A argumentação do aluno Gonçalo Luís (11ºE):
As mulheres
que trabalham no Facebook e na Apple, nos Estados Unidos, e queiram adiar a
maternidade, apostando na carreira profissional, podem optar pela
criopreservação de ovócitos de forma gratuita. As duas empresas, nas quais
apenas trinta por cento dos trabalhadores são mulheres, estão dispostas a pagar
os elevadíssimos custos associados ao congelamento de óvulos, cientes do
talento, criatividade, disponibilidade e flexibilidade femininos no desempenho
de altos cargos. Com esta medida, estão a permitir às mulheres estender a sua
fertilidade e dedicar a maior parte do seu tempo à (s) empresa (s).
Uma das razões
que me leva a discordar da medida tomada pelo Facebook e pela Apple é o facto
de pais tardios acentuarem aquilo a que costumamos chamar “The Generation Gap”.
Significa isso que, apesar de já se encontrar defendido que pais mais velhos
podem apresentar maior estabilidade emocional e financeira, e podem investir
mais na criação dos filhos, o certo é que pais com mais idade vão acentuar a
diferença geracional, com impacto na capacidade de fazer face aos desafios e às
exigências que têm que ver com a educação, acompanhamento e desenvolvimento das
crianças e jovens.
Outro
argumento que debilita as razões exibidas pela Apple e Facebook, para não dizer
que as anula liminarmente, é que, sendo a esperança média de vida muito elevada
e sendo o índice de desenvolvimento humano no país proponente muito elevado, as
mulheres manter-se-ão no mercado de trabalho até muito tarde e a questão da
maternidade acontecerá sempre durante a vida ativa da mulher. Por outro lado,
esta gravidez tardia traduz-se numa recuperação mais lenta, do ponto de vista
físico, com possível perda de produtividade.
Acresce que, num
país onde a taxa de nascimentos tem vindo a baixar, o adiar da natalidade,
associado à elevada taxa de divórcios (nos últimos 25 anos, as leis de divórcio
"sem culpa", têm tornado o processo de divórcio mais fácil), pode ter
um impacto drástico na sua sustentabilidade, a médio e longo prazo.
É importante
ainda clarificar que para conseguir uma
gravidez que conduza ao nascimento de um bebé, o óvulo tem de sair em boas
condições do congelamento. De seguida, precisa ser fecundado in vitro (algo que nem sempre se
consegue) e superar o procedimento da implantação uterina, fase na qual muitos
tratamentos de fecundação assistida fracassam.
É o momento de colocar aqui inúmeras questões: Vale o risco? Quais os
benefícios? Quem sai a ganhar? O que está realmente em causa? Há liberdade de
escolha ou está condicionado o livre arbítrio? O que mobiliza este investimento
milionário?
Pese embora duvide
que a medida proposta pelas duas gigantes venha a ter o resultado desejado,
pelas razões expostas, concedo que a senescência dos óvulos inviabiliza o que
seria mais um argumento contra: sendo retirados a mulheres jovens, os óvulos
mantêm-se jovens, evitando muitas patologias genéticas/hereditárias associadas
à hipotética idade mais avançada da mãe. Generalizado o congelamento de óvulos
em jovens mulheres, evitar-se-ia o hipotético problema de uma sociedade a ter
de investir mais na saúde e nos cuidados com deficientes.
Declino,
contudo, uma medida que é, a meu ver, meramente economicista, não há razões
clínicas nela implícitas. Ela valoriza o capital em detrimento do ser,
colocando simultaneamente questões de ordem ética, nomeadamente no que se
refere à legitimidade de agir, de forma deliberada, contra a natureza do
sistema biológico humano. Glenn Cohen, perito em bioética da Universidade de
Harvard, considera que existe na medida agora anunciada uma enorme ambiguidade;
passa-se a mensagem de que a maternidade não é compatível com os altos níveis
de competitividade e exigência das duas empresas, sendo necessário adiá-la através
de um método contranatura, sem resultados de sucesso garantidos!
* título da nossa responsabilidade e retirado do texto.
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