade, tanto maior é a insegurança que se sente. Assim, tanto na miséria como nas desgraças, pensa-se sempre que os amigos são o nosso único refúgio. Os amigos são uma ajuda para os mais novos, ao evitarem que façam disparates; e para os mais velhos, por cuidarem deles e por suprirem à perda crescente de autonomia que resulta da sua fraqueza. Mas para os que estão na força da vida, os amigos são uma ajuda para a realização de ações excelentes. (…) Na verdade, com amigos, somos capazes de pensar e de agir melhor. A amizade encontra-se, como fenómeno natural, tanto na relação do progenitor a gerado, como na relação de gerado ao seu progenitor, e assim é não apenas entre Humanos, mas também entre as aves e a maior parte dos animais. A amizade manifesta-se assim entre os seres de um mesmo género, sobretudo entre os seres Humanos. (…) A amizade não é, então, apenas uma das coisas necessárias à existência humana, mas é também bela. Assim, louvamos os que são amigos dos seus amigos, pois ser amigo de muitas pessoas parece uma das coisas belas que existem. Muitos pensam ainda que é a mesma coisa, ser um bom homem e ser um bom amigo.»

Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro VIII, 1155 a 1-30, tradução de António C. Caeiro, Lisboa, Quetzal Editores, 2004

Distribuímos este texto pela escola...

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (1)




TOLERÂNCIA
O ser humano é um só.
Qualquer homem tem o direito de ser tratado de igual modo, sem qualquer tipo de hegemonia.

A tolerância é um assunto muito atual e alvo de muita discussão. Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade tolerante em geral, mas há algumas e demasiado relevantes exceções.
Para muitos, a tolerância é um conceito vago, difícil de definir. É um assunto muitas vezes ouvido, mas não muitas vezes entendido e muito menos assimilado.
O que é a tolerância?
A tolerância é o ato de respeitar o próximo, independentemente das suas crenças ou dos seus costumes, é olhar um indivíduo de diferente cultura como se olha para um da mesma. É uma questão de “aceitação” e de “reconhecimento” do outro, como define Voltaire, no seu Tratado sobre a Tolerância.
Resumindo, ser tolerante é aceitar que todos somos iguais no direito que temos à diferença. Se sou tolerante, posso não concordar com as ideologias políticas ou religiosas do outro, mas aceito que ele tenha as suas próprias convicções, diferentes das minhas.
Necessário se torna também distinguir o tolerável do intolerável, pois não pode haver lugar para a tolerância em situações que consideramos demasiado “erradas” porque são extremamente prejudiciais. A título de exemplo, não pode haver tolerância possível para a violência exercida sobre mulheres, crianças e outros, para o roubo, para o homicídio…
No mundo de hoje, exemplos como o KKK e os terroristas demonstram que o racismo e a xenofobia não são assuntos ultrapassados. O KKK apela à não coexistência de pessoas de raça branca com pessoas de raça negra na América, lutando pela expulsão destes últimos. Os terroristas matam aqueles que consideram infiéis, ou seja, que têm outra religião ou que acreditam noutro Deus, pelo menos, é essa a razão que apontam para os seus atos cruéis e inaceitáveis.
A conceção destes grupos de que ser diferente ou ter outro tipo de religião é condenável está totalmente errada. Todos nós somos iguais, todos nós temos a mesma origem, todos somos seres humanos. Se todos somos da mesma espécie, porque haveremos de discriminar um semelhante?
O racismo e a xenofobia não têm sentido, contudo, continuam a existir. Inúmeras pessoas defendiam e defendem, desde há muito, a sua erradicação, entre as quais o Papa Francisco e o falecido Martin Luther King, que disse: “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.”. A própria construção da União Europeia se baseia no princípio da tolerância (art. 2º do Tratado da União Europeia[i]), apontando como traço comum aos seus membros a “sociedade caracterizada pel[a] (…) tolerância…”.
No entanto, estas mensagens ainda não foram devidamente assimiladas e aceites por todos, o que diariamente comprovamos em situações do nosso quotidiano ou através das notícias divulgadas pelos Media.
Cada um tem direito à sua cultura. É injusto discriminar um indivíduo simplesmente porque este tem uma diferente ideologia, religião ou cultura. É sobretudo uma questão de liberdade, da liberdade que cada um de nós deve ter de pensar e de acreditar, sem que sejamos forçados, portanto, a partilhar as mesmas ideologias e crenças, como se fôssemos seres não-pensantes.
Concluindo, a conceção de um mundo cem por cento tolerante está ainda muito longe de ser realizada e gosto de pensar que não é simplesmente uma utopia. Com o esforço de cada um, passo a passo, talvez consigamos chegar cada vez mais próximo dessa realidade.
Diogo Lotra Ribeiro, nº8, 11ºA





[i] Artigo 2ª
A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.




Ainda o Dia Mundial da Filosofia 2016




“Nem tudo o que a lei permite se nos deve impor, e há coisas que a lei não impõe, mas que se nos devem impor.”



Na nossa escola este dia foi assinalado também com a realização de uma palestra sobre Ética, pelo Professor Bagão Félix, a que assistiram cerca de 250 alunos de Filosofia. A iniciativa foi do Rotary Club de Torres Vedras com quem estabelecemos uma parceria. O pequeno texto em epígrafe foi o selecionado para o nosso cartaz de divulgação. 
Embora não soubessemos nada de específico acerca da comunicação a ser apresentada, a Ética é um tema transversal e admitimos que nos iríamos confrontar com um discurso argumentativo bem sustentado e persuasivo que teria eco nos nossos alunos e que, não só poderia contribuir para a dinâmica das aulas, como também para a sua formação enquanto cidadãos e enquanto pessoas. Para além disso, consideramos que o dia Mundial da Filosofia deve ser celebrado por todos quantos a respeitam e por todos quantos atribuem valor ao ato de pensar criticamente. Foi também por isso que considerámos, em certa medida, a participação nesta palestra como desafiante. A participação dos nossos alunos teve como maior fito permitir que se confrontassem com um pensamento coerente e racionalmente sustentado, que se dessem conta de como os conteúdos que aprendem na filosofia são instrumentos preciosos para entenderem melhor o mundo em que vivem e que ouvir os outros não significa ter de concordar com eles. Quando nos confrontamos com um pensamento sustentado, quando nos confrontamos com uma tese e com argumentos fortes, não somos, por isso, obrigados a concordar. O importante é ser capaz de pensar com... é ser capaz de pensar em conjunto sobre assuntos que nos interessam. Neste sentido, parece-nos que aquela hora e meia foi bem aproveitada e, se a tese do autor se escapou um pouco por entre as referência informativas, os muitos conceitos utilizados, os momentos humorísticos que todo o bom comunicador utiliza, a riqueza da comunicação já foi um bom ponto de partida para o diálogo filosófico nas aulas!!
      

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

PARABÉNS, ARISTÓTELES! (1)


A UNESCO considerou o ano de 2016 como o ano de Aristóteles, comemorando os seus 2400 anos!!

Alguns dados biográficos:
Nascido no século IV a. C., em 350 a. C. em Estagira, no reino da Macedónia, Aristóteles chega a Atenas com apenas 17 anos para frequentar a escola de Platão, a Academia. Aí esteve durante 20 anos. Depois de algumas atribulações e de ter tido a importante responsabilidade da educação de Alexandre da Macedónia, o futuro Alexandre Magno, Aristóteles retorna a Atenas e funda a sua escola, o Liceu.

Academia... Liceu, onde é que já ouvimos estes termos? Sim, sim, são bastante familiares! Há uns anos atrás, aliás, algumas das escolas hoje denominadas "secundárias" eram denominadas liceus, nome que deriva diretamente da escola aristotélica. A Escola Secundária de Madeira Torres, por exemplo, é a herdeira de um antigo liceu. Aristóteles, os gregos, eles estão por todo o lado!!!

«A Academia e o Liceu são tradicionalmente considerados (...) como dois pólos opostos. De acordo com esta tradição, Platão era idealista, utópico e voltado para o outro mundo; Aristóteles, pelo contrário, era realista, utilitarista e adepto do senso comum. Assim, na Escola de Atenas de Rafael, Platão, envergando as cores dos elementos voláteis, (ar e fogo), aponta na direção do céu; Aristóteles, vestindo o azul da água e o verde da terra, finca firmemente os pés no chão. "Todo o homem é um platónico ou um aristotélico nato" afirmou S. T. Coleridge. "São essas as duas categorias de homens, para lá das quais é quase impossível conceber uma terceira."»
Kenny, A. (1999) História Concisa da Filosofia Ocidental, Temas &Debates, Lisboa. p. 87

Muito bem!!! Quanto a mim, depende. Umas vezes sinto-me platónica, outras aristotélica.
Vamos deixar este desafio no ar: onde estão os platónicos e os aristotélicos???


E para distrair um pouco, vamos começar por imaginar o  rosto, a figura, de Aristóteles, tal como fez Rafael, o grande pintor renascentista (Itália, 1483-1520) na sua Escola de Atenas.



Escola de Atenas (pormenor)

E na companhia de quem??? De Platão, está claro! 


No centro de um conjunto de outros filósofos gregos


DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA - UM POUCO DE HISTÓRIA


DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Desde a sua inauguração enquanto Dia da Filosofia na UNESCO em 2002 e particularmente desde a sua institucionalização em 2005 como Dia Mundial da Filosofia, esta celebração da filosofia inspirou muito entusiasmo. Criada com o fim de aproximar a filosofia de todos, professores, estudantes, assim como o grande público em geral, todos mostraram um grande interesse por esta atividade que oferece novas oportunidades e um espaço para a reflexão crítica e o debate.
A Filosofia na UNESCO: passado e presente
Desde a sua fundação, a UNESCO recorreu à filosofia para preparar os ideais que inspiram a sua constituição. Ideais eles próprios saídos da renovação da tradição filosófica.
Em 1942, quando o resultado da segunda guerra mundial estava ainda longe de ser certo, os ministros aliados da Educação reuniram-se a fim de fundar uma organização que, por meios morais e intelectuais, pudesse ajudar a construir um mundo liberto do ódio, do fanatismo e do obscurantismo.
Aquando da primeira conferência da nova Organização (Londres, 1945), Léon Blum, o seu vice-presidente, fez notar que a guerra era essencialmente «ideológica», e mostrou como a educação, a cultura e a ciência se podiam virar contra os interesses comuns da humanidade. O seu desenvolvimento e o seu aperfeiçoamento já não eram suficientes: elas deviam seguir no sentido da «ideologia» da democracia e do progresso, que é a condição lógica, o fundamento psicológico da paz e da solidariedade internacionais.
O preâmbulo da constituição da UNESCO, adotado a 16 de Novembro de 1945, reafirmava que «a negação dos princípios da dignidade, da igualdade e do respeito mútuo dos homens, tinha tornado possível a guerra», mas imputava a responsabilidade do conflito à ignorância e aos preconceitos, e não à deliquescência da educação, da cultura e da ciência.
Como é que, desde então, o libelo da primeira cláusula do Preâmbulo «As guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos homens que devem ser criadas as defesas da paz», deve ser compreendido?
O meio de aí chegar e de desenvolver os contactos e as trocas de tal modo que progridam o conhecimento e a compreensão mútuas, pois o conhecimento favorece a compreensão, e abre a via à solidariedade moral e intelectual da espécie humana, que é a única garantia para uma paz durável e autêntica.
Aí se encontra talvez o espírito utópico que inspirou os fundadores da UNESCO.
Uma tarefa moral e política
O estado da filosofia exigia uma ação efetiva da UNESCO. A guerra interrompeu os contactos entre os filósofos dos diferentes países; as universidades e os seus estudantes tinham-se encontrado frente ao vazio; as publicações tinham cessado de circular.
E, sobretudo, os conceitos filosóficos tinham sido desviados e recuperados para fins de propaganda pelos estados totalitários; mesmo no seio das nações democráticas, os princípios da dignidade humana tinham sido relegados para segundo plano, erradicados pela necessidade de eficácia.
Por consequência, a UNESCO esforça-se por propagar, por pôr em prática, e mesmo por popularizar uma cultura filosófica internacional, na suposição de reforçar o respeito da pessoa humana, o amor da paz, o ódio ao nacionalismo estreito e ao reino da força, a solidariedade e a ligação a um ideal de cultura.
A UNESCO fixou como fim tornar acessível a todos os valores da sua filosofia moral e política, mas também favorecer o progresso dos estudos filosóficos enquanto tais. Os seus dois objetivos são então:
·        Implementar instrumentos intelectuais ao serviço da educação internacional das nações
·        Colocar a Filosofia ao serviço da educação internacional das nações.
Para os fundadores da UNESCO, a filosofia não se reduz ao domínio especulativo da pura metafísica, à ética normativa e teórica e à psicologia individual: ela estende-se às fronteiras não somente do conhecimento humano, mas também de toda a atividade humana.
O seu alcance é então análogo ao da UNESCO. A ação da UNESCO consiste então em:
·        Encorajar os estudos internacionais de filosofia […].
·        Assegurar-se que a filosofia desempenha um papel no despertar da opinião pública, aprofundando os conceitos que estão na raiz dos direitos humanos  - particularmente os direitos do indivíduo no mundo moderno; estudando o estado presente da civilização e as incertezas da consciência moderna, e certamente as soluções que se podem obter […].

«La philosophie à l’UNESCO», consultado em http://portal.unesco.org a 16 de Outubro 2009, tradução do francês da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres, Torres Vedras. A 21 de outubro, 2016, acesso parcial em http://www.unesco.org/new/fr/social-and-human-sciences/themes/most-programme/humanities-and-philosophy/philosophy-at-unesco-past-and-present/