terça-feira, 26 de março de 2019

"Rain Man", entre a ficção e a realidade

Dustin Hoffman no filme "Rain Main"
Kim Peek
Imagem retirada de https://commodore64crap.wordpress.com/2014/07/11/rain-mans-computer/


Os filmes mais poderosos situam-se normalmente entre a ficção e a realidade. É o caso do filme "Rain Man", com tradução portuguesa de "Encontro entre Irmãos" realizado por Barry Levinson, que se inspirou no caso real de Kim Peek. O filme ganhou 4 Óscares em 1989, incluindo o óscar de melhor ator para Dustin Hoffman, que representa o papel de Raymond Babbit (personagem inspirada em Kim Peek). Raymond Babbit aparece diagnosticado com síndrome de Savant. Esta síndrome aparece, em alguns casos, associado ao autismo que, considerado de forma abreviada, se caracteriza globalmente por acentuadas dificuldades de relacionamento interpessoal e isolamento mental. 
     "O personagem Raymond apresenta rigidez comportamental, dificuldade de lidar com mudanças repentinas na rotina, dificuldade em aceitar coisas novas, preferência pelos mesmos objetos, falas repetitivas, déficit de comportamento intraverbal (diálogos) e ecolalia (repetição de palavras ou frases), que são características autistas" (Bárbara Guerra, «CINE-AUTISMO: PSICOLOGIA EM CONSTRUÇÃO E SOCIEDADE EM DESCONSTRUÇÃO», notícia publicada em 
https://webjornalunesp.wordpress.com/2015/12/13/cine-autismo-psicologia-em-construcao-e-sociedade-em-desconstrucao/, consulta a 15 março 2015)

 «Na Síndrome de Savant, as capacidades dizem frequentemente respeito a modalidades bem definidas e limitadas (memória fotográfica, capacidade de cálculo, memória de dígitos, etc.) exibidas por pessoas que têm uma marcada assimetria de competências cognitivas e funcionais. O que se destaca são tanto os excessos como os defeitos, tanto as incapacidades como as prováveis “genialidades”, que coexistem num mesmo indivíduo.
Estes sujeitos podem ser surpreendentemente incapazes em gerir de forma competente a sua vida e a relação com os outros, pelo que muitos apresentam sintomatologia compatível com os critérios de diagnóstico das Perturbações do Espectro do Autismo. No entanto, nem todos os autistas têm Síndrome de Savant, e nem todos os indivíduos com Síndrome de Savant apresentam uma Perturbação do Espectro do Autismo.»  Artigo de Ana Trindade, 
Psicóloga do ITAD, retirado de http://www.itad.pt/sindrome-de-savant/, consulta a 26 de março de 2019.

«No filme Rain Man, de 1988, Kim Peek inspirou a personagem principal, Raymon Babbit, interpretada por Dustin Hoffman. Como ele, vivia uma deficiência associada à síndrome de Savant. Era uma pessoa especial, um "mega-savant". Tinha uma capacidade extraordinária para memorizar o que lia, mas dificilmente se adaptava aos gestos quotidianos de um adulto, como vestir-se ou calçar-se.
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Com Rain Man, a história de Kim transformou-se num fenómeno global. Mas as suas capacidades já o eram: Kim retinha 98 por cento de toda a informação que lia ou ouvia quando, em média, uma pessoa memoriza apenas 45 por cento. Com dois anos, já conseguia ler e memorizar livros. Ao longo da vida, terá memorizado 12 mil livros, entre os quais a Bíblia e toda a obra de William Shakespeare - esta, com apenas 16 anos. "Kim ensinou-nos algo acerca do potencial humano muito para além do que a maioria de nós pode imaginar", escreveu um comentador do jornal local de Salt Lake City.
Quando o filho tinha dois anos, Fran Peek recusou-se a interná-lo numa instituição para deficientes mentais, como recomendavam os médicos. Sem essa escolha, a vida de Kim teria um rumo muito diferente. Com a vida que teve, diz Darold Treffert, psiquiatra na Universidade do Wisconsin, que ajudou a equipa de Rain Man e foi amigo de Kim, o legado de Kim define-se numa palavra: "Inspiração".»

Notícia do jornal diário Público de 24 de dezembro de 2009, a propósito da morte de Kim Peek, consultado em https://www.publico.pt/2009/12/24/mundo/noticia/morreu-kim-peek-o-verdadeiro-rain-man-1415244, a 26 de março de 2019.

4 comentários:

  1. Tal como é referido inúmeras vezes em várias situações a pessoa não é a doença mental. Quando falamos de doenças mentais, tais como neste caso em que existem sintomas que seguem as caracteristicas tipicas do autismo, esquecemo-nos que nem tudo é negativo. O caso de Kim Peek não é diferente, pois embora apresente algumas limitações tais como e citando: "rigidez comportamental, dificuldade de lidar com mudanças repentinas na rotina, dificuldade em aceitar coisas novas, preferência pelos mesmos objetos, falas repetitivas, déficit de comportamento intraverbal (diálogos) e ecolalia (repetição de palavras ou frases)", existem aspetos positivos que podem e devem ser referidos. A capacidade de memorização que se encontra acima de uma pessoa dita "normal", ou seja que apresente um comportamento dito padrão e cujas capacidades mentais encontrem-se dentro dessa mesma "normalidade", que fez com que tivesse a capacidade de absorver imensa informação.
    Tendo isto em conta não será que os maiores génios poderão ter estado escondidos por detrás de incapacidades ou limitações mentais e apenas não tenhamos estado a tomar atenção?

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  2. beatriz Matos e Matilde barroso5 de abril de 2022 às 20:01

    O caso de Kim Peek é um excelente exemplo de que um distúrbio não define uma pessoa.
    Sabemos que o autismo, embora traga algumas limitações, concede também vários talentos e qualidades que fazem com que a pessoa diagnosticada se diferencie de todas as outras.
    Kim Peek, embora tivesse algumas dificuldades na interação e na adaptação aos gestos do quatidiano , mostrou ao mundo como um homem supostamente fragilizado com o seu diagnóstico pode ser um génio capaz de alterar o perconceito enerente ao seu distúrbio.
    Com uma memória genuinamente incrível, Kim mostrou dons que a maioria das pessoas não tem.
    A sociedade está cada vez mais a entender a singularidade e normalidade deste sindrome.
    Um dos factos mais surpreendentes sobre as pessoas com sindrome de autismo é que estas vêm o mundo de uma forma diferente da nossa. O nosso papel na vida destas pessoas passa por entender e respeitar as suas realidades.
    Como sociedade devemos respeitar e aceitar estes indivíduos, incluindo-os na nossa comunidade. Devemos-nos lembrar que o síndrome de autismo faz parte do nosso mundo e que este é apenas uma palavra , não uma sentença.
    Na nossa opinião, este sindrome não deve ser tratado nem comparado a uma doença. Este deve ser visto como concessor de características incríveis que nos distingue uns dos outros.
    Posso definir assim Kim Peek e todas as pessoas que viveram a experiência do mesmo em duas únicas palavras : inspiradoras e incríveis.

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  3. Joana Milho e Sofia Pinto6 de abril de 2022 às 22:17

    Muitas pessoas relacionam o autismo com indivíduos tímidos e com grande capacidade intelectual. Atualmente conseguimos identificar essa imagem já nas séries e filmes da atualidade como no caso do The good Doctor e Rain Man, em que o autista é retratado como um génio que tem dificuldades em socializar.

    Na nossa opinião achamos interessante o modo como estas pessoas têm a capacidade de absorver informações, ficando na memória, mesmo não tendo o à vontade para socializar. Uma série que transmite bem esta doença é a “The Good Doctor” onde a personagem principal demonstra os comportamentos da síndrome que nomeadamente é considerada como um transtorno global do desenvolvimento do tipo autismo caracterizado por uma capacidade de memorização elevada e resolução de problemas matemáticos aliada a um défice de inteligência e dificuldade de interação social.

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  4. Uma doença mental não defina uma pessoa, e Kim Peek é um grande exemplo.
    Kim Peek vivia uma deficiência associada à síndrome de Savant, era muito bom a memorizar o que lia mas demonstrava uma grande dificuldade de adaptação ao quotidiano de um adulto.
    A sua capacidade de resolução de problemas, de absorver informação era impressionante.
    Este filme, bem como “The Good Doctor” retratam de uma forma realista as capacidades escondidas por trás desta síndrome, que muitos não sabem que existem.
    Lara e Tatiana

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