DEVO AJUDAR OS OUTROS? Se tomarmos como referência a ética kantiana, para saber a resposta temos que nos fazer duas simples perguntas:
1) A ação de ajudar os outros pode ser universalizável? Quer dizer, válida não apenas para mim mas para todos os homens?
2) Quererei que a ação de ajudar os outros possa ser considerada uma lei da natureza?
Se responder afirmativamente, então a ação de ajudar os outros é uma ação moral. Em qualquer situação que se me depare, se tiver dúvidas, são só estas perguntas que tenho de fazer. Nada de obediência a regras, a prescrições, a credos morais impostos do exterior. Só tenho de pensar por mim mesmo, autonomamente, quer dizer, de modo exclusivamente racional.
Sim, sim, é isso mesmo, só temos de utilizar a fórmula do imperativo categórico baseada na autonomia da vontade.
Deixemo-vos com o texto de Kant:
«Uma quarta pessoa ainda, que vive na prosperidade ao mesmo tempo que vê outros lutar com grandes dificuldades ( e aos quais ela poderia auxiliar), pensa: que é que isso me importa? Que
cada qual seja feliz conforme a vontade dos Céus ou consoante consegue fazer por
si; nada lhes tirarei nem os invejarei; mas contribuir para o seu bem-estar ou o seu socorro na desgraça, para isso é que eu não estou!
Ora supondo que tal maneira de pensar se transformava em lei universal da natureza, é verdade que o ser humano poderia subsistir, e sem dúvida melhor do que se cada qual se pusesse a palrar de compaixão e benevolência e mesmo se esforçasse por praticar ocasionalmente estas virtudes, ao mesmo tempo que, se pudesse, se desse ao engano, vendendo os direitos dos outros ou prejudicando-os de qualquer outro modo. Mas, embora seja possível que
uma lei universal da natureza possa subsistir segundo aquela máxima, não é contudo possível querer que um tal princípio valha por todo o lado como lei natural. Pois uma vontade que decidisse tal coisa entraria em
contradição consigo mesma; podem com efeito descobrir-se muitos casos em que a pessoa em questão precise do amor e compaixão dos outros e em que ela, graças a tal lei natural nascida da sua própria vontade, roubaria a si mesma toda a esperança de
auxílio que para si deseja.»
Immanuel Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785),
ola
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