No
passado dia 30 de fevereiro, a turma realizou uma visita de estudo à Casa de
Saúde do Telhal. Esta atividade ocupou todo o dia.
Tendo chegado de manhã, começámos por assistir
a uma palestra dada pelo enfermeiro responsável pela instituição. Este
dissertou sobre as suas funções, a história da Ordem Hospitaleira de S. João de
Deus e as particularidades da Casa de Saúde, como as Unidades de Internamento
(que podem ser de curta, média ou longa duração, dependendo das necessidades dos
utentes), os serviços de reabilitação psicossociais e as residências
comunitárias, para doentes praticamente independentes. Os alunos fizeram várias
perguntas a que o enfermeiro respondeu.
Em
seguida, visitámos o museu. Confesso que esta parte me desapontou. Passámos
muito tempo a ouvir falar da vida de S. João de Deus e não o tempo suficiente a
conhecer a arte feita pelos utentes ou a história da psiquiatria, que nos
pareceram mais interessantes.
Durante
a pausa para almoçar, eu e vários colegas tivemos a oportunidade de conhecer e
conversar com um dos utentes, chamado Tiago, o que foi tão interessante como
agradável, e que julgo que nos tenha ajudado a simpatizar com os indivíduos com
a sua condição.
No
período da tarde, percorremos as várias oficinas, conectadas parcialmente
através de túneis. Começámos pelo Centro de Dia, cuja maioria dos pacientes
pode ir para casa todos os dias, e passa apenas uma parte do seu tempo na
instituição. É lá que se localizam as oficinas ligadas à produção artística,
seja pintura, colagem, literatura, teatro ou outras ainda. Ouvimos o testemunho
de dois utentes quanto à sua estadia naquele local e observámos as suas
criações e atividades.
De
seguida, estivemos na área ligada à formação profissional dada aos doentes
capazes de exercer uma ocupação, especificamente o curso de jardinagem, cujos
alunos estavam a aprender a distinguir diferentes folhas.
No
último espaço, assistimos à atividade de um grupo de pacientes com capacidade
cognitiva reduzida, que se mantinham ocupados montando peças fabris. Por fim,
foi-nos pedido que nos sentássemos com alguns dos senhores e conversássemos com
eles, o que fizemos. Na mesa em que me sentei (juntamente com três colegas),
estavam três utentes de meia idade, que se revelaram bastante simpáticos. Um
deles estava ocupado a desenhar, pelo que falou menos, mas com os outros dois
foi-nos possível interagir e até jogar ao galo e à forca. Um deles fez questão
de se levantar para nos cumprimentar e se despedir no fim. O outro deu provas
do seu sentido de humor, ao mesmo tempo que nos falava um pouco de si mesmo.
No
geral, achei esta visita extremamente produtiva. Não só pudemos ter uma visão
mais correta do modo como indivíduos com problemas psicológicos são
acompanhados como, e talvez mais importante, nos apercebemos da humanidade
destas pessoas, muitas vezes vistas como não mais do que uma doença. O contacto
pessoal com eles provou o oposto, permitindo que estabelecêssemos uma conexão.
Pelo seu lado, os utentes pareceram-me contentes com a nossa visita, e espero
que tenha sido de facto agradável para eles.
Visto
do exterior, o complexo pareceu-me a princípio um pouco deprimente, lembrando um
lar para idosos, sobretudo devido ao jardim. Contudo, esta impressão
dissolveu-se no interior, onde as condições pareciam, tanto quanto me é
possível avaliar, perfeitamente adequadas. A maioria dos utentes também parecia
relativamente satisfeita, provando que os meus receios eram infundados.
Como
já disse, o museu foi para mim o ponto baixo da experiência. Ouvimos algumas
coisas interessantes, mas não informação suficiente sobre a história da
psiquiatria, que era, afinal, o nosso objetivo. (...)
A
parte da tarde foi significativamente mais interessante. Posso dizer que
apreciei especialmente as oficinas de Arte, onde os utentes pareciam
particularmente contentes. Fiquei convencido do valor da atividade artística
enquanto método terapêutico. O momento final de contacto direto foi também
muito interessante, e gostaria que tivesse sido mais longo.
A
sala de montagem de peças foi para mim um pouco perturbadora, por ser
aparentemente tão mecanizada, mas compreendo a necessidade de uma tal
atividade.
Mais
uma vez, acho que ganhei muito com a visita a este estabelecimento (e creio que
os meus colegas concordam), no que toca à forma correta de interagir e apoiar
pessoas com doenças mentais. Gostaria bastante de repetir a experiência.
Todavia,
embora tenhamos podido contactar com os pacientes, não nos foi dito muito sobre
as suas doenças. Gostaria que as várias perturbações e distúrbios mentais
fossem analisados mais a fundo, possivelmente em aulas futuras. (...)
Sou
definitivamente a favor do regresso à Casa de Saúde do Telhal, mas não sei se
tal regresso é exequível.
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