Da Dúvida de Descartes ao consumismo
Se me
pedissem para caracterizar as duas últimas décadas da humanidade em uma
palavra, eu diria consumismo.
O consumismo está em todo o lado nas nossas
vidas; desde os anúncios que somos obrigados a assistir na televisão, aos
anúncios que aparecem nas diferentes plataformas digitais que utilizamos. Mas
se pensas que o consumismo se resume a isto estás enganado. O consumismo pode
ser designado por aqueles pares de ténis que compraste no natal passado, dos
quais não precisavas pois já tinhas vinte pares de ténis em casa, mas mesmo
assim compraste por capricho. Ou até mesmo aquele bolo que compraste no café, que
apesar não teres fome naquela altura, compraste pois tinhas aquele desejo
incontrolável de sacarose a ecoar-te na cabeça.
A este ponto
acho que já entendeste que o consumismo está relacionado com a compra de algo.
Então tens aqui uma definição de consumismo para te orientares: Consumismo é "o ato de consumir produtos ou serviços,
muitas vezes, sem consciência." Se mesmo assim não
entendeste o que é o consumismo dou-te aqui uma definição informal: o Consumismo é quando compras algo, sendo um produto ou um serviço, sem teres a
necessidade de o comprar, ou seja podias viver perfeitamente bem sem aquilo que
adquiriste.
Agora deves estar a
pensar, pelo menos era suposto, mas Rafa o que tem a ver o Consumismo com a
Dúvida de Descartes? E no que ela consiste?
Bem, a Dúvida de Descartes é um tipo de Ceticismo chamado de
Ceticismo metódico. Antes que perguntes, ser cético, ao contrário do que muitas
pessoas pensam, não é não acreditar em algo. Mas sim, suspender a sua opinião
sobre todos temas, pois os céticos não sabem se a sua opinião é correta, então para não caírem em erro não emitem nenhuma
opinião.
O Ceticismo defende a
possibilidade, ainda que seja pequena, de o mundo ser uma grande ilusão, se já
tiveres assistido o filme “Matrix” é mais fácil entenderes isto, pois estes
dois têm as suas semelhanças. Assim, não podemos dizer que temos a certeza de
nada, pois não sabemos o que é real ou não, assim penso que fica mais fácil de
perceber a posição dos céticos.
Descartes era um
filosofo francês que discordava da posição dos Céticos. Para se opor aos
céticos este pensou, “para combatê-los tenho que utilizar as suas armas”,
provavelmente não assim, mas a ideia era essa. Então Descartes criou o seu
próprio Ceticismo. Este consistia em
descartar todo o conhecimento que ele pensava ter, e ir a partir de uma análise
intensiva apurar os factos sobre o mundo que o rodeava.
A dúvida de Descartes
é muito mais extensa que isto, mas penso que agora esta é a parte fundamental
para associá-la ao consumismo.
Mas afinal o que é
que a dúvida de Descartes tem a ver com o Consumismo? À primeira vista pode
parecer que não existe nenhuma semelhança, mas se analisarmos cuidadosamente
ambos os casos iremos ver que têm algumas parecenças.
Como podemos nós
afirmar que somos ou não consumistas? Poderemos apurar os factos como Descartes
o fez. Se analisares detalhadamente as coisas que tens em casa, facilmente irás
concluir se fazes parte desta doença coletiva que é o consumismo, ou não. O procedimento é simples, vês se as coisas
que tens em casa são realmente necessárias para o teu dia-a-dia ou se apenas
estão lá a “apanhar pó”. Caso a tua resposta seja positiva, parabéns, fazes
parte das poucas pessoas da população mundial que não foram infetadas por esta
doença maligna, caso a tua resposta não tenha sido esta, lembra-te, nunca é tarde para mudares.
Mas ainda podemos
associar a Dúvida de Descartes a mais um ponto do consumismo. Todos os dias
como já referi somos “bombardeados” com anúncios. E de que forma as pessoas são
influenciadas pelos anúncios? Bom, como já deves saber cada marca estuda
meticulosamente os anúncios que produz, para influenciarem ao máximo as pessoas
a comprarem os seus produtos/serviços. Mas mais uma vez podemos interrogar-nos
se somos ou não influenciados por eles. Claro que a maior parte das pessoas irá logo dizer que não é influenciado, devido ao seu ego. Porém devemos pôr o
nosso orgulho à parte e analisar friamente, como mais uma vez Descartes o fez, o
quão influenciados por anúncios somos.
O primeiro sintoma é
se após visualizares um anúncio ficas com vontade de comprar aquele
produto/serviço.
O segundo sinal é se emites alguma emoção sobre anúncio como
por exemplo, se o achaste engraçado ou se te surpreendeste com ele. Pois os
anúncios são mesmos estruturados para isso, para despertarem alguma emoção a
quem os assiste, com a finalidade de te ficarem na cabeça para te estares
sempre a lembrar de tal produto/serviço. Existem muitos mais sinais como estes,
que seguem a mesma linha de raciocínio.
Para concluir o meu texto, espero que da próxima vez que
vejas um anúncio ou que vás às compras, te lembres do que aqui foi referido para
te tornares uma pessoa mais consciente dos seus atos e assim evoluíres como ser
pensante. Obrigado por teres lido o meu texto e espero que tenhas aprendido
alguma coisa com ele.
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