quarta-feira, 22 de junho de 2016

Em defesa do libertismo

Texto da responsabilidade da aluna Sofia Pereira do 10º ano, Turma A

Existirá realmente livre arbítrio nas nossas ações?
Libertismo, enquanto resposta ao problema do livre arbítrio

O libertismo é a teoria filosófica que afirma que as ações resultam de deliberações racionais, podendo alterar o percurso dos acontecimentos.
Baseia-se assim na causalidade do agente, segundo a qual se considera que o ser humano pode escolher e agir livremente de acordo com a escolha que faz, podendo até decidir fazer algo e depois mudar de ideias, tal como refere Theodore Sider: «A mesmíssima pessoa em circunstâncias exatamente semelhantes pode, por causalidade do agente, causar coisas diferentes».1 Assim, a causalidade do agente trata-se de uma causalidade livre, já que a mente, por não ser uma entidade física, não está sujeita à causalidade natural que vigora no mundo da natureza.
Uma das principais objeções a esta teoria filosófica consiste no facto da física ainda não ter provado que os fenómenos mentais não têm leis próprias. A verdade é que acreditamos que a liberdade é um facto da experiência.
Para além disto, a experiência interior da liberdade contribui para a crença humana no livre-arbítrio: experiências introspetivas, como questionar-nos Será que esta foi a melhor escolha?, e o processo de deliberação (que antecede uma decisão) dão-nos a certeza de que as ações são livremente escolhidas.
Ora, o libertismo entende que existe uma clara diferença entre ação e acontecimento, salientando-se que, em relação aos acontecimentos, estes não dependem da vontade do agente, que não os pode escolher. Em relação às ações, estas são voluntárias, conscientes e intencionais, por isso dependem apenas da vontade e da forma como o agente responde a esses acontecimentos. Para ilustrar este argumento, podemos seguir o exemplo de Savater: «Primeiro: não somos livres de escolher o que nos acontece (ter nascido certo dia, ter certos pais, em tal país, sofrer de um cancro ou ser atropelado por um carro, ser bonito ou feio) mas somos livres de responder desta ou daquela maneira ao que nos acontece (obedecer ou revoltar-nos, ser prudentes ou temerários, vingativos ou resignados, vestir-nos de acordo com a moda ou disfarça-nos de urso das cavernas.»2. Portanto, podemos estar condicionados de diversas formas (condicionantes físico-biológicas ou histórico-culturais) e não podemos fugir a determinados acontecimentos, mas isso não nega o nosso livre-arbítrio.
Na verdade, acreditar no livre-arbítrio é seguir um modelo de responsabilização do homem pelas suas ações. Tendo o ser humano à partida uma série de opções e escolhas ao seu dispor e sendo ele livre para fazer essas escolhas, o mesmo deverá ser responsabilizado por elas. Assim, o conceito de liberdade está intimamente relacionado com o de responsabilidade moral. Sem ela, não seria possível construir a vida em sociedade e o Homem seria colocado ao nível das coisas comuns que o rodeiam, como um cão ou uma caneta.
Porém, vivendo os humanos num mundo regido pela causalidade das leis da natureza, como pode existir o livre arbítrio? A resposta é simples: o livre arbítrio é uma consequência do comportamento humano transcendente às leis da natureza, por isso a ciência «nunca conseguirá prever completamente o comportamento humano»1.
Concluindo, tendo em conta os argumentos que apresentei, é-me impossível pensar na possibilidade de sermos predeterminados. Dito isto, não posso deixar de pensar no que seria do mundo se fosse verdade que todas as nossas ações são resultado de causas extrínsecas ao nosso controlo…teria cabimento fazermos juízos morais? Faria sentido idolatrar Nelson Mandela ou odiar Hitler pelos seus atos, que afinal de contas agiram segundo determinação? Viver num mundo assim, era viver num mundo onde toda a humanidade é retirada ao Homem.




1  Theodore Sider, Enigmas da existência             
2  Fernando Savater, Ética para um jovem



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