A 3 de maio de 2017, após as notícias de jovens aliciados para participarem no perigoso jogo da Baleia azul, o Jornal Público foi ouvir o Psiquiatra Daniel Sampaio.
Há um traço comum entre os jovens que estão a ser desafiados para entrar no jogo online da Baleia Azul: estão fragilizados ou em sofrimento psicológico. Quem o diz é o psiquiatra Daniel Sampaio, que tem estudado o comportamento dos adolescentes. Na imprensa internacional começa, entretanto, a ser posta em causa a genealogia deste jogo.
Daniel Sampaio contou ao PÚBLICO que falou recentemente com quatro jovens que têm amigos ou colegas aliciados para o Baleia Azul e todos lhe relataram o mesmo: que um responsável pelo desafio, um curador com um perfil falso, os convidou para o jogo depois de os adolescentes terem deixado online pistas de que se encontravam fragilizados ou em sofrimento psicológico. “Há muitos jovens que escrevem mensagens na Internet a dizer que não estão bem e segundo me dizem são esses que são contactados”, explica o psiquiatra, chamando a atenção para a gravidade deste tipo de actuação.(...)
“Se as coisas se passam conforme me relataram, identificar a fonte de recrutamento [das vítimas] revela-se um aspecto fundamental”, sublinha Daniel Sampaio, para quem o risco acaba por ser reduzido se os jovens em causa estão bem consigo próprios: “Um jovem normal não adere – ou, se adere, isso não tem consequências”, equaciona. “O jogo em si não provoca suicídio, nem automutilação. É perigoso quando falamos de pessoas vulneráveis. Aí, pode funcionar como factor precipitante do suicídio.”
Para quem já começou a jogar, o psiquiatra deixa um conselho: “Sair o mais depressa possível e pedir ajuda.” Um auxílio que poderá ser prestado, por exemplo, pela equipa que integra o Núcleo de Utilização Problemática da Internet do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que tem consultas às quartas-feiras e tanto auxilia jovens como os seus pais.
Daniel Sampaio defende também que os pais devem proibir os filhos de aceder a este jogo. Se não o conseguirem de imediato, devem acompanhar mais de perto os filhos, porque esta atitude poderá impedir, por exemplo, que o filho saia de casa para se dirigir a um local alto onde vai arriscar a vida, já que uma das 50 tarefas impostas aos jogadores do Baleia Azul passa precisamente por correr esse tipo de perigo.
Notícia falsa?
Em declarações a um site de notícias russo, Lenta.ru, o alegado autor deste desafio, More Kitov, já disse que a sua intenção nunca foi a de levar menores ao suicídio, mas sim aumentar o número de frequentadores dos perfis dos administradores do jogo, tornando-os mais atractivos para quem quer colocar anúncios publicitários.
Pelo seu lado, Thiago Tavares, presidente da Safernet, uma organização não-governamental brasileira de combate ao crime na internet, não tem dúvidas de que o jogo Baleia Azul teve origem numa “notícia falsa” publicada em Maio de 2016 pelo diário russo Novaya Gazeta. Este artigo dava conta de uma série de suicídios de adolescentes na Rússia que, alegadamente, tinham participado em fóruns da rede social russa Vkontakte, onde aparecia a referência Baleia Azul.
Até agora ainda não existem provas da relação entre ambos. “Era um ‘fake news’, mas existe um efeito que, sendo verdadeira ou não, a notícia gera um contágio, principalmente entre os jovens”, afirmou Thiago Tavares ao diário Globo.
Disponível em: https://www.publico.pt/2017/05/03/sociedade/noticia/pais-devem-proibir-o-acesso-ao-jogo-da-baleia-azul-se-conseguirem-1770838
Dinamizado pelo Grupo Disciplinar de Filosofia da Escola Secundária de Madeira Torres, este blogue abre um espaço de comunicação e de partilha em torno do saber, da cultura e dos problemas do Mundo Contemporâneo. Promove uma perspetiva interdisciplinar do conhecimento e o desenvolvimento de uma cidadania ativa. Pretende dar voz, especialmente, aos alunos, mas encontra-se aberto à colaboração da Comunidade Escolar. E-Mail de contacto: espacocriticomt@gmail.com
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