domingo, 12 de março de 2017

Pensar é perigoso e não pensar é mais perigoso ainda...


Influenciado pela reflexão sobre o mal de Hanna Arendt, o psicólogo S. Milgram concebeu uma situação experimental, que concretizou entre 1961 e 1963, com a qual testa até onde podem ir os comportamentos de obediência...


Em 2015 estreou-se nos E.U.A. (entre nós, em 2016) o filme «Experimenter», de M. Almereyda, que conta com Peter Sarsgaard e Winona Ryder nos principais papéis. O filme é praticamente uma biografia relatando a vida pessoal e académica de Milgram e, naturalmente, esta importante experiência.



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Imagem retirada de: http://cinecartaz.publico.pt/Filme/362657_experimenter




Stanley Milgram foi influenciado pelos terríveis acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e, particularmente, pela cobertura jornalística que a filósofa Hannah Arendt fez do julgamento do nazi Eichmann, em Jerusalém, durante o ano de 1961. Arendt desenvolve aí o conceito de «banalidade do mal», através do qual explica como indivíduos normais, em determinadas contextos, podem praticar atos desumanos e criminosos que individualmente e noutras situações não praticariam. Obedecer a ordens, obedecer simplesmente a ordens, essa teria sido a única culpa que Eichmann admite.


Milgram concebe uma situação experimental através da qual possa explicar os comportamentos de obediência. 
Os sujeitos participantes desempenhavam o papel do «professor» que castigava o «aluno» a cada resposta errada com choques elétricos progressivamente mais fortes à medida que o número de respostas erradas aumentava (sem saberem que o «aluno» não estava, na realidade, a receber qualquer choque). 

Os resultados obtidos foram surpreendentes, até para Milgram, visto que cerca de 65% dos participantes na experiência (voluntária e com remuneração pouco significativa) chegaram a infligir choques elétricos de 450 volts (suscetíveis de provocar a morte). Apesar de poderem desistir a qualquer momento, apesar de o fator remuneração ser desprezível, só cerca de 30% abandonaram a experiência.

Esta semana, os alunos de Psicologia do 12º ano puderam ver este video trazido pela M. B. e pela B.O.

I


Indivíduos normais (e não especialmente perversos ou cruéis) são capazes de praticar atos em que infligem danos a outrem (até mesmo a própria morte), desde que estejam numa situação em que considerem ter de obedecer, em que estejam submetidos a uma autoridade, em que sintam diminuição ou desaparecimento da noção de responsabilidade pessoal. Hanna Arendt diria, em que não pensem por si próprios.

Reproduções da experiência de Milgram já foram levadas a cabo com resultados similares. Em 2009 foi feita uma experiência por jornalistas que deu origem ao documentário Le jeu de la mort (2010) numa coprodução da  France Télévisions e da Radiotélévision Suisse, com resultados que continuam a dar que pensar.

Mas isso fica para outro post...



3 comentários:

  1. Como vimos em aula, alguns dos "professores", os sujeitos alvos da experiência, levaram os choques até ao nível máximo sem terem qualquer tipo de remorso pois estavam sobre o efeito de autoridade e outros colocaram a responsabilidade em quem os estava a observar, considerando-os elementos de autoridade.
    Assim, evidenciam-se os fatores que predispõem para a obediência, ou seja, o sentimento de desresponsabilização, sendo que os "professores" não se consideravam responsáveis pelos seus atos de obediência nem pelas consequências destes; poderíamos também sublinhar que a proximidade e presença física da autoridade fizeram, em particular nesta experiência, aumentar o grau de obediência dos sujeitos.

    Rodrigo Canhoto (nº19) e Vera Pessoa Jorge (nº27), turma 12ºG

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  2. Quando a professora mencionou a experiência de Milgram e a relacionou com o filme “Experimenter” recordo-me que achei esta experiência bastante inovadora e revolucionária. Cada experiência que visa compreender as atitudes humanas e suas causas deve ser bem
    elaborada e comprovadamente segura para os participantes e acho que Milgram conseguiu isso bastante bem.
    A sua experiência mostra que pessoas comuns, condicionadas pelo sistema, são capazes de torturar e até matar apenas pela obediência cega e cumprimento do dever. Isso explica porque é que os soldados matam nas guerras, a dimensão do partido Nazi, e muitos outros acontecimentos trágicos que aconteceram porque os sujeitos estavam apenas a cumprir ordens. Desta maneira conseguimos identificar os fatores que incentivam a obediência, sendo estes: a proximidade da figura de autoridade, sentimento de desresponsabilização, fraca auto-estima, desejo de ser aceite e muitos outros.
    Para concluir, a experiência de Milgram foi ,na minha opinião, bastante bem conseguida pois permitiu explicar os comportamentos da obediência a olhos profissionais.
    João Silva n.12, 12i

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  3. No terceiro período do ano letivo de psicologia com a professora Luísa Nogueira, o tema principal foi a psicologia social, depois de termos aprendido as estruturas básicas do cérebro, e um pouco de como esta estrutura complexa funciona.
    A maior parte dos temas ensinados nas variadas disciplinas da escola acabam por se tornar um pouco desinteressantes, se eu me sentir incapaz de me conectar um pouco com as mesmas. Este não foi o caso com a matéria relacionada com a psicologia social.
    A psicologia social acaba por englobar e rotular vários processos pelo qual passamos, toda a nossa vida. Alguns desses são o conformismo, a obediência e a normalização. Esta secção da psicologia procurou e procura exatamente explicar como certos fatores (autoestima, responsabilidade, etc) influenciam o nosso comportamento, face a indivíduos ou grupos que nos pressionam ou influenciam, diretamente e indiretamente, a realizar certas ações.
    Achei, por isso, este tema muito curioso e relevante porque tem uma ligação direta com todos os Humanos, independentemente da nossa idade, já que em todos os momentos somos influenciados e influenciamos outros, quer queiramos ou não, e, assim, é possível aplicarmos este tópico às nossas relações e tentar chegar a alguma conclusão, que pode acabar por ser útil de algum modo. As experiências que nos foram apresentadas (Salomon Asch e Milgram), mostram-nos, exatamente, os processos que ocorrem no caso de nos esquecermos que somos indivíduos e, no fim das contas, temos de saber ter sentido crítico e não nos sujeitarmos ao que quer que seja sem refletirmos.
    A psicologia social é muito interessante pela sua vasta aplicação e foi exatamente por isso que foi dos temas mais envolventes e reveladores, para mim. Cristiano Santos nº9 12ºH

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