(continuação)
Quem nunca se encantou com o arco-íris?
Quem nunca contou sete cores no arco-íris?
Quem nunca sonhou ao olhar um arco-íris?
“Na Íris ou Arco celeste, todos os nossos olhos
jurarão que estão vendo variedade de cores: e contudo ensina a verdadeira
Filosofia que naquele Arco não há cores, senão luz, e água”. (Vieira, 1645)
“Isto, que chamamos Céu, é uma mentira azul, e o que chamamos Íris ou Arco-celeste, é outra mentira de três cores”. (Vieira, 1651)
Mais tarde...
«Newton, que realizou experiências com prismas de vidro em 1666, explicará que o desvio da luz de um meio para outro se devia à diferente velocidade de diferentes partículas de luz nos dois meios. A luz solar é branca, mas, como a luz branca é feita de partículas correspondentes às diferentes cores, as cores apareceriam diferenciadas dentro da gota e, ainda mais, à saída dela.»
E Vieira, em 1669, partilhando a perspetiva cartesiana:
“O rústico,
porque é ignorante, vê muita variedade de cores no que ele chama Arco-da-Velha; mas o Filósofo, porque é sábio, e conhece
que até a luz engana (quando se dobra), vê que ali não há cores, senão enganos
corados, e ilusões da vista”.
Comenta Fiolhais:
«Repare-se como
é dada a primazia ao saber do “filósofo” (filósofo natural, entenda-se) em
relação ao saber comum. Uma das marcas da ciência moderna é precisamente a
ultrapassagem do senso comum: esta é ainda mais visível em Galileu e Newton do
que em Descartes. O arco-íris é real, mas, para ele existir, têm de concorrer
três coisas: a luz solar, as gotas de água e os olhos do observador. Cada
observador terá sempre um arco-íris em torno de si, razão pela qual nunca
poderá alcançar uma ponta.»
NOTA: Todas as citações são do artigo de Carlos Fiolhais, "Vieira e a Ciência", disponível em em https://eg.uc.pt/bitstream/10316/41191/1/vieira_e_a_ciencia.PDF, consulta a 31 de março de 2022.
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