sábado, 6 de janeiro de 2018

"Há muitos jovens que não conseguem falar com os pais" ? - VI

DANIEL: Vamos agora falar de uma área que talvez já tivesse aparecido em todas as coisas, mas agora concretizando um pouco mais: que é a questão da família. Como é que tu vês a relação pais/filhos?
     Como psiquiatra encontro muitos jovens que não conseguem falar com os pais. Os pais não estão disponíveis porque estão cansados, estão preocupados com os empregos. Não conseguem desabafar com eles. Muitas vezes sentem que nem sequer têm tempo. Por outro lado, encontro pais que dizem que se afastam muito dos filhos, que não os compreendem. Que os filhos tomam completamente contas das coisas, que os filhos é que mandam e que por vezes até me perguntam: "Senhor doutor, diga-me como é que eu hei-de lidar com os meus filhos; como é que eu hei-de fazer?", o que me faz muita confusão porque esse não é o papel do psiquiatra. O psiquiatra não tem que dizer aos pais ou aos filhos como é que eles têm de se comportar. Mas eu encontro muito essa falta de comunicação.
DIOGO: Eu não, porque tenho uns pais muito liberais e até sou eu que acho que são liberais de mais. Provavelmente eu estou errado mas eu não sou capaz, por vezes, de ter certas conversas com os meus pais. os meus pais são, provavelmente, capazes de ter essa conversa comigo. Os meus paiseram perfeitamente capazes de ter uma conversa de sexo comigo e eu não sou capaz de falar de sexo com eles. É mais ou menos isso.
DANIEL: Tentando agora fugir um pouco da tua situação pessoal, o que é que dificulta esta comunicação?
DIOGO: Como dizem os ingleses é a "generation gap", uma falta de comunicação entre as gerações, que têm diversões diferentes...
   A geração dos meus pais é de um regime diferente e sempre tiveram liberdades diferentes, muito mais reduzidas. E os meus pais, por acaso, sempre foram muito liberais. Só que acho que na maioria dos casos os pais, como tinham poucas liberdades, também não querem dar essas liberdades aos filhos, até talvez por uma questão de inveja; eles não tiveram e acham um bocado mau que os filhos venham a ter, portanto, só nos dão quando eles começaram também a ter.
Idem, p. 36

Embora o contexto desta imagem seja outro, não lhe resisto...

Retirada de https://osegredo.com.br/2016/07/dialogo-uma-ponte-para-construcao-de-relacionamentos-saudaveis/


2 comentários:

  1. Considero que a dificuldade dos pais em comunicar com os filhos se deve ao facto de haver uma falta de liberdade e de oportunidades dos pais durante a sua adolescencia o que leva a um condicionamento de pensamento que se reflete de maneira critica principalmente nestes dois tipos de cenarios:
    Primeiro e mais grave, o jovem sendo bastante rebelde e querendo apenas direitos e nao deveres leva a que os pais nao assumam uma postura de dialogo pois sabem que apenas à base de uma autocracia poderam levar o filho a bom porto;
    Segundo acontece que quando o filho de determinado casal apresenta um desenvolvimento cognitivo acima dos pais este exprime ideias que os pais nao compreendem e nao concordam o que leva a que os pais se sintam desorientados pois apesar de o filho ser responsavel nao tem os mesmos ideais que os pais o que leva a que muitas vezes os pais vejam o filho como um idealista ou como uma especie de extraterrestre

    ResponderEliminar
  2. Assim como referido no texto, um dos maiores problemas que conduzem à falta de comunicação entre pais e filhos é o tal "generation gap", que se traduz num afastamento entre as gerações por viverem ou terem vivido em diferentes condições socioculturais, afetando os seus comportamentos e as suas atitudes. É importante que atualmente os pais compreendam que os filhos se encontram inseridos num espaço-tempo diferente daquele em que os pais se encontraram na sua adolescência. Assim, devem adaptar-se às situações e procurar ser flexíveis, de modo a não perder a comunicação com os filhos, pilar fulcral da relação.
    Carla Correia e Catarina Hilário

    ResponderEliminar