quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Ainda o Dia Mundial da Filosofia - Apontamentos do debate entre o 10º ano, turma C e o 11º ano, turma A



Neste debate entre a nossa turma 10ºC e a turma do décimo primeiro ano que organizou a apresentação do tema, discutimos diversos tópicos relacionados com a Alegoria Da Caverna, o enredo e referências filosóficas do primeiro filme da série Matrix, e o que estes conceitos representam na nossa existência e dia a dia como indivíduos e como humanidade. Apesar da maioria da turma 10ºC não ter visto o filme, foi possível ligar os elementos fundamentais que nos foram apresentados com a matéria que estudámos (A Alegoria da Caverna), assim possibilitando a nossa participação e interpretação do debate.

O mundo de Matrix é nos apresentado como sendo uma realidade que aparenta ser normal, a realidade que conhecemos. No entanto, para a personagem principal, Neo, um homem comum com uma vida normal, algo não faz sentido. Neo começa a receber mensagens estranhas de um tal “Morpheus” mencionando a “Matrix”. Apesar de não saber o que é a Matrix, Neo sabe que Morpheus é terrorista de uma organização perseguida por governos mundialmente. Neo sente-se intrigado e curioso para descobrir o que é a Matrix.

São-nos apresentadas quatro partes do filme nas quais podemos encontrar referências filosóficas, que analisámos e interpretámos no debate.

Na primeira cena, Neo encontra-se com Morpheus. Este conversa com Neo, comparando-o com a Alice do País das Maravilhas, a “cair na toca do coelho”, como que a comparar o que Neo está prestes a descobrir a algo marcante, o qual nunca irá esquecer, como se este fosse redescobrir a realidade – como na Alegoria da Caverna, na qual o prisioneiro que consegue sair experiencia a descoberta de que aquilo que achava ser a realidade não passava de uma reflexo, um eco da verdade. Morpheus então pergunta a Neo se este acredita no destino; Neo responde que não, que não gosta da ideia de que não está a controlar a sua vida – Neo tem uma atitude crítica em relação ao que acontece à sua volta. Morpheus concorda com esta resposta, e conta a Neo que sensação de que algo naquela realidade não parecia real tinha a ver com a Matrix.

Morpheus então apresenta a Neo duas pílulas e uma escolha: tomar a pílula azul e continuar a sua vida normal como se nada tivesse acontecido; ou tomar a pílula vermelha e descobrir finalmente o que é a Matrix, com o custo de nunca mais voltar a ser o mesmo.

Questão:

“O que é que as pílulas azul e vermelha representam?”

Resposta:

A pílula azul representa o mundo sensível, enquanto a vermelha representa o mundo inteligível.

Conclusão:

Determinámos que esta escolha entre permanecer ignorante ou chegar ao conhecimento verdadeiro (...) assemelha-se à distinção entre o interior da caverna (acessível através dos sentidos, uma mera projeção, neste caso, projetada pela Matrix) e o exterior da caverna, acessível através da exploração, curiosidade e pensamento crítico.

Esta cena do filme difere num aspeto em relação à Alegoria da Caverna: na Alegoria, o prisioneiro é forçado a sair da caverna, logo tem muito mais dificuldade em adaptar-se à mudança. No Matrix, a Neo é dado a escolher entre permanecer ignorante ou chegar à verdade. Esta escolha não é forçada.

Surge a questão:

“Entre Neo e Morpheus, quem será o filósofo libertador e quem será o prisioneiro?”

Resposta:

Morpheus é o filósofo libertador e Neo é o prisioneiro libertado.

Conclusão:

Morpheus apenas tem o papel de incentivar Neo a pensar por si próprio, ou seja, representa o filósofo libertador que, através do método socrático - maiêutica - conduz o interlocutor à verdade através de um esforço interior de reflexão, sem dar definição alguma, como podemos ver na fala: “Ninguém sabe o que a Matrix é. Terás de ver por ti próprio.”. Ao dizer isto, Morpheus encoraja Neo, que neste contexto representa um prisioneiro, como todos os que vivem naquele mundo sem saber o que realmente está por trás deste a tomar a pílula vermelha para ver por si próprio, que é o que acaba por acontecer.

Também foi acrescentado que o nome “maiêutica” para este método deriva da comparação de Sócrates do seu papel filósofo ao trabalho da mãe, que era parteira, ou seja ajudava mães a dar à luz, mas não o fazia por elas – tal como Sócrates, que incentivava o interlocutor a pensar por si mesmo, e a chegar ao saber e à luz autonomamente. (...)

Na segunda cena apresentada Neo acorda num sítio estranho, deitado, ligado a máquinas. Ao tentar abrir os olhos, pergunta “Porque me doem os olhos?”, Morpheus então responde “Porque nunca os usaste antes”.

Pergunta:

“Como é que esta fala remete para a Alegoria da Caverna?”

Resposta:

Esta fala remete para o momento em que o prisioneiro sai da caverna e contempla a luz do Sol (completada pelos apresentadores).

Conclusão:

É mais uma referência importantíssima à Alegoria da Caverna, pois chegar ao conhecimento não é a meta final. A dor nos olhos de Neo representa a adaptação ao novo conhecimento, à descoberta de uma nova realidade, pois para ele, este foi quase que um segundo nascimento. Aqui Neo apercebe-se que o mundo real é controlado por máquinas e computadores que se ligam aos cérebros das pessoas e projetam um falso mundo virtual onde todos vivem. Assim, a simulação da Matrix representa o mundo sensível, acessível através dos sentidos, que neste caso, são simulados.

Nos últimos dois fragmentos do filme é apresentada uma nova personagem: Cypher. Cypher também trabalha para a organização de Morpheus para salvar o mundo do Matrix. Mas este indivíduo tem algo de diferente. Cypher confessa que se arrependeu de ter tomado a pílula vermelha e de ter desmistificado o Matrix. A certa altura, ele até trai Morpheus e a organização. Como dito pelo mesmo na quarta cena: “Ignorância é uma bênção”.

Pergunta:

“O que terá levado Cypher a escolher a ignorância?”

(...)

Cypher é o equivalente de um prisioneiro que saiu da caverna, olhou para o exterior, decidiu que não lhe agradava e voltou a entrar. Apesar de se conseguir adaptar ao mundo real, não era do seu agrado. Não lhe proporcionava conforto. Então, Cypher rejeitou a realidade e voltou para a simulação, ignorando todo o conhecimento que tinha obtido acerca do mundo em que vivia.

Com isto, no debate, é levantada a questão:

“Será que nós, diariamente, fazemos o mesmo que o Cypher?”

Com a participação e argumentos de alguns colegas, chegámos à conclusão de que sim, a maior parte de nós ignora problemas com os quais simplesmente não queremos lidar. Exemplos dados foram: a compra de produtos produzidos por marcas não éticas de roupa, tecnologia, estética, medicina e comida, que fazem uso de trabalho infantil, testes de substâncias tóxicas em animais, apoiam maus governos e produzem em massa, poluindo o planeta, simplesmente porque não nos queremos dar o trabalho de pagar mais para apoiar pequenos negócios ou de procurar outras marcas melhores. (...)

- Projeção de uma caricatura na qual está um homem acorrentado a uma televisão com a legenda “La Caverne Moderne”

Pergunta final:

“Será que nós, como humanidade, ainda nos encontramos dentro da caverna?”

Primeiro orador: A humanidade ainda se encontra na caverna pois nós como sociedade somos constantemente influenciados por publicidade, títulos chamativos e exagerados sem nos apercebermos.

Segundo orador: A humanidade já não se encontra na caverna, pois agora já descobrimos e continuamos a descobrir tanto sobre a nossa realidade que os antigos filósofos gregos nos considerariam deuses. Tanto o nosso universo como as mais pequenas partículas, unidades básicas de vida microscópicas, como tudo funciona, a eletricidade, o vento, os elementos…

(...)

O aluno Rúben, do 10º ano, turma C, manifestou concordância com o segundo orador mas acha que ainda não descobrimos o suficiente para estar completamente fora da caverna. Estamos a caminho do seu exterior, mas ainda não o alcançámos.

A maioria concordou com o Rúben.

Pergunta para refletirmos:

“Será possível chegarmos ao verdadeiro conhecimento. Se sim como reagiríamos?”

Relatório feito pela aluna Laura Preto, 10ºC

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