quinta-feira, 23 de abril de 2020

Isto é arte

Sim, é arte. Refiro-me a um filme de animação, uma curta-metragem da autoria de Suzie Templeton intitulada "Pedro e o Lobo", que recorre às mais avançadas técnicas digitais. A autora é uma realizadora conceituada e este filme ganhou vários prémios, incluindo o Óscar de Melhor Curta-Metragem (animação) em 2008.

Esta obra é uma nova versão, uma recriação da obra musical do compositor russo Serguei Prokofiev (1891-1953), de 1936. Nesta reinterpretação os caçadores não matam o lobo, como acontecia no original russo, e Pedro devolve-o à floresta, ao seu habitat natural, revelando-se, assim, uma nova consciência ambiental. O filme de Suzie Templeton foi estreado no Royal Albert Hall em Londres e teve a banda sonora executada, ao vivo, pela Philharmonia Orchestra de Londres. É um filme de animação comovente, de extraordinária beleza e expressividade. A técnica fílmica é utilizada de modo perfeito, com planos e movimentos de câmara que conferem uma gama de emoções e de dramaticidade às cenas, acompanhando a música e a história, que envolve completamente o espectador.

Antes de visionar o filme, talvez seja bom ver esta introdução aos instrumentos utilizados na composição musical e à sua relação com as personagens da história. Existe também uma adaptação dos estúdios Disney, em 1946, que tem uma primeira parte onde isso é explicado. Pode ser visto aqui, dobrado em português do Brasil.









quarta-feira, 22 de abril de 2020

O que é a arte? (2)

O que é a arte? Esse é um problema filosófico para o qual não há uma resposta, mas mais do que uma. Há várias teorias que procuram entender o fenómeno da criação artística e das obras de arte. Porém, antes de abordarmos as teorias, os argumentos que as sustentam e as objeções que suscitam, convém percebermos de que estamos a falar. Esta publicação é introdutória às teorias da arte. 

Diz-se das obras de arte, das grande obras de arte, que atravessam o tempo. Quer dizer, elas continuam a ser apreciadas independentemente da época em que foram originalmente criadas. E ser apreciadas, porquê? Porque é que não caem no esquecimento, não desaparecem? Precisamente porque o público que as recebe, embora tenha uma vivência histórica e cultural diferente, pode ser sensível a essa obra. 
Também acontece com estas obras de arte, denominadas  por isso "clássicas", suscitarem recriações. Quer dizer, os artistas de hoje trabalham a partir delas e, com os meios atuais, fazem ressaltar um significado que ilumina o nosso presente. Por exemplo, há peças de teatro escritas no século V a.C., da época dos sofistas e de Sócrates, que continuam ainda hoje a ser representadas. E não continuam a ser representadas por serem antigas (a antiguidade não é, por si só, nenhum valor) mas porque elas ainda continuam a lançar-nos interrogações e a ajudar-nos a compreender melhor o mundo. Milhares de anos após, centenas de anos após, somos ainda seres humanos com inquietações idênticas. 
Shakespeare, por exemplo, dramaturgo inglês dos séculos XVI-XVII, já mais perto do nosso tempo mas, ainda assim, bem distante, continua a ser representado por todo o mundo e, nomeadamente, o seu Romeu e Julieta já deu lugar também, não só a várias representações teatrais, como a obras de pintura, a obras musicais, a bailado, a cinema (a sétima arte) e, ainda há bem pouco tempo, quer dizer, nos finais do século XX, em 1996, a uma nova adaptação cinematográfica por Luhrmann, com Leonardo di Caprio num dos principais papéis.
Concluindo, estamos rodeados de arte, estamos imersos na história e nem damos por isso. 



O filme, a quem puder interessar, pode ser visto aqui.
https://YouTube/watch?v=WhT7YKeJ2iY

TAREFAS
1. Como é que definiria "arte"?
2. Porque é que o cinema é considerado a sétima arte?
3. O que é que faz que haja obras que são pouco conhecidas e que haja outras que são conhecidas praticamente por todos? Identifica vários fatores.



O que é a arte? O que pode ser classificado como arte?(1)

Há obras de arte que não suscitam qualquer dúvida quanto ao seu estatuto. Outras, não tanto.

Sugestão para uma atividade.

1. Olhe para as imagens seguintes. 
1.1. Escolha uma destas opções para cada uma delas.

A) É Arte. Estou seguro.
B) Não é arte.
C) Sei que é arte, mas não sei porquê.
D) Tenho dúvidas.

1.2. Justifique a sua opção relativamente a, no máximo, DUAS delas.


Imagem 1 
Leonardo da Vinci (1452-1519), "Mona Lisa". pintura, no Museu do Louvre


Imagem 2


A Vénus de Milo, atualmente no Museu do Louvre, foi descoberta em 1820, na ilha grega de Milos, no centro das Cíclades. Calcula-se que tenha sido esculpida em 100 A.C.O


Imagem 3


Graça Morais (1948), A Caminhada do Medo (2011) pintura
(imagem retirada de http://gracamorais.blogspot.com/2011/10/graca-morais-2011-caminhada-do-medo.html)


Imagem 4


Helena Almeida (1934-2018) da série "O abraço" (2006). fotografia


Imagem 5


Marina Abramovic (1946), AAA-AAA (1978) performance.
Em AAA-AAA, Marina e Ulay gritam um com o outro durante 25 minutos. Esta performance aconteceu em Amesterdão em 1978 e foi gravada em filme. 

Informação retirada do suplemento Ípsilon do jornal Público de 2 de março de 2020. 
Imagem 6



Marcel Duchamp (1887-1968), "Fonte" (2017), porcelana

Imagem 7

Edward Munch (1863-1944), da série "O grito" (1893)

Imagem 8



J. Vermeer (1632-1675), Rapariga com brinco de pérola, pintura.


Imagem 9

Paul Cézanne( 1839- 1906), Lago de Annecy (1896), pintura
Imagem 10


Frida Kahlo (1907-1954) " A Coluna Partida"(1944), pintura.

domingo, 19 de abril de 2020

A exposição de Ai Weiwein faz dele "o artista mais popular do mundo" (2)

De 2 de outubro a 2 de novembro, de 2019, a Galeria Lissen, em Londres, apresentou uma grande exposição de Ai Weiwein, com o título "Raízes", após uma primeira mostra no Brasil, em S. Paulo. É possível ver aqui, no site oficial, um video representativo:
https://www.lissongallery.com/exhibitions/ai-weiwei-roots (consulta a 18 de abril de 2020)



No jornal Público, pouco tempo depois, a 14 de novembro de 2019, é publicado um artigo de Francisco Bettencourt sobre esta exposição e sobre o autor.

«Raízes de árvores encontradas na costa brasileira, tratadas, moldadas, ligadas e cobertas por ferro fundido de maneira a criar enormes esculturas de quatro a seis metros por dois ou três, sólidas e pontiagudas, espetros da floresta com formas surpreendentes, de cor castanha alaranjada, obtida através da patina ferrugenta.»

Nesse mesmo jornal, precisamente este mês, a 1 de abril, no título apelativo do artigo de Lucinda Canelas, Ai Weiwein é apelidado "o artista mais popular do mundo", de acordo com o critério das exposições mais vistas de um artista, a título individual.

«Esta mostra, que inclui as suas esculturas feitas a partir das raízes de uma árvore protegida da floresta atlântica brasileira, a pequi-vinagreiro, foi vista por mais de 1,1 milhões de pessoas no total dos quatro locais e terá registado tão grande afluência, avança como hipótese o Art Newspaper, porque, quando estava no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio (onde teve 600 mil visitantes), coincidiu com os grandes fogos na Amazónia, que comoveram o mundo e colocaram a tónica na protecção do meio ambiente


Retomamos o artigo de F.  Bettencourt:

«A obra de Weiwei, um dos maiores artistas contemporâneos, é feita na constante reflexão sobre a matéria. Para esta exposição ele visitou a costa do Brasil, trabalhou com comunidades e artesãos locais, selecionou raízes das árvores Pequi Vinagreiro em risco de extinção em Trancoso, Bahia. O protesto em relação ao nosso desenraizamento é patente, conjugado com a profunda simpatia pela sorte dos refugiados e a denúncia da constante agressão contra a floresta e os seus habitantes.»



«A sua própria condição de refugiado – Weiwei não tem passaporte da China, foi detido várias vezes pelo seu governo, tem um estúdio em Berlim e vive agora em Cambridge – está presente nesta tomada de posição pela recuperação da relação crucial entre os humanos e a natureza de que todos dependemos». Neste artigo, Ai Weiwei é classificado como artista concetual.

Nota: Os artigos do jornal Público a fazemos referência podem ser consultados em: https://www.publico.pt/2019/11/14/culturaipsilon/opiniao/ai-weiwei-1893095 e em

sábado, 18 de abril de 2020

O artista Ai Weiwei e a arte "efémera"



A arte denominada "efémera" não é feita para perdurar no tempo. A arte efémera surge no século XX e nega a ideia tradicional de arte associada a um objeto que se cristaliza e perdura temporalmente. Por exemplo, um quadro, uma escultura, um romance podem ser considerados obras de arte perduráveis. A arte efémera não visa a produção de um "objeto" propriamente dito, sendo os seus materiais destinados a serem destruídos ou a desaparecerem. Ao mesmo tempo ela supõe a presença do público. Ela não apela à contemplação, mas à ação. O público neste género de obra é sempre desafiado a envolver-se, sob formas que podem ser, no entanto, muito diversas.

Escolhemos neste post um artista chinês contemporâneo, Ai Weiwei, artista reconhecido de projeção internacional. Ai Weiwei teve problemas no seu país natal, tendo sido preso em 2011 e conseguindo sair do país em 2015. 

Um dos grandes temas do seu trabalho artístico é o da crise dos refugiados na Europa e no mundo. A esse propósito, realizou uma instalação em 2016 na fachada de uma sala de concertos, em Berlim, na Alemanha.



Instalação de Ai Weiwei em frente da Konzerthaus em Berlim, via Getty Images.
Idem, visão lateral.


Idem. Visão lateral.


Pormenor da construção


Coluna, visão de pormenor

Consegue perceber o que cobre as colunas deste prestigiado edifício de Berlim?


Sim, são coletes. Mas não são quaisquer coletes. São coletes de homens, mulheres e crianças que atravessaram o mar em pequenos botes a abarrotar fugindo da guerra, da fome, do sofrimento. Fugindo para uma Europa que lhes aparecia como uma esperança, como possibilidade de terem uma vida digna. Os que chegam, sim, os que chegam, porque morrem milhares nesta travessia, chegam a uma Europa que os afasta, os cataloga de refugiados, sem pátria, sem nome próprio, sem direitos. Sim, são os seus coletes. São os coletes que vestiram, que se molharam, que lhes salvaram a vida ou que com eles morreram. 

São 14 000, catorze mil, coletes.
É a esta realidade humana que Ai Weiwei pretende dar visibilidade.

ATIVIDADE
1. O que lhe parece que representa cada colete?
2. Porque é que o artista teria escolhido este edifício?
3. O que sentes perante esta obra (ainda que apenas em fotos parcelares)?
4. Esta instalação faz-nos (a nós, o público) refletir?
5. Porque é que se pode classificar esta instalação uma obra de arte? Justifica, recorrendo a uma das teorias estudadas.
 

quinta-feira, 16 de abril de 2020

A cientista Maria de Sousa e o método científico (1)


Normalmente, ouvimos falar de filósofos e de cientistas em masculino. Amiúde, os alunos perguntam se não há, ou não houve, mulheres filósofas. Lá dou uma explicação mais ou menos histórica sobre o papel tradicionalmente atribuído à mulher e alguns exemplos para contrariar. A matemática e filósofa Hipátia de Alexandria, século IV, surge à cabeça e, no final, com ênfase, Hanna Arendt, que tem, aliás, neste blogue alguns posts que lhe são dedicados.
Hoje é a vez de nos determos em Maria de Sousa, reconhecida cientista portuguesa que a circunstância atual trouxe para os media.
Maria de Sousa nasceu no Porto, em 1939 e faleceu no dia 14 de abril de 2020, vítima do coronavírus (SARS-COV-2), vítima da doença Covide-19. Pouco antes tinha-se pronunciado sobre este vírus contra o qual o nosso sistema imunológico não nos consegue proteger. Ora, a Imunologia foi precisamente a área da ciência na qual Maria de Sousa se destacou. Sabia bem do que falava.

Foto de Maria de Sousa de 2014, retirada do Jornal Público de 14 de abril 2020. 

MARIA DE SOUSA E A FILOSOFIA DA CIÊNCIA

Vamos agora fazer uma ligação com os conteúdos lecionados na disciplina de Filosofia, a fim de tornar a aprendizagem mais significativa,. Assim, começamos por apresentar excertos da notícia de dia 14 de abril de 2020, do jornal Público, "Maria de Sousa (1939-2020), uma vida sem muros" e fazemos, seguidamente, algumas perguntas para os nossos alunos responderem. Esperemos que aceitem o desafio.

«Até 1964, pensava-se que todos os tipos de linfócitos – células do sistema imunitário fundamentais no combate a doenças e infecções – vinham do timo, uma glândula situada no peito, entre o esterno e o coração. Pensava-se ainda que, depois do nosso nascimento, os linfócitos migravam do timo e iam proliferar e amadurecer nos órgãos linfáticos periféricos, como os gânglios linfáticos e o baço. Maria de Sousa percebeu que não era bem assim.»

TAREFAS
1- Imagine qual a pergunta que Maria de Sousa poderia ter formulado para desencadear a sua investigação?
2- O modo como é apresentado o processo científico neste excerto está de acordo com a perspetiva positivista do método da ciência ou com a perspetiva de Popper? Justifique a resposta.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Os pinguins não são bons a Lógica

Desafio Lógico 
(A imagem foi-nos dada pela colega de Inglês do 11ºA)

Porque é que os pinguins não são bons em Lógica? Qual o problema deste argumento?
Antes disso, como se classifica este argumento? É dedutivo ou não dedutivo?
As premissas são verdadeiras?
A conclusão é verdadeira?
O que se pode, então, a partir da resposta às 3 últimas questões, dizer acerca deste argumento?



E quem não souber responder a nenhuma das perguntas anteriores, fique a saber que é pinguim.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Descartes e o Consumismo

Assumindo o papel de um orador persuasivo, o R.M., do 11º A, apresentou-nos este texto bem original, no qual articula conteúdos trabalhados nas disciplinas de Filosofia e de Inglês.



Da Dúvida de Descartes ao consumismo

Se me pedissem para caracterizar as duas últimas décadas da humanidade em uma palavra, eu diria consumismo.
 O consumismo está em todo o lado nas nossas vidas; desde os anúncios que somos obrigados a assistir na televisão, aos anúncios que aparecem nas diferentes plataformas digitais que utilizamos. Mas se pensas que o consumismo se resume a isto estás enganado. O consumismo pode ser designado por aqueles pares de ténis que compraste no natal passado, dos quais não precisavas pois já tinhas vinte pares de ténis em casa, mas mesmo assim compraste por capricho. Ou até mesmo aquele bolo que compraste no café, que apesar não teres fome naquela altura, compraste pois tinhas aquele desejo incontrolável de sacarose a ecoar-te na cabeça.
A este ponto acho que já entendeste que o consumismo está relacionado com a compra de algo. Então tens aqui uma definição de consumismo para te orientares: Consumismo é "o  ato de consumir produtos ou serviços, muitas vezes, sem consciência." Se mesmo assim não entendeste o que é o consumismo dou-te aqui uma definição informal: o Consumismo é quando compras algo, sendo um produto ou um serviço, sem teres a necessidade de o comprar, ou seja podias viver perfeitamente bem sem aquilo que adquiriste.
 Agora deves estar a pensar, pelo menos era suposto, mas Rafa o que tem a ver o Consumismo com a Dúvida de Descartes? E no que ela consiste?
Bem, a Dúvida de Descartes é um tipo de Ceticismo chamado de Ceticismo metódico. Antes que perguntes, ser cético, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é não acreditar em algo. Mas sim, suspender a sua opinião sobre todos temas, pois os céticos não sabem se a sua opinião é correta, então para não caírem em erro não emitem nenhuma opinião.
 O Ceticismo defende a possibilidade, ainda que seja pequena, de o mundo ser uma grande ilusão, se já tiveres assistido o filme “Matrix” é mais fácil entenderes isto, pois estes dois têm as suas semelhanças. Assim, não podemos dizer que temos a certeza de nada, pois não sabemos o que é real ou não, assim penso que fica mais fácil de perceber a posição dos céticos.
 Descartes era um filosofo francês que discordava da posição dos Céticos. Para se opor aos céticos este pensou, “para combatê-los tenho que utilizar as suas armas”, provavelmente não assim, mas a ideia era essa. Então Descartes criou o seu próprio Ceticismo.  Este consistia em descartar todo o conhecimento que ele pensava ter, e ir a partir de uma análise intensiva apurar os factos sobre o mundo que o rodeava.
 A dúvida de Descartes é muito mais extensa que isto, mas penso que agora esta é a parte fundamental para associá-la ao consumismo.
  Mas afinal o que é que a dúvida de Descartes tem a ver com o Consumismo? À primeira vista pode parecer que não existe nenhuma semelhança, mas se analisarmos cuidadosamente ambos os casos iremos ver que têm algumas parecenças.
 Como podemos nós afirmar que somos ou não consumistas? Poderemos apurar os factos como Descartes o fez. Se analisares detalhadamente as coisas que tens em casa, facilmente irás concluir se fazes parte desta doença coletiva que é o consumismo, ou não.  O procedimento é simples, vês se as coisas que tens em casa são realmente necessárias para o teu dia-a-dia ou se apenas estão lá a “apanhar pó”. Caso a tua resposta seja positiva, parabéns, fazes parte das poucas pessoas da população mundial que não foram infetadas por esta doença maligna, caso a tua resposta não tenha sido esta, lembra-te, nunca é tarde para mudares.
 Mas ainda podemos associar a Dúvida de Descartes a mais um ponto do consumismo. Todos os dias como já referi somos “bombardeados” com anúncios. E de que forma as pessoas são influenciadas pelos anúncios? Bom, como já deves saber cada marca estuda meticulosamente os anúncios que produz, para influenciarem ao máximo as pessoas a comprarem os seus produtos/serviços. Mas mais uma vez podemos interrogar-nos se somos ou não influenciados por eles. Claro que a maior parte das pessoas irá logo dizer que não é influenciado, devido ao seu ego. Porém devemos pôr o nosso orgulho à parte e analisar friamente, como mais uma vez Descartes o fez, o quão influenciados por anúncios somos.
 O primeiro sintoma é se após visualizares um anúncio ficas com vontade de comprar aquele produto/serviço.
O segundo sinal é se emites alguma emoção sobre anúncio como por exemplo, se o achaste engraçado ou se te surpreendeste com ele. Pois os anúncios são mesmos estruturados para isso, para despertarem alguma emoção a quem os assiste, com a finalidade de te ficarem na cabeça para te estares sempre a lembrar de tal produto/serviço. Existem muitos mais sinais como estes, que seguem a mesma linha de raciocínio.
Para concluir o meu texto, espero que da próxima vez que vejas um anúncio ou que vás às compras, te lembres do que aqui foi referido para te tornares uma pessoa mais consciente dos seus atos e assim evoluíres como ser pensante. Obrigado por teres lido o meu texto e espero que tenhas aprendido alguma coisa com ele.

Dia Mundial da Filosofia 2019 - Textos de filósofos (7)


Michael SandelFilósofo norte-americano (n. 1953)




Vivemos numa época em que quase tudo pode ser comprado e vendido. Ao longo das últimas três décadas, os mercados – e os valores de mercado – têm regido as nossas vidas de uma forma nunca antes vista. E não chegámos a esta situação devido a uma escolha deliberada. Foi quase como se nos tivesse caído em cima. (…) Hoje a lógica de compra e venda já não se aplica apenas a bens materiais, mas domina cada vez mais todos os aspetos da vida. Está na altura de nos perguntarmos se queremos viver desta forma. (…)
O grande debate ausente da política contemporânea tem que ver com o papel e o alcance dos mercados. Queremos uma economia de mercado ou uma sociedade de mercado? Que papel devem ter os mercados na vida pública e nas relações pessoais? Como podemos decidir que bens devem ser comprados e vendidos e quais devem ser regidos por valores não mercantis? Que domínios da vida o imperativo do dinheiro não deve reger? (…)
Um debate sobre os limites morais dos mercados torna estas questões incontornáveis. Requer que raciocinemos juntos, na esfera pública, sobre a forma de valorizar os bens sociais que prezamos. (…)
E assim, chegados ao final, a questão dos mercados é, na verdade, uma questão sobre a forma como queremos viver juntos. Queremos uma sociedade onde tudo está à venda? Ou existirão determinados bens morais e cívicos que os mercados não honram nem respeitam e que o dinheiro não pode comprar?

SANDEL, Michael J. (2015). O que o dinheiro não pode comprar. Lisboa: Editorial Presença (obra originalmente publicada em 2012)

NOTA – Michael Sandel esteve em Portugal, a convite da Fundação Manuel dos Santos, a 1 de Junho de 2019, numa Conferência sobre o tema Ética, Valores e Política, tal como noticiado no blogue do Grupo Disciplinar de Filosofia (consultar aqui: http://espacocriticonaescola.blogspot.com/search/label/M.%20Sandel )

terça-feira, 7 de abril de 2020

Dia Mundial da Filosofia 2019 - Textos de filósofos (6)


FERNANDO SAVATER

Filósofo espanhol (n. 1947)




Na verdade, o ensino implica sempre uma certa forma de coação, 

de luta de vontades. Nenhuma criança quer aprender aquilo que lhe 

dá trabalho e que lhe tira o precioso tempo que deseja dedicar às 

suas brincadeiras. (…)


À partida o objetivo explícito do ensino na modernidade consiste em obter indivíduos autenticamente livres. Mas como admitir sem receio ou sem escândalo que a via para conseguir ser livre e autónomo passa por uma série de coações instrutivas, por uma habituação a diversas formas de obediência? (…)

É o mestre, aquele que já sabe, quem firmemente acredita que o 

que ensina merece o esforço que custa aprendê-lo. Não se pode 

exigir à criança que anseie conhecer aquilo que nem sequer 

vislumbra, salvo por um ato de confiança nos mais velhos e de 

obediência face à sua autoridade. Espontaneamente não apreciará 

que lhe sejam impostos hábitos sociais como a higiene, a 

pontualidade, o respeito pelos mais fracos e outros que não 

concordam com os seus apetites. Kant indica que um dos primeiros 

e nada desdenháveis ganhos da escola é ensinar as crianças a 

permanecerem sentadas, coisa que na verdade nunca fazem muito 

tempo, por decisão própria, (…).



Será necessário recordar que não é possível nenhum processo educativo sem alguma "disciplina"? (…) Esta exigência obriga o neófito a manter-se atento ao saber que lhe é proporcionado e a cumprir os exercícios que a aprendizagem requer. (…) À escola vamos para aprender aquilo que não ensinam noutros lugares. (…) 

O propósito do ensino escolar é preparar as crianças para a vida adulta, não reconfimá-la nos seus prazeres infantis. E os adultos não jogam só; sobretudo esforçam-se e trabalham. E essas tarefas são dolorosas no princípio mas nem sempre são desagradáveis. (…)


SAVATER, Fernando (1997). O Valor de Educar. Lisboa: Editorial Presença.


domingo, 5 de abril de 2020

Dia Mundial da Filosofia 2019 - Textos de filósofos contemporâneos...(5)

Michael Sandel

Filósofo norte-americano (n. 1953)



        Vivemos numa época em que quase tudo pode ser comprado e vendido. Ao longo das últimas três décadas, os mercados – e os valores de mercado – têm regido as nossas vidas de uma forma nunca antes vista. E não chegámos a esta situação devido a uma escolha deliberada. Foi quase como se nos tivesse caído em cima. (…) Hoje a lógica de compra e venda já não se aplica apenas a bens materiais, mas domina cada vez mais todos os aspetos da vida. Está na altura de nos perguntarmos se queremos viver desta forma. (…)
   
     O grande debate ausente da política contemporânea tem que ver com o papel e o alcance dos mercados. Queremos uma economia de mercado ou uma sociedade de mercado? Que papel devem ter os mercados na vida pública e nas relações pessoais? Como podemos decidir que bens devem ser comprados e vendidos e quais devem ser regidos por valores não mercantis? Que domínios da vida o imperativo do dinheiro não deve reger? (…)
     
    Um debate sobre os limites morais dos mercados torna estas questões incontornáveis. Requer que raciocinemos juntos, na esfera pública, sobre a forma de valorizar os bens sociais que prezamos. (…)
      
      E assim, chegados ao final, a questão dos mercados é, na verdade, uma questão sobre a forma como queremos viver juntos. Queremos uma sociedade onde tudo está à venda? Ou existirão determinados bens morais e cívicos que os mercados não honram nem respeitam e que o dinheiro não pode comprar?

SANDEL, Michael J. (2015). O que o dinheiro não pode comprar. Lisboa: Editorial Presença (obra originalmente publicada em 2012)


NOTA – Michael Sandel esteve em Portugal, a convite da Fundação Manuel dos Santos, a 1 de Junho de 2019, numa Conferência sobre o tema Ética, Valores e Política, tal como noticiado no blogue do Grupo Disciplinar de Filosofia (consultar aqui: http://espacocriticonaescola.blogspot.com/search/label/M.%20Sandel )

Dia Mundial da Filosofia 2019 - textos de filósofos contemporâneos...(4)

MARTHA NUSSBAUM

Filósofa norte-americana (n. 1947)





Atravessamos uma crise de dimensões gigantescas e de profundo significado global. Não, não me refiro à crise económica global que teve início em 2008. Pelo menos, nessa altura, toda a gente sabia que a crise estava presente e muitos líderes mundiais agiram rápida e desesperadamente para encontrar soluções. (…)  Não, refiro-me a uma crise que em grande medida passa despercebida, como um cancro; uma crise que muito provavelmente será, a longo prazo, bastante mais prejudicial para o futuro dos governos democráticos: uma crise global na educação.
Atualmente, ocorrem mudanças radicais em relação ao que as sociedades democráticas ensinam aos mais novos, e estas mudanças não foram bem ponderadas. Obcecados pelo lucro nacional, os países, e os seus sistemas de educação, estão a descartar levianamente competências que são necessárias para manter as democracias vivas. Se esta tendência persistir, as nações de todo o mundo irão em breve produzir gerações de máquinas úteis, em vez de cidadãos completos que conseguem pensar por si próprios, criticar a tradição e compreender o significado dos sofrimentos e das conquistas dos outros. O futuro da democracia mundial permanece incerto.
Quais são estas mudanças radicais? As humanidades e as artes vêm sendo eliminadas, quer na educação primária e secundária quer no ensino superior, em praticamente todos os países do mundo. Consideradas pelos decisores políticos adereços inúteis, num tempo em que as nações têm de cortar todas as coisas supérfluas de modo a manter-se competitivas no mercado global, estão rapidamente a perder o seu lugar nos currículos e nas mentes e nos corações de pais e crianças. Na verdade, o aspeto imaginativo e criativo e os aspetos do pensamento crítico rigoroso – aquilo a que poderíamos chamar os aspetos humanistas da ciência e da ciência social – estão igualmente a perder espaço, à medida que os países preferem dedicar-se ao  lucro de curto prazo através do desenvolvimento das competências úteis e profundamente técnicas adequadas à geração do lucro.
Esta crise está diante de nós, mas ainda não a enfrentámos. Seguimos em frente como se nada se passasse, quando, na realidade, são notórias grandes alterações por toda a parte. Ainda não refletimos acerca destas alterações, nem sequer as escolhemos e, no entanto, elas limitam cada vez mais o nosso futuro.

NUSSBAUM, Martha (2019). Sem fins lucrativos: Porque Precisa a Democracia das Humanidades. Lisboa: Edições 70 (obra originalmente publicada em 2010).


Dia Mundial da Filosofia - textos de filósofos contemporâneos (3)


LEE McINTYRE

Filósofo norte-americano (n. 1962)



A negação da ciência existe há tanto tempo quanto a ciência. Olhe para trás para Giordano Bruno. Ou Galileu. A negação da ciência moderna começou verdadeiramente nos anos 50 nos Estados Unidos, quando as empresas de tabaco decidiram “combater a ciência”, que dizia que os cigarros causavam cancro do pulmão. Essas companhias contrataram uma empresa de relações públicas, compraram anúncios de página inteira em jornais americanos e abriram o próprio instituto de investigação. O objetivo delas era levantar dúvidas onde não havia, para que pudessem continuar a vender cigarros. Essa história está bem contada no maravilhoso livro de Naomi Oreskes e Erik Conway, “Merchants of Doubt”. Depois disso, todos os negadores da ciência tinham um plano para o sucesso. Seguiram a “estratégia do tabaco” de uma ponta à outra, através da negação da evolução, das chuvas ácidas, movimentos anti-vacinas e da negação das mudanças climáticas. Às vezes, isso acontece por motivos financeiros. Às vezes, é por causa da política. Mas tudo está relacionado à desinformação e às pessoas que beneficiam dela.

Entrevista ao Jornal Observador (excerto) publicada a 6/11/2019.

Dia Mundial da FIlosofia 2019 - textos de filósofos contemporâneos...(2)


Viriato Soromenho-MarquesFilósofo português (n. 1957)





O que aprendemos com a viagem à Lua e com os 60 anos de exploração espacial já decorridos? Que estamos sozinhos no Universo útil (aquele a que podemos aceder). Que as fantasias sobre vida extraterrestre, tanto das ficções de Hollywood, como dos grandes pensadores da Modernidade, não passam disso mesmo, fantasias. Contudo, se essas duas aprendizagens parecem as premissas de um silogismo, a verdade é que continuamos sem extrair a conclusão lógica e moralmente justa: temos de proteger a todo o custo a integridade ecológica da Terra, quanto mais não seja para salvarmos a própria pele!
Se deixarmos a Terra ser devastada, isso quebrará para sempre a crença no conceito de dignidade humana. Os que sobreviverem terão vergonha de pertencerem à espécie mais miserável que se poderia conceber. Aquela que, apesar de imbuída de uma centelha divina organizou sistematicamente a autodestruição deste maravilhoso mistério sem paralelo que é Terra. Terão a vergonha de pertencerem a uma lastimável linhagem de filhos do Céu que escolheram degradar-se para a condição de diabos de segunda categoria, transformando a Terra num inferno.


Excerto de «Duas Lições da Lua», Crónica publicada no JL em agosto de 2019

NOTA: Para além de autor de livros na área da Filosofia da Natureza e do Ambiente, destaca-se pela sua atividade na defesa do ambiente. Foi, nomeadamente, Vice-Presidente da rede europeia de conselhos de ambiente EEAC- European Environmental Advisory Councils (entre 2001 e 2006) e, em Fevereiro de 2007 e Dezembro de 2011, assumiu a coordenação científica do Programa Gulbenkian Ambiente, apenas para citar dois exemplos. (biografia consultada aqui: https://viriatosoromenho-marques.com/portal/biografia/)

Dia Mundial da Filosofia 2019 - Os textos dos filósofos contemporâneos que distribuímos pela nossa escola...(1)


José Gil

Filósofo português (n. 1939)

 A nossa inteligência manifesta-se na técnica e na ciência e na articulação tecnológica entre as duas. No entanto, é também uma das razões que se podem apontar entre as maiores calamidades que aconteceram ao homem. (…) Não esquecer que a técnica está também por detrás do Holocausto e dos campos de concentração alemães. Até o que fez Hiroxima e Nagasaki. Vivemos uma utilização sem limites da técnica e é esse uso, mesmo que a causa não esteja nela, que levou ao expoente máximo da exploração capitalista da nossa Terra e que poderá levar à nossa extinção. (…)  A técnica é neutra, mas tanto pode ser utilizada para o bem como para o mal. Outros dizem que não é neutra porque leva a uma análise cada vez mais profunda do que deveria ficar escondido e nesse sentido talvez a própria técnica não tenha limites mas uma vocação intrínseca de não parar.
(…)Há um facto muito simples, é que até agora em países muitos pequenos e específicos, como o nosso, o espaço público era dominado pelos media e pela televisão, mas as novas tecnologias tornaram possível a criação de um outro espaço público muito particular, diferente e que se torna o terreno propício para dar expressão a uma injustiça: «Eu, cidadão anónimo, desprezado pelo sistema e pela injustiça das políticas, posso manifestar-me aqui.» Mesmo que isto signifique que o ignaro mais incongruente possa manifestar a ignorância com agressividade nesse espaço público. E este é um fenómeno novo para as elites.
O que é uma fake new? É uma notícia que é produzida sem que haja critérios de verificabilidade da sua realidade porque eles foram abolidos. Mesmo que os haja, esses critérios deixaram de ter validade devido ao meio de fabricação das fake news, que provém de um meio populista onde não se pode analisar a falsidade sem se contextualizar numa relação de poder. Pode ter-se todas as provas que se quiser para demonstrar que é falso, mas o que Trump faz todos os dias, e sabe-se que não é verdade o que diz, vai ser absorvido pelo seu público sem os critérios de verificabilidade. É a potência carismática e a adesão ao líder que conta nas fake news.
Excerto da entrevista ao Jornal de Notícias, a 9 de janeiro, 2019. Disponível em https://www.dn.pt/1864/jose-gil-o-passado-esta-a-ser-engavetado-digitalizado-e-virtualizado-10396951.html. Consulta a 18 de novembro.
NOTA: José Gil foi considerado, em 2005, pelo semanário francês Le Nouvel Observateur, um dos 25 grandes pensadores do mundo.