domingo, 12 de julho de 2020

E se Descartes estiver errado?


Este texto é da responsabilidade da aluna L.M do 11ºano, turma A. Por razões de melhor legibilidade, selecionou-se o excerto considerado mais significativo para dar relevância à posição crítica da autora relativamente à filosofia cartesiana.

Ao duvidar de tudo consigo perceber uma coisa: estou a pensar e para pensar preciso de existir, se penso pelo menos eu existo como substância pensante. Esta afirmação vai ser a base para todas as certezas. Vai ser o alicerce do sistema do saber. O cogito ao ser descoberto por intuição e de natureza puramente racional e que dependeu unicamente da razão, é uma afirmação evidente e indubitável com uma certeza inabalável e é a 1ª certeza de que podemos ter. Assim fornece-nos o critério de verdade que é a clareza e a distinção das ideias, ou seja, tudo o que concebemos muito claro e distintamente é verdadeiro. 
O cogito por ter natureza de puro pensamento é independente em relação ao corpo, por isso é mais acessível e é anterior ao conhecimento das coisas corpóreas. 
Só de uma coisa tenho a certeza (de que existo), então será que existe algo para além de mim? Como não posso recorrer aos sentidos, pois já os recusei no início, tenho de recorrer a mim mesmo e procurar na minha mente. Com isto concluo que existem diferentes tipos de ideias: as que “vieram comigo” (as ideias inatas); outras que vieram de fora (as ideias adventícias) e as que foram inventadas por mim (as factícias). Ao examinarmos as ideias inatas descobrimos que o homem é um ser imperfeito que não pode criar só por si a ideia da perfeição, esta ideia é inata e só pode ter origem no próprio Deus que a colocou na nossa mente. Esta ideia faz-nos conceber Deus como um ser perfeito, incapaz de nos enganar pois enganar é imperfeito. Assim para além do cogito, passamos a admitir a existência de Deus e do mundo. 
Em conclusão ao duvidar de tudo só consigo ter a certeza de uma coisa: eu duvido e se duvido, eu existo e com isto conseguimos comprovar a existência de mundo e de Deus. 
O cogito parece extremamente seguro e inabalável, mas e se estivesse errado? 
Começamos pelo facto de ele dizer que é uma crença básica quando dizemos “Penso, logo existo” estamos a compreender e a descodificar várias ideias. Será que a verdade dessa ideia seria tão evidente se não conhecêssemos anteriormente a verdade de outras ideias? Ou seja, o cogito deriva de uma inferência, de um raciocínio, um conhecimento derivado, por isso não é uma crença básica, pois esta tem e ser conhecida diretamente, sem inferência. 
De seguida, Descartes afirma que Deus é a garantia de verdade do que conhecemos evidentemente, mas ao mesmo tempo usa a clareza e a distinção para provar Deus, comete uma falácia da petição de princípio. Assim a filosofia de Descartes cai por base. 
Passando à frente, a filosofia de Descartes começa pela dúvida num alcance universal estendendo-se tanto às crenças como às nossas faculdades racionais. Em primeiro lugar o ceticismo extremo é impossível pois está para além do que o ser humano consegue fazer. Mas mesmo que conseguíssemos não conseguíamos ir para além dela sem usar as faculdades racionais (que já pusemos em dúvida). Ou seja, se a dúvida fosse praticável seria inultrapassável. 
No projeto de Descartes a existência de cogito é fundamental. No entanto não podemos ter nenhuma ideia do eu. Todas as nossas ideias têm origem em impressões, mas nenhuma impressão tem origem na ideia “eu”. Tudo o que vemos quando olhamos para nós são uma sucessão de perceções particulares. Por isso o cogito é apenas uma ficção e não pode ter o papel essencial de Descartes lhe dá. 
Por fim Descartes prova a existência de do mundo exterior com o facto de argumentar que as ideias cuja causa atribuímos com a objetos físicos têm, de facto, essa causa. Mas segundo a objeção nós só temos experiência direta das representações na nossa mente, não dos objetos físicos, assim não podemos ter a relação entre as nossas representações mentais e os objetos que elas copiam. Deste modo não podemos afirmar que os objetos físicos são a causa das nossas perceções e portanto não existem objetos físicos. 
Assim o projeto de Descartes é condenado ao fracasso. 


Sem comentários:

Enviar um comentário