O neurocientista António Damásio, no capítulo 12 desta obra intitulado "Sobre a atual condição humana" (António Damásio (2017). A Estranha Ordem das Coisas. Lisboa: Temas e Debates, pp. 287-315) aborda o problema do progresso humano, mostrando quais os elementos que devem ser equacionados e o argumentos que podem ser apresentados para sermos capazes de encontrar uma resposta. Assim, para a pergunta "Há progresso humano?" ou "Será a nossa época a melhor época de todas?" começamos por encontrar uma primeira tese afirmativa: - Sim, há; sim, a nossa época é a "melhor das épocas para se estar vivo".
Porque..."estamos rodeados por descobertas científicas espetaculares e por um brilho técnico que tornam a vida cada vez mais confortável e conveniente; porque a quantidade de conhecimentos disponível e a facilidade de acesso a esses conhecimentos nunca foram tão elevadas, acontecendo o mesmo em relação à interligação humana a uma escala planetária, como se prova pelas viagens, pela comunicação eletrónica e pelos acordos internacionais sobre todos os tipos de cooperação científica, artística e comercial; porque a capacidade de diagnóstico, gestão e até cura de doenças continua a aumentar e a longevidade continua a prolongar-se de tal forma que se espera que os seres humanos nascidos após o ano 2000 possam viver, e bem, segundo se espera, até uma média de 100 anos. Em breve seremos conduzidos por veículos robotizados que nos poupam esforço e vidas, pois, a certa altura, deveremos ter menos acidentes fatais."
No entanto, é possível objetar a esta tese que:
" para considerar os nossos dias como sendo os melhores de sempre seria preciso que estivéssemos muito distraídos, para já não dizer indiferentes ao drama dos restantes seres humanos que vivem na miséria. Embora a literacia científica e técnica nunca tenha estado tão desenvolvida, o público dedica muito pouco tempo à leitura de romances ou de poesia, que continuam a ser a forma mais garantida de penetrar na comédia e no drama da existência, e de ter oportunidade de refletir sobre aquilo que somos ou que podemos vir a ser. (...) Curiosamente, ou talvez não tanto, o nível de felicidade nas sociedades que mais beneficiaram com os espantosos progressos do nosso tempo mantém-se estável ou em declínio, caso possamos confiar nas respetivas avaliações".
(cont.)
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