Este texto é da responsabilidade da aluna L.M do 11ºano, turma A. Por razões de melhor legibilidade, selecionou-se o excerto considerado mais significativo para dar relevância à posição crítica da autora relativamente à filosofia cartesiana.
Ao
duvidar de tudo consigo perceber uma coisa: estou a pensar e para pensar
preciso de existir, se penso pelo menos eu existo como substância pensante.
Esta afirmação vai ser a base para todas as certezas. Vai ser o alicerce do
sistema do saber. O cogito ao ser descoberto por intuição e de natureza
puramente racional e que dependeu unicamente da razão, é uma afirmação evidente
e indubitável com uma certeza inabalável e é a 1ª certeza de que podemos ter.
Assim fornece-nos o critério de verdade que é a clareza e a distinção das
ideias, ou seja, tudo o que concebemos muito claro e distintamente é
verdadeiro.
O
cogito por ter natureza de puro pensamento é independente em relação ao corpo,
por isso é mais acessível e é anterior ao conhecimento das coisas corpóreas.
Só
de uma coisa tenho a certeza (de que existo), então será que existe algo para
além de mim? Como não posso recorrer aos sentidos, pois já os recusei no
início, tenho de recorrer a mim mesmo e procurar na minha mente. Com isto
concluo que existem diferentes tipos de ideias: as que “vieram comigo” (as
ideias inatas); outras que vieram de fora (as ideias adventícias) e as que
foram inventadas por mim (as factícias). Ao examinarmos as ideias inatas
descobrimos que o homem é um ser imperfeito que não pode criar só por si a
ideia da perfeição, esta ideia é inata e só pode ter origem no próprio Deus que
a colocou na nossa mente. Esta ideia faz-nos conceber Deus como um ser
perfeito, incapaz de nos enganar pois enganar é imperfeito. Assim para além do
cogito, passamos a admitir a existência de Deus e do mundo.
Em
conclusão ao duvidar de tudo só consigo ter a certeza de uma coisa: eu duvido e
se duvido, eu existo e com isto conseguimos comprovar a existência de mundo e
de Deus.
O
cogito parece extremamente seguro e inabalável, mas e se estivesse errado?
Começamos
pelo facto de ele dizer que é uma crença básica quando dizemos “Penso, logo
existo” estamos a compreender e a descodificar várias ideias. Será que a
verdade dessa ideia seria tão evidente se não conhecêssemos anteriormente a
verdade de outras ideias? Ou seja, o cogito deriva de uma inferência, de um
raciocínio, um conhecimento derivado, por isso não é uma crença básica, pois
esta tem e ser conhecida diretamente, sem inferência.
De
seguida, Descartes afirma que Deus é a garantia de verdade do que conhecemos
evidentemente, mas ao mesmo tempo usa a clareza e a distinção para provar Deus,
comete uma falácia da petição de princípio. Assim a filosofia de Descartes
cai por base.
Passando
à frente, a filosofia de Descartes começa pela dúvida num alcance universal
estendendo-se tanto às crenças como às nossas faculdades racionais. Em primeiro
lugar o ceticismo extremo é impossível pois está para além do que o ser
humano consegue fazer. Mas mesmo que conseguíssemos não conseguíamos ir
para além dela sem usar as faculdades racionais (que já pusemos em dúvida). Ou
seja, se a dúvida fosse praticável seria inultrapassável.
No
projeto de Descartes a existência de cogito é fundamental. No entanto não
podemos ter nenhuma ideia do eu. Todas as nossas ideias têm origem em
impressões, mas nenhuma impressão tem origem na ideia “eu”. Tudo o que vemos
quando olhamos para nós são uma sucessão de perceções particulares. Por isso o
cogito é apenas uma ficção e não pode ter o papel essencial de Descartes lhe
dá.
Por
fim Descartes prova a existência de do mundo exterior com o facto de argumentar
que as ideias cuja causa atribuímos com a objetos físicos têm, de facto, essa
causa. Mas segundo a objeção nós só temos experiência direta das representações
na nossa mente, não dos objetos físicos, assim não podemos ter a relação entre
as nossas representações mentais e os objetos que elas copiam. Deste modo não
podemos afirmar que os objetos físicos são a causa das nossas perceções e
portanto não
existem objetos físicos.
Assim
o projeto de Descartes é condenado ao fracasso.
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