FERNANDO SAVATER
Filósofo espanhol (n. 1947)
Na verdade, o ensino implica sempre uma certa forma de coação,
de luta de vontades. Nenhuma criança quer aprender aquilo que lhe
dá trabalho e que lhe tira o precioso tempo que deseja dedicar às
suas brincadeiras. (…)
É o mestre, aquele que já sabe, quem firmemente acredita que o
que ensina merece o esforço que custa aprendê-lo. Não se pode
exigir à criança que anseie conhecer aquilo que nem sequer
vislumbra, salvo por um ato de confiança nos mais velhos e de
obediência face à sua autoridade. Espontaneamente não apreciará
que lhe sejam impostos hábitos sociais como a higiene, a
pontualidade, o respeito pelos mais fracos e outros que não
concordam com os seus apetites. Kant indica que um dos primeiros
e nada desdenháveis ganhos da escola é ensinar as crianças a
permanecerem sentadas, coisa que na verdade nunca fazem muito
tempo, por decisão própria, (…).
Será
necessário recordar que não é possível nenhum processo educativo sem alguma "disciplina"?
(…) Esta exigência obriga o neófito a manter-se atento ao saber que lhe é
proporcionado e a cumprir os exercícios que a aprendizagem requer. (…) À escola
vamos para aprender aquilo que não ensinam noutros lugares. (…)
O propósito do
ensino escolar é preparar as crianças para a vida adulta, não reconfimá-la nos
seus prazeres infantis. E os adultos não jogam só; sobretudo esforçam-se e
trabalham. E essas tarefas são dolorosas no princípio mas nem sempre são
desagradáveis. (…)
SAVATER, Fernando
(1997). O Valor de Educar. Lisboa: Editorial Presença.
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