Criticar não é dizer-mal; é procurar ver bem. Tão-pouco
criticar é contrapôr, de um modo abstrato e mecânico, enunciações que entre si
se excluem. (…) A crítica é um exame: um fazer passar pelos crivos da
racionalidade, e do discernimento, tudo aquilo que imediatamente se nos
apresenta (…) como inquestionável.
Há que cuidar de um estabelecimento correto dos problemas. A
labuta do pensar não visa simplesmente as respostas que, em prémio, hão-de
obter-se. Precisa de madrugar. Começa mais cedo. Pela elaboração dos
questionários. As «soluções» não caem do céu. De paraquedas. Por inspiração
funda de alguma corrente de ar benfazeja. Rodopiando no espirro incandescente
de uma revoada de luz, ou no piar de um passarinho. As vias resolutórias
engendram-se, surgem, e transpiram, de dentro de uma problemática que lhes define
um horizonte. Confirma-se que os filósofos parecem ter predileção pelo acionamento
de uma estranha maquineta que dá pelo nome sugestivo de «complicómetro». Mas
não é porque eles estejam possuídos por uma indebelável mania de ensarilhar os
lotes. O sarilho está metido no próprio enredamento das coisas. E para desenvencilhar
é preciso trazê-lo à mastigação do pensamento.
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