terça-feira, 20 de junho de 2023

Kant e o imperativo categórico

Richard Osborne, Filosofia para Principiantes, Lisboa, Ed. Presença, 1997, p.113.


O imperativo categórico [imperativo universal do dever] é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
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2) Uma outra pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência de perguntar a si mesma: Não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? admitindo que se decidia a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedir emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. Este princípio do amor de si mesmo ou da própria conveniência pode talvez estar de acordo com com todo o meu bem-estar futuro; mas agora a questão é de saber se é justo. Converto assim esta exigência de amor de si mesmo em lei universal e ponho assim a questão: Que aconteceria se a minha máxima se tornasse em lei universal? Vejo então imediatamente que ela não poderia valer como lei universal da natureza e concordar consigo mesma, mas que, pelo contrário, ela se contradiria necessariamente. Pois a universalidade de uma lei que permitisse a cada homem que se julgasse em apuros prometer o que lhe viesse à ideia com a intenção de o não cumprir, tornaria impossível a própria promessa e a finalidade que com ela se pudesse ter em vista; ninguém acreditaria em qualquer coisa que lhe prometessem e rir-se-ia apenas de tais declarações como de vãos enganos.
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Temos que poder querer que uma máxima da nossa ação se transforme em lei universal: é este o cânone pelo qual a julgamos moralmente em geral.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, trad. de Paulo Quintela, Coimbra, Atlântida Ed., 1960, pp. 56-60.

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