sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Frei Bento Domingues - Da Filosofia (2)

Na continuidade do post anterior...


2) Da Filosofia - A Filosofia põe tudo em causa, é uma interrogação contínua, não nos permite repousar em falsas evidências com falta de fundamentos. Na Filosofia não se utilizam procedimentos de verificação [como nas ciências], mas põe-se tudo em causa para combater as idolatrias. 
Kant formula três questões fundamentais “Que posso saber?”, “Que devo fazer?”; “Que me é permitido esperar?”, que no fundo se reduzem a uma “O que é o Homem?”, pois é para esta última questão que todas as outras se orientam.
Ciência e Filosofia são oposições “tontas”, constituem sim diferentes métodos, diferentes caminhos de abordar e transformar a realidade.


Sob sugestão de Frei Bento Domingues, finalizemos este post com mais algumas ideias da filosofia de Kant (1724-1804). 

À questão "Que posso saber" responderia, segundo Kant, a Metafísica investigando as possibilidades de conhecimento humano. Opondo-se ao optimismo cartesiano quanto às possibilidades de conhecimento, Kant conclui que a Razão humana não pode conhecer tudo. Opondo-se aos empiristas, como Hume, que determinam os dados sensíveis - a experiência - como ponto de partida absoluto de todo o conhecimento, Kant considera que "se todo o conhecimento começa com a experiência, não deriva todo dela." 
À questão " Que devo fazer" responderia a Ética. Kant considera a existência de imperativos categóricos, absolutos e incondicionais, com origem na Razão Pura Prática, que aparecem à consciência moral sob a forma do dever ordenando a ação como boa em si mesma. A ética de Kant é classificada como uma ética deontológica, cujo critério assenta na ideia do cumprimento do dever (imperativo categórico) e opõe-se às éticas consequencialistas, cujo critério assenta na ideia das consequências das ações. 
À questão "O que posso esperar?" responderia a Religião e à última "O que é o Homem", responderia a Antropologia, sendo que esta última questão engloba todas as outras.
Acrescentemos que a ideia de dignidade humana, fundamental em Kant, é um conceito essencial na Declaração dos Direitos Humanos de 1948 e sempre que procuramos um estatuto diferenciado para o que é humano. É, nomeadamente, em nome do que designamos como "dignidade" que atos como a escravatura, o comércio de seres humanos, o tráfico de órgãos nos aparecem não apenas como chocantes, mas como racional e concetualmente errados. O conceito de "dignidade humana" permite justificar porque é que nem tudo se pode submeter às leis do mercado e há bens cujo valor não tem preço. Um mundo humano não é um mundo de meras trocas onde tudo pode ser convertido numa mercadoria ou num número.
E mesmo para acabar este post que já vai longo, dando sequência a esta ideia, fiquemos com um pequeno texto de M. Sandel, filósofo americano contemporâneo:

«O altruísmo, a generosidade, a solidariedade e o espírito cívico não são similares a mercadorias que se esgotam com o uso. São mais músculos que se desenvolvem e fortalecem com o exercício. Um dos defeitos de uma sociedade regida pelos mercados é que permite que estas virtudes definhem. Para podermos renovar a nossa vida pública, precisamos de as exercer com uma tenacidade cada vez maior.» Michael J. Sandel (2015) O que o dinheiro não pode comprar. Lisboa: Presença, p. 135). 
Imagem retirada de https://www.fronteiras.com/noticias/justica-como-fazer-a-coisa-certa-conheca-michael-sandel-1427124358

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