quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Paradoxos, falácias e distrações





Este post surge motivado por um diálogo com o P. M., do 10ºA, em torno de alguns paradoxos que o tinham entusiasmado. Assim, começo por dar uma definição de paradoxo que ajude a compreender o seu significado. Em filosofia ( e não só) convém sempre saber do que estamos a falar. E definir "paradoxo" não é nada fácil!!! Recorro ao Dicionário de Filosofia de Simon Blackburn, que me parece conseguir uma definição bastante acessível:
                     " Um paradoxo surge quando um conjunto de premissas aparentemente indisputáveis dá origem a conclusões inaceitáveis ou contraditórias. A resolução de um paradoxo implica mostrar que há um erro escondido nas premissas, ou que o raciocínio é incorreto, ou que a conclusão aparentemente inaceitável pode, afinal, ser tolerada. Os paradoxos desempenham, portanto, um papel importante na filosofia, visto que a existência de um paradoxo não resolvido mostra que há algo nos nossos raciocínios ou nos nossos conceitos que não compreendemos."

Deste modo, os paradoxos são sempre um desafio para o pensamento. Provavelmente há algo que nos está a a escapar e exige investigação mais rigorosa e conhecimentos que ainda não possuímos. A resolução de um paradoxo representa sempre um avanço na nossa capacidade de análise da linguagem e do pensamento.

Exemplo de um dos mais célebres paradoxos:

Paradoxo do Mentiroso
Este paradoxo é atribuído a Epiménides, filósofo cretense do século VII a. C. Epiménides "terá dito que todos os cretenses são mentirosos. Se falou verdade, então o que ele disse é falso e vice-versa." "Há um certo número de paradoxos que pertencem à família do paradoxo do mentiroso. O exemplo mais simples é a frase «Esta frase é falsa», que tem de ser falsa se for verdadeira, e tem de ser verdadeira se for falsa."

O paradoxo do Pinóquio é uma forma de apresentar este paradoxo de uma forma divertida. Aliás, os paradoxos aparecem muitas vezes sob formas bem engraçadas!
retirado de https://pt.slideshare.net/Will_Ananias/aula03-lgica

No entanto, a resolução dos paradoxos tem pouco de engraçado e muito de trabalho, de análise lógica e matemática! Mas não compliquemos! Uma maneira de resolução do paradoxo do mentiroso é considerar que a frase "Esta frase é falsa" nada diz, por isso não pode ser classificada como verdadeira ou falsa, quer dizer, não tem valor de verdade. Vejamos se explico melhor. Quando digo "este cão é um animal" tenho como referente a realidade "cão" (na qual também não me incluo!!!!) e é em relação a esse referente que é possível classificar a proposição como verdadeira ou falsa. Esta análise não pode ser aplicada a "esta frase é falsa"!  

Pode acontecer que um paradoxo se revele, afinal, uma falácia, quer dizer, um argumento mal construído, inválido, mas com aparência de válido. No entanto, por norma, devemos distinguir os paradoxos das falácias. Os paradoxos envolvem uma contradição logicamente inaceitável e as falácias são argumentos inválidos com aparência de válidos. As falácias contêm violações de regras lógicas, mas que, frequentemente, não se detetam de imediato.

E para não nos deixarmos enganar facilmente convém também analisar o valor de verdade das premissas. É que se tomamos distraidamente como verdade uma premissa que o não é, mesmo raciocinando corretamente,  arriscamo-nos a ter de aceitar uma conclusão falsa!

Atentemos neste argumento que o P. M. nos trouxe:

Tudo o que é raro é caro
Tudo o que é bom e barato é raro
Logo, tudo o que é bom e barato é caro

Perante esta conclusão inaceitável, há uma pergunta que se impõe. Será que tudo o que é raro é caro? Tudo? Não há coisas raras que não sejam caras? É que basta haver uma para a proposição ser falsa! E, na verdade, há coisas raras que não são caras. Aliás, é o que enuncia a premissa menor! Portanto, não é possível aceitar  como verdadeiras simultaneamente a primeira e a segunda premissas! O argumento está logicamente bem construído, é válido, mas tem uma premissa falsa que, caso a aceitemos, compromete a verdade da conclusão. Surpreendidos com a conclusão? Sim, se aceitarmos como verdade aquilo que o não é. Acontece muitas vezes. Por isso é que a filosofia é tão importante! Ela ajuda-nos a estar mais atentos às palavras e aos seus significados! 




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