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imagem retirada de http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/ |
Carlos Fiolhais, cientista reconhecido, físico, professor, divulgador de ciência, pedagogo, exercendo uma cidadania ativa, com vasta obra publicada, deu uma entrevista ao portal VER - Valores, Ética, Responsabilidade, da qual transcrevemos alguns excertos, com sublinhados da nossa responsabilidade, convidando à sua leitura integral em http://www.ver.pt/a-etica-esta-para-alem-da-ciencia/
«A ciência e a tecnologia têm, de facto, proporcionado novas condições de vida. Por exemplo, vivemos mais e com mais saúde usando as modernas tecnologias médicas e comunicamos mais facilmente usando as modernas tecnologias da informação e comunicação.
No entanto, são cada vez mais prementes questões sobre a utilização dos meios que a ciência nos proporciona. A genómica possibilita informação sobre a nossa identidade biológica, mas quem e em que condições poderá ter acesso a essa informação? Parece possível a edição do genoma, mas quais são os limites da utilização desse tipo de técnicas? Será legítimo melhorar geneticamente os seres humanos?
Por outro lado, a informática coloca problemas à nossa privacidade. Quem pode ter acesso aos nossos dados pessoais e em que circunstâncias? Não poderá a utilização de algoritmos de inteligência artificial servir para usar os nossos dados para nos manipular, para fazer escolhas em vez de nós, isto é, para ameaçar a nossa liberdade?
As novas tecnologias colocam novos desafios, que não são apenas técnicos e científicos, mas são éticos, legais, económicos e políticos. Sublinho a palavra “éticos”. Uma coisa é o que se pode fazer, e sobre isso a ciência e a tecnologia podem informar, e outra coisa, bem diferente, é o que se deve fazer. Um meio pode ser bem ou mal utilizado, pode ser utilizado para o bem ou para o mal, sendo o juízo sobre o que é o bem e o que é o mal um juízo necessariamente humano.
As questões éticas são questões individuais e sociais. Cada um de nós e todos nós somos, nas sociedades democráticas, chamados a decidir, quer directamente, quer nas escolhas que fazemos de quem nos representa. O conhecimento científico e técnico ajuda a tomar decisões éticas e legais ao fornecer informação relevante, mas as decisões irão sempre ultrapassar a ciência. A ética está num plano diferente da ciência, está para além da ciência. E, embora os cientistas devam ter preocupações éticas, as preocupações éticas devem ser do conjunto da sociedade.
No passado tivemos de estabelecer novos limites sempre que novas possibilidades surgiram. E agora estamos novamente confrontados com a necessidade de estabelecer limites, surgindo a questão de muito pouca gente perceber a nova ciência e tecnologia. Pouca gente percebe a moderna genética e a moderna inteligência artificial. No entanto todos nós iremos ser, estamos já a ser, afectados por elas. A solução, que não é fácil, reside em maior e melhor difusão da cultura científica, isto é, numa mais nítida percepção pública da ciência. Entre nós, o “Ciência Viva” pode fazer bem mais neste campo que é o seu. É preciso uma reflexão e são precisas novas iniciativas.»