quinta-feira, 19 de julho de 2018

Ainda acerca de "Vozes e Ruídos", a palavra dada aos alunos (6)

Não podemos deixar de agradecer, de novo, a TODOS os alunos que com as suas perguntas, as suas dúvidas, o seu entusiasmo, tornaram o encontro com o Professor Daniel Sampaio um momento de grande envolvência, de manifestação de curiosidade intelectual e espírito crítico.

E terminamos esta viagem com um texto do S. O. que sai um pouco fora do expectável. Interessante, portanto....


Palmadinhas nas costas

    «Atualmente, quando ouço falar em adolescência, a primeira palavra que me vem à mente é facilidade, a facilidade que conseguimos as coisas sem qualquer esforço. Hoje em dia dão-nos muitas palmadinhas nas costas, andamos de olhos fechados todos os dias, mas de um momento para o outro quando atingimos a independência que tanto queríamos, ao mínimo obstáculo, caímos…
    Agora, erramos sem saber no que é que erramos, caímos sem saber onde caímos, é impossível levantar alguém que sempre viveu de olhos fechados e quando tentamos abrir os olhos não se vê nada. Voltamos a fechar os olhos e voltamos à casa dos nossos país onde viveremos até aos 40 talvez. Falta-nos viver um pouco do tempo dos nossos país e avós, onde aos 14 já se conduzia, aos 16 já se tomava conta de uma padaria sozinho e onde sempre se viveu de olhos abertos. Talvez por causa dessas vidas que os nossos país viveram é que eles nos tentam proteger a todo o custo, para que nós não vivamos o que eles viveram, mas na minha opinião um pouco dessas vivências não nos faziam mal nenhum até pelo contrário.
    Hoje temos brincadeiras estúpidas e tratamo-nos como se fôssemos objetos, vivemos para ter 100 likes numa foto, tiramos fotos com muitos monumentos e muitos países mas no fundo não aprendemos nada, foi só para dizer que tivemos lá. Somos um livro aberto para todas as pessoas eventualmente muitos de nós nem conhecem os seu amigos, vivemos num mundo de interesse onde o banco dos favores é o mais utilizado em todo o mundo...
...........................................................................»


   

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Ainda acerca de "Vozes e Ruídos", a palavra dada aos alunos (5)

Na continuidade de posts anteriores.
Até agora, os textos que publicámos dos nossos alunos têm um tema marcante, girando em torno de questões relativas ao uso das novas tecnologias. Os textos que publicamos a seguir saem deste quadro geral.


Se eu fosse o autor...


«O parágrafo que eu acrescentaria a este capítulo da obra “Vozes e Ruídos” de Daniel Sampaio, “Adolescência e Adolescentes”, seria a abordar um tema que foi discutido na “conversa” com Daniel Sampaio, seria, portanto, a forma como a separação dos pais afeta a vida de um filho. 
Neste capítulo iria oferecer duas hipóteses: uma em que a separação dos pais se procede durante a infância; e outro onde é na adolescência que os pais se divorciam. 
Na primeira iria tentar explicar como é que a separação dos pais afeta a criança e a sua confiança depositada nas pessoas, uma vez que pode sentir que foi abandonada por um dos progenitores (normalmente é o pai quem sai de casa) e em alguns casos onde as crianças pensam até que foram elas quem prejudicaram a relação dos pais e que são o motivo da separação.
Na segunda hipótese tentaria compreender como é que a separação dos pais, e consequente saída de casa de um deles, influenciar a passagem pela adolescência, determinando se, na maioria dos casos, os jovens têm dificuldades (rebeldia, faltar à escola, etc. - demostrando que esses atos de rebeldia podem funcionar como uma tentativa de reaproximar os pais) ou se, por outro lado conseguem aceitar e entender essa separação. 
Na minha opinião, este parágrafo seria fundamental para que os pais (separados) conseguissem encontrar uma maneira de como lidar com as atitudes do filho e assim, compreende-lo. Assim como seria também seria indispensável os filhos lerem este parágrafo para entenderem o que sentem e para, integrando no texto uma explicação do que leva casais a separarem-se, ter uma noção do porquê da separação dos pais.»

«O tema que eu acho que devia ser abordado é a violação.
É um tema que causa enormes danos no psicológico de uma pessoa, que afeta uma série de coisas tais como as relações com os outros, medo da socialização levando ao isolamento e em casos mais graves ao assunto já abordado no livro, o do suicídio.
Eu sei que a violação não é uma doença (...) mas eu acho que quando acontece danifica tantos fatores na adolescência (...) que chega a afetar a vida adulta.
E um tema que não é igual visto que, cada caso, é um caso.
Mas eu gostei muito das perspetivas do professor e gostaria de saber de que forma o mesmo iria abordar este tema.»

Ainda acerca de "Vozes e Ruídos», a palavra dada aos alunos (4)

Na continuidade de posts anteriores.

Devemos dizer que muitos dos nossos alunos leram integralmente, com gosto,  o livro que propusemos para análise "Vozes e Ruídos". Após o encontro com o autor, o entusiasmo redobrou em alguns alunos, que adquiriram e leram outras obras, como nos foram dando conta e como foi visível em alguns trabalhos realizados.

Se eu fosse o autor...




A vigésima primeira adolescência

As adolescências experienciadas durante o século XXI foram, sem duvida alguma, as que mais alterações sofreram em tão pouco tempo. Basta-nos pensar em relação ao facto de a internet ter surgido em todos os dispositivos móveis apenas em 2011,e  para a grande maioria dos adolescentes é praticamente impensável comunicar sem ela.
A vida de um jovem nesta civilização moderna acaba por ser talvez das mais vazias. Muitos dos motivos que estão no centro das preocupações da maioria dos adolescentes residem nas redes sociais. Os adolescentes vivem disso. Nós vivemos disso. É estranho e curioso como a quantidade de “gostos” em determinada rede social pode determinar a superioridade ou inferioridade de alguém- principalmente no que toca adolescentes.
Durante a leitura que fiz do dialogo do jovem Diogo, não consegui evitar fazer uma comparação entre os “betos” com os populares das redes sociais e os “do bar” que são os outros- os que não tem milhares de seguidores na conta de instagram e que não fazem um vídeo do seu almoço- ou talvez o façam, mas não com gente o suficientemente popular para que lhes sirva de forma de alcançar um pedestal, praticamente inalcançável, que é ser considerado influencer . Mas muito do que não é discutido é o facto de este fervor por popularidade não ser apenas exclusividade adolescente, mas também da maioria da comunidade adulta, é como diz um dos ditados do século XXI “posta-o ou então nunca aconteceu”, e damos por nós a viajar numa tela de ecrã e a ver fotos dos nossos “amigos” que se sentem “abençoados”, “doentes”, “desanimados”, etc.
Até que ponto pode uma mensagem substituir um “bom dia” pela manhã? Será possível sentir da mesma forma o que no fundo não foi experienciado? A ciência afirma que não. Então se uma mensagem não substitui um cumprimento, porque continuamos nós agarrados aos telemóveis como se deles dependêssemos?
É como se a comunicação perdesse a sua magia.


Na minha opinião, este é o capitulo que falta na obra do professor Daniel Sampaio, um capitulo que analise a adolescência e a sua relação com a tecnologia, desde a infância até à idade adulta.


Ainda acerca de "Vozes e Ruídos", a palavra dada aos alunos (3)


Na continuidade de posts anteriores.

Se fosses o autor...

«O parágrafo que acrescentaria a este capítulo seria, sem dúvida, a relação dos adolescentes com a internet e os meios de comunicação. No ano em que este livro foi publicado eram poucas as pessoas que tinham um computador em sua casa. Hoje em dia, passa-se exatamente o contrário: são poucas as pessoas que não têm o seu próprio computador ou telemóvel.
As novas tecnologias alteraram a forma como se processam as relações interpessoais. Os dispositivos móveis (telemóveis, tabletes…), a internet e as redes socias tornaram-se instrumentos indispensáveis para um número massivo de utilizadores, facilitando a comunicação e a troca de dados entre pessoas de diferentes pontos do planeta. Além disto, os meios de comunicação social – televisão, computador, jornais, cinema, livros (…) - estão presentes em quase todos os domínios da nossa vida social, tornando-se praticamente inevitáveis.
                Os adolescentes passam muito tempo no telemóvel, computador, consolas (…), e apesar de ter as suas vantagens, também pode ser bastante prejudicial, no sentido da comunicação e do diálogo com os outros. Esta situação acontece cada vez mais cedo nos adolescentes, uma vez que estes estão cada vez mais dependentes dos aparelhos eletrónicos.
                Na minha opinião, o nosso telemóvel, mp3 (…) funciona um pouco como “escudo” da sociedade, ou seja, eu ao ouvir um conjunto de músicas posso facilmente “viajar” por vários sítios e vários estados de espirito. O mesmo acontece com os filmes ou séries que vemos, em que durante esse tempo, nós temos a capacidade de nos abstrair do mundo real e esquecermo-nos dos problemas que temos ou das tarefas que temos de realizar até determinado dia.»


«O parágrafo que acrescentaria a este capítulo trataria o tema da comunicação de atualmente, mais especificamente de como se alterou. Não no sentido de “agora há telemóveis e a Internet, que permitem comunicar instantaneamente e sem esforço” mas sim no da alteração na capacidade de falar, principalmente dos jovens de hoje em dia, que cresceram com estas novas tecnologias e por isso foram mais afetados que as gerações anteriores. Penso que seria interessante ver este assunto explorado de uma forma científica e objetiva, pois tentei perguntar isso ao professor Daniel Sampaio durante a palestra na nossa escola mas o professor acabou por aprofundar o assunto de outra forma.    Se está a haver uma transformação biológica no ser humano no que respeita à expressão/comunicação, penso que seja de máxima importância explorá-la.»

Ainda acerca de "Vozes e Ruídos", a palavra dada aos alunos (2)

Na continuidade do post anterior.

Se fosses o autor...

«Na minha opinião, tendo em conta a evolução da sociedade, se o livro “Vozes e Ruídos” fosse escrito nos dias de hoje, ao capítulo Adolescência e Adolescentes não poderia faltar a abordagem da invenção que veio revolucionar o modo como comunicamos uns com os outros e que deu início à maior onda de globalização alguma vez registada – a Internet. Para além de afetar a forma como comunicamos a internet e as redes sociais vieram também interferir no desenvolvimento dos jovens e afetar a relação que estes têm com pais e amigos. É através das redes sociais que os jovens desabafam, partilham confissões e opiniões, são também as redes sociais que ajudam o jovem na criação de um sistema de valores pessoais e muitas vezes na busca por uma identidade com a qual se sinta confortável e realizado. Por tudo isto e muito mais adoraria ler um parágrafo sobre a influência da internet e das redes sociais na adolescência escrito pelo professor e psiquiatra Daniel Sampaio.»

«Seria sobre a internet, pois hoje essa realidade virtual domina a vida das pessoas, em especial dos adolescentes. É tanto o controlo sobre a mente destes que mergulham nesta realidade sem conhecerem os perigos que advertem da má utilização. Ao mergulharem nesta realidade virtual isolam-se do mundo real, ou seja, isolam-se dos amigos e da família principalmente, que são aqueles que os podem proteger.
Sendo este isolamento cada vez maior o adolescente começa a ver a internet como o seu único amigo, partilhando assim a sua vida pessoal e expondo se a perigos.
É a partir daqui que o jovem começa a sofrer de cyberbullyng, mantendo se calado e sem pedir ajuda.
Concluindo, a minha opinião e consequentemente, a minha posição sobre este assunto é que ninguém deve chegar a este ponto. Não somos só nós adolescentes que estamos em perigo mas como também os adultos. Há que utilizar os meios à nossa disposição mas nunca em demasia.»

«Acrescentaria um parágrafo acerca das novas tecnologias e das redes sociais, uma vez que sinto que isso é algo que cada vez mais está presente, não só na vida dos adolescentes como na vida dos pais, que muitas vezes, não se apercebendo disso estão a contribuir para o crescimento do vício dos filhos. É cada vez mais comum ver-se almoços de grupos de amigos. ou até mesmo de família, que são arruinados por estas pequenas máquinas, a que deram o nome de telemóveis. Digo isto, mas eu própria o faço, muitas das vezes até inconsciente do que estou a fazer.»

Ainda acerca de "Vozes e Ruídos"...a palavra dada aos alunos (1)

Sabendo que o livro "Vozes e Ruídos" foi escrito na década de 90, lançámos um desafio aos nossos alunos...

Se fosses o autor, que capítulo acrescentarias a este livro?
Aqui deixamos algumas sugestões:


«A tecnologia e a internet vieram revolucionar toda a vida familiar: não só afetaram os adolescentes, como também pais e avós. As consequências desta influência no meio familiar vieram a traduzir-se em alterações da comunicação da família. Não é raro observar-se uma família a jantar fixando todo o tipo de ecrãs: Sejam estes da televisão, do smartphone ou do tablet. Embora a internet tenha permitido uma rápida comunicação entre todos os seres humanos do planeta, também prejudicou a comunicação direta entre os pais e o jovem. Este é um problema atual e que deve ser solucionado de modo a existir um acesso à internet e à tecnologia, mas também uma aberta comunicação com os adolescentes, pois este é um período em que todas as questões e problemas dos jovens devem ser discutidos e alvo da atenção das famílias.
Desde a data de publicação da obra “Vozes e ruídos” até à atualidade, o mundo assistiu a uma grande revolução tecnológica. A sociedade atual encontra-se constantemente “ligada” e em rede. Esta revolução inovou o acesso à cultura e a comucação rápida mas, por outro lado, invadiu a vida familiar. Esta invasão traduziu-se em consequências para o adolescente e, por essa razão, decidi abordar o tópico no meu parágrafo.»



«Visto que a obra foi escrita há muitos anos, podemos sublinhar diversas diferenças entre a vida de antigamente e a atual. Assim, considerando o “Desenvolvimento Tecnológico” como mudança principal, se eu tivesse de acrescentar um capítulo à obra, esse seria o seu título. Explorando, agora, as razões para a minha escolha do desenvolvimento da tecnologia como maior mudança nestes últimos anos, devo sublinhar que o aparecimento e desenvolvimento desta foi um fator de mudança no modo de vivência, bem como de comportamento. Os jovens que, ao contrário dos seus progenitores, nasceram já com alguns aparelhos eletrónicos e modernos viram-se habituados a este mundo onde predomina a comunicação não física, mas sim por rede que por si facilitou mudanças estruturais na família, grupos de amigos, nas próprias amizades e dificultou, de certo modo, a construção do senso de identidade. Por um lado, a família, com, muitas vezes, parentes antiquados e não habituados às novas tecnologias, pode tentar fazer de barreira a certos comportamentos encarados como normais atualmente, tais como o uso frequente do telemóvel e a dependência de certos aparelhos. As famílias podem, então, tentar travar a utilização destes, contudo, esta mudança e adaptação por parte dos jovens é inevitável, pois na sociedade em que vivemos já começa a ser improvável um adolescente sem contacto com redes sociais ou mesmo qualquer aparelho tecnológico, seja ele o telemóvel ou mesmo a televisão. Os grupos de amigos nesta nova sociedade vão ter outra consistência comparando com anos anteriores, pois com a existência de redes sociais e Internet, certos modos de pensar ou estereótipos vão ser mais frequentes, podendo, por um lado, facilitar relações, mas por outro lado, mais frequentemente, afastar certos indivíduos dos grupos considerados “populares”. Uma das grandes finalidades da adolescência é o senso de identidade. No entanto, esta obtenção não vai ser fácil para todos os indivíduos, sendo que esta tendência tem vindo a aumentar visto que as redes sociais, principalmente, têm vindo a incutir um certo modo de pensamento, de vida e de aparência que nem todos os adolescentes conseguem atingir (...). Assim, com a tentativa de ser alguém que um sujeito não é, este vai-se sentir ainda mais aflito a chegar a conclusões claras sobre si, adiando a obtenção do senso de identidade. Por fim, considero que a obra analisada considera quase todos os aspetos fundamentais que caracterizam a adolescência e o único capítulo que acrescentaria seria este, que, intitulado de “Desenvolvimento Tecnológico”, iria abordar as diferenças comportamentais resultantes do Desenvolvimento Tecnológico.

Do Telemóvel Para o Mundo




O lançamento do novo livro do Professor Daniel Sampaio ocorreu no passado dia 11 de abril.

Mas, que se note, o título foi anunciado "em primeira mão" aos nossos alunos, palavras do autor, na nossa escola, em janeiro, no dia no nosso encontro!

imagem retirada de: https://www.viralagenda.com/pt/p/casa.museu.medeiros.e.almeida

Aqui deixamos a entrevista do autor no programa Inferno do canal Q. Não deixem de ouvir. Não é longa...São só 6 '.
Os nossos alunos reconhecerão com facilidade muitas destas ideias...




Qual o principal problema dos adolescentes de hoje em dia?

Esta era a pergunta da sondagem que lançámos aquando da vinda do Professor Daniel Sampaio à nossa escola, como aqui temos amplamente documentado. Decorreu entre Janeiro e Junho. Apesar da amostra ser passível de ser considerada pouco significativa, a partir da análise das respostas dadas, constatamos que o principal problema se encontra na "Comunicação na família" (38% = 34 respostas em 88 ). Em segundo lugar, com alguma distância, encontramos a "Pressão para o sucesso escolar" (29% = 26 respostas em 88) e só em 3º lugar a "Dependência da net" (19%, 17 respostas em 88). As outras hipóteses não têm numero significativo de respostas. O nosso universo é muito limitado, mas não podemos deixar de considerar estes dados interessantes. Temos de confessar, pelo menos, que contrariaram as nossas expectativas. Principalmente, não esperavamos a percentagem da "Pressão para o sucesso escolar". 
Deixamos aqui só algumas interrogações.
- As dificuldades de comunicação na família não serão a ponta de um icebergue?... 
E a pressão para o sucesso escolar não terá alguma ligação com as dificuldades de comunicação na família? Não sentirão os nossos jovens que a escola, ou o prosseguimento de estudos num certo sentido, é sobrevalorizada pelos pais sem que haja um efetivo acompanhamento dos jovens quanto às suas necessidades, interesses e aspirações? Ao mesmo tempo, a dependência da net, que abarca pais e filhos, não está a ser fator de isolamento, logo, fator que gera (sem que os envolvidos se deem conta) dificuldades na comunicação presencial? 

De qualquer modo, independentemente dos resultados da nossa "sondagem", demo-nos conta que os alunos presentes no encontro com o Professor Daniel Sampaio são muito sensíveis às questões relativas às consequências do uso (ou abuso) das novas tecnologia. É o que vamos analisar em próximo post.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Quem somos nós?

12º I. Disciplina: Psicologia. O desafio, mútuo, foi lançado. Mais um debate, pediu a turma. Na última semana de aulas? Na última semana de aulas. É preciso um tema. Proposta:"Quem somos nós?". Proposta aceite. Afinal, esta é a grande questão com a qual qualquer um, pelo menos em alguma altura da vida, se confronta. Responder-lhe é outro problema. Aí, o conhecimento pode ter algum papel e, nomeadamente, aquele que se organiza com o nome de Psicologia. Assim, este debate seria uma boa maneira para cada um organizar uma síntese pessoal de um conjunto de conteúdos trabalhados ao longo do ano.
Debate aberto, pois. As orientações foram apenas, para além da exigência de respeitar as regras da discussão racional, integrar conteúdos lecionados ao longo do ano. Sob este aspeto, o papel do moderador seria muito importante. 
No dia aprazado, esta foi a imagem que a moderadora escolheu para as questões que colocou para lançar o debate.
Imagem retirada de http://webpages.fc.ul.pt/~ommartins/seminario/escher/circular4.html

E assim foi. Uns alunos fizeram intervenções. Outros não. Mas todos revelaram interesse e capacidade de escuta. E as ideias viajaram para onde os alunos as quiseram levar... (mesmo não tendo dado muita importância à gravura de Escher). Como professora, gostei muito de finalizar o ano deste modo, dando-me conta que o tempo que passámos juntos não lhes foi indiferente e que algumas sementes caíram em terreno fértil... 
Mas a S.R. não podia estar presente. E tinha pena. Mas por que não escrever? Seria outra maneira de participar. Aqui deixo o texto que enviou, que publicamos integralmente. 

«Quem Somos Nós?»

O ser humano – a sua origem, a sua essência, o que nos torna aquilo que somos, a nossa individualidade e a nossa humanidade, todos estes aspetos permanecem sem resposta até aos dias de hoje e protagonizam muitas das mais importantes teorias de ciências como a Psicologia.
Uma das questões a que este tema remete será, como mencionado anteriormente, a da individualidade – será esta produto da hereditariedade ou do meio? John Watson responde a esta pergunta com a teoria behaviorista em que afirma não só que a Psicologia, para se constituir como ciência, deveria estudar exclusivamente o observável (comportamentos), mas também que as causas de um determinado comportamento não estão nas potencialidades genéticas do indivíduo mas sim fora do mesmo. Ficou conhecido pela sua afirmação “Deem-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem constituídas, e a espécie de mundo que me é necessário para as educar, e eu comprometo-me, tomando-as ao acaso, a formá-las de tal maneira que se tornem um especialista da minha escola, médico, comerciante, jurista e mesmo mendigo ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados” em que se reflete a sua tese: a influência da hereditariedade no comportamento e, portanto, na personalidade do indivíduo, é tão insignificante que alterando o meio é possível alterar o comportamento das pessoas, independentemente da genética.
No entanto, Jean Piaget vem contradizer que o ser humano seja meramente um produto social. Para ele, o comportamento é uma resposta que varia em função da interação entre a personalidade do sujeito (potencialidades genéticas) e a situação (meio). Deve ser tida em conta a crítica de Piaget ao simplismo de Watson: há que considerar fatores não meramente externos como os sentimentos do sujeito, o seu temperamento, o modo como assimilou as experiências vividas na infância, etc. Claramente, a pergunta continua sem resposta certa, e talvez nunca viremos a ter uma resposta absolutamente verdadeira. Essa seria outra questão – haverá tal coisa como verdade absoluta? Porém, a questão que desejo abordar não é essa mas sim uma que vai de encontro à humanidade do ser humano e à sua capacidade de aprendizagem.
Piaget afirmou que ao longo do processo de desenvolvimento, cada ser humano constrói o seu conhecimento e que, nesse processo, o erro é uma componente muito importante. O exemplo mais imediato para ilustrar esta afirmação são as crianças: durante a infância as crianças estão constantemente a pôr à prova as suas teorias acerca do mundo, como quando tocam no fogão e se queimam – a dor fá-las perceber que erraram, interiorizam essa experiência e não a repetem. Qualquer pessoa já aprendeu através de um erro que cometeu. Não questiono isso. Mas aprenderá o ser humano, efetivamente, com os erros dos seus antepassados?
Para refletir acerca desta pergunta devemos ter em conta as teorias de Hannah Arendt e Philip Zimbardo: a banalidade do mal e o efeito Lúcifer, respetivamente. Hannah Arendt, uma alemã judia, foi contratada por uma revista para cobrir o julgamento do nazi Eichmann, um homem que teve um papel fundamental na organização da solução final que, por sua vez, resultou num massacre brutal da comunidade judia. No entanto, ao ver de perto este homem, Hannah Arendt constatou que não via nele um monstro mas sim um homem comum com ambições de ascensão na carreira. De facto, Eichmann passara todo o julgamento a repetir as mesmas frases: que nunca matara um judeu (diretamente), que estava apenas a cumprir ordens para ser um bom funcionário. Isto leva a filósofa alemã a notar outra característica nele, além da sua banalidade: Eichmann não pensava. Repetia frases programadas, sempre sem pensar. É desta forma que Arendt chega à “banalidade do mal”, que protagoniza o seu livro Eichmann em Jerusalém. O mal é cometido por homens e não por monstros, espalha-se pelas instituições, pelos livros e pela política, é banal. No entanto, não tem profundidade – não é necessário pensar para agir pelo mal –, ao contrário do bem. Homens como Eichmann não pensam, renunciam a ser homens, e é nesse “vazio de pensamento” que o mal se instala, como refere Hannah Arendt: "a triste verdade é que os maiores males são praticados por pessoas que nunca se decidiram pelo bem ou pelo mal". Porém, é importante que percebamos que Arendt não tentava, com isto, desculpar Eichmann de forma alguma, mas sim entender por que agiu como agiu e foi assim que chegou também à seguinte conclusão: “Em situação de tirania é muito mais fácil agir do que pensar", com a qual concordo plenamente, visto que “Se chego a acreditar que algo mau é um direito meu (ou um dever) é muito mais fácil cometê-lo."*
A situação referida estava claramente relacionada com o holocausto e o nazismo, um dos períodos mais negros da história que marcou todo o mundo e, nomeadamente, os judeus. No entanto, hoje em dia, enfrentamos o confronto Israel-Palestina em que, numa análise mais profunda, os Israelitas (maioritariamente judeus) estão a fazer com os palestinianos aquilo que lhes foi feito há nem um século atrás, pelos nazis às ordens de Adolf Hitler. Para mim é incompreensível tal comportamento, tal abstração por parte dos israelitas do ato de pensar. Atacam os palestinianos com mísseis, bombas e armamento topo de gama, enquanto estes contra-atacam com pedras, não faltam as analogias entre esta guerra e o nazismo mas, ainda assim, quando questionada sobre estar a favor ou contra a guerra, grande parte da população israelita posiciona-se a favor sem hesitar.
Isto leva-nos a pensar… Teremos dentro de nós igualmente o mal e o bem ao ponto de dependermos das circunstâncias para que um deles se torne dominante? Philip Zimbardo argumenta que sim, e é precisamente nesse ponto que assenta a sua teoria do efeito Lúcifer. Segundo o psicólogo, “Se dermos às pessoas poder sem supervisão, temos uma receita para o abuso” e foi precisamente isso que provou com A Experiência da Prisão de Stanford – dividiu-se um grupo de estudantes voluntários (com características psicológicas semelhantes), nos papéis de guardas prisionais e reclusos para perceber os efeitos psicológicos da vida prisional em pessoas ditas normais. O que aconteceu foi que os jovens ficaram de tal forma absortos na experiência que deixaram de conseguir distinguir a realidade da simulação. Foi exatamente este “poder sem supervisão” dado aos “guardas” que os levou a embrenharem-se nos personagens ao ponto de abusar do poder que lhes tinha sido dado e acabar por humilhar e violentar os “reclusos”, ignorando as normas inicialmente estabelecidas. Da mesma forma, os “prisioneiros” tornaram-se, na sua maioria, submissos às ordens e abusos que sofriam e a experiência ficou então de tal forma fora de controlo que acabou por ser cancelada ao sexto dia, mais de uma semana antes do previsto.
Perante estes resultados aterradores, concluo o mesmo que concluiu Zimbardo – temos em nós “um conformista e um totalitário, e não é preciso muito mais do que o uniforme certo para que ele venha à tona”. Esta teoria aplica-se no conflito Israel-Palestina, aplicava-se no nazismo, em Abou Ghraib e à espera de análise estão tantas outras situações. Não há “más maçãs” ou “boas maçãs” mas um “mau barril” ou um “bom barril”.
Ao abordar as teorias de Watson e Piaget relativamente à questão hereditariedade-meio, senti-me inclinada a concordar com Piaget – o comportamento é determinado pela interação entre a personalidade do indivíduo e a situação –, e por muito tempo rejeitei completamente que o ser humano pudesse ser um mero produto social. No entanto, ao analisar as teorias de Hannah Arendt sobre como o mal é banal ao ponto de se espalhar pela humanidade e o seu “vazio de pensamento” sem que demos conta, e de Philip Zimbardo sobre como são as circunstâncias que revelam o melhor ou pior de cada um, chego a um beco sem saída. Não digo que passo a concordar com Watson, mas estou definitivamente mais consciente da minha ignorância e, por isso, aberta às muitas teorias e nenhumas verdades absolutas com que me hei-de cruzar.
Assim, coloco novamente a questão principal: aprenderá o ser humano, efetivamente, com os erros dos seus antepassados? Ou basta a isenção de responsabilidade, o anonimato, um uniforme, a abstração do pensamento, para que tudo se repita novamente?

BLINK

No âmbito da Psicologia Social, após termos abordado a formação e a importância das primeiras impressões, a M. E., do 12ºG, por sua iniciativa, leu o seguinte livro: Gladwell (2005). Blink – Decidir num piscar de olhos. Malcolm, Lisboa: Editora D. Quixote.  
E decidiu participar neste blogue com esta publicação da sua responsabilidade.


BLINK!

Blink pode, de certa forma, ser incluído na categoria de livro interventivo pois faz-nos pensar e percecionar de outra forma a maneira como as primeiras impressões se formam e a sua influência nos nossos comportamentos.

Ao longo da obra, o autor utiliza vários exemplos do quotidiano, analisa casos específicos e baseia-se em vários estudos realizados por especialistas para chegar às suas conclusões.
Antes de entrar em mais pormenores, é preciso referir que o autor, aquando da utilização do conceito “inconsciente”, se refere a um inconsciente adaptável e não à tradicional definição de inconsciente dada por Freud, que dizia que o inconsciente era um sítio escondido e obscuro. Enquanto isso, para Malcolm, o inconsciente funciona como um “computador que discreta e silenciosamente processa uma grande quantidade de dados de que precisamos para funcionar como seres humanos”.
Há um momento específico no livro em que o autor se foca em “associações inconscientes”, mais especificamente, num estudo de psicólogos que investigam a forma como as associações inconscientes, ou melhor, implícitas, influenciam crenças e comportamentos utilizando uma ferramenta chamada “Teste de Associação Implícita” (TAI), que consiste essencialmente na associação de palavras ou imagens a determinadas categorias.
Um dos testes da ferramenta mencionada é referente à raça e o autor conta-nos em primeira mão a sua experiência pessoal na realização deste. No início do teste é-lhe perguntado “Quais são as suas atitudes em relação a pretos e brancos?”, este responde, dizendo que considera as raças iguais. Já no teste, são apresentadas fotos de indivíduos pretos e brancos e palavras positivas e negativas e o examinado tem de associa-las às categorias a que correspondem – pretos, brancos, bom ou mau – o resultado do seu teste foi o seguinte: “preferência moderada por brancos”. Verificou-se, então, que aquando da junção de categorias, o tempo de resposta é superior e há maior erro quando se junta “branco” e “mau” na mesma coluna. Revelando que, tal como 80% das pessoas que realizaram o teste, Malcolm tem tendência a fazer associações favoráveis aos indivíduos brancos.
Curiosamente, Malcolm é parte preto pois a sua mãe é jamaicana, será este um preto racista que não aceita ou gosta da própria raça? Além disso, o autor respondeu no início do teste que considerava as duas raças iguais. Porquê esta diferença no resultado?
É exatamente neste ponto que Malcolm nos explica o funcionamento das nossas atitudes a dois níveis. Primeiramente, temos o nível consciente, onde as nossas atitudes correspondem àquilo em que queremos acreditar, na sua componente cognitiva são os valores que defendemos e a partir dos quais tentamos moldar o nosso comportamento. Foi com a sua atitude consciente que Malcolm respondeu à pergunta que lhe foi colocada no início do teste. 
Porém, o TAI mede a nossa atitude a um nível inconsciente. O facto do teste exigir rapidez nas respostas implica que estas sejam feita de forma automática e imediata, não havendo realmente tempo para pensar, levando a que o seu inconsciente atue sem que este se aperceba. Os resultados do TAI refletem, então, o resultado prático da informação que é recolhida pelo nosso “computador gigantesco” interior, ao longo da nossa vida, através de todos os estímulos externos a que estamos expostos e da socialização.

A questão que se põe é: de que modo influencia esta preferência inconsciente por indivíduos de raça branca, por até de indivíduos de origem preta na sociedade e na criação das primeiras impressões e discriminação? As atitudes inconscientes de preferência da raça branca, resultado da exposição a estímulos favoráveis a esta raça, levarão a que indivíduos pertencentes a esta raça tenham mais oportunidades, seja no mundo do trabalho seja possivelmente em quase todas as áreas da sua vida. Levarão até, a que se proceda a comportamentos discriminatórios inconscientes em relação a pretos, como por exemplo numa entrevista de trabalho como é referido no livro, ou até no primeiro contacto com pessoas desta raça.
Malcolm fizera, ao longo do tempo, vários testes desta ferramenta referentes à raça de maneira a melhorar o seu desempenho, mas tal não aconteceu, aqui se observa a importância e poder do nível inconsciente das nossas atitudes.