«Ao longo destes 21 anos de colaboração ininterrupta na imprensa, o tema das relações entre pais e filhos esteve muitas vezes presente. Nada é mais importante, porque a educação e as relações afectivas primordiais são cruciais para o futuro de cada indivíduo e do seu país. Neste momento, os pais estão próximos dos filhos como nunca mas, em muitos casos, há um marcado défice de autoridade e uma hesitação constante em traçar limites. Se o autoritarismo de outrora está condenado para sempre, a educação indulgente e permissiva, tão típica de tantos lares de hoje, tem dado origem a adolescentes determinados mas pouco respeitadores, cada vez mais centrados em si e pouco atentos ao reconhecimento do outro.» (sublinhado nosso)
Excerto da última crónica na Revista 2 do jornal Público a 27 dezembro de 2015. Disponível em https://www.publico.pt/2015/12/27/sociedade/opiniao/ultima-cronica-1718106
Questionado, entretanto, pelo Jornal de Leiria sobre a afirmação acima sublinhada, o autor explicita:
«Na primeira metade do século XX, os pais estavam mais distanciados dos filhos. Existia autoritarismo e, muitas vezes, castigos físicos. A relação entre pais e filhos era de uma certa distância repressiva. A partir da segunda metade do século XX, nos anos 70 e 80, houve uma aproximação das gerações. Os pais, sobretudo, os progenitores masculinos, ficaram próximos das crianças. Do ponto de vista psicológico, isso foi muito benéfico. Mas, quando as gerações ficam muito próximas, a autoridade enfraquece.
Neste momento existem muitos problemas porque os pais têm dificuldade em exercer a autoridade e a função parental. Já não podem voltar aos métodos antigos e, às vezes, são um pouco permissivos ou indulgentes, desculpando muitas coisas. Também porque estão muito centrados no trabalho ou no desemprego. É preciso ganhar novas formas de autoridade.»
E mais à frente, encontramos uma pertinente pergunta e uma boa resposta, ainda que suscetível de maior desenvolvimento e de um enquadramento superior.
Que adolescentes estamos a criar com défice de autoridade de que fala?
Adolescentes muito omnipotentes e reivindicativos e bastante ciosos dos seus direitos e que, muitas vezes, se tornam agressivos com os pais e professores. Têm uma cultura de direitos, daquilo que lhes é devido, mas falta-lhes a cultura da responsabilidade e do respeito, que se perdeu um pouco. É preciso recuperá-la.
Disponivel em https://www.jornaldeleiria.pt/noticia/daniel-sampaio-os-pais-nao-sao-amigos-dos-filhos-sao-adultos-4201
Seria bom ( e estamos muito longe disso) que enquanto sociedade fossemos capazes de discutir, de forma lúcida e serena, sem atribuição de culpas ou procura de bodes expiatórios, qual o modelo de ensino, de escola e de educação que consideramos bom e desejável.
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