A visita teve início com uma palestra proferida pelo diretor de enfermagem da casa, demonstrando-se muito acessível para responder a todas as perguntas colocadas. Foi através do seu discurso que nos foram transmitidos alguns conhecimentos sobre o local onde nos encontrávamos e a forma como a equipa docente trabalha diariamente. Tomamos, assim, conhecimento que a Casa de Saúde do Telhal é o centro assistencial mais antigo de Portugal, sendo uma instituição com 126 anos que recebe homens dos 18 aos 90 anos possuidores de doenças mentais em unidades de curto, médio e longo internamento. (...)
De seguida, após um intervalo a meio da manhã para lanchar, fomos dirigidos ao museu desta ordem hospitaleira, onde pudemos tomar conhecimento do contexto histórico em que João de Deus criou esta instituição, antigos métodos e materiais utilizados como tentativa de curar certas doenças, como a terapia dos choques e os banhos gelados, e ainda inúmeras exposições com trabalhos de vários utentes. As exposições revelaram-se surpreendentes
obras de arte, um autêntico poço de criatividade e esperança que me tocou bastante. Da parte da tarde, fomos, então, divididos em vários grupos, de modo a que pudéssemos visitar os ateliês, nunca perturbando o bem-estar daqueles que habitam nesta casa, convivendo de forma harmoniosa com todos aqueles que se sentiam confortáveis com a situação.
De facto, a visita prestada aos vários locais onde os utentes convivem e trabalham diariamente foi a parte que mais me agradou de todas as atividades realizadas ao longo do dia, embora considere a palestra proferida e o museu de extrema importância, pois só assim é que teríamos o contexto necessário para poder ter a sensibilidade de contactar com pessoas iguais a nós, mas com uma
doença que, felizmente, não possuímos. A última sala que tivemos a oportunidade de visitar foi o local onde tivemos contacto direto com os utentes, conversando e jogando alguns jogos. A minha mesa era composta por três senhores, que se demonstraram muito comunicativos e brincalhões. Um deles tomou a iniciativa de jogar connosco ao jogo da forca, onde a palavra que escreveu foi “amor”, deixando-nos completamente deliciados com o seu gesto, uma transmissão de carinho que talvez simbolize falta de se sentir verdadeiramente amado. Quando o meu colega escreveu a palavra” amizade”, o utente rapidamente afirmou com um sorriso nos lábios “ nova amizade”, abraçando o Pedro, transmitindo fisicamente a palavra que anteriormente tinha escrito.
Afirmo, assim, com toda a convicção que deixei a Casa de Saúde Do Telhal de uma forma completamente diferente daquela com que entrei, não que não estivesse entusiasmada para a visitar, antes pelo contrário, mas aprendi tanto num só dia que quando sai daquele local a única ideia que me consumia a mente era voltar para aprender cada vez mais com pessoas que têm tanto prazer em partilhar as suas histórias de vida e atividades diárias com jovens como eu.
Os filmes que são projetados, assim como as histórias passadas de “boca a boca” acerca de pessoas com doenças mentais, são completamente desapropriados, deturpando a realidade, provando uma vez mais o preconceito social que existe com este tipo de utentes. São seres humanos exatamente iguais a nós, com a exceção de que sofrem um distúrbio mental que afeta o pensamento. Têm sonhos, ambições e sentem, tal como nós. E sentem toda a indiferença que lhes é dada pelos familiares que, alimentados pela violência das críticas da sociedade, acabam muitas vezes por esconder aquilo que consideram ser um problema. Não, não são um problema, são pessoas que veem o mundo de uma forma diferente, mas que devidamente medicados e acompanhados convivem pacificamente e são mais amorosos que grande parte da sociedade,
pelo menos aquela porção que os discrimina sem qualquer tipo de
conhecimento na área da psiquiatria.
É por isso mesmo que visitas como estas são tão importantes. A sociedade em geral, mas acima de tudo os jovens, tem de tomar conhecimento de outras realidades que não a sua, pois só compreendendo-as é que será um ser capaz de respeitar a diferença. Sugiro, pois, que se continue a alimentar este tipo de atividades ao longo dos anos e, se possível, até mais do que uma vez.
Seria um privilégio poder voltar um dia como voluntária, acompanhada pelos meus colegas que tanto também ainda têm a aprender. Os utentes são pessoas, não a doença mental. Cabe a nós, jovens, cumprir uma missão para o futuro, tentar mudar esta perceção que existe de pessoas que não escolheram ser assim.(...)
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ResponderEliminarCom este artigo conseguimos perceber que ainda na sociedade atual existem estereótipos errados sobre doenças mentais,sendo dito coisas desapropriadas,deturpando a realidade,provocando preconceito social com este tipo de utentes.
ResponderEliminarApesar do que a sociedade pensa são seres humanos iguais a nós,com exceção que sofrem uma doença mental que afeta o pensamento,mas ainda assim têm sonhos,ambições e sentem como nós, percebendo a indiferença e o preconceito muitas vezes feito por pessoas próximas,como por exemplo os próprios familiares.
Acho relevante este tipo de visitas de estudo,pois serve para que os alunos aprendam e interiorizem que pessoas com doenças mentais são como nós, e merecem igualmente carinho, respeito,afeto e são dignas de não serem julgadas por um estado que não controlam,ajudando-os a melhor a sua situação.
CM/FR 12h