sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Ciência e Religião

De vez em quando os nossos alunos, na sua maioria formados num ambiente de religião católica, mostram algumas dúvidas perante certos conhecimentos científicos que lhes parecem não estarem em conformidade com o que conhecem da Bíblia. Por várias razões, nem sempre temos oportunidade de abordar de forma sistemática o problema das relações entre a Razão e a Fé ou entre a Ciência e a Religião mas é quase impossível, no decurso de dois anos de trabalho, em que a questão do método e do conhecimento científicos e a da verdade são abordadas, que ela não apareça e não tenha que haver um trabalho de esclarecimento.
Galileu e a história do seu conflito com a Igreja é por todos os alunos conhecido, melhor ou pior. Após o esclarecimento histórico (muitos alunos pensam que Galileu foi condenado pelo Tribunal da Inquisição a ser queimado na fogueira) serve-nos Galileu, normalmente, como exemplo para mostrar que não tem que haver conflitualidade entre a leitura do "grande livro da natureza" e a leitura da Bíblia (que não é uma obra científica). A tese defendida por Galileu é precisamente a de que a Ciência e a Religião não têm de entrar conflito, visto que se focam em dimensões diferentes da realidade. Uma interessa-se pelo entendimento das leis do universo, estudando o "grande livro da natureza aberto sob os nossos olhos";  a outra interessa-se pelo homem e pelo sentido da sua existência, procurando que ele se torne melhor. Na altura não era este o entendimento da Igreja. Galileu teve de abjurar, é certo, negando o heliocentrismo. Apenas em 1992 foi formalmente reabilitado, tendo sido reconhecido como "físico genial" e "crente sincero" pelo Papa João Paulo II.
Hoje, a autonomia da ciência praticamente já não se discute. Podemos dizer que é consensual considerar que a Ciência e a Religião percorrem caminhos diferentes e que a liberdade é um valor inalienável. Liberdade de investigação, liberdade de pensamento. A ciência só tem de se submeter às regras de pesquisa que o método científico impõe. Mas se o cientista enquanto tal se tem de submeter ao método científico e à verdade assim descoberta, o cientista, enquanto homem, pode escolher o caminho da fé como orientação existencial. E aquilo a que chamamos razão, essa capacidade de interrogar o mundo e de encontrar explicações para ele de acordo com padrões lógicos e universais não tem de entrar em choque com a inquietação existencial e a aceitação do mistério que toda a fé envolve.  
Acabamos este post com esta passagem bem significativa do

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 À PONTIFÍCIA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS
 POR OCASIÃO DO PRIMEIRO CENTENÁRIO
DO NASCIMENTO DE ALBERT EINSTEIN
10 de Novembro de 1979

«A grandeza de Galileu é de todos conhecida, como a de Einstein; mas diferentemente deste; que nós honramos hoje diante do Colégio Cardinalício no palácio apostólico, o primeiro muito teve que sofrer — não poderíamos escondê-lo — da parte de homens e organismos da Igreja. O Concílio Vaticano reconheceu e deplorou certas intervenções indevidas: "Seja-nos permitido lamentar […]certas atitudes que existiram até entre os próprios cristãos, por não terem entendido suficientemente a legítima autonomia da ciência. Fontes de tensões e de conflitos, elas levaram muitos espíritos a pensar que ciência e fé se opõem"». 
retirado de http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/1979/november/documents/hf_jp-ii_spe_19791110_einstein.html

2 comentários:

  1. Na atualidade damos como certo a distinção entre a fé e a ciência. No entanto, houve um longo caminho a ser percorrido até se dar esta separação, como demonstra o texto "Ciência e Religião".
    Atrevemo-nos a dizer que o primeiro homem a ter noção da distinção entre estas duas grandes áreas foi Galileu Galilei que, apesar de um físico genial, nunca renunciou à sua fé para perceber que haviam objetos de estudo distintos entre a igreja e a ciência. Contudo, para o realizar, foi contra princípios católicos da época apoiados por clérigos e filósofos antigos e aclamados. Esta afronta de Galileu ao conhecimento daquela época resultou na perda da sua credibilidade.
    Nos dias de hoje é indiscutível que a religião e a ciência "percorrem caminhos separados". É também compreensível que a fé será o que responde ao problema da origem humana, enquanto que que a ciência será o percurso de interrogação e explicação do mundo de acordo com padrões lógicos e universais. Deste modo, percebemos também que ambas as áreas não têm de entrar necessariamente em conflito.
    Retirando algumas noções do texto concluímos que a ciência é constituída por teorias e verdades provisórias que levam a reformulações do conhecimento. Entendemos, por fim, que a ciência avança por meio de tentativas e erros e que evoluiu através da colocação de novos problemas e da elaboração de novas hipóteses. No entanto, estas duas grandes áreas apresentam um ponto em comum: ambas buscam a verdade definitiva.
    O facto da ligação entre estas duas áreas ser pouco debatida nos dias que correm leva a dúvidas constantes acerca da existência humana e da verdade. Estes fenômenos podem desencadear catástrofes desastrosas com proporções semelhantes às que Galileu sentiu. Conclui-se, então, que a discussão deste tópico é fundamental.
    O esclarecimento debilitado destas noções levam a consequências na sociedade atual, tais como o extremismo, onde partes da população sentem necessidade de desacreditar no conhecimento científico para manter a sua fé ou de ser infiel às suas crenças para confiar na ciência. Para além de levar a grandes desacordos e divisões entre a população, pode ainda resultar na falta de liberdade de escolha.
    A consequência mais preocupante destas condições será, talvez, a dúvida inevitável que paira sob as teorias cientificamente comprovadas e que leva à não aceitação dos avanços no conhecimento que estas permitem, o que resulta em partes da sociedade moderna desinformada.

    Carolina Marrucho (n°3) e Maria Faustino (n°17)
    11°B

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  2. Comentário sobre a Ciência e Religião

    No início dos tempos as pessoas acreditavam unicamente na religião e no que a mesma dizia, mas com o aparecimento de cientistas e os seus estudos mais tarde surgiu uma grande revolta por parte das pessoas crentes que diziam até que isto seria “bruxaria”, onde as pessoas que na ciência acreditavam eram castigadas, podendo este castigo levar à sua morte. Atualmente já existe um concílio entre a religião e a ciência, onde cada uma destas áreas se aceitam mutuamente.

    A relação entre ciência e religião é um assunto complexo e fascinante que tem sido debatido ao longo dos séculos.

    Galileu Galilei, um dos exemplos históricos mais conhecidos, defendia que a ciência e a religião não necessariamente entravam em conflito, pois elas abordam diferentes aspetos da realidade. A ciência busca compreender as leis do universo através da observação e experimentação, enquanto a religião se concentra na esfera humana e no sentido da existência. Embora Galileu tenha enfrentado dificuldades com a Igreja na época, hoje em dia ele é amplamente reconhecido como um "físico genial" e "crente sincero".

    Atualmente, a autonomia da ciência é amplamente aceita, e é consenso que a ciência e a religião seguem caminhos distintos. A liberdade de investigação e pensamento são valores fundamentais, e a ciência deve aderir às regras do método científico. No entanto, como seres humanos, os cientistas têm o direito de escolher o caminho da fé como uma orientação existencial. A razão, que nos permite questionar o mundo e encontrar explicações lógicas e universais, não precisa entrar em conflito com a busca do sentido existencial e a aceitação dos mistérios que a fé envolve.

    Em resumo, a relação entre ciência e religião pode ser harmoniosa quando se compreende que elas abordam diferentes aspetos da realidade. A ciência busca entender as leis naturais, enquanto a religião explora questões relacionadas à espiritualidade e ao sentido da existência. Reconhecer a autonomia da ciência e a liberdade de investigação não impede que os cientistas também possam encontrar significado e orientação na fé.

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