O aluno P.L., 12º I, apresenta-nos uma descrição detalhada desta visita, dando conta também das suas experiências, impressões e opiniões. Aqui transcrevemos, quase na íntegra, o seu texto.
«(...) À chegada o grupo foi levado a uma
sala de apresentação localizada nos claustros de uma reformada estrutura
religiosa. Estiveram presentes três representantes: um padre da comunidade de
irmãos; uma senhora que posteriormente nos apresentou um museu que englobava o
próprio santo, a ordem religiosa e um pouco de história da psicologia; e o
chefe de enfermagem desta casa que acolhia 460 utentes. A apresentação reforçou
de forma introdutória de que estes centros não traduzem a mesma realidade
expressa no mundo do cinema, e o apelo ao voluntariado dos jovens para
entretenimento dos utentes dado o exemplo de atividades de desporto, passeios,
música, teatro… A casa de Saúde do Telhal tinha já 126 anos e está organizada
em unidades de teor curto, médio e longo. A instituição privada de cariz social
e de saúde possui unidades de saúde mental, de reabilitação social, de
alcoologia (de duração de 1 mês) e clínica de psicogeriatria para utentes com
mais de 65 anos com perturbações mentais. O chefe de enfermagem afirmou também
que a ordem hospitaleira apoia hospitais públicos ao receber pacientes durante
o período de alguns meses. Introduziu-nos a unidades de contenção ambiental que
se justificava nos utentes com problemas de orientação, ou seja que não tem
consciência do seu espaço e perdidos correriam risco de vida, e utentes de
comportamento inadequado como o de conflito agressivo ou urinar/despir em zonas
públicas. Este condicionamento acaba por ser uma medida preventiva. Foram nos
apresentadas as unidades em específico, por exemplo: a unidade de Santo António
com o objetivo de ajudar os utentes em tarefas domésticas para que estes possam
assumir um grau de independência; ou a unidade de S. Bento Menni que se direciona
à autonomia dos utentes. Na área de ajustamento psicossocial a instituição não
só oferece as unidades como também residências comunitárias no exterior da casa
de saúde. Tal como ateliês de atividades ou ocupação (fabris, artes,
jardinagem, informática). No final da sua apresentação realçaram-se os
principais projetos do instituto como: a comemoração de épocas festivas; o
projeto SOL que se destinava a levar as atividades a utentes com deficiências
motoras; o projeto de estimulação sensorial com recurso a uma sala Snoezelen;
reuniões comunitárias; entre outros... A meu ver, esta apresentação revelou-se
demasiado informativa e focada na instituição em si. Foi importante para melhor
compreender o funcionamento da casa de saúde mas a identificação de cada unidade
juntamente com o seu nome e os seus números tornou-a demasiado exaustiva (...). Após uma breve pausa para lanche nos claustros da antiga igreja foi
a vez da sessão de museu. Esta seguinte fase foi dividida em três partes: a
vida de São João de Deus, que depois dá introdução à história da irmandade até
aos dias de hoje, e por fim um breve resumo da história da psicologia com base
na própria casa. O primeiro museu da casa, que apenas colocava em exposição
obras feitas por utentes na área da Ergoterapia, foi fundado em 1920. Um novo
museu fundado em 2009 deu-lhe continuidade com novas exposições debruçadas num
contexto mais histórico tanto da psicologia como da própria instituição (...) Vou apresentar já de seguida a fase final da visita ao
museu que tem como objeto a história da psicologia, dado que pretendo dedicar
maior atenção à etapa da arte dos utentes que deixarei p deixarei para o fim. A
oradora afirmou que até há um tempo relativamente próximo doentes mentais eram
vistos como loucos com a justificação de presença demoníaca nos seus corpos.
Numa fase posterior à revolução francesa os sofredores de perturbações mentais
passam a ser vistos como doentes, e a psicologia surge (como sabemos) nos
finais do séc XIX. Foram então apresentados depois alguns dos métodos usados na
casa de saúde nos seus primórdios tendo estes sido: a hidroterapia, que
consistia no uso de choques térmicos em utentes paralíticos ou depressivos;
passeios em ambientes naturais; camisas de força e outros utensílios de
contenção; tratamentos piréticos… Tivemos o prazer de poder experienciar uma
sala destinada à exposição de artigos feitos por pacientes embora por apenas
breves momentos. Esta atividade para os próprios é uma forma de expressão, de
ocupação e terapia e a diversidade de artigos destas salas era imensa com
quadros, moldes, cestaria, retratos, aguarelas, audiovisuais, fotografia,
escultura, origami, e até um avião. É me impossível descrever cada objeto pelo
pouquíssimo tempo que tivemos para os analisar, mas talvez o mais apelativo foi
o artigo audiovisual onde um utente gravou partes do seu rosto e em legendas
estavam escritas perguntas que este mesmo levantou. (...) Com o fim das
atividades da manhã inicia-se o período de almoço. Eu e parte dos meus colegas
estabelecemo-nos num recinto aberto próximo ao bar das instalações e tivemos
interações com vários utentes, um deles chamado Tiago que foi muito simpático
na sua presença, fazia desfiles de moda e era grande fã da série animada da
Disney: "Miraculous: Tales of Ladybug & Cat Noir". Cumprimentei-o
de forma mais descontraída e alegre possível por meio de um aperto de mão e
falámos o que melhor sabíamos relativamente à série pela qual demonstrava tanta
excitação, o que dificultava a sua fala mas mesmo assim era perceptível. O
período de almoço termina e, reunidos numa sala, fomos agrupados de modo a
dividir o grande número de alunos e a facilitação da apresentação de diversas
atividades e a interação com pacientes. O nosso grupo de turma é levado pelos
túneis subterrâneos espalhados na casa até ao espaço destinado às artes e
tecnologia onde encontrámos novamente o Tiago que, juntamente com a orientadora
e um outro paciente, nos apresentou o espaço. Não estive focado o suficiente na
apresentação em si para a descrever mas vou em vez disso indicar as minhas
percepções quanto aos dois pacientes: o Tiago, sempre simpático, quis
demonstrar por si próprio tanto o espaço informático como o das artes,
apresentou-nos também as suas pinturas, e senti a sua grande necessidade de ser
ouvido (referiu mesmo na apresentação o acidente de viação fatal do seu pai e a
tristeza de terem encerrado a formação com os cães); o outro paciente cujo nome
não me lembro nem indícios de perturbação mental apresentava e caso o visse nas
ruas de certeza que não o reconheceria. Dirigimo-nos posteriormente a uma sala
onde nos foram apresentados os seus projetos e eu dei especial ao jornal feito
pelos utentes que escolhiam cada um um artigo atual que mais lhe chamasse a
atenção e o transcreviam para papel. No decorrer desta fomos abordados por dois
utentes: Paulo e Carlos, que depois de pedirem autorização para se apresentarem
nos contaram as suas atividades, a sua gratidão ao espaço e as relações que lá
formaram, afirmaram também que se sentiam bem mais realizados do que quando
foram integrados na casa, e um deles (não me recordo qual) tinha desde infância
o sonho de ser ator e ao momento tem papel no projeto de teatro orientado por
um profissional dentro da instituição. Acima de tudo estavam conscientes das
suas condições, do que passaram, da sua realidade… e impressionante foi a forma
como, conhecedores dos possíveis medos e estigmas que podíamos ter, viraram
isso completamente a seu favor demonstrando uma maior humanidade e espírito
positivo que muitos integrados na realidade social presente. Vimos também uma
sala onde eram guardados alguns projetos dos utentes e novamente esteve
fortemente presente a diversidade, tendo como exemplo quadros, esculturas,
cadeiras enfeitadas, foguetões… Mais uma vez o tempo não esteve a nosso favor e
limitou muito essa experiência. A segunda etapa das atividades da parte
consistiu numa visita a uma atividade onde os utentes formavam peças fabris.
Por muito positivo que tenha sido a capacidade de oratória do utente que
apresentou o projeto não deixou de ser uma experiência triste. E sendo que não
nos tenham sido apresentadas grandes justificações científicas do porquê da
atividade não dei grande grau de confiança à experiência. Pareceu me demasiado
limitador e nem como fonte de convívio servia visto que os utentes concentrados
nas suas funções motoras não comunicava. Talvez o momento mais interessante da
atividade foi a fase de interação propositada com alguns pacientes, tendo
juntamente com o Tiago, a Maria e a Bruna integrado um grupo composto por três
utentes: Um desenhava paisagens arquitectónicas com recurso a réguas e
esquadros; um outro estava disposto a falar e interagir (o que presumo ser já
habitual dele sendo que que tanto as enfermeiras como os utentes já pareciam
acostumados a mandá-lo calar); e um outro paciente com o qual interagi
maioritariamente. Este senhor possuía menos capacidades comunicativas, chamou
nos 'senhores voluntários' e tratou-nos sempre com o maior respeito que
conseguia. Estava, quando chegámos, a fazer contas à mão e, nessa mesma folha, tive
a ideia de jogar ao jogo do galo com ele, já que não acreditava que comunicar
verbalmente fosse a opção que mais descontraído o deixasse. Algo que achei interessante
foi como, em vez da habitual cruz e círculo, escreveu o número 2 como seu símbolo
e, no mesmo contexto, escolhi o 1 como o meu. Deixei o ganhar os três primeiros
jogos, parecia responder com felicidade. A sua postura era um pouco assustadora
mas isso depressa perdeu impacto ao longo da interação. E no final do quarto
jogo, que decidi vencer, a atividade das enfermeiras começa. Tal ele como eu
estávamos aborrecidos e enquanto as enfermeiras falam, encarou-me, retirou um
lápis do seu casaco e continuámos a jogar. Num determinado momento parou
concentrado, assumi que estava a pensar e parei de jogar. Passado um tempo
convidou me para um jogo da forca e desenhou a força e quatro espaços que foram
preenchidos com a palavra "amor". Não era o utente mais comunicativo
ou emotivo mas foi através do jogo que expressou o que sentia. Eu comecei a
escrever a minha palavra e a enfermeira mandou nos despachar e então pediu me
para escrever mais rápido. Coloquei em espaços a palavra "amizade" e
quando chegou à solução em vez de ter dito "amizade" respondeu com
"nova amizade" sendo que não havia um segundo conjunto de espaços que
o indicasse a tal resposta. Manteve-se agradecido, agradeceu-nos sempre como 'senhor voluntário' e dado o final da atividade despedimo-nos. Não me vou
estender muito quanto à apreciação subjetiva da visita, penso que já o fiz ao
longo do texto. Uma experiência que com certeza acrescentou um novo ponto de
vista à nossa perspectiva e que a irá marcar certamente no nosso futuro(...).»
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