sábado, 26 de setembro de 2015

O primeiro filósofo

Tales de Mileto





Na nossa última publicação, ficámos com a pergunta que os primeiros filósofos fizeram

Haverá um elemento primordial a partir do qual tudo é gerado?

imagem retirada de http://www.infopedia.pt//apoio/recursos/rfa_2035.jpg
Quem primeiro respondeu a esta pergunta, segundo sabemos, foi Tales.
Tales, nascido na colónia grega de Mileto, no século VII a. C.. Tales de Mileto, portanto.
Tales é também conhecido como astrónomo e matemático. Quem não conhece (pelo menos de nome!) o teorema de Tales? Mas Tales não se ficou apenas (!) pela resolução de problemas particulares, como por exemplo, calcular a altura de uma pirâmide no Egipto ou prever um eclipse do Sol. Não, Tales queria encontrar resposta para um problema bem mais complexo como o da origem do Cosmos, palavra grega que continua a significar para nós Mundo ou Universo. O que o distingue como filósofo é precisamente esta necessidade de encontrar uma explicação total, que possa dar conta da existência do universo e das coisas nele existentes. Rejeitou as explicações míticas, as explicações que reconduziam a origem do universo e das coisas a uma ação de elementos acima da natureza (dizemos sobrenaturais). Baseado na observação dos fenómenos naturais e confiante na sua própria e humana capacidade de compreensão e de explicação, dizemos, na razão, Tales teria considerado que tudo teria tido origem na água e que a água seria elemento constituinte de todas as coisas.  Assim, a água seria o elemento primeiro (arquê) do qual tudo se teria originado e a água estaria presente em todas as coisas. Enquanto elemento constituinte de todas as coisas a água seria entendida como substância, quer dizer aquilo que subjaz em tudo e aquilo que permanece. Diremos, então, que para os primeiros filósofos há uma matéria de que todas as coisas são feitas e há um princípio de onde todas derivam. Para Tales, teria sido a água.

Data e local de nascimento da filosofia

Quando e onde nasceu a filosofia?




Mapa da Grécia Antiga
Retirado de http://mphmtshistory.weebly.com/history-9-links.html
Já aqui temos falado de «O Mundo de Sofia» de Jostein Gaarder. Decidimos, a partir de hoje, transcrever regularmente alguns excertos, com algumas adaptações. Comecemos com as origens históricas desta área de saber a que damos o nome de Filosofia.

«Vemos a filosofia como uma forma completamente diferente de pensar, que surgiu aproximadamente em 600 a.C. na Grécia. (...)
Para compreendermos o pensamento dos primeiros filósofos, temos de compreender igualmente o que significa ter uma conceção mítica do mundo. Tomaremos como exemplo algumas conceções míticas da Europa do Norte.(...)
Certamente já ouviste falar de Thor e do seu  martelo. Antes de o cristianismo chegar à Noruega, os homens, aqui no Norte, acreditavam que thor viajava pelo céu num carro puxado por dois bodes. Quando ele brandia o seu martelo, seguiam-se raios e trovões. (...)
Quando troveja ou relampeja, também chove. Isso podia ser indispensável à vida para os camponeses da época dos Vikings. Por isso, Thor era venerado como deus da fertilidade.
A resposta mítica à pergunta porque é que chove, era: Thor brandiu o seu martelo. E quando a chuva vinha, as sementes germinavam e cresciam nos campos. (...)
Passámos um olhar sobre a mitologia nórdica, mas havia representações míticas como estas em todo o mundo antes de os filósofos começarem a criticá-las. Também os Gregos tinham uma conceção mítica do mundo, quando surgiram os primeiros filósofos. Durante séculos, uma geração transmitia à seguinte as histórias dos deuses. Na Grécia, as divindades chamavam-se Zeus e Apolo, Hera e Atena, Dionísio e Asclépio, para citar apenas alguns. (...)
Nesta época, os Gregos fundaram muitas cidades-estado na Grécia e nas suas colónias da Itália meridional e da Ásia Menor. Aí os escravos executavam todo o trabalho físico, e os cidadãos livres podiam dedicar-se à política e à cultura. Com estas condições de vida, a maneira de pensar dos homens mudou: cada indivíduo podia colocar a questão de como a sociedade devia ser organizada. Do mesmo modo, podia também colocar questões filosóficas, sem ter de recorrer aos mitos tradicionais.
Dizemos que se deu um desenvolvimento de um modo de pensar mítico para um género de reflexão baseada na experiência e na razão. O objetivo dos primeiros filósofos gregos era encontrar explicações naturais para os fenómenos da natureza. (...)

    Haverá um elemento primordial a partir do qual tudo é gerado?

GAARDER, J. O Mundo de Sofia, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pp. 26-32

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A Grécia Antiga em 5 minutos

Não há aluno de Filosofia que não tenha referências da Grécia Antiga, que não tenha, pelo menos, ouvido falar de Sócrates, de Platão, de Aristóteles... E muito provavelmente ouviu o seu professor(a) falar com entusiasmo daqueles tempos em que a filosofia circulava pelas ruas e em que os homens tomavam decisões, em conjunto, sobre assuntos que a todos diziam respeito. Os homens, sim, que às mulheres estava vedado o exercício da cidadania (não podemos exigir tudo!). Um povo que nos deu as primeiras explicações racionais sobre o universo, que nos deixou as bases do nosso sistema de pensamento, lógico e matemático, que ainda hoje nos deslumbra com a sua arquitetura e estatuária, que nos deixou obras que nos continuam a interpelar é uma referência na nossa cultura. E não, não são só os professores de filosofia a deixarem-se maravilhar pelas conquistas do povo grego...

Neste pequeno video, produzido pela RTP, podemos, em menos de 5', menos tempo do que aquele que demora a fazer a chamada dos alunos em aula, ter uma visão das coisas extraordinárias que os gregos nos deixaram e da admiração que têm suscitado.
E começa com um poema de Sophia de Mello Breyner...


http://ensina.rtp.pt/artigo/a-grecia-como-farol-da-cultura-ocidental/


Imagem do Partenon, cidade de Atenas, séc. V a.c. 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Neuroplasticidade

Cada vez mais os investigadores confirmam a extraordinária capacidade de adaptação do cérebro, reorganizando-se para ultrapassar lesões ou incapacidades. Este é mais um estudo, realizado pela Universidade de Coimbra, que comprova a neuroplasticidade cerebral, neste caso, referente a alterações no córtex auditivo em situações de surdez congénita.
Notícia transcrita daqui: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=60473&op=all

Ver com “olhos de ouvir”

Estudo liderado pela UC revela forte plasticidade
cerebral em pessoas surdas

2015-09-07
Os surdos congénitos apresentam uma grande neuroplasticidade (capacidade do cérebro se modificar) de longo prazo, fazendo com que o seu córtex auditivo aloje propriedades visuais típicas do córtex visual, revela um estudo internacional liderado pelo investigador Jorge Almeida, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (UC).

Os resultados da pesquisa, já aceite para publicação na Psychological Science, revista internacional de referência na área da psicologia, poderão ser determinantes«para explorar novas abordagens terapêuticas para tratar lesões cerebrais e doenças neurodegenerativas baseadas na neuroplasticidade, e serão centrais para o desenvolvimento de novas gerações de implantes cocleares mais eficazes», nota o coordenador do estudo.

«Os actuais dispositivos», clarifica o investigador, «estão pensados para explorar a organização típica do córtex auditivo, mas o estudo provou alterações na estrutura, passando o córtex auditivo a deter informação relativa à visão. Será assim necessário repensar a concepção dos implantes cocleares de modo a que estes explorem também a nova organização cerebral».

Financiado pela Fundação BIAL e por uma bolsa Marie-Curie (na primeira fase), o estudo foi realizado ao longo dos últimos quatro anos e envolveu um grupo de surdos congénitos e um grupo de normo-ouvintes (pessoas sem surdez) Chineses.

Jorge Almeida
Jorge Almeida
Para perceber os mecanismos de receção e reação do córtex auditivo, ambos os grupos foram sujeitos a diferentes estímulos visuais durante a realização de uma ressonância magnética, tendo os investigadores verificado que, no caso dos surdos, o córtex auditivo herda o tipo de processos e potencialmente organização que vemos no córtex visual dos normo-ouvintes.

Estas modificações neuroplásticas «deverão ser responsáveis pela percepção visual periférica superior normalmente apresentada por surdos congénitos», explica Jorge Almeida.

Entender os «mecanismos que o sistema nervoso central dispõe para se 'reprogramar', modificando o funcionamento do cérebro, é essencial para o desenvolvimento de modelos que expliquem o fenómeno de neuroplasticidade a longo-prazo, ou seja, a compreensão do modo como o cérebro se transforma e adapta a longo prazo, e para a aplicação de terapias baseadas nestes modelos», conclui o líder do estudo, que contou ainda com a participação de investigadores da Universidade do Minho, de duas universidades Chinesas e uma dos Estados Unidos da América.