sexta-feira, 17 de julho de 2020

Visita de Estudo à Casa de Saúde do Telhal - o que dizem os alunos (7)

A B.R, do 12º ano, Turma I, apresenta um registo da visita e acompanhou-o com fotos.


 A) Registo objetivo
No dia 30 de janeiro de 2020, algumas turmas do 12ºano da Madeira Torres realizaram uma visita de estudo à Casa de Saúde do Telhal- Ordem Hospitaleira de São João de Deus em Mem Martins, Sintra. 

Imagem 1 e 2 - Casa de Saúde do Telhal
Por volta das oito e meia saímos de escola e chegámos ao local da visita uma hora depois. A visita iniciou-se com uma palestra que serviu como uma pequena introdução para a visita ao museu e às oficinas que se iriam realizar da parte da tarde.Na palestra estavam presentes o padre Alberto (padre da igreja do Telhal), a guia do museu, Drª Carmina Montezuma, e o enfermeiro que foi quem presidiu a palestra, no entanto o Padre Alberto deixou-nos desde logo uma pequena referência sobre São João de Deus, fundador da Ordem Hospitaleira e deixou-nos uma mensagem: “Tal como o santo nós devemos ver o outro sem preconceito”. (...)  Surgiram bastantes perguntas, às quais o enfermeiro tentou responder da melhor forma. Vou destacar apenas algumas, as que considerei mais importantes e eu própria sentia a necessidade de ser esclarecida.                           
- Como se sentem os utentes ao estarem pessoas novas a visitar a Casa de Saúde? Há pessoas que se sentem bastante invadidas quando vêm pessoas novas, outras que gostam de conversar e partilhar a sua vida com pessoas diferentes, no entanto a reação depende muito da doença de cada um e claro que as pessoas são diferentes e como tal a sua maneira de reagir também o é.                                    
- Como é que o doente tem acesso a este tipo de unidade/ associação? O acesso a esta associação pode ser feito de duas formas, caso a família ou o próprio doente considere que precise deste apoio e como tal consegue obtê-lo ou por outro lado através de um hospital que encaminha o utente para este tipo de associações.   
- Existem atividades ou ateliês relacionados com animais? Já houveram atividades relacionadas com cães, em que alguns dos utentes eram tratadores de cães, ao longo dos anos essa atividade deixou de existir, no entanto há uma oficina relacionada com jardinagem.                                 
- Existem utentes com acesso a redes sociais? Sim, principalmente os utentes mais jovens. A associação inclusive dispõe de alguns computadores onde os utentes podem ter acesso á internet.                                                      
- Qual foi o episódio mais dramático que vivenciou? O enfermeiro partilhou que normalmente não existem muitos casos dramáticos, no entanto os casos que mais o chocam estão relacionados com a toxicodependência. Um dos casos que o marcou foi onde um dos utentes nem fumava substâncias aditivas mas o facto de os amigos fumarem tornou-o um fumador através do consumo passivo de drogas e fez com que a pessoa em causa desenvolvesse uma psicose. Neste momento este adolescente está então em fase de reabilitação.                                                                                        Ainda na parte da manhã passámos para a parte da visita ao museu com a Diretora do Museu que nos contou a história da Ordem Hospitaleira e de São João de Deus e ao longo da visita pudemos observar algumas das obras artísticas feitas pelos utentes.      
     Logo na primeira sala do museu onde entrámos a guia contou-nos a história de São João de Deus, descrita também num conjunto de quadros presentes na sala. (...)
 
Imagem 3 - Quadros da vida de S. João de Deus

Nas outras salas vimos as exposições de quadros, trabalhos manuais, pinturas, no fundo criações artísticas dos utentes de vários sítios do país e também alguns pertences que foram deixados para a Ordem Hospitaleira.
Imagem 4 - Projeto em video de um utente

Imagem 5 - Mãos dos utentes

Imagem 6:Pinturas de um utente dos Açores, Mestre Abreu

 Na última sala, a diretora do museu explicou-nos um pouco mais sobre a saúde mental em si e dos métodos, tratamentos e terapias utilizados antigamente para combater as perturbações mentais, na altura uma realidade pouco abordada.

De seguida fomos almoçar e da parte da tarde começámos com a parte mais prática da visita, onde estivemos contacto com pessoas que estão na Casa de Saúde e com as diferentes ocupações. (...)                                            Também conhecemos dois senhores, o P. e o C. que já lá estão há alguns anos e contaram-nos um pouco da sua história, (...) revelaram também que no início o processo de adaptação foi um pouco difícil porque era muita gente, 480 pessoas, no entanto foi muito importante para a evolução e para o bem-estar mental. Atualmente estão bastante bem e um deles disse o seguinte: ”Estou a caminho de ser um homem realizado” e sente-se orgulhoso e humilde.                                               
Na sala ao lado estavam alguns utentes a pintar numa tela e um deles, o T., era muito conversador inclusive ofereceu a alguns de nós os seus desenhos.                                                                                                       Depois fomos conhecer o ateliê de jardinagem. Neste ateliê os utentes têm um contacto maior com as plantas e a natureza e estudam essencialmente as próprias plantas que estão dentro da Casa de Saúde. Naquele dia, os utentes estavam a aprender os nomes científicos e comuns das plantas porque no dia seguinte iriam ter um pequeno teste, acompanhados também por uma professora.                                       


(...)            
Por fim, o último espaço em que estivemos foi destinado a conversar um pouco com os utentes, porém antes de entrarmos, uma das responsáveis pelo serviço teve uma pequena conversa connosco em que nos explicou que por vezes pode ser difícil para os utentes receber pessoas novas porque não estão habituados, refletimos um pouco também sobre o preconceito da saúde mental e que esta não deve ser um tabu, para além disso deu-nos alguns avisos antes de conversarmos com os pacientes, que eles por vezes têm tendência a inventar algumas situações e muitos deles não estariam tão dispostos a conversar como outros.
Quando fomos para esse último espaço, dividimo-nos em diferentes mesas onde os utentes já estavam sentados e conversámos cerca de vinte minutos, inclusive fizemos uma dinâmica para ficarmos a conhecer os nomes uns dos outros e desbloquear as barreiras para a conversa, neste espaço os utentes frequentemente jogam às cartas, pintam, fazem desenhos. Eu juntamente com duas colegas ficámos numa mesa com três senhores e inicialmente foi um pouco difícil iniciar a conversa mas depois conversámos muito. Após uma pequena conversa mas em que aprendemos bastante voltámos para o autocarro e chegámos à escola por volta das 17:30, dando assim por concluída a nossa visita.        

 B) Reflexão pessoal

         Na minha opinião e de modo geral esta visita foi bastante importante e muito interessante, permitiu-me entrar numa realidade que conhecia pouco e ter um contacto com ela.
Para mim a parte da manhã foi menos interessante do que a parte da tarde no entanto acho que foi relevante para nos contextualizarmos em relação ao que ia acontecer na parte da tarde.  O enfermeiro foi sempre bastante prestável na palestra e respondeu a tudo aquilo que lhe foi inquirido e tentou ser o mais breve e claro possível para também não ser demasiado exaustivo. Relativamente ao museu considerei as obras e trabalhos realizados pelos utentes bastante interessantes, pudemos observar as suas criações e perceber através da arte como a cabeça deles funciona, existem pessoas mesmo talentosas e criativas apesar das possíveis barreiras da sua doença. Para além disso também achei interessante a história de São João de Deus e como fundador desta Ordem Hospitaleira é impossível não contar a sua história, no entanto acho que a visita se baseou mais na história do museu e não tanto sobre a área da psicologia em si e da saúde mental o que acabaria por ser mais interessante para nós. Para além disso tivemos pouco tempo para observar o museu.                                           
Como já referi anteriormente, a parte da tarde foi muito mais interessante não só pelo contacto com os utentes mas também porque pudemos perceber melhor aquilo que o enfermeiro tinha referido de manhã e também conhecemos as diferentes oficinas/ateliês.
Gostei bastante do relato daqueles dois senhores na área de dia, fez-me perceber que a doença mental não é um entrave para nada e que pode ser ultrapassada com força de vontade e o apoio certo, aqueles dois senhores são a verdadeira prova disso e eles mesmo o reconheceram.                                           
Quanto aos ateliês, reconheci que são atividades importantes para aquelas pessoas, pois têm uma ocupação e acredito que as faça sentir melhor.               
Sem dúvida que o meu momento favorito foi a conversa no final e fiquei bastante comovida, eu e duas colegas fomos para a mesa de três senhores dos quais dois conversavam bastante e outro era mais idoso e já não ouvia muito bem. Sinceramente não me recordo dos nomes desses dois senhores conversadores mas a conversa que estavam a ter connosco comoveu-me imenso porque eles tinham a perfeita noção que estavam ali e pouco podiam fazer em relação a isso. Um deles estava a dizer-nos para vivermos a vida porque eles lá dentro não a podiam aproveitar e o outro completou-o e disse: “A verdade é que nós não somos importantes”. Tanto eu como as minhas colegas não soubemos o que dizer mas foi sem dúvida uma conversa que nunca me vou esquecer.                                                                         
Esta visita de estudo foi uma constante aprendizagem e acho que se encaixou perfeitamente no programa da disciplina. Pelo que pude observar, esta Casa de Saúde oferece excelentes condições aos seus utentes e muitas atividades e isso pode ser uma mais-valia para o desenvolvimento daquelas pessoas, gostei bastante de visitar e sem dúvida que voltaria lá para ficar ainda mais esclarecida e ter mais tempo para visitar.                                                          

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