sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Discurso político?

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos não deixou os nossos alunos indiferentes. Bem pelo contrário!! Aliás, não me lembro de nenhum outro acontecimento político ter causado tanto efeito...
Não tenho por hábito fazer qualquer tipo de comentário à política partidária. Procuro nunca resvalar para um discurso superficial, imediatista e fácil e conseguir levar a cabo o papel que considero ser o da filosofia: pôr travão à tendência acrítica e à dificuldade de análise racional dos problemas. Aliás, é também essa a maior dificuldade, e também o maior desafio, no seu ensino.

Quando o R.G. percebeu que iríamos abordar o discurso político no âmbito do tema «Argumentação e Retórica» sugeriu que analisássemos um discurso de Donald Trump. Muito bem! A primeira etapa era trazê-lo (traduzido).

1ª etapa cumprida!


Imagem retirada de http://www.magazineindependente.com/www2/trump-ja-estava-confiante-republicanos-vatariam-casa-branca/

Excertos do discurso de candidatura à presidência dos EUA – Donald Trump (16 de junho de    2015):

“O nosso país encontra-se numa situação extremamente problemática. Já não vencemos em nada. Era hábito vencermos, mas agora já não. Quando foi a última vez que ganhámos um acordo comercial, digamos, à China? Eles destroem-nos. Eu ganho sempre à China. Sempre.”
“Quando o México envia pessoas, não envia as melhores. (…) Envia pessoas com muitos problemas, e essas pessoas trazem os seus problemas com elas. Trazem drogas. Trazem crime. Eles são violadores. E talvez alguns sejam boas pessoas.”
“E lembram-se do site de 5 mil milhões de dólares? 5 mil milhões de dólares que gastámos num site, e ainda agora não funciona. Um site de 5 mil milhões de dólares. Eu tenho imensos sites, tenho-os em todo o lado. Contrato pessoas, elas fazem-me um site. Custa-me 3 dólares. O outro custou 5 mil milhões.”
“Precisamos de um líder que consiga os empregos de volta, que consiga trazer a manufatura de volta, que consiga trazer as forças militares de volta, que consiga tratar os nossos veteranos. Os nossos veteranos foram abandonados. (…) Precisamos de alguém que pegue na marca dos EUA e a faça grande de novo. Não está grande neste momento. Precisamos — precisamos de alguém — que pegue neste país e o faça grande de novo. Conseguimos fazer isso. Assim, senhoras e senhores, vou candidatar-me ao cargo de presidente dos EUA, e vamos tornar este país grande outra vez.”
“Vou ser o melhor presidente a nível de empregos que Deus alguma vez criou. Digo-vos isso. Vou trazer de volta os empregos da China, do México, do Japão, de diversos lugares. Vou trazer de volta os empregos e vou trazer de volta o dinheiro.”
“Temos 18 triliões de dólares em dívida. Não temos nada a não ser problemas. Temos forças militares que precisam de equipamento em todo o lado. Temos armas nucleares obsoletas. Não temos nada. Temos uma Segurança Social que vai ser destruída a não ser que uma pessoa como eu traga o dinheiro de volta para o país. Temos imensas pessoas que querem cortar nisso. Eu não vou cortar nisso; eu vou trazer dinheiro de volta e nós vamos salvá-la.”

Excertos do discurso sobre política de imigração – Donald Trump (27 de abril de 2016):
“Nos anos 40 salvámos o mundo. A nossa melhor geração venceu os Nazis e os imperialistas japoneses. Depois voltámos a salvar o mundo. Dessa vez, do totalitarismo e do comunismo. A Guerra Fria durou anos mas, adivinhem, ganhámos e ganhámos em grande. Democratas e Republicanos a trabalharem juntos fizeram o Sr. Gorbachev atender ao presidente Reagan, o nosso presidente, quando ele disse: “Deitem abaixo esse muro.” (…) Infelizmente, após a Guerra Fria a nossa política de imigração afastou-se gravemente do percurso. Falhámos em desenvolver uma nova visão. De facto, com o avanço dos anos, a nossa política de imigração começou a fazer cada vez menos sentido. A lógica foi substituída por tolice e arrogância, o que levou a desastre atrás de desastre.”
“Estamos a reconstruir outros países enquanto enfraquecemos o nosso. Acabar com o roubo de empregos americanos dar-nos-á os recursos necessários para reconstruir as nossas forças armadas, o que tem de acontecer, e recuperar a nossa força e a nossa independência financeira. Eu sou o único candidato à presidência que percebe isto, e isso é um grave problema. Eu sou o único — acreditem, eu conheço-os a todos – eu sou o único que sabe como remediar a situação.”
“E depois existe o Estado Islâmico. Eu tenho uma simples mensagem para eles. Os seus dias estão contados. Não lhes direi quando e não lhes direi como. (…) Mas eles irão desaparecer. O estado Islâmico vai desaparecer se eu for eleito presidente. E vai desaparecer rapidamente. Vai desaparecer muito, muito rapidamente.”


Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (6)








“Eutanásia”

A Eutanásia consiste na conduta de abreviar a vida de um paciente em estado grave, terminal ou que esteja sujeito a dores intoleráveis. Esta é uma questão bastante polémica, havendo uma grande divergência de opiniões, uma vez que defender uma posição a favor ou contra esta prática exige um confronto de diversos valores cuja importância varia consoante a cultura em que cada indivíduo está inserido. Poucos são os países que permitem legalmente a prática da eutanásia, como a Suíça, a Holanda e a Bélgica, enquanto outros têm esta prática ilegalizada por diversos motivos, principalmente religiosos, éticos e culturais. Eu defendo a legalização da prática da Eutanásia em casos de sofrimento extremo e sempre de livre vontade do paciente em causa por diversas razões que irei passar a explicar.
Em primeiro lugar, sendo a eutanásia uma forma de evitar a dor e sofrimento de um paciente cujas possibilidades de viver são reduzidas, eu considero perfeitamente compreensível que seja praticada em pacientes nestas condições. Há quem interprete a prática da eutanásia como o ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer o suicídio, utilizando argumentos éticos para defender a sua posição, mas será que evitar a dor de uma pessoa pondo um fim ao seu sofrimento não pode ser considerado moralmente mais correto do que deixar a pessoa viver os poucos dias que lhe restam e acabar por ter uma morte dolorosa? Sim, eu defendo que seria moralmente mais correto a prática da eutanásia em pacientes em estado terminal. Qual a razão de adiar uma morte tão próxima e dolorosa quando se pode simplesmente acabar com o sofrimento sem ser dessa forma? Para a pessoa viver mais um pouco até morrer de tanta tortura imposta pelas circunstâncias da sua vida? Há pessoas que consideram esta prática como uma violação dos direitos humanos, nomeadamente o direito à vida, mas na minha opinião acaba por ser mais humano recorrer à eutanásia a pedido do doente, a chamada  morte digna, do que obrigá-lo  a viver o resto da sua vida em intenso sofrimento.
Em segundo lugar, cada pessoa tem o direito de decidir por si próprio e aceitar o seu pedido da eutanásia seria respeitar a autodeterminação de cada um. É claro que a decisão de recorrer ou não à eutanásia tem de ser muito bem pensada pelo paciente e não pode ser uma escolha irrefletida. O estado de saúde mental do paciente teria de ser avaliado assim como outras componentes, como as biológicas, sociais, culturais e económicas, de forma a que o indivíduo tenha total consciência das suas decisões, assegurando, assim, a autonomia da pessoa que não deve ser influenciada por motivos exteriores a si. Desde que este protocolo fosse seguido, não haveria razões para recusar o pedido de um doente para recorrer à eutanásia. Ainda assim, com base em crenças religiosas, há quem defenda que retirar a vida a alguém é uma prática que apenas a Deus é permitido realizar, já que acreditam que foi este que deu a vida aos Homens. Se isto for verdade, seria necessário referir que Deus não só criou o Homem, como o criou como ser inteligente e livre. Daqui resulta a liberdade do doente poder escolher a forma como deseja morrer, assim como a possibilidade de antecipar o dia da sua morte, sendo assim respeitados os seus direitos, tal como Jorge Torgal, médico e professor catedrático, defende que “esta situação tem a ver com os direitos individuais dos cidadãos. É por isso que defendo que deve haver uma despenalização da eutanásia”.
Sendo a eutanásia um último recurso, uma última liberdade, um último pedido, eu defendo que o pedido a este recurso não deveria ser recusado a quem está plenamente consciente da sua condição. Afinal, a legalização da eutanásia não a tornaria obrigatória, apenas a disponibilizaria como uma escolha legítima, assim como não excluiria o acesso e investimento em cuidados médicos. Só que nem sempre os cuidados médicos eliminam por completo o sofrimento do doente assim como também nem sempre impedem que este chegue a um estado terminal. Nestes casos, deveria caber ao doente, em perfeita condição de saúde mental, tomar a decisão de recorrer ou não à eutanásia, sendo assim respeitados os seus direitos. Em muitos países as pessoas julgam que respeitar os direitos individuais de cada pessoa, nesta situação, seria respeitar o seu direito a vida, o que acaba por tornar a eutanásia ilegal em certos países. Mas assim como o direito à vida é um direito universal e legal, eu defendo que também deveria ser legal e universal ter o direito de optar por uma morte com dignidade e menos sofrimento.

Inês Lucas  Nº10  11ºA

Dia Mundial da Filosofia, 2016, a palavra dada aos alunos (5)







A eutanásia
Eutanásia, o ato através da qual se abrevia sem dor ou sofrimento a vida de um doente sem possibilidade de cura. Este ato, tanto pode ser executado através da administração de uma injeção letal, do pedido do paciente para que qualquer tipo de equipamento, a que este esteja dependente, seja desligado ou até mesmo da escolha do paciente que passa por deixar a doença tomar o seu rumo, não sendo efetuados quaisquer tipos de tratamentos.
A eutanásia não deixa de ser um assunto delicado onde é difícil a obtenção de um consenso sobre a sua utilização, na medida em que para uns se trata de uma benesse, pois pode ser considerado um alívio eterno, e para outros é um crime, uma vez que não deixa de ser morte de alguém, realizada por outrem (homicídio).
Na minha opinião a utilização da eutanásia deve ser bastante ponderada, quer por parte dos médicos, quer por parte do paciente, e caso essa ponderação seja efetuada em plena consciência então a eutanásia deverá ser administrada. Os profissionais de saúde responsáveis por este procedimento devem sempre analisar cuidadosamente o perfil do paciente em questão tendo em conta o motivo que o leva a quer abdicar da sua própria vida e para além disto, também devem ter em conta se a administração de eutanásia é realmente a ultima opção ou se existem outras possibilidades, como tratamentos alternativos de modo a tornar a dor suportável. E assim como os médicos necessitam de avaliar este método, o paciente deve ponderar se realmente está num estado de tão grande desespero e dor, tanto física como psicologicamente que para este, o sentido da vida já não tem fundamento e a morte é a única opção.
Apesar de muitos considerarem a eutanásia um crime, uma vez que se trata de um suicídio assistido, eu penso que este não deve ser considerado crime porque uma pessoa tem o direito a decidir, desde que o faça consciente das consequências que se seguem à sua tomada de decisão. E penso que aqueles que não concordam, tanto pelos problemas éticos e morais que este assunto levanta, gostariam de ter a possibilidade de efetuar uma escolha entre querer ou não querer “morrer voluntariamente” caso se encontrassem em tal situação.
Infelizmente em Portugal, a prática da eutanásia a partir de uma injeção não é legal e na Europa, somente os países Luxemburgo, Bélgica e Holanda (que recentemente alargou a legalidade do uso da eutanásia a menor de dezoito anos) possuem clínicas onde pacientes de todo o mundo se dirigem para poderem “morrer com dignidade”. Contudo a possibilidade de pedido a um médico para desligar os equipamentos a um paciente dependente dos mesmos ou o facto de ser possível uma pessoa não querer receber quaisquer tratamentos e permitir que a doença siga o seu rumo, não são práticas puníveis pela lei, embora em alguns casos alguns dilemas sejam levantados em relação a estas práticas em hospitais portugueses.
Concluindo, a eutanásia é um dos dilemas mais atuais que ainda necessita de muito estudo, mas que mesmo assim dificilmente se chegará a um consenso sobre a sua prática e por isso mesmo também a filosofia tenta ponderar sobre este assunto, pretendendo garantir ao ser humano uma vida digna e a possibilidade de efetuar as escolhas que considera mais relevantes perante a sua situação.


11ºA Carlota Alves Nunes



Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (4)




O problema dos Direitos Humanos
        Os Direitos Humanos são um assunto muito falado e contestado hoje em dia pela nossa sociedade. Mas o que são os Direitos Humanos? São direitos inerentes a todos os seres humanos, promovendo a igualdade, independentemente da raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma ou qualquer outra condição. Estes incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, ao trabalho e à educação, à saúde, entre muitos outros. Apesar de terem sido postos em prática por todo o mundo, infelizmente nem todos têm o mesmo alcance aos mesmos. O que pretendo dizer com isto é que existem tremendas violações destes direitos, bem como desigualdades a nível social. Os promotores dos Direitos Humanos estão de acordo que, anos depois da sua emissão, a Declaração Universal dos Direitos do Homem ainda é mais um sonho que uma realidade.
            Falando em exemplos, relativamente ao direito à vida, podemos dar como exemplo o seguinte facto: estima-se que 6500 pessoas foram mortas em combate armado no Afeganistão em 2007, sendo que quase metade delas foram mortes de civis não combatentes; centenas de civis também foram mortos em ataques suicidas por grupos armados. Então e o direito que afirma que “Todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”? No que toca ao direito à liberdade de opinião e de expressão: no Sudão, dezenas de defensores dos Direitos Humanos foram presos e torturados pelos serviços secretos nacionais e forças de segurança; na Somália, foi assassinado um proeminente defensor dos Direitos Humanos. O que aconteceu ao direito que diz: “Todos têm direito à liberdade de opinião e de expressão. Este direito inclui a liberdade para ter opiniões sem interferência e para procurar, receber e dar informação e ideias através de qualquer meio de comunicação, sem importarem as fronteiras.”?
            Salientando dois direitos muito importantes, temos os direitos à saúde e à educação. Podemos encontrar sérias violações destes, uma vez que em muitos países (sendo a maior parte localizada em África) não existe um sistema de saúde nem de educação. Estes nem sequer possuem instalações necessárias para tal. O que acontece é que muitas pessoas morrem devido a uma falta de tratamentos, em caso de doenças, e a maior parte da população nunca frequentou sequer a escola. Onde se encontram os direitos que afirmam: “Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família, a saúde e o bem-estar, principalmente quanto (…) à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários.” e “A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais (…).”.
            Com isto, podemos conferir as violações dos Direitos Humanos e as desigualdades sociais que as mesmas provocam. E a pergunta mais lógica será: “E o que poderá ser feito contra esta situação?”. Bem, esta é uma questão cuja resposta é bastante delicada, envolvendo a mobilização do mundo inteiro. Para existir igualdade de direitos, tem de haver uma propensão por parte de todos para tal, caso contrário, esta igualdade nunca será atingida. Uma pessoa só não provoca a mudança. Concluindo, ainda que tenham sido conseguidas algumas vitórias em 6 décadas, a violação dos Direitos Humanos ainda representa uma praga no nosso mundo atual.


Patrícia Mota; Nº15; 11ºA

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (3)




Eutanásia – uma questão de morte digna

«Não é uma questão de morrer cedo ou tarde, mas de morrer bem ou mal. Morrer bem significa escapar vivo do risco de morrer doente.» - Séneca
Mas afinal, em que consiste propriamente a eutanásia? A ideia base desta prática é a de que todo o indivíduo tem o direito a pôr fim à sua vida, caso esteja em estado terminal ou sujeito a sofrimento intolerável ou dores físicas ou psíquicas. Aliás, as razões invocadas para esta prática consistem na perda de capacidades (físicas ou mentais), as quais são entendidas como “privadoras da dignidade” ou doença incurável.
A reflexão sobre a eutanásia sempre suscitou grande polémica na sociedade. Entre argumentos que a defendem e que a condenam, esta questão parece não encontrar respostas consensuais, visto ainda haver dificuldade em compreender como agir perante o direito de viver. De tal modo que, até agora a opinião pública e o seu reflexo na lei rejeitaram a morte a pedido, mas recentemente surgiu uma petição no sentido de despenalizar e regulamentar a morte assistida em Portugal. Tal gerou grande controvérsia, o que comprova que, no nosso país, a eutanásia sempre foi e continua a ser vista como um tabu.
É a diferença essencialmente cultural e social, que faz com que a legislação mude de país para país. De facto, em todo o mundo só três países admitem esta prática (Bélgica, Holanda, Luxemburgo). Algumas legislações consideram a eutanásia como uma forma de homicídio, e por isso, refutam-na por motivos principalmente religiosos e culturais.
A eutanásia não defende a morte, mas a escolha da mesma por parte de quem a reconhece como a melhor opção (ou até a única). É considerada uma forma de “escapar” à dor, evitando o prolongamento do sofrimento do indivíduo; é concebida como a resposta para aqueles que olham para o futuro e nada vêm. No entanto, note-se que esta forma de morte assistida deverá sempre ser uma escolha informada e refletida, alheia a fatores económicos, sociais, culturais, religiosos ou psíquicos, os quais poderão suscitar arrependimento.
A grande questão que se coloca é: Que direito temos de prolongar uma vida, estender o sofrimento, quando não é isso que a pessoa quer? O Estado deve respeitar quando estão em causa as convicções refletidas de um individuo sobre a vida e a morte. Assim, cada um deve ter direito a escolher morrer com dignidade, quando, em estado de plena consciência, reconhece que não compensa permanecer em sofrimento até que o inevitável aconteça.
No entanto, a prática médica não é a favor deste argumento, como se constata no juramento de Hipócrates efetuado pelos médicos: «Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade.». Assim, este juramento concebe que o médico não pode ser juiz da vida ou da morte de ninguém, sendo a eutanásia considerada homicídio, nestes termos. Deste modo, não é surpresa nenhuma que a Associação Médica Mundial, através da declaração de Madrid, considere a eutanásia como um “procedimento eticamente inadequado”, desde 1987. Todavia, será justo forçar um paciente a passar o resto da vida em sofrimento, em condições que são tudo menos dignas? Penso, por exemplo, num jovem que fique tetraplégico como consequência de um acidente de viação. Atualmente há formas de minimizar o sofrimento, é verdade; porém, por mais recursos que tenhamos, há momentos e casos em que não há mais nada a fazer para aliviar a dor.
Ao argumentar a favor da eutanásia, defende-se assim a autonomia absoluta de cada ser humano, o direito à autodeterminação, direito à escolha pela vida e pelo momento da morte.
Do meu ponto de vista, cada ser humano deve ser dado o direito de escolher morrer com dignidade. Quando o sofrimento é insuportável e não há qualquer hipótese de recuperação, quando a decisão é consciente e reiterada, aceito que um médico os possa ajudar através de morte assistida.

Sofia Pereira, nº21, 11ºA

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (2)






A adoção por casais homossexuais

Em Portugal, como em muitos outros países, a homossexualismo sempre foi uma questão polémica, por contar com um estilo de vida diferente do convencional. Tratando-se de uma relação afetiva entre duas pessoas do mesmo sexo, por isso gera muitas opiniões. Existindo ainda certas dificuldades por este tipo de casal em adotarem uma criança, mesmo após o Parlamento português em 10 de fevereiro de 2016 finalmente aprovar tal lei.
Diante dos preconceitos impostos pela sociedade, faço a seguinte pergunta: qual seria o critério real da adoção? Não está relacionado com as condições económicas, psicológicas e morais?
Um casal homossexual pode ter tantas condições na criação de um filho como um casal heterossexual e, uma vez que, uma criança já não está com os seus pais biológicos não deve ser privada de ter uma família, pelo facto das pessoas que querem adotar serem do mesmo sexo. Decerto, uma criança não se irá questionar sobre se tem dois pais ou duas mães, dado que o que ela quer é ter uma família que lhe dê amor e carinho.
Porém, surgem ainda muitas pessoas contra a adoção nestes termos, que defendem convictamente, argumentos totalmente inválidos, a meu ver, como é o caso de que uma criança criada por homossexuais ter mais probabilidade de ser também homossexual. Defendo que, a criança não vai decidir a sua orientação sexual em função da dos pais adotivos, porque é uma escolha livre e pessoal independentemente daquilo que ocorre no seio familiar. O único argumento que me parece mais válido, é o de que estas crianças terão maiores dificuldades na adaptação social, por serem filhos de homossexuais. Relativamente a isto, eu diria que não existem soluções perfeitas, a sociedade é constituída por pessoas, e como tal, somos confrontados com diferentes atitudes comportamentais, mas é preferível isto do que a criança ser órfã a vida inteira.
Por essas razões, penso que a adoção de crianças por casais homossexuais não constitui uma desvantagem, bem pelo contrário, uma vez que esta vai poder ter uma família que garantirá um ambiente indispensável ao seu desenvolvimento equilibrado como ser humano.


Joana Lopes, nº11, 11ºB

Parabéns, Aristóteles (2)


A UNESCO declarou 2016 como o ano de Aristóteles


…e aqueles que por obras valerosas se vão da lei da Morte libertando…




Há cerca de 2400 anos, Aristóteles escreveu assim sobre a AMIZADE

«Posto isto, analisemos agora a amizade. De facto, trata-se de uma certa excelência, ou algo de estreitamente ligado à excelência; além disso, é do que mais necessário há para a vida. Pois ninguém há-de querer viver sem amigos, mesmo tendo todos os restantes bens. E até os ricos, os que têm posição e poder, têm uma necessidade extrema de amigos. Que vantagem haveria numa tal prosperidade se lhes tivesse sido retirada a possibilidade de fazer bem, sobretudo quando fazer bem aos amigos é o melhor e mais louvável que há? Ou de que outro modo poderá ser cuidada e preservada a prosperidade assim sem amigos? Pois quanto maior for a prosperidade, tanto maior é a insegurança que se sente. Assim, tanto na miséria como nas desgraças, pensa-se sempre que os amigos são o nosso único refúgio. Os amigos são uma ajuda para os mais novos, ao evitarem que façam disparates; e para os mais velhos, por cuidarem deles e por suprirem à perda crescente de autonomia que resulta da sua fraqueza. Mas para os que estão na força da vida, os amigos são uma ajuda para a realização de ações excelentes. (…) Na verdade, com amigos, somos capazes de pensar e de agir melhor. A amizade encontra-se, como fenómeno natural, tanto na relação do progenitor a gerado, como na relação de gerado ao seu progenitor, e assim é não apenas entre Humanos, mas também entre as aves e a maior parte dos animais. A amizade manifesta-se assim entre os seres de um mesmo género, sobretudo entre os seres Humanos. (…) A amizade não é, então, apenas uma das coisas necessárias à existência humana, mas é também bela. Assim, louvamos os que são amigos dos seus amigos, pois ser amigo de muitas pessoas parece uma das coisas belas que existem. Muitos pensam ainda que é a mesma coisa, ser um bom homem e ser um bom amigo.»

Aristóteles, Ética a Nicómaco, Livro VIII, 1155 a 1-30, tradução de António C. Caeiro, Lisboa, Quetzal Editores, 2004

Distribuímos este texto pela escola...

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Dia Mundial da Filosofia 2016, a palavra dada aos alunos (1)




TOLERÂNCIA
O ser humano é um só.
Qualquer homem tem o direito de ser tratado de igual modo, sem qualquer tipo de hegemonia.

A tolerância é um assunto muito atual e alvo de muita discussão. Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade tolerante em geral, mas há algumas e demasiado relevantes exceções.
Para muitos, a tolerância é um conceito vago, difícil de definir. É um assunto muitas vezes ouvido, mas não muitas vezes entendido e muito menos assimilado.
O que é a tolerância?
A tolerância é o ato de respeitar o próximo, independentemente das suas crenças ou dos seus costumes, é olhar um indivíduo de diferente cultura como se olha para um da mesma. É uma questão de “aceitação” e de “reconhecimento” do outro, como define Voltaire, no seu Tratado sobre a Tolerância.
Resumindo, ser tolerante é aceitar que todos somos iguais no direito que temos à diferença. Se sou tolerante, posso não concordar com as ideologias políticas ou religiosas do outro, mas aceito que ele tenha as suas próprias convicções, diferentes das minhas.
Necessário se torna também distinguir o tolerável do intolerável, pois não pode haver lugar para a tolerância em situações que consideramos demasiado “erradas” porque são extremamente prejudiciais. A título de exemplo, não pode haver tolerância possível para a violência exercida sobre mulheres, crianças e outros, para o roubo, para o homicídio…
No mundo de hoje, exemplos como o KKK e os terroristas demonstram que o racismo e a xenofobia não são assuntos ultrapassados. O KKK apela à não coexistência de pessoas de raça branca com pessoas de raça negra na América, lutando pela expulsão destes últimos. Os terroristas matam aqueles que consideram infiéis, ou seja, que têm outra religião ou que acreditam noutro Deus, pelo menos, é essa a razão que apontam para os seus atos cruéis e inaceitáveis.
A conceção destes grupos de que ser diferente ou ter outro tipo de religião é condenável está totalmente errada. Todos nós somos iguais, todos nós temos a mesma origem, todos somos seres humanos. Se todos somos da mesma espécie, porque haveremos de discriminar um semelhante?
O racismo e a xenofobia não têm sentido, contudo, continuam a existir. Inúmeras pessoas defendiam e defendem, desde há muito, a sua erradicação, entre as quais o Papa Francisco e o falecido Martin Luther King, que disse: “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos.”. A própria construção da União Europeia se baseia no princípio da tolerância (art. 2º do Tratado da União Europeia[i]), apontando como traço comum aos seus membros a “sociedade caracterizada pel[a] (…) tolerância…”.
No entanto, estas mensagens ainda não foram devidamente assimiladas e aceites por todos, o que diariamente comprovamos em situações do nosso quotidiano ou através das notícias divulgadas pelos Media.
Cada um tem direito à sua cultura. É injusto discriminar um indivíduo simplesmente porque este tem uma diferente ideologia, religião ou cultura. É sobretudo uma questão de liberdade, da liberdade que cada um de nós deve ter de pensar e de acreditar, sem que sejamos forçados, portanto, a partilhar as mesmas ideologias e crenças, como se fôssemos seres não-pensantes.
Concluindo, a conceção de um mundo cem por cento tolerante está ainda muito longe de ser realizada e gosto de pensar que não é simplesmente uma utopia. Com o esforço de cada um, passo a passo, talvez consigamos chegar cada vez mais próximo dessa realidade.
Diogo Lotra Ribeiro, nº8, 11ºA





[i] Artigo 2ª
A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.




Ainda o Dia Mundial da Filosofia 2016




“Nem tudo o que a lei permite se nos deve impor, e há coisas que a lei não impõe, mas que se nos devem impor.”



Na nossa escola este dia foi assinalado também com a realização de uma palestra sobre Ética, pelo Professor Bagão Félix, a que assistiram cerca de 250 alunos de Filosofia. A iniciativa foi do Rotary Club de Torres Vedras com quem estabelecemos uma parceria. O pequeno texto em epígrafe foi o selecionado para o nosso cartaz de divulgação. 
Embora não soubessemos nada de específico acerca da comunicação a ser apresentada, a Ética é um tema transversal e admitimos que nos iríamos confrontar com um discurso argumentativo bem sustentado e persuasivo que teria eco nos nossos alunos e que, não só poderia contribuir para a dinâmica das aulas, como também para a sua formação enquanto cidadãos e enquanto pessoas. Para além disso, consideramos que o dia Mundial da Filosofia deve ser celebrado por todos quantos a respeitam e por todos quantos atribuem valor ao ato de pensar criticamente. Foi também por isso que considerámos, em certa medida, a participação nesta palestra como desafiante. A participação dos nossos alunos teve como maior fito permitir que se confrontassem com um pensamento coerente e racionalmente sustentado, que se dessem conta de como os conteúdos que aprendem na filosofia são instrumentos preciosos para entenderem melhor o mundo em que vivem e que ouvir os outros não significa ter de concordar com eles. Quando nos confrontamos com um pensamento sustentado, quando nos confrontamos com uma tese e com argumentos fortes, não somos, por isso, obrigados a concordar. O importante é ser capaz de pensar com... é ser capaz de pensar em conjunto sobre assuntos que nos interessam. Neste sentido, parece-nos que aquela hora e meia foi bem aproveitada e, se a tese do autor se escapou um pouco por entre as referência informativas, os muitos conceitos utilizados, os momentos humorísticos que todo o bom comunicador utiliza, a riqueza da comunicação já foi um bom ponto de partida para o diálogo filosófico nas aulas!!
      

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

PARABÉNS, ARISTÓTELES! (1)


A UNESCO considerou o ano de 2016 como o ano de Aristóteles, comemorando os seus 2400 anos!!

Alguns dados biográficos:
Nascido no século IV a. C., em 350 a. C. em Estagira, no reino da Macedónia, Aristóteles chega a Atenas com apenas 17 anos para frequentar a escola de Platão, a Academia. Aí esteve durante 20 anos. Depois de algumas atribulações e de ter tido a importante responsabilidade da educação de Alexandre da Macedónia, o futuro Alexandre Magno, Aristóteles retorna a Atenas e funda a sua escola, o Liceu.

Academia... Liceu, onde é que já ouvimos estes termos? Sim, sim, são bastante familiares! Há uns anos atrás, aliás, algumas das escolas hoje denominadas "secundárias" eram denominadas liceus, nome que deriva diretamente da escola aristotélica. A Escola Secundária de Madeira Torres, por exemplo, é a herdeira de um antigo liceu. Aristóteles, os gregos, eles estão por todo o lado!!!

«A Academia e o Liceu são tradicionalmente considerados (...) como dois pólos opostos. De acordo com esta tradição, Platão era idealista, utópico e voltado para o outro mundo; Aristóteles, pelo contrário, era realista, utilitarista e adepto do senso comum. Assim, na Escola de Atenas de Rafael, Platão, envergando as cores dos elementos voláteis, (ar e fogo), aponta na direção do céu; Aristóteles, vestindo o azul da água e o verde da terra, finca firmemente os pés no chão. "Todo o homem é um platónico ou um aristotélico nato" afirmou S. T. Coleridge. "São essas as duas categorias de homens, para lá das quais é quase impossível conceber uma terceira."»
Kenny, A. (1999) História Concisa da Filosofia Ocidental, Temas &Debates, Lisboa. p. 87

Muito bem!!! Quanto a mim, depende. Umas vezes sinto-me platónica, outras aristotélica.
Vamos deixar este desafio no ar: onde estão os platónicos e os aristotélicos???


E para distrair um pouco, vamos começar por imaginar o  rosto, a figura, de Aristóteles, tal como fez Rafael, o grande pintor renascentista (Itália, 1483-1520) na sua Escola de Atenas.



Escola de Atenas (pormenor)

E na companhia de quem??? De Platão, está claro! 


No centro de um conjunto de outros filósofos gregos


DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA - UM POUCO DE HISTÓRIA


DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Desde a sua inauguração enquanto Dia da Filosofia na UNESCO em 2002 e particularmente desde a sua institucionalização em 2005 como Dia Mundial da Filosofia, esta celebração da filosofia inspirou muito entusiasmo. Criada com o fim de aproximar a filosofia de todos, professores, estudantes, assim como o grande público em geral, todos mostraram um grande interesse por esta atividade que oferece novas oportunidades e um espaço para a reflexão crítica e o debate.
A Filosofia na UNESCO: passado e presente
Desde a sua fundação, a UNESCO recorreu à filosofia para preparar os ideais que inspiram a sua constituição. Ideais eles próprios saídos da renovação da tradição filosófica.
Em 1942, quando o resultado da segunda guerra mundial estava ainda longe de ser certo, os ministros aliados da Educação reuniram-se a fim de fundar uma organização que, por meios morais e intelectuais, pudesse ajudar a construir um mundo liberto do ódio, do fanatismo e do obscurantismo.
Aquando da primeira conferência da nova Organização (Londres, 1945), Léon Blum, o seu vice-presidente, fez notar que a guerra era essencialmente «ideológica», e mostrou como a educação, a cultura e a ciência se podiam virar contra os interesses comuns da humanidade. O seu desenvolvimento e o seu aperfeiçoamento já não eram suficientes: elas deviam seguir no sentido da «ideologia» da democracia e do progresso, que é a condição lógica, o fundamento psicológico da paz e da solidariedade internacionais.
O preâmbulo da constituição da UNESCO, adotado a 16 de Novembro de 1945, reafirmava que «a negação dos princípios da dignidade, da igualdade e do respeito mútuo dos homens, tinha tornado possível a guerra», mas imputava a responsabilidade do conflito à ignorância e aos preconceitos, e não à deliquescência da educação, da cultura e da ciência.
Como é que, desde então, o libelo da primeira cláusula do Preâmbulo «As guerras nascem no espírito dos homens, é no espírito dos homens que devem ser criadas as defesas da paz», deve ser compreendido?
O meio de aí chegar e de desenvolver os contactos e as trocas de tal modo que progridam o conhecimento e a compreensão mútuas, pois o conhecimento favorece a compreensão, e abre a via à solidariedade moral e intelectual da espécie humana, que é a única garantia para uma paz durável e autêntica.
Aí se encontra talvez o espírito utópico que inspirou os fundadores da UNESCO.
Uma tarefa moral e política
O estado da filosofia exigia uma ação efetiva da UNESCO. A guerra interrompeu os contactos entre os filósofos dos diferentes países; as universidades e os seus estudantes tinham-se encontrado frente ao vazio; as publicações tinham cessado de circular.
E, sobretudo, os conceitos filosóficos tinham sido desviados e recuperados para fins de propaganda pelos estados totalitários; mesmo no seio das nações democráticas, os princípios da dignidade humana tinham sido relegados para segundo plano, erradicados pela necessidade de eficácia.
Por consequência, a UNESCO esforça-se por propagar, por pôr em prática, e mesmo por popularizar uma cultura filosófica internacional, na suposição de reforçar o respeito da pessoa humana, o amor da paz, o ódio ao nacionalismo estreito e ao reino da força, a solidariedade e a ligação a um ideal de cultura.
A UNESCO fixou como fim tornar acessível a todos os valores da sua filosofia moral e política, mas também favorecer o progresso dos estudos filosóficos enquanto tais. Os seus dois objetivos são então:
·        Implementar instrumentos intelectuais ao serviço da educação internacional das nações
·        Colocar a Filosofia ao serviço da educação internacional das nações.
Para os fundadores da UNESCO, a filosofia não se reduz ao domínio especulativo da pura metafísica, à ética normativa e teórica e à psicologia individual: ela estende-se às fronteiras não somente do conhecimento humano, mas também de toda a atividade humana.
O seu alcance é então análogo ao da UNESCO. A ação da UNESCO consiste então em:
·        Encorajar os estudos internacionais de filosofia […].
·        Assegurar-se que a filosofia desempenha um papel no despertar da opinião pública, aprofundando os conceitos que estão na raiz dos direitos humanos  - particularmente os direitos do indivíduo no mundo moderno; estudando o estado presente da civilização e as incertezas da consciência moderna, e certamente as soluções que se podem obter […].

«La philosophie à l’UNESCO», consultado em http://portal.unesco.org a 16 de Outubro 2009, tradução do francês da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres, Torres Vedras. A 21 de outubro, 2016, acesso parcial em http://www.unesco.org/new/fr/social-and-human-sciences/themes/most-programme/humanities-and-philosophy/philosophy-at-unesco-past-and-present/

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2016

Dia Mundial da Filosofia 2016
Mensagem de Irina Bokova, Diretora Geral da UNESCO

"  ...a filosofia é mais do que uma disciplina académica ou universitária – é uma prática quotidiana que ajuda a viver melhor, e mais humanamente."

Este ano celebramos o Dia Mundial da Filosofia no dia seguinte ao Dia Internacional da tolerância. Esta coincidência é profundamente significativa de tal modo a tolerância e a filosofia estão ligadas. A filosofia alimenta-se do respeito, da escuta e da compreensão da diversidade de opiniões, das reflexões e das culturas que enriquecem o nosso modo de estar no mundo. Tal como a tolerância, a filosofia é uma arte de viver em conjunto, no respeito por direitos e por valores comuns. A filosofia é uma capacidade de ver o mundo através de um olhar crítico, informado pelo olhar dos outros, fortificado pela liberdade de pensamento, de consciência e de crença.                

Por todas estas razões, a filosofia é mais do que uma disciplina académica ou universitária – é uma prática quotidiana que ajuda a viver melhor, e mais humanamente. A interrogação filosófica, desde as idades mais jovens, aprende-se e aperfeiçoa-se, como uma chave essencial para animar o debate público e defender o humanismo, tão maltratado pela violência e tensões do mundo. Ela não oferece nenhuma solução pronta a usar, mas uma busca perpétua para interrogar o mundo e tentar encontrar nele o nosso lugar. Neste caminho, a tolerância é ao mesmo tempo uma virtude moral  e um instrumento prático de diálogo. Ela não tem nada a ver com o relativismo ingénuo que pretende que tudo se equivale: é uma exigência individual de escuta, tanto mais forte quanto se funda num compromisso resoluto em defender os princípios universais da dignidade e da liberdade.
A UNESCO celebra este ano os aniversários de dois eminentes filósofos, Aristóteles e Leibniz, que contribuíram para o desenvolvimento da metafísica e da ciência, da lógica e da ética. Eles tiveram em comum, com alguns séculos de distância e em contextos culturais muito diferentes, o ter colocado a filosofia no coração da vida pública, como o elemento central de uma vida digna e livre. Pela nossa parte celebramos este espírito, ousamos abrir espaços para o pensamento livre, aberto e tolerante. Na base deste diálogo, podemos construir uma cooperação muito forte entre os cidadãos, as sociedades e os estados, como fundamento durável da paz.

Irina Bokova
Directrice générale de l'UNESCO

 Retirado de http://www.unesco.org/new/fr/unesco/events/prizes-and-celebrations/celebrations/international-days/world-philosophy-day-2016/, acesso em 16 novembro 2016. Tradução do original francês da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres