terça-feira, 24 de novembro de 2020

A vacina contra a Covid 19 é segura?

Desta vez, desafiamos os nossos alunos a aplicarem os seus conhecimentos sobre argumentos na análise desta notícia. 

Damos algumas pistas...

O argumento indutivo, para ser bom, necessita de preencher alguns requisitos. As inferências indutivas apresentam sempre uma margem de risco, por isso é preciso garantir certos procedimentos para nos assegurarmos do valor da nossa conclusão. Por exemplo, temos de trabalhar com uma "amostra ampla e representativa"...

Publicamos, então, esta notícia do jornal "Público" de 19 de novembro intitulada 

Covid 19: vacina de Oxford é "segura" e também provoca resposta imunitária em pessoas mais velhas.

A potencial vacina contra o novo coronavírus que está a ser desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca revelou-se “segura” e produziu uma resposta imunitária em pessoas acima dos 56 anos — aquelas que são mais propensas a desenvolver uma forma grave de covid-19. A vacina experimental já tinha mostrado resultados semelhantes numa faixa etária mais jovem, em adultos entre os 18 e os 55 anos. Os resultados da segunda fase dos ensaios, considerados “promissores”, foram publicados esta quinta-feira na revista científica The Lancet.

Na segunda fase dos ensaios clínicos, 560 participantes (160 entre os 18 e os 55 anos, 160 entre os 56 e os 69 anos e 240 com 70 anos ou mais) foram divididos em dez grupos e receberam a vacina da covid-19 (baptizada ChAdOx1 nCoV-19) ou uma vacina de “controlo”, neste caso a da meningite. Os participantes com mais de 55 anos também foram divididos em grupos e receberam uma única dose da vacina ou duas doses num intervalo de 28 dias.

Assim, os resultados mostram que a vacina causa poucos efeitos secundários e induz respostas imunitárias em todas as faixas etárias (quer tenha sido administrada uma dose baixa ou uma dose normal), provocando uma resposta imunitária dos linfócitos T, células importantes na criação de imunidade, num período de 14 dias após a vacinação. Quer isto dizer que a vacina é capaz de encontrar e atacar as células infectadas com o vírus. Por outro lado, o fármaco também provocou uma resposta de anticorpos dentro de 28 dias após a dose de reforço, o que significa que consegue encontrar e atacar o vírus SARS-CoV-2 quando este está a circular no sangue ou no sistema linfático.

A fase três dos ensaios está já em andamento para confirmar os resultados agora divulgados e para perceber o grau de eficácia da vacina na protecção contra a infecção pelo SARS-CoV-2 num grupo mais alargado de pessoas, incluindo idosos com problemas graves de saúde — até porque a fase dos ensaios que está agora terminada só incluiu cidadãos saudáveis que podem não ser representativos da generalidade da população mais idosa.

“As respostas imunitárias das vacinas são, muitas vezes, menores em adultos mais velhos porque o sistema imunitário se deteriora gradualmente com a idade, algo que também deixa os idosos mais susceptíveis a infecções. É crucial que as vacinas da covid-19 sejam testadas neste grupo, que também é um grupo prioritário para a imunização”, refere Andrew Pollard, professor da Universidade de Oxford (Reino Unido) e o principal autor do estudo. Pollard disse ainda que os resultados finais devem ser conhecidos até ao Natal.

Já Maheshi Ramasamy, co-autor, diz que as respostas geradas pela vacina em pessoas idosas “são encorajadoras” e espera que isto signifique que possa ajudar a proteger algumas das pessoas “mais vulneráveis ​​da sociedade”. “Precisamos de mais estudos antes de podermos dizer isso com certeza”, afirma, citado no comunicado da The Lancet.


A investigadora Sarah Gilbert afirmou que o estudo dá algumas respostas sobre a protecção de pessoas mais velhas, mas que ainda há dúvidas “sobre a eficácia e a duração da protecção”, que terão que ser confirmadas “em pessoas mais velhas com doenças pré-existentes”.

Depois da vacinação, os voluntários foram observados por um período mínimo de 15 minutos para se perceber se poderiam ocorrer efeitos nocivos imediatos, mas nada foi registado num período de sete dias. As reacções adversas à vacina ChAdOx1 nCoV-19 foram moderadas — os efeitos mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injecção, fadiga, dor de cabeça, febre e dores musculares —, mas mais comuns do que as observadas com a vacina de controlo.

Foram registados “13 eventos graves nos seis meses após a primeira dose ser foi administrada, mas nenhum dos quais está relacionado com as vacinas em estudo”, lê-se no estudo. Os participantes vão continuar a ser monitorizados durante um ano após a vacinação. Os testes da vacina chegaram a ser suspensos em Setembro depois de um voluntário ter tido uma reacção adversa grave, mas foram retomados poucos dias depois.

Há 47 candidatas a vacinas em ensaios clínicos (em pessoas) e dez estão na fase 3 (em que é feita a avaliação dos resultados do fármaco em milhares de voluntários), segundo documentação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 3 de Novembro. A vacina de Oxford é uma das que surgem na frente da corrida para encontrar uma vacina viável para combater a infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2. A equipa foi uma das primeiras a iniciarem ensaios clínicos em humanos.


Nas últimas semanas, várias empresas de biotecnologia e farmacêuticas tem-se chegado à frente e apresentado resultados (alguns ainda preliminares) dos ensaios clínicos das suas vacinas, entre estas a Pfizer e a sua parceira alemã BioNTecha Sinovaca Moderna e o Fundo de Investimento Directo Russo, que está a desenvolver a vacina Sputnik V.

Notícia retirada daqui: https://www.publico.pt/2020/11/19/ciencia/noticia/covid19-vacina-oxford-segura-tambem-provoca-resposta-imunitaria-pessoas-velhas-1939750, consulta a 24 de novembro, 2020.



Ainda o Dia Mundial da Filosofia 2020

A M.L., aluna do 10ºano, tem vindo a descobrir a Filosofia...

Decidiu, para este Dia Mundial da Filosofia, organizar este desdobrável, onde reuniu algumas ideias que a atraíram sobre a questão da Felicidade...






quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PANDEMIA E FILOSOFIA (7)

 Nota: os subtítulos são da nossa responsabilidade.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

 

 

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

 

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho 


7. A dimensão existencial da filosofia ou para além da ética e da política

 

Para terminar, creio ser importante referir que a filosofia tem também uma dimensão existencial relevante, vocacionada para enfrentar na primeira pessoa as grandes interrogações sobre a vida, a morte, o nosso destino individual e coletivo. A filosofia, segundo a máxima ciceroniana de Montaigne, consiste em "aprender a morrer". Desde as grandes escolas filosófica das Antiguidade tardia, como o estoicismo e o epicurismo, ao existencialismo contemporâneo de autores como Camus e Sartre, passando por muitos outros, a filosofia pode ser um bálsamo para tempos difíceis ou, pelo contrário, um acordar das consciências adormecidas pelo efeito anestesiante da quotidianidade. Esta dimensão da filosofia, indo para além das áreas da ética e da política que aqui me propus tratar, será com certeza central nos próximos tempos, durante e após a pandemia[Conclusão]

 

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto. Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html


PANDEMIA E FILOSOFIA (6)

 Nota: o subtítulo é da nossa responsabilidade.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

 

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho

 

6. O que fazer? Quem decide?

Um outro desafio que a pandemia lança é o do papel dos especialistas no processo de tomada de decisões. A ideia geral é que cabe aos especialistas, sobretudo cientistas, indicar aos políticos o que fazer - e que a fonte dos nossos problemas é o desrespeito pela opinião científica especializada. Não deixando de salvaguardar o papel dos experts, esta visão epistocrática tem de ser confrontada com uma epistemologia mais democrática e aberta à opinião dos não especialistas.

Com a crescente perceção dos problemas económicos provocados pela pandemia e pelo combate à pandemia, surge com maior acuidade a questão dos efeitos assimétricos da crise em função das desigualdades sociais preexistentes. Com a pandemia, será necessário voltar à reflexão sobre a justiça distributiva e incidir especialmente nos cuidados de saúde. Um outro aspeto específico da reflexão contemporânea sobre a justiça que terá de ser reavaliado é o da justiça em relação aos mais velhos e da justiça intergeracional (em relação às próximas gerações), dada a terrível situação vivida nos lares para idosos e a previsibilidade de mais pandemias no futuro.

Uma crise preexistente a esta pandemia é a dos refugiados e migrantes económicos que tem pressionado não apenas a Europa mas também várias outras partes do mundo. As crises de saúde e económicas que se avizinham nas regiões mais pobres do globo farão certamente eclodir novos movimentos de pessoas à procura de segurança física e económica. Em contexto pandémico, a questão da permeabilidade das fronteiras, da sua maior abertura ou fechamento, assim como da capacidade das sociedades de acolhimento para a integração dos novos migrantes, estará na ordem do dia. (continua)

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto. Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html


PANDEMIA E FILOSOFIA (5)

 Nota: os subtítulos são da nossa responsabilidade.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

 

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho

 

 

5. Um desafio para a democracia

As questões relacionadas com a tecnologia conduzem a uma outra, mais genérica: a do eventual abuso do "estado de emergência", colocada, como vimos, por Agamben, entre muitos outros. Este tema é obviamente relevante quando abordado com respeito pelos dados empíricos. Os estados de exceção constitucionalmente previstos não têm de ser vistos como forma de minar a Constituição, ou como a revelação de que, no fundo, a Constituição não é democrática, mas antes como mecanismos internos que permitem salvaguardar a democracia em situações-limite, desde que não sejam prolongados indefinidamente (como acontece atualmente na Hungria).

No contexto histórico em que vivemos, a grande questão para a democracia tem a ver com a concorrência global com os regimes autocráticos, que tendem a reivindicar a sua superioridade no combate à epidemia. O cenário atual mostra uma disputa internacional entre os modelos democráticos, por um lado, e os modelos autocráticos como o chinês, por outro lado. Além disso, muitas democracias estão agora em crise interna, sob a pressão dos populismos que, nascendo em contexto democrático, tendem a arrastar essas democracias para o lado autocrático. Este é um desafio maior para a teoria democrática.

(continua)

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto. Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html

PANDEMIA E FILOSOFIA (4)

 Nota: os subtítulos são da nossa responsabilidade.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

 

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho

 

3. Ética animal e ética ambiental

Um problema que tem sido correntemente levantado relaciona-se com a origem do novo coronavírus. O facto de a transmissão para humanos se ter dado num mercado onde se transacionavam espécies animais selvagens coloca no centro do problema da origem a relação entre o homem e a natureza. Há muito que as diversas correntes filosóficas da ética animal e da ética ambiental procuram criticar a relação de exploração e manipulação que existe em relação às espécies selvagens. Neste aspeto, a pandemia vem confrontar, de forma particularmente clara, as visões antropocêntricas prevalecentes que consideram que a natureza, incluindo os animais não humanos, é apenas um recurso ao serviço da espécie humana.

4. Liberdade versus segurança?

Uma outra questão tem a ver com o uso de tecnologias para a vigilância dos cidadãos e o controle da pandemia. A existência de novas tecnologias de vigilância e monitorização dos indivíduos coloca inúmeros problemas ao modo como concebemos a nossa relação com o Estado e, especificamente, como interpretamos as liberdades fundamentais que as democracias procuram estabelecer e preservar. Ainda no domínio da reflexão sobre a tecnologia, é de salientar a importância crescente das aplicações que tornam possível desempenhar à distância as tarefas que antes considerávamos apenas in propria persona. Estas transformações põem em causa a visão tradicional das relações interpessoais e dos laços de sociabilidade. (continua)

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto. Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html

PANDEMIA E FILOSOFIA (3)

 Nota. os subtítulos são da nossa responsabilidade.

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

 

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho

 

2. Os problemas ético-políticos

Embora outros exemplos pudessem ser dados, creio que o "caso Agamben" é suficiente para ilustrar o tipo de abordagem filosófica a evitar. Convém agora explicitar as razões pelas quais julgo que, ainda assim, a filosofia pode ter algo de relevante a acrescentar sobre a pandemia, desde que abandone o registo especulativo e oracular de pensadores como Agamben. Por falta de espaço, farei aqui um mero elenco de problemas, sobretudo de natureza ético-política, alguns dos quais têm já sido objeto de intervenção pública também entre nós, por autores como José Gil, Maria do Céu Patrão Neves ou Viriato Soromenho-Marques, entre outros.

O primeiro desses problemas tem a ver com o medo que a pandemia provoca. Thomas Hobbes, o fundador do pensamento político moderno, considerava que o medo da morte é a nossa paixão fundamental. Na ausência de um estado politicamente organizado prevalece o medo e a vida dos homens tende a ser difícil e breve. A pandemia, tal como acontece geralmente com catástrofes naturais, ou com a guerra, especialmente se for guerra civil, veio recordar-nos a fragilidade das sociedades politicamente organizadas e o modo como elas podem rapidamente cair na anomia se não existir uma condução política da situação. Com certeza que nos próximos tempos os filósofos voltarão a este tipo de reflexão sobre o papel social e político do medo, mas também o de outras paixões que o contrariam (a generosidade, o altruísmo).

Um outro problema, muito específico, colocou-se cedo e com especial acuidade. Trata-se de saber, de um ponto de vista ético, como distribuir cuidados de saúde numa situação de elevada procura e grande escassez de recursos. O critério mais aconselhado na literatura Ética é o do número de anos de vida com qualidade que se projeta para cada um dos indivíduos em causa. Por isso mesmo é que, quando temos de escolher entre salvar uma criança saudável ou alguém com muita idade ou que morreria em breve de outra doença, a escolha se impõe. Mas deve notar-se que este critério é de natureza consequencialista e pode entrar em choque com as nossas convicções sobre o valor absoluto da dignidade humana. [continua]

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto.

 

Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html

 

PANDEMIA E FILOSOFIA (2)

 Nota: os subtítulos são da nossa responsabilidade.

Filosofia e Pandemia: uma lista de problemas

 

João Cardoso Rosas, filósofo,

Professor na Universidade do Minho

 

1.     A epidemia não é uma conspiração do poder

Giorgio Agamben [filósofo italiano] reagiu prontamente ao alastrar da epidemia em Itália. No dia 26 de fevereiro [2020] publicou um texto em que lança dúvidas sobre a realidade factual da epidemia falando sobre "uma suposta pandemia" e considerando as medidas de emergência como "irracionais e totalmente infundadas". A suspeição levantada por Agamben, quando existiam já "zonas vermelhas" na Lombardia, está ancorada na sua filosofia e, mais especificamente, na convicção de que a governação atual tende a usar a ideia de "estado de emergência" como seu paradigma de atuação.
Agamben insistiu na mesma linha argumentativa num outro artigo, publicado no dia 11 de março. Segundo este autor, algo semelhante ao que atualmente vivemos terá acontecido com a chamada "guerra ao terrorismo". Perante o declínio desta "guerra", os governos inventaram outra, a "guerra ao vírus", de modo a poderem continuar a justificar a expansão dos seus poderes e a limitação das liberdades dos cidadãos. No quadro do combate ao terrorismo, os cidadãos foram todos transformados em potenciais terroristas e tratados como tal. No contexto da "suposta" pandemia, os cidadãos são potenciais contagiadores e por isso devem ser vigiados e mantidos à distância. Daí o favorecimento do teletrabalho, ou do ensino não presencial.
Não é difícil simpatizar com os receios de Agamben sobre as transformações políticas induzidas pela pandemia. É sem dúvida importante denunciar, como ele o faz, os usos perversos da linguagem - a "guerra" - a que recorre o discurso político no contexto pandémico. Mas o que verdadeiramente choca na sua intervenção é a negação categórica das evidências empíricas: a epidemia não é real, mas "suposta". As medidas dos governos não visam salvar vidas, são apenas uma conspiração do poder. Porque pensa que a governação atual tem como paradigma a criação de um "estado de emergência" permanente, Agamben reinterpreta, ou sobreinterpreta, factos que à partida não pareciam contestáveis. A realidade é forçada para dentro da teoria, por assim dizer. (continua)

Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias a 19 de setembro 2020, excerto.

Disponível em

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2020/filosofia-e-pandemia-uma-lista-de-problemas--12734662.html

PANDEMIA E FILOSOFIA (1)

Sob este título Pandemia e Filosofia, iniciamos a publicação de um conjunto de textos, que demos a conhecer na nossa escola através da sua distribuição na sala de professores e de uma pequena exposição na BECRE. Este ano, as condições não permitiram um maior envolvimento dos alunos no espaço escolar. O primeiro texto é de Viriato Soromenho-Marques e os restantes de João Cardoso Rosas, selecionados pelo seu enquadramento no tema do Dia Mundial da Filosofia deste ano. Ambos correspondem a excertos de dois artigos que foram publicados na imprensa, no jornal Diário de Notícias. O artigo de João Cardoso Rosas, pela sua extensão, foi dividido por nós em capítulos, aos quais foram atribuídos títulos para melhor legibilidade. 


DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Pandemia e hierarquia de valores

Viriato Soromenho-Marques, filósofo,

Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

 

Se o SARS-CoV 2 fosse uma arma, seria quase perfeita. A arma mais eficaz não é a mais letal, mas aquela que causa mais feridos de longa duração, que sobrecarrega as estruturas logísticas e hospitalares, que semeia o medo e a discórdia, que diminui a capacidade de luta através da entropia e desmoralização da sociedade. É exatamente o que estamos a observar - de modo ainda mais refinado do que na primavera - nestes primeiros passos da segunda vaga da covid-19.

Estamos num momento de encruzilhada em toda a Europa. Seria conveniente analisarmos dois "pontos cegos" fundamentais no modo como encaramos o que está a acontecer. A sua elucidação poderá ajudar-nos, como cidadãos, a fazer um juízo crítico e a agir em conformidade. O primeiro aspeto negligenciado prende-se com a falta de humildade de muitas das opiniões e críticas à ação dos governos. É claro que os governos devem ser escrutinados e criticados, o que é inadmissível é o caudal de críticas insensatas, vindas também de peritos, que arrogantemente escamoteiam a colossal ignorância que ainda temos sobre este novo coronavírus. Recordo a ligeireza como alguns especialistas se têm atrevido a prometer vacinas para datas próximas, mantendo-se imperturbáveis perante o número crescente de testes que são interrompidos por efeitos indesejáveis na saúde dos voluntários. Ou ainda a sobranceria como responsáveis de saúde pública falam em "imunidade de grupo", para justificar os erros grosseiros cometidos, por exemplo, pelas autoridades de saúde suecas. (…)

O desprezo pelo direito à vida tem unido uma frente bastante insólita e disparatada que vai de Trump e Bolsonaro a intelectuais de "esquerda", como Giorgio Agamben. Para Trump, a vida dos mais frágeis não pode parar o curso normal dos negócios. Para Agamben, só um Leviatã tirânico seria capaz, para salvar a "vida nua" dos cidadãos, de os confinar compulsivamente... Os Estados europeus estão a devolver à autodisciplina dos cidadãos a tarefa de evitar novo confinamento. Trata-se de conciliar a liberdade individual com a responsabilidade que, em tempos pandémicos, cada um tem pelo direito à vida de todos os outros. Se as democracias europeias falharem na defesa da vida, todos conhecemos como abundam autoritarismos que a prometem salvar, em troca do sacrifício de todos os outros direitos que a tornam digna de ser vivida.

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Artigo publicado no Jornal Diário de Notícias, na edição de 17 de outubro, 2020

Disponível em https://www.dn.pt/edicao-do-dia/17-out-2020/pandemia-e-hierarquia-de-valores-12929448.html

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA - O TEMA DESTE ANO

 


A edição de 2020 deseja convidar o mundo inteiro a refletir sobre o sentido da pandemia em curso, sublinhando a necessidade mais do que nunca essencial de recorrer à reflexão filosófica para fazer face às múltiplas crises que atravessamos.

A crise sanitária interroga múltiplos aspetos das nossas sociedades. Neste contexto, a filosofia ajuda-nos a dar o passo atrás necessário para melhor avançar, estimulando a reflexão crítica sobre os problemas já presentes mas que a pandemia levou ao paroxismo.

Retirado de: https://www.un.org/fr/observances/philosophy-day, consulta a 17 de novembro 2020.

Para saber mais:

https://fr.unesco.org/news/limportance-philosophie-temps-crise-theme-journee-mondiale-2020




Porquê um dia da Filosofia?

 Do site oficial da UNESCO, traduzimos o seguinte texto

PORQUÊ UM DIA DA FILOSOFIA ?

Numerosos pensadores salientam que o «espanto» («l’étonnement» ) se encontra no centro da filosofia. Certamente, a filosofia surgiu desta tendência natural dos homens em espantarem-se deles próprios e do mundo no qual vivem.

Esta disciplina que se pretende «sabedoria» ensina-nos a refletir sobre a reflexão, a voltar a pôr em questão verdades bem estabelecidas, a verificar hipóteses e encontrar conclusões.

Desde há séculos, e isto em todas as culturas, a filosofia originou conceitos, ideias e análises assentando assim os fundamentos do pensamento crítico, independente e criativo. O Dia da Filosofia da Unesco permitiu a esta instituição celebrar muito particularmente a importância da reflexão filosófica e a encorajar as populações do mundo inteiro a partilhar entre elas a sua herança filosófica.

Para a UNESCO, a filosofia oferece os fundamentos concetuais dos princípios e dos valores de que a paz mundial depende – a democracia, os direitos humanos, a justiça e a igualdade.

A filosofia permite consolidar estes autênticos fundamentos da coexistência pacífica.

Este dia oferece-nos ocasião de nos colocarmos, a nós próprios, questões frequentemente esquecidas: de que nos esquecemos nós de refletir? A que realidades intoleráveis nos habituamos?

Disponível em https://www.un.org/fr/observances/philosophy-day, consulta a 17 de novembro de 2020.

 (tradução do original francês da responsabilidade do Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres)

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA 2020

 
DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA                

Passado um ano, aqui estamos de novo a celebrar o Dia Mundial da Filosofia.

Instituído em 2005 pela Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO), o Dia Mundial da Filosofia é celebrado todos os anos na terceira quinta feira do mês de novembro. Tem vindo a ser comemorado na nossa escola desde 2006.

Eis a imagem do cartaz da nossa escola...

Labirinto do minotauro na Casa dos Repuxos em Conímbriga