Este texto é da responsabilidade do aluno P. M. do 11º ano, turma A, que o realizou livremente, respondendo ao desafio que lhe foi lançado numa aula de Filosofia (ou teria sido no final de uma aula de Filosofia?). Por tantos afazeres, este texto, entregue ainda no 1º período, só agora é publicado. Pelo facto, se pede desculpa ao autor. O título é da nossa responsabilidade e espero que o autor não discorde dele.
Durante as minhas últimas reflexões eu vim-me a aperceber
de algo: nós somos escravos. Não, eu não vim aqui falar de questões de livre
arbítrio nem nada do género. Eu venho aqui falar de outros assuntos. Quando usar
o termo “escravo” não me vou referir apenas ao facto de as acções de um
determinado indivíduo serem constrangidas por algo, mas também irei aqui
mencionar o opressor do indivíduo.
Então, para começar, vou mencionar as diferentes
opressões a que estamos sujeitos. Nós, seres humanos, somos escravos de três
coisas:
1. Nós somos escravos
da natureza;
2. Nós somos escravos
da sociedade;
3. Nós, por mais
peculiar que pareça, somos escravos de nós mesmos.
Comecemos, naturalmente, pelo princípio. Nós somos escravos da Natureza,
das Leis da Física. Suponho que não existe ninguém que esteja a ler este texto
que não concorde com este juízo. Afinal, todos nós estamos sujeitos à acção do
tempo, da gravidade, do nosso próprio genoma, entre outras coisas. Por muito
que quisesse (e, em última análise, por muito proveitoso que pudesse ser),
nenhum de nós poderia parar o tempo, voar pelos próprios meios ou não dormir
nunca. Não sei o que nos reserva o futuro, porém, acho que o único local onde
alguma vez seremos livres das Leis da Física será na nossa imaginação.
Está bem, nunca seremos livres do primeiro opressor mas,
e então o segundo? Nós somos escravos da sociedade que construímos e em que
vivemos. Questionem-se: no que consistem os vossos dias? Bem... - dirão vocês -
eu acordo, tomo o pequeno-almoço, vou para a escola, volta para casa, faço os
TPCs, tomo banho, lavo os dentes e volto a dormir. Quanto tempo é que têm
livre? Pouco... - dirão. E se nós estivermos atentos veremos que a vida adulta
não é muito melhor, pelo contrário. O único tempo livre que temos durante o
tempo escolar é, por norma, apenas o fim-de-semana (ou nem isso naquelas vezes
em que a professora de matemática nos envia 11 exercícios para fazer para
segunda-feira). Então, esperamos sempre que a semana acabe e que chegue o tão
apreciado fim-de-semana. Meus caros colegas: isso não é forma de se viver. Isto
tudo para dizer o quê? Que é a rotina, sim, aquela rotina chata e monótona que
nos enche a vida e que faz com que nós fiquemos cansados de tudo isto. É ela
que nos oprime. Mas não só, também é o sistema com que a nossa sociedade se
organiza, quer seja o sistema político, injustiças sociais ou outras tais
futilidades. Então, que se pode fazer para mudar a sociedade? Como é que nós
podemos ser iguais à Finlândia, onde os estudantes só têm aulas de manhã para
puderem passar mais tempo de qualidade com as suas famílias e desfrutarem da
vida, ou à Suécia ou à Noruega, essas utopias nórdicas? Bem, a sociedade é
difícil de mudar mas, se cada um fizer a sua parte e for perseverante no que
toca ao assunto, talvez ela mude, um dia. Até la, resta-nos tentar aproveitar
bem a vida que temos pois, verdade seja dita, ela podia ser bem pior.
Por fim, abordemos o último tópico, algo que é, de certa
forma, vergonhoso e estranho simultaneamente. Pior que ser um escravo é ser um
escravo de mim mesmo. E como é que tal coisa pode ser possível? Fácil: cedendo
aos nossos vícios. Nós, quando sofremos de adicção e nos custa largar aquele
prisma de lítio e silício, que nos capta a atenção com toda aquela luz, ou
quando estamos viciados, como acontece com alguns, em tabaco ou drogas, e,
apesar de querermos largar aquilo acabamos por ceder àquela tentação só porque
ela nos alegra a vida. Ou ainda, como acontece com os obsessivo-compulsivos,
que se sentem tão desconfortáveis se não fizerem aquilo que os deixa ainda mais
desconfortáveis... (Pois... mas isso já é uma perturbação mental um quanto
difícil de explicar por isso fiquemos pelos primeiros dois exemplos.). Eu
próprio admito que muitas vezes sofro de adicção. Eu podia estar a fazer coisas
muito mais interessantes do que estar a ver vídeos idiotas ou a jogar um jogo
da treta no telemóvel. Coisas que ajudassem no meu desenvolvimento pessoal
(dedicar-me mais à escrita, à leitura, etc.). Às vezes penso: “está bem, hoje
vou começar a ler um livro”. Cinco segundos depois olho para o ecrã do
telemóvel e fico por lá.
Agora, analisemos outro exemplo. Um indivíduo viciado em
nicotina ou noutra droga qualquer, que quer deixar o seu vício e recomeçar a
sua vida a partir daí, mas que não consegue. Porque o indivíduo já se curvou
tanto perante o seu vício que já não se consegue levantar. Porque é só desta
vez, é só mais uma vez, porque a vida não está a correr bem ou por outra razão
qualquer.
E assim, cada um de nós se escraviza a si mesmo. Se bem
que a pergunta que deve estar nas vossas cabeças agora deva ser “e é possível
libertar-me dessas correntes?”. Para ser franco, não tenho certeza de que isso
seja possível para todos os casos ainda que eu goste de pensar que sim. A
solução é, a meu ver, sintetizada em três palavras, força de vontade.
Analisa cuidadosamente os teus hábitos diários, se descobrires que possuis
algum vício, que te está a moldar negativamente, recorre ao teu poder de
iniciativa e tenta acabar com ele deixando-o simplesmente para trás ou
entretendo-te com outras coisas que te distraiam daquilo, hábitos mais
saudáveis. Caso ele persista procura ajuda especializada (sim, eu estou a falar
de um psicólogo caso seja necessário, e antes que pensem em alguma coisa só há
que ter vergonha de não ter coragem de admitir que se tem um problema). É assim
que, recorrendo à nossa força de vontade, nos podemos libertar de todas as
nossas inibições e começar a viver as nossas vidas.
Podemos não nos conseguir libertar das Leis da Física pois
elas só dependem do Universo; podemos não nos conseguir libertar da rotina da
nossa vida profissional já que isso implicaria mudanças extravagantes na nossa
sociedade actual; mas podemos libertar-nos dos nossos vícios pois esses só
dependem de nós. O importante é nunca desistir de tentar.
Obrigado por estarem a ler este texto enquanto vocês
podiam estar a fazer outra coisa qualquer. Caso não estejam a ler este texto,
deviam estar.
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