segunda-feira, 9 de maio de 2022

Vieira, contemporâneo de Descartes – os desafios da Modernidade (1)

Este é o título que atribuímos à contribuição da disciplina de Filosofia para um projeto de articulação curricular com uma turma do 11º ano. Assim, vamos iniciar uma série de publicações que pretendem contribuir para os alunos formarem uma visão integrada de informação que recolheram em diversas disciplinas. 

O ponto de referência do projeto é o Padre António Vieira, essa figura maior da Cultura Portuguesa.


Estamos no século XVII, o século de Descartes, o século da Revolução Científica que destruiu a cosmovisão medieval e abriu as portas para pensar um Universo infinito, uma física matemática e toda uma nova mundividência. 
Na disciplina de filosofia, os nossos alunos foram levados a conhecer René Descartes e, também, a perceberem os processos de construção do conhecimento científico. Deste modo, cruzando filosofia do conhecimento e filosofia da ciência perspetivamos o saber e o conhecimento humanos de uma forma mais rica e englobante.

https://www.gettyimages.pt/fotos/ren%C3%A9-descartes


Algumas ideias que os alunos já conhecem das aulas de Filosofia

- Descartes, filósofo que viveu na primeira metade do século XVII (1596-1650), é um matemático, um cientista, um homem do seu tempo, que levou a cabo um projeto de construção de uma nova filosofia. O seu contributo é notável, tanto na matemática, com a descoberta da geometria analítica, como na filosofia, com a teoria do conhecimento e o racionalismo moderno.

- Descartes é participante deste movimento da ciência moderna, é contemporâneo de um dos vultos mais proeminentes da revolução científica do século XVII, Galileu Galilei (1564-1642) e, tal como ele, defensor do heliocentrismo... 

- A revolução científica do século XVII pode ser considerada um exemplo de alteração de paradigma, na análise e concetualização da história da ciência por T. Kuhn (1922-1996). 

Modelo geocêntrico 


Modelo heliocêntrico de Copérnico 
(https://www.goconqr.com/slide/11409275/hist-ria-da-astronomia)


Século XVII - Portugal e as novas ideias
Apesar de Portugal não ter tido expressão neste movimento e de as novas ideias terem feito um caminho lento e árduo em terras lusas, deu um contributo inestimável: a expansão portuguesa, a descoberta de que o mundo não era como os mapas antigos mostravam, destruiu o que se tomava há séculos como verdade. O mundo antigo ruía... O saber antigo baseado nos livros, nos textos aristotélicos e na Bíblia, revela-se inadequado, ocorre a valorização da experiência, do "saber de experiência feito", como diziam os nossos homens de quinhentos, como dizia Camões. Camões, o poeta que assistiu à gesta dos portugueses e à chegada por mar às misteriosas e ricas terras da Índia, escreveu os Lusíadas, a obra épica onde os portugueses se reveem. 
A descoberta de uma nova geografia, com os portugueses, a construção de um modelo heliocêntrico do cosmos, com Copérnico, ainda no século XVI, a descrição matemática das órbitas dos planetas em redor do sol, com Kepler, a observação da Lua, dos satélites de Júpiter e dos anéis de Saturno, a descoberta da lei da queda dos corpos por Galileu, na primeira metade do século XVII e, finalmente, a formulação da teoria da gravitação universal por Newton (1642-1727), já no final deste século, dão-nos um pouco a noção de quanto somos devedores ao século XVII.

No entanto, o século XVII português não participa ativamente neste movimento e novo ambiente intelectual. As novas ideias, filosóficas e científicas, farão um caminho difícil em Portugal. No entanto, há sinais deste novo tempo. Sinais que encontramos também no Padre António Vieira.

O texto de Carlos Fiolhais, "Vieira e a Ciência", serve-nos, agora,  de guia orientador. 
(disponível em https://eg.uc.pt/bitstream/10316/41191/1/vieira_e_a_ciencia.PDF, consulta a 31 de março de 2022)

"O Padre António Vieira viveu numa época de ouro da ciência, a época da revolução científica, na qual sobressaíam grandes nomes como René Descartes, Galileu Galilei e Isaac Newton. Não sendo um cientista, tanto pela preparação que adquiriu no Colégio da Baía, no Brasil (...) como pelas suas numerosas leituras durante a sua longa vida, estava a par da ciência do seu tempo. Aos seus conhecimentos científicos ia amiúde buscar exemplos que serviam o seu discurso catequético e profético."
                                                            (continua)

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