quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Deve ser permitido o congelamento de óvulos? (2)

A Sara Elias (11ºE) apresenta-nos a sua posição:
Recentemente surgiu nos meios de comunicação social, media, a notícia de que o Facebook e a Apple estão a oferecer às funcionárias a possibilidade de congelarem os seus óvulos, incluída no seguro de saúde. Esta nova medida tem gerado bastante controvérsia, sendo apoiada por uns e criticada por outros. De modo a construir a minha opinião em relação a esta temática, realizei uma pesquisa aprofundada e familiarizei-me com o contexto socioeconómico em que se insere.
Pareceu-me pertinente começar por tentar responder à questão central: Qual a razão de tal medida? Ambas as empresas supracitadas afirmam que pretendem incentivar o trabalho feminino nas suas empresas. As estatísticas mostram que 70% dos 98 mil funcionários da Apple são do sexo masculino, sendo a percentagem semelhante no Facebook. Evidentemente que esta discrepância de sexos é facilmente justificada pelo facto de a mulher optar por constituir família e ter filhos, colocando para segundo plano o seu trabalho.
                De seguida, tentei compreender as reações a esta medida. A verdade é que atualmente grande parte das mulheres pensa em engravidar somente após a conquista do sucesso profissional que, geralmente, ocorre acima dos 34 anos. Nesta idade, as mulheres são jovens e estão em perfeito estado de saúde, porém, para engravidar, essa idade está acima do que se considera ideal. A gravidez após os 35 anos, tem-se tornado cada vez mais comum e, com isso, o congelamento de óvulos tem-se tornado uma grande opção de preservação da fertilidade para estas mulheres. Por um lado, para a fundadora do fórum eggsurance.com e defensora deste método, Brigitte Adams, a oferta deste benefício pelas empresas é uma forma de investir nas mulheres e apoiarem-nas na construção da vida que desejam.
                No entanto, por outro lado, também surgiram opiniões contra. Foi levantada a questão sobre se as empresas não estarão a exigir demasiada dedicação às suas funcionárias, ao adiarem a maternidade em benefício da companhia, ou se estas têm a obrigação de entregar todos os seus esforços à entidade empregadora e deixar a família para segundo plano. Para além disso, o professor da Escola de Direito de Harvard e especialista na relação entre a bioética e o direito, Glenn Cohen alertou ainda para outra discussão em declarações à ABC News: “os locais de trabalho podem tornar-se intolerantes com mulheres que decidam ter filhos quando estão empregadas e potenciar que mais mulheres se submetam ao procedimento, que acarreta riscos e pode não ser útil quando quiserem ser mães”.
                Este depoimento despertou-me interesse sobre em que consiste realmente a congelação de óvulos e quais os seus riscos. Segundo o Dr. Rogério Leão, membro do corpo clínico do Centro de Reprodução Humana do Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, o procedimento de recolha de óvulos é rápido: “A paciente recebe por meio de uma injeção subcutânea um medicamento para estimular o crescimento de folículos. Após 36 horas é feito um ultra-som intravaginal para a aspiração dos óvulos. Esta segunda fase é realizada sob o efeito de sedação.” Quanto aos riscos, deparei-me com os seguintes: no início do procedimento, pode haver reação ao uso de hormonas e produção exagerada de óvulos, chamada síndrome de hiperestímulo ovariano, provocando um distúrbio metabólico e dor pela acumulação de líquido no abdómen; na realização do ultrassom, a agulha pode atingir um vaso importante da pelve e o sangramento ovariano pode não cessar. Todavia, todos estes riscos podem ser contornados pelo médico que acompanha a mulher. O que realmente se deve salientar é que o facto de congelar óvulos não garante uma futura gestação. As chances de gravidez rondam os 45% por tentativa, acrescendo-se o facto de uma gestão tardia poder colocar em risco tanto a vida da mãe como a do bebé. “A gravidez após os 35 anos aumenta as possibilidades de aborto espontâneo, além da má formação genética”, alerta o Dr. Rogério Leão.

                Com base no que expus anteriormente, considero reunir a informação necessária para formar a minha opinião. Do meu ponto de vista, esta medida não devia ter sido implementada, nem sequer posteriormente adotada por outras empresas, pois alimenta um modelo de sociedade, que penso estar errado. Para que serve esta medida? Para as mulheres se dedicarem ao seu trabalho, pondo de parte a sua vida pessoal. Esta medida beneficia realmente as mulheres? Como pude observar a resposta é não, uma vez que não há confirmação de que os óvulos congelados garantam uma futura gestação e mesmo se se realizar a gestação, quer a mãe quer o bebé correm riscos, devido à idade avançada da mãe. O que acontecerá se esta medida for tomada por outras empresas e se tornar comum? O modelo familiar alterar-se-á, sendo os progenitores cada vez mais velhos. Então e se a gestação não tiver ocorrido? As mulheres já não conseguem ter filhos, por terem passado da idade dita ideal para engravidar, logo a natalidade diminuirá, provocando a longo prazo uma crise geracional. E isto tudo porquê? Porque vivemos numa sociedade consumista e capitalista que gira em torno do dinheiro e que para o alcançar não olha aos meios, tentando até mesmo alterar a sua própria natureza. Assim, em conclusão, resumo a minha opinião sobre esta temática com o seguinte provérbio chinês: “Vive de acordo com as leis da natureza e viverás em harmonia.”

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